domingo, 1 de maio de 2011

Questão de adaptação

Mascherano chegou sob dúvidas, mas hoje, adaptado ao estilo de jogo do Barcelona, caiu nas graças da torcida (AP Photos)

Javier Mascherano, capitão da Argentina e uma das estrelas do Liverpool, chegou ao Barcelona com uma missão muito clara - e difícil: suprir a saída de Yaya Touré para o Manchester City como segunda opção para a volância. O argentino aceitou com naturalidade a profissionalidade, destacou as grandes virtudes de Busquets, titular indiscutível da posição, sempre que possível nas coletivas e/ou entrevistas e seguiu trabalhando em silêncio. Nos primeiros dois meses como blaugrana, ficou nítido o quão é difícil se adaptar ao estilo de jogo do Barcelona. Para Mascherano foi mais complicado ainda, pois não estava acostumado a exercer um futebol característico do estilo de jogo azulgrená.

Mas o volante, que custou a "entender" a dinâmica de jogo do Barcelona, havia tomado uma decisão: queria triunfar trajando azulgrená e não iria desistir cedo. Quando teve oportunidades, Guardiola pediu para que continuasse jogando de maneira igual aos dos tempos de Liverpool, importando-se na hora da recuperação da bola; entretanto, Pep também pediu para que participasse com frequência dos ataques, como Busquets e, antigamente, Yaya Touré - outro que demorou para se adaptar ao esquema do Barcelona, à época comandado por Frank Rijkaard - faziam. Mais: Guardiola queria, sobretudo, que Mascherano ajudasse na criação do jogo juntamente com Xavi. Aconteceu que o volante titular da albiceleste não conseguiu coinciliar todas as funções ordenas por Guardiola, o que o fez seu início como barcelonista um desastre.

Em seu jogo de estreia, contra o Hércules, atuou por apenas quarenta e cinco minutos e, por bondade do árbitro, deixou de ser expulso e estrear com o pé esquerdo. El Jefecito sofreu para se adaptar a um processo onde ele foi enquadrado para ficar mais perto da bola e utilizar mais sua vocação ofensiva. Mesmo assim, Guardiola continuou confiando em Mascherano, que foi ganhando espaços na equipe titular pouco a pouco, sobretudo para dar descanso a Busquets, desgastado fisicamente após uma Copa na qual jogo todos os jogos como titular. Na atual temporada, foi titular apenas 15 vezes, enquanto, um ano atrás, era indiscutivelmente o dono do meio-campo do Liverpool, que sentiu muito a ausência de Xabi Alonso, que havia se transferido para o Real Madrid.

Nos últimos meses - mais precisamente entre o final de fevereiro e maio - o Barcelona passou a conviver com uma série de lesões, principalmente com seus zagueiros. Puyol, por exemplo, foi baixa durante três meses, só voltando a campo no duelo contra o Real Madrid, pela Liga BBVA. Sem escolha, Guardiola foi obrigado a fazer algumas improvisações no time titular e deslocou Busquets para companheiro de Piqué abrindo uma brecha para a titularidade de Mascherano na volância. As lesões de Puyol e Abidal, que descobriu um tumor no fígado, deixaram o plantel barcelonista sem um jogador com uma velocidade suficiente para realizar as coberturas a seus companheiros na linha defensiva. Na partida das oitavas de finais da Champions contra o Arsenal, no Camp Nou, El Jefecito havia demonstrado que poderia ser esse tipo de jogador, quando consertou com maestria um erro de Adriano que quase permitiu a Bendtner marcar um gol que classificaria o Arsenal às quartas de finais da principal competição europeia.

Guardiola, porém, decidiu testar Busquets como central ao lado de Piqué, uma solução de urgência que começou a criar dúvidas após o gol contra do volante improvisado contra o mesmo Arsenal. Além disso, o Barcelona perdia um pouco da qualidade no toque de bola com Mascherano escalado na volância. Dada a necessidade de encontrar uma garantia confiável, Pep optou por inverter Mascherano e Busquets de posição contra o Shakthar Donetsk: o argentino jogaria improvisado na zaga e o espanhol voltaria à sua posição de origem. O experimento saiu com perfeição. "Eu queria um jogador mais rápido para cobrir as constantes subidas de Piqué para o ataque. Ele [Mascherano] tem muita experiência e eu sempre tinha certeza de que testar um meia inteligente e rápido como central daria certo. É um jogador, taticamente e profissionalmente, muito disciplinado", havia dito Guardiola logo após a partida contra os ucranianos.

A partir de então, Mascherano estabeleceu-se cada vez mais em uma posição apropriada para suas características defensivas. Andoni Zubizarreta destacou que "tranquiliza constatar a capacidade de adaptação que tem Mascherano para ocupar mais de um setor do campo e manter um bom rendimento". A maratona de superclássicos contra o Real Madrid foi uma prova de fogo para El Jefecito, que só não foi titular no confronto da Liga. A solvência de Mascherano em sua "nova posição" é tão confiante que Guardiola não tem nenhum problema ou dor-de-cabeça para improvisar Puyol na lateral esquerda no confronto da Champions. O argentino vai ganhando pontos com Guardiola e os torcedores culés a cada jogo e hoje é homem de confiança do técnico catalão.

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