segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Cavando a própria cova

Mourinho e Casillas: amigos? (getty images)

É preciso ter a noção necessária para entender toda a algazarra feita após o término do duelo do final de semana entre Málaga e Real Madrid, vencido pelos blanquiazules por 3x2. A derrota merengue ficou em segundo plano pelo simples e único fato de José Mourinho ter barrado Casillas. Pela primeira vez em 10 anos, o goleiro e bandeira máxima do clube foi relegado ao banco de reservas por questões técnicas. Mourinho, logo após a partida, não fugiu das perguntas. "Deixar Casillas no banco foi decisão minha. Vejo que Adán está melhor no momento", desafiou o gajo. "Tenho a consciência tranquila", completou. É sabido por todos que o ambiente merengue não é lá muito tranquilo. Há deveras especulações sobre uma possível guerra entre os portugueses e os espanhóis do elenco. Há um mês, por exemplo, Xabi Alonso deu margem aos boatos ao dizer, publicamente, que não é amigo de Cristiano Ronaldo fora de campo.

Mas o ato de Mourinho pode ter sido o estopim. Florentino Pérez, que sempre ficou ao lado do treinador de Setubal, já não confia 100% nele. Ao saber da titularidade de Adán pela jornalista Mónica Marchante, do Canal +, mostrou uma expressão de assustado no rosto e encerrou a "sessão" de perguntas da periodista. A imprensa madrilenha mostrou-se a ao lado de Casillas. AS e Marca criticaram a postura de Mourinho, definindo como ridícula. "A culpa não é de Iker", disse o Marca. Enquanto isso, o País foi mais duro, descrevendo seus métodos como feudais.

Está claro que os prestígios de Mourinho em Chamartín já não são tão grandes como em outrora. Parte da torcida blanca vem pegando em seu pé na atual temporada. Em 2011/2012, em uma de suas polêmicas, havia afirmado que não liga para o que o madridismo fala. Foi um tiro em seu pé. Ontem, em uma enquete promovida pelo Marca, mais de 87% dos eleitores votaram a favor de sua demissão. Joaquin Löw, treinador da seleção da Alemanha, é o preferido para assumir caso o gajo seja, de fato, demitido. Há duas semanas, no empate no Bernabéu contra o Espanyol, até os ultrás madridistas o vaiaram ao fim do jogo e mais um vexame do Real Madrid na temporada, dessa vez contra o penúltimo colocado da Liga. Os graves problemas internos se refletem dentro de campo: a diferença para o Barcelona é de 16 pontos.

O Marca reuniu uma lista de "vítimas" de Mourinho, que vai de diretores técnicos até a cozinheiros. Jorge Valdano foi o primeiro nome a perder a guerra, logo na primeira temporada do português em Madrid, em 2010/2011. À época diretor esportivo do clube, o argentino não aguentou os atritos com o "rival" e acabou demitido por Florentino. Em janeiro de 2011, comentei isso aqui no blog. Logo após o caso, Mourinho tornou-se manager do Real Madrid, tornando-se o primeiro treinador da história do clube a ter carta branca na hora das contratações. O poder dele era imenso.

Nas quatro linhas, o Real Madrid 2012/2013 está bem longe da versão avassaladora apresentada na temporada passada. Os contra-ataques não são tão fatais, a ineficiência é grande e o meio-campo não tem funcionado. Até valores individuais como Cristiano Ronaldo tem atuado num nível baixo. Na última quinta-feira, o sorteio da UEFA colocou o Manchester United no caminho dos merengues nas oitavas-de-finais da Uefa Champions League. Encarar o líder da Premier League nesta atual situação é tarefa ingrata.

Contratado para, especialmente, dar a décima taça de LC ao Real Madrid, Mourinho caminha para mais um fracasso em âmbito europeu. Aliás, não é tão difícil de imaginar outro treinador no cargo nos confrontos contra os mancunianos. O que pode impedir isso é o fato da multa rescisória de Mou ser bastante alta, o que pode influenciar em contratações futuras. Mas o fato é que o português cava a própria cova ao decretar, indiretamente, sua guerra particular com Casillas.

Recomendo a leitura do 'Dossiê Real Madrid - a guerra de egos', produzido por José Eduardo Volpini, do site Doentes por Futebol. Matéria que explica todos os recentes atritos nos vestiários merengues.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Brasileiros e a Liga Espanhola

 O ex-palmeirense Cicinho caiu nas graças da torcida do Sevilla e é o melhor lateral direito da Liga até o momento (getty images)

Os fãs de futebol europeu, em geral, sabem que a Liga Espanhola é uma das vitrines para os jogadores brasileiros aparecerem positivamente. Recentemente, vimos Ronaldinho Gaúcho conquistar o mundo após atuações mágicas vestindo a camisa do Barcelona. Na mesma época, Ronaldo não cansava de ir às redes pelo Real Madrid - isso sem dizer sua fase fenomenal pelo Barcelona, em 1996. Um pouco antes, Rivaldo e Djalminha viraram reis de Catalunha e Galícia. No entanto, nos últimos dois anos, o número de destaques tornaram-se escassos. À exceção de Daniel Alves e Marcelo, nenhum brasileiro apareceu na mídia europeia recebendo muita atenção. Porém, baseado neste início de temporada, isso está chegando ao fim. Em 2012/2013, praticamente cada setor do campo tem um ou dois brasileiros como destaque de seus times.

A grande exceção é o homem de referência, o que evidencia um problema que o futebol brasileiro passa de maneira geral. Hoje, a maioria dos jogadores de área com poder de decisão atuam no futebol brasileiro. Fred, Luis Fabiano e Leandro Damião, por exemplo, foram os últimos convocados por Mano Menezes para atuar de nove. Até podemos comentar sobre Pato, mas este não vive sua melhor fase no Milan e se lesiona com frequência. Até por isso, o ex-treinador utilizou Neymar de falso nove em suas últimas partidas, até, também, para poder encaixar o santista com Oscar e Kaká na equipe titular. ale comentar sobre Diego Costa, que fez um bom primeiro semestre no Rayo Vallecano atuando de referência, mas no Atlético de Madrid foi "recuado" à posição de segundo atacante por causa de Falcao García.

Mas voltando ao tema central do texto começamos pelo gol. Diego Alves nunca foi titular absoluto do Valencia por causa do sistema de rotação que os ex-treinadores Unai Emery e Mauricio Pellegrino faziam. Contudo, desde a época de Almería, onde chegou a ser especulado com força no Real Madrid, ele vem aparecendo de modo positivo. Nesta temporada, logo na primeira rodada, fechou com o gol contra o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Exímio pegador de pênaltis, já parou Messi e Cristiano Ronaldo no mano a mano. No último sábado, foi um dos únicos poupados pela exigente torcida valenciana após a goleada sofrida em pleno Mestalla para a Real Sociedad, por 5x2. Os números apontam uma contradição, mas não fosse por Diego Alves o vexame poderia ser muito maior.

Pouco conhecido do grande público, Leo Baptistao (19) é a principal reveleção da temporada. Natural de Santos, jogou salão com Neymar quando garoto (AS)

Na setor defensivo, os colchoneros brilham: Miranda é o melhor zagueiro da temporada e Filipe Luís, no mínimo, aparece no top 3 na lateral esquerda. O ex-são paulino, após um início conturbado, se adaptou à forma de jogo do Atlético de Madrid e principalmente após a chegada de Simeone viu seu futebol crescer bastante. O mesmo vale para Filipe Luís. Atualmente, ele está numa versão semelhante ou superior àquela dos tempos de Deportivo La Coruña, onde foi eleito o melhor lateral esquerdo da Liga 07/08. O polivalente Adriano, que faz as vezes de lateral esquerdo, direto e até zagueiro, também merece uma menção honrosa. Homem de confiança de Tito Vilanova, seu único porém é se lesionar bastante. Apto, tem feito boas partidas. No sábado, saiu de campo aplaudido pelos torcedores presentes no Camp Nou.

Mas o grande destaque é o ex-palmeirense Cicinho. Após um início de temporada a mil, ele tem caído substancialmente de produção nos últimos jogos, mas continua sendo o melhor lateral direito da Liga. Parceria com Jesus Navas pela direita é o principal trunfo do Sevilla. Após tirar onda com Cristiano Ronaldo no duelo da sexta rodada, caiu definitivamente nas graças da torcida. Cicinho é disciplinado taticamente e aparece com sobressaliência nas jogadas ofensivas.

Na parte ofensiva, a grande revelação é Leo Baptistao, jovem de 19 anos do Rayo Vallecano. Natural de Santos, transferiu-se ainda cedo, aos 15 anos, para o clube de Vallecas, mostrando uma progressão madura em seu futebol. Em 2011/2012, passou boa parte da temporada no departamento médico graças a uma grave lesão na clavícula, mas está 100% curado e vê, em 2012/2013, um ano de redenção. Apesar de muleque, tem futebol de gente grande e vem justificando isso nesses primeiros quatro meses de temporada. São sete gols e quatro assistências em 13 jogos, o principal artilheiro brasileiro nas principais ligas europeias. Por outro lado, Jonas, após um suposto atrito com Pellegrino, foi relegado ao banco nos últimos jogos, mas tem moral com a torcida ché e pode voltar à equipe titular com Ernesto Valverde, confirmado como novo treinador do Valencia hoje pela manhã.

Em tempos de mudança de treinador na seleção brasileira, vale a pena ficar de olhos em alguns desses nomes. Diego Alves e Adriano eram figurinhas carimbadas nas convocações de Mano Menezes, e devem continuar fazendo parte das listas de Felipão. Valeria a pena testar os outros?

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

E se Guardiola fosse o treinador da seleção brasileira?

 Guardiola e Daniel Alves juntos na seleção brasileira? Usamos a imaginação nessa matéria especial (getty images)

Por Pedro Galindo e Victor Mendes.
Originalmente feito a Doentes Por Futebol

Com o confirmação do nome de Luiz Felipe Scolari como novo comandante da seleção brasileira, acabaram-se de vez as especulações em torno de Josep Guardiola, que corria por fora na disputa pelo cargo. Apesar de apelos de alguns setores da crônica esportiva e dos torcedores, o ex-treinador do Barcelona foi prontamente descartado pela cúpula da CBF. As justificativas para o descarte - mesmo após o rumor de que o técnico catalão teria confidenciado a amigos que aceitaria dirigir a Canarinha - não fugiram de um previsível ufanismo cego e exacerbado: “não precisamos de treinador estrangeiro, nosso futebol é pentacampeão mundial”, entre outros pachequismos e demonstrações de soberba. A realidade - triste para nós, brasileiros - é que se pode contar nos dedos de uma mão os treinadores nacionais que estão no nível do tamanho do desafio. Felipão, a esta altura da carreira, não parece a escolha mais indicada: vem de péssimas temporadas e de um rebaixamento pelo Palmeiras, que a CBF preferiu esquecer e se apegar à mística da “Família Scolari”, que completou uma década em julho deste ano.

Entretanto, a Doentes por Futebol resolveu fazer um exercício de imaginação e especular como agiria Pep Guardiola, propalado por muitos como o mais revolucionário treinador dos últimos anos. Inicialmente, partimos do pressuposto de que Pep, cuja carreira foi construída no futebol europeu, tem pouco conhecimento sobre o futebol brasileiro - o que já seria um grande obstáculo caso o catalão assumisse a Seleção. Portanto, se Guardiola tivesse sido escolhido pelo Excelentíssimo Sr. Marin, os jogadores brasileiros no futebol europeu certamente se encheriam de esperanças. Exatamente por isso, os que ainda atuam no futebol brasileiro provavelmente se sentiriam motivados a partir para o Velho Continente. Além disso, partimos também de indicações do próprio Pep: atletas brasileiros já elogiados por ele, especulações da imprensa catalã e esquemas táticos adotados pelo treinador.

O primeiro a celebrar seria Diego Alves, que saiu ainda menino do Atlético Mineiro para brilhar no futebol espanhol - antes no modesto Almería e agora, ainda que em menor intensidade, no Valencia. O goleiro, que já vinha tendo oportunidades com Mano Menezes, muito provavelmente seria lembrado por Guardiola, até mesmo por já ter fechado o gol contra o Barcelona treinado pelo próprio. Ponto negativo para Jefferson, Victor e Rafael, que atuam no futebol nacional e vêm recebendo oportunidades na posição. Na linha defensiva, Dani Alves, peça-chave do blaugranas nas últimas temporadas, teria toda a confiança para continuar como dono da camisa #2 da Seleção. Outro que certamente teria vaga no grupo é o multifuncional Adriano, lateral-coringa do Barça, contratado justamente por Guardiola.

Mas é nas laterais que o catalão teria um de seus maiores desafios: seu Barcelona se habitou a jogar com atletas diferentes em cada um dos lados do campo. Abidal, pela esquerda, se posicionava muitas vezes como um zagueiro, fechando o corredor esquerdo para dar a Daniel Alves a liberdade de brilhar na frente. Na Seleção, um “problema” impediria que a mesma estratégia fosse adotada: o Brasil hoje conta, talvez, com os dois melhores laterais do mundo. Marcelo vive grande fase no Real Madrid e Alves segue sendo decisivo pelo Barça. Guardiola dificilmente abriria mão de opções ofensivas deste quilate. A solução seria convocar um volante com mais poder de marcação, para cobrir as subidas dos alas. Esse cenário seria animador para Felipe Melo - feito de bode expiatório em 2010 e inapelavelmente banido da Seleção - e Luiz Gustavo, volante versátil do Bayern de Munique, que construíram suas carreiras no futebol europeu. Paulinho e Ramires, os atuais titulares, teriam que lidar com obstáculos distintos: o primeiro, com a já citada pouca familiaridade do treinador com os atletas atuando por aqui; o Queniano, por sua vez, provavelmente não teria muito espaço com o catalão justamente por seu jogo não ser muito baseado na troca de passes, e sim na condução da bola. Um jogador mais confiável para puxar contra-ataques, que teria que se adaptar ao estilo de jogo de Pep.

Na meia ofensiva, opção é o que não falta. No Barcelona de Guardiola, a espinha-dorsal era o 4-3-3. No entanto, embora a Seleção disponha de jogadores com muita qualidades, nenhum deles tenha, talvez, a técnica que Xavi e Iniesta têm para dominar o meio-campo adversário com tanta naturalidade. Jogadores que ditam o ritmo do jogo, comandam e trabalham a bola com baixíssimo índice de erros. Até por isso, o trabalho dos volantes teria que ser ainda mais especial do que o que Busquets faz no Barça. Dois jogadores brasileiros têm característica semelhantes às da dupla espanhola, mas não vinham tendo muita oportunidade com Mano Menezes: Ganso e Hernanes. O primeiro, aliás, já fora elogiado por Pep Guardiola, que o chamou de "brilhante" às vésperas da final do Mundial. Hernanes, bastante especulado no Barcelona há alguns anos, é outro jogador que teria a simpatia do treinador. Seria bastante possível eles ganharem mais oportunidades caso Guardiola assumisse a Canarinho.

Ronaldinho é uma questão emblemática. Despedido do Barcelona justamente por Guardiola, a lógica seria imaginar ele não tendo chances nenhuma de retorno à seleção. No entanto, poderia acontecer do catalão ter uma conversa séria com o gaúcho, a mesma que teve quando o demitiu, e tentasse, agora, contar com sua confiança. Aí, justamente, entraria outra questão: como Ronaldinho, Neymar e Kaká jogam no mesmo setor do campo, o santista seria utilizado como falso nove, cumprindo o papel que Messi faz no Barcelona? Muito provavelmente, sim. Embora, à primeira vista, contar com um centroavante seria mais necessário. Talvez Leandro Damião, que chegou a estar na órbita do Barça na temporada passada, ou Luis Fabiano, com passagens pelo futebol espanhol, ou até mesmo Fred.

Outro jogador que também tem a simpatia de Guardiola é Robinho, cotado para ser contratado em 2009/2010, mas que, segundo a imprensa espanhola, não teve a aprovação dos senadores do elenco barcelonista. Como o milanista também se destaca jogando mais do lado direito do campo, provavelmente seria uma opção de banco. Hulk ou Lucas, por ser um jogador capaz de cumprir uma boa função tática, jogariam aberto à direita, com Oscar centralizado tendo liberdade para armar o jogo a partir de sua faixa no campo. Outra probabilidade é o uso de Daniel Alves aberto à direita da linha de três. O baiano chegou a jogar com Guardiola na ponta direita, ao lado de Messi e mais um no ataque. Neste caso, Maicon e Rafael seriam os mais cotados para assumir a lateral direita.

De volta à realidade: como se sabe, Felipão é o novo treinador da seleção. Ao contrário de Pep, ele não vem de bons trabalhos: apesar do título da Copa do Brasil, acaba de ser corresponsável pelo rebaixamento palmeirense e, antes disso, fracassou espetacularmente no Chelsea, cercado de expectativas. Sem dúvida, Scolari não vive mais um bom momento em sua carreira. Seus resultados recentes são reflexo de suas convicções, muitas vezes atrasadas e anacrônicas: o futebol de hoje é bem diferente do de dez anos atrás, quando o treinador gaúcho conquistou seu maior título. Resta a nós, brasileiros, torcer para que sua experiência transmita a confiança que tanto falta à nossa promissora geração.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ao resgate

 Nas últimas duas semanas, o Barcelona recuperou o bom futebol e promete voltar a encantar (getty images)

No Ciutat de Valencia, o Barcelona, na teoria, teria um confronto difícil contra o Levante. Quarto colocado da Liga Espanhola e com a moral em alta após conseguir uma inédita e histórica classificação ao mata-mata da Liga Europa, os levantinos prometiam vida difícil aos blaugranas, assim como nos dois últimos confrontos em Valencia. O que aconteceu, sobretudo no segundo tempo, foi justamente o contrário. O gol de Messi logo na volta do intervalo abriu o caixão e serviu para fazer o Barcelona relaxar e chegar a mais três gols naturalmente, construindo as jogadas e exercendo um belo futebol.

É um desafio escrever sobre o Barcelona de Tito Vilanova sem entrar em comparações com o de Josep Guardiola (em evidência no Brasil após a suposta vontade de treinar a seleção brasileira). Mas esse é um desafio que deve ser encarado, porque não há nada mais vazio do que dizer que "o elenco é o mesmo" ou que "o time de Guardiola encantava mais", o que ainda é um equívoco, visto que a equipe de Vilanova poucas vezes fez um jogo completo com o onze que o novo treinador pretender levar a campo nos momentos decisivos. Ontem, por exemplo, Tito iniciou o duelo que fechou a noite com esses jogadores, ainda que tenha colocado Iniesta aberto à esquerda do ataque. Com Villa ainda sem estar no auge da forma e Tello e Alexis Sánchez em más fases, é perfeitamente plausível ver o meio-campista fazendo as vezes no ataque, como faz costumeiramente pela seleção espanhola.

O Barcelona de Tito Vilanova cumpre com competência, ainda que não com excelência, o que se espera dele: ele vence. Ontem, nos 4x0 diante do Levante, o Tito Team igualou o melhor arranque da história da Liga Espanhola, que, até o momento, pertencia em solitário ao Real Madrid de 91/92. À época, a equipe treinada por Antic somou 12 vitórias e um empate nas 13 primeiras rodadas, exatamente os mesmos registros que apresenta o Barça atual. No futebol espanhol, considerando Liga BBVA, Liga Adelante e Segunda División B, os blaugranas são os únicos a não conhecerem a derrotam em território doméstico, após o Tenerife perder sua primeira partida no sábado. Em âmbito continental, foram derrotados pelo Celtic por 2x1, pela quarta rodada da Uefa Champions League. Mais cedo, no início da temporada, uma derrota para o Real Madrid por 2x1 que custou a Supercopa Espanhola.

Mas essa excelência, pelo visto, começa a dar as caras. Contra Zaragoza, Spartak Moscou (primeiro tempo) e Levante, o Barcelona fez jogadas e gols semelhantes aos dos tempos áureos com o treinador anterior. Coincidentemente, o bom futebol retornou justamente quando Puyol se recuperou de lesão e formou a zaga ao lado de Piqué. A melhora defensiva é considerável. A recomposição também é feita com mais atenção. Pelo menos nesses três jogos, o Barcelona ofereceu pouca chances aos adversários e os laterais sofreram poucas bolas nas costas, algo que tornou-se praxe nos três meses anteriores. Jordi Alba iniciou a temporada em alto nível e não é exagero dizer que, atualmente, ele é o melhor lateral esquerdo do mundo, enquanto Marcelo não está apto por lesão.

No meio-campo, uma figura cresce e impussiona o Barcelona: Andrés Iniesta. Após um início de temporada modorrento, onde não engatou sequência na equipe titular graças à fase de Fàbregas, ele está fazendo jus ao prêmio de melhor jogador da Europa. Contra o Levante, ratificou a boa fase com atuação espetacular, ofuscando Messi. Foram três assistências e um golaço para dissipar as dúvidas. Por outro lado, o grande maestro Xavi permanece tímido. Fàbregas, quando escalado no setor do camisa 6, mostrou mais serviço e apresentou um leque de jogadas maiores que os do atual Xavi. Cesc deu oito assistências para gols e anotou quatro tentos, enquanto Xavi assistiu apenas uma vez e foi às redes três vezes.

O craque do time tem correspondido até num nível acima do normal. Após apresentar uma versão mais humana, Lionel Messi já desempenha um futebol digno de melhor do mundo. Se movimentando com mais contundência e arriscando mais dribles e arrancadas, ele está bem longe do Messi tímido que iniciou a temporada, muito preso à função de um verdadeiro nove. Seus números assustam. São 82 gols em 2012 e 26 na temporada 2012/2013. Após ultrapassar a maior marca de Pelé num único ano, La Pulga está a um passo de chegar em Gerd Müller, o maior artilheiro, que marcou 85 gols em 1972. Agora é questão de tempo. Artilheiro isolado da Liga Espanhola com 19 gols e da Champions League com 5 (ao lado de Artur e Cristiano Ronaldo), o dado a seguir assusta: equipes como Liverpool e Milan marcaram 71 e 81 gols ao longo do ano, menos do que o argentino sozinho.

Ainda assim, há quem viva um pesadelo. Antes tratado como peça-chave, Daniel Alves já não é mais tão fundamental. Mais uma vez lesionado (pela quarta vez em três meses), ele ficará duas semanas fora do gramado. Montoya não é um substituto à altura, mas tem sido essencial porque está servindo para contrabalancear as subidas de Alba pela esquerda. Até por ser mais conservador que o baiano, o canterano deixa o sistema defensivo menos exposto. Sua atuação no superclássico do início de outubro foi positiva. Daniel Alves, por ter boa qualidade ofensiva, poderia ser opção para jogar aberto à direita no ataque, papel este que desempenhou em algumas partidas com Guardiola, quando o treinador optou pelo uso do 3-4-3. O entendimento com Xavi e Messi pode ajudá-lo.

Finalmente, após algumas críticas e especulações de fim de ciclo, o Barcelona mostrou capacidade de ser avassalador novamente. Com o bom futebol de volta, será que veremos a melhor equipe dessa geração encantar em campo novamente, como vimos com tanta frequência nos últimos quatro anos?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O dérbi de Reyes

 Reyes brilha no dérbi de Sevilha, recupera moral com torcedores e ressurge na temporada (El Desmarque)

José Antonio Reyes é um paradoxo difícil de entender e mais ainda de explicar. Dotado de técnica, o meio-campista possui uma habilidade incomum entre os espanhóis. Fatalmente, tinha futebol suficiente para se tornar um jogador world-class, sem exageros. Dono de uma perna esquerda mágica, no entanto, nunca chegou a ser o que prometia. Hoje, quando se pensa em Reyes o rótulo de eterna promessa vem à cabeça.

Nas categorias de base do Sevilla, Reyes já demonstrava todo seu potencial. Em 1999/2000, com apenas 16 anos, fez sua estreia pelo clube de Nervión. À época, a fase sevillista era negra. Rebaixado para a segunda divisão e vivendo uma grave crise financeira, a diretoria resolveu apostar nos canteranos. Na Liga Adelante, treinado por Joaquín Caparrós, o conjunto andaluz sagrou-se campeão e retornou à elite. Ali, começava a história do jovem nascido em Ultrera no futebol espanhol. Mais jovem jogador da história da primeira divisão a marcar um gol, Reyes converteu-se no protagonista do time, liderando uma magnífica geração de canteranos que havia conquistado a Copa do Rei juvenil nos dois anos anteriores.

Após passar por Arsenal, Real Madrid e Atlético de Madrid, Reyes retornou ao Sevilla no início do ano. Àquela altura da temporada, os hispalenses precisavam de um jogador de seu naipe para brigar por uma vaga na Champions League. Canterano e querido pelos torcedores, chegou sob confiança dos aficionados, que esperavam que suas esporádicas atuações mágicas passassem a ser mais frequentes. Não aconteceu. Em cinco meses, ele nada fez. Nem chegou a alternar partidas boas com ruins, algo praxe em sua carreira. O estopim foram as vaias sofridas após ser substituído no dérbi de Sevilha no Pizjuán, a duas rodadas do fim. O Sevilla perdeu para o Bétis em casa por 2x1, emplacou o quarto clássico consecutivo sem vencer o maior rival e deu adeus às chances de conseguir uma vaga na Liga Europa.

A partir dali, ele voltou ao ostracismo. Esquecido e relegado ao banco para um Perotti que voava, viu o Sevilla iniciar a atual temporada de maneira positiva sem sua presença na equipe titular. Mas o dérbi, que o levou ao inferno, serviu para fazer ressurgi-lo. Ontem, no principal jogo da rodada, o Sevilla esmagou o Bétis no Pizjuán por 5x1. Reyes teve atuação de gala. Logo aos 17 segundos de jogo, mostrara que aquela seria sua noite. O gol mais rápido do atual campeonato e da história do dérbi (superando, curiosamente, marca de Pepe Mel, atual treinador do Bétis, que havia marca um gol aos 35 segundos no dérbi de 90/91) foi o largar da reconciliação com os torcedores que o aplaudiram ao término do duelo. Doblete, assistência e jogadas importantes pelo lado esquerdo foram os ingredientes que tornaram Reyes o melhor em campo.

Em sua melhor partida desde o retorno a Nervión, Reyes pode ter visto um divisor d'águas. Os rojiblancos recuperaram a moral e ratificaram a briga por uma vaga na Champions League. No próximo final de semana, tem uma missão complicada: encara o Atlético de Madrid no Vicente Calderón. Desde já, Reyes é assunto. Não só pelo reencontro com o estádio no qual saiu brigado, mas pelo o que poderá fazer. Em paz após momentos conturbados, fica a pergunta: ele terá continuidade? Uma interrogação eterna quando se trata de Reyes.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Prazer, Europa

 Isco brilha na Champions League e se consolida como um dos melhores jovens do mundo (getty images)
 
O Málaga obteve um feito histórico no San Siro. Ao empatar com o Milan por 1x1, os blanquiazules, em sua primeira participação na Uefa Champions League, conseguiram com duas rodadas de antecedência a classificação às oitavas de finais da competição. Naquele que foi considerado, por meio de uma votação no site do periódico andaluz El Desmarque, o jogo mais importante da história do clube, o Málaga começou "assustado", acanhando-se perante adversário e estádio histórico, mas logo deixou a timidez de lado e passou a encarar de igual para igual o time treinado por Allegri. Durante boa parte do primeiro tempo, os andaluzes sufocaram os rossoneros, chegando a abrir o placar com Eliseu. No segundo tempo, a necessidade do empate obrigou o Milan a atacar mais e o gol de empate saiu através de Pato.

O gol do português foi oriundo de uma assistência tirada da cartola de Isco. O jovem, até o momento, brilha na temporada e tem feito partidas de ouro na principal competição de clubes do mundo. Por mais uma temporada, Isco faz jus ao rótulo de promissor, mas dessa vez vai se consolidando como realidade. Não é exagero dizer que ele está, por que não, no grupo dos melhores jovens da nova geração do futebol, ao lado de nomes como Götze, Reus, Oscar, Neymar, Jovetic e Balotelli.

Cria do Valencia, estreou pelo clube de Paterna há dois anos, contra o Logroñes, pela Copa do Rei, e marcou dois gols. A estreia perfeita fez o garoto ser, precocemente, o substituto natural de David Silva, à época brilhando com a camisa blanquinegra. Ainda nessa temporada, Isco teve participação fundamental na campanha de acesso do Valencia Mestalla à Segunda Divisão B ao lado do também promissor Paco Alcácer. Badalado entre os espanhóis por sua participação no último Mundial Sub-17, quando foi terceiro lugar com a Espanha, Isco jogou só cinco jogos da Liga e apareceu até na Liga dos Campeões com o elenco A. O blog o elegeu como uma das 15 melhores promessas do futebol espanhol na temporada. A lógica era imaginar ele tendo mais espaço na temporada posterior. Engano.

Numa transferência bastante surpreendente, o Málaga passou a cláusula de seis milhões de reais e levou o jovem de volta à sua terra natal. Na equipe de Pellegrini, não tardou a ser titular. Em 2011/2012, foi o melhor jovem da Liga Espanhola. A recente venda de Santi Cazorla ao Arsenal criou a lacuna de que Isco, hoje com 20 anos, precisava para virar protagonista no time da Costa do Sol. Em 16 jogos nesta temporada, marcou quatro gols, deu quatro assistências e chama a atenção por atuações bem mais dominantes no meio-campo. Em âmbito europeu, não tem deixado a desejar. Seu estilo de jogo, semelhante ao de Iniesta, rende comparações com o meio-campista do Barcelona.

A explosão de Isco transforma o Málaga numa das melhores equipes da Espanha. 5º colocado na Liga e a um ponto de terminar a fase de grupos da Champions em primeiro, os blanquiazules se preparam para a época mais densa da temporada. Até o dia 6 de janeiro, enfrenta Real Sociedad, Osasuna, Zenit (UCL), Valencia, Cacereño (Copa do Rei), Getafe, Anderletch (UCL), Granada, Sevilla, Real Madrid e Barcelona. Num campeonato onde a disputa por vagas nas competições europeias preza pela imprevisibilidade (hoje, por exemplo, o Bétis está na zona de UCL), as perdas de pontos são recuperáveis. Influente no ataque, Isco será fundamental para melhorar o aproveitamento. Enquanto isso, ele se prepara para ser o maior trunfo da equipe no tão esperado mata-mata da Champions League.

*Na semana passada, o personagem do Málaga retratado aqui foi Joaquín.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Periquitos em baixa

 Cabisbaixo: é a tônica dos jogadores do Espanyol na atual temporada (getty images)

O fã mais afinco do futebol espanhol acostumou-se a, nos últimos anos, presenciar um Espanyol guerreiro, enjoado de derrotar e que gostava de complicar a vida dos gigantes, principalmente seu rival Barcelona. Nesta temporada, tem visto totalmente o contrário. Bastante enfraquecido em relação aos últimos anos, a tendência é os péricos disputarem algo que ainda não haviam encontrado outrora: o rebaixamento. Penúltimo colocado da Liga com nove pontos, a equipe de Maurício Pochettino já convive com o descenso desde cedo, sabendo o rumo que irá tomar.

Ontem, ganhou um fôlego nesta disputa ao derrotar, surpreendentemente, a Real Sociedad no Anoeta por 1x0. Momentaneamente, chegou a sair da zona de rebaixamento, voltando quatro horas depois, após o término de Granada 1x2 Athletic Bilbao, que tirou os bascos de lá. Na quinta-feira, o discurso utilizado por Pochettino após a derrota por 3x1 para o Sevilla, no confronto de ida da Copa do Rei, ratificou o momento negro dos barcelonistas. Perguntado sobre o motivo de ter preservado jogadores como Verdú, Raúl Rodríguez e Christian Alvárez, ele foi claro: "nós precisamos tratar as próximas partidas (da Liga Espanhola) como se fossem finais", disse.

Os últimos três resultados pela competição foram positivos. As vitórias contra Rayo Vallecano e Real Sociedad e o empate contra o Málaga na Andaluzia deram sete pontos importantes, que podem ser o diferencial lá na frente, quando a disputa apertar. Os próximos jogos exigirão mais dos comandados do treinador argentino: Osasuna (casa), Valencia (fora), Getafe (c) e Granada (f). Uma vitória ante o Osasuna, último colocado e outro forte candidato à Liga Adelante, é fundamental por ser, exatamente, um rival direto na disputa. Ganhar do Valencia no Mestalla é difícil, então o jeito é compensar contra Getafe no Cornellà e Granada nos Carménes.

Dentro de campo, os catalães são sofríveis. Um feixe de luz em meio à escuridão atende-se pelo nome de Verdu, que toma total controle do meio-campo e suas ações. A dependência é tanta que todas as jogadas só nascem do seus pés. Algo semelhante ao que aconteceu com o Deportivo há duas temporadas, quando os galegos dependiam à exaustão de Valerón e Adrián. Em Barcelona, Verdu sente a falta de um companheiro de ataque para concluir suas jogadas. O jovem Longo, emprestado pela Inter, é talentoso, mas parece ter não se adaptado ainda. Ao contrário de Philippe Coutinho, que, na temporada passada, precisou de cinco meses para mostrar um futebol decente.

A zaga, um dos principais trunfos do time nos últimos anos, também vive fase negra. A carência no jogo aéreo é enorme. Em Valladolid, num jogo que caminhava para uma vitória blanquiazul, Amat só olhou Nauzet subir e empatar o duelo. As falhas individuas múltiplas evidenciam os problemas na retaguarda. Cabe a Alvarez a missão do milagre, que nem sempre é possível. Na vitória de ontem, ele foi perfeito e saiu como o melhor em campo. Mas não será sempre que isso acontecerá.

Em crise administrativa, com média de público de 70% da capacidade do estádio, um treinador com potencial mas que se vê sem alternativas e elenco enfraquecido, o Espanyol é favorito ao rebaixamento. Mas nem tudo é (ainda) tragédia. Apesar dos resultados recentes, a equipe esboçou uma melhora considerável nas últimas semanas. A diretoria périca se especializou em fazer um mercado de inverno bastante útil nos últimos anos, com capturas positivas ao elenco. Se seguir essa tendência, há uma luz no fim do túnel de Cornellà El-Prat.

sábado, 3 de novembro de 2012

Sequência de fogo

Falcao García, com média de gols tão boas quanto as de Messi e Cristiano Ronaldo, é o principal trunfo de Simeone na sequência que irá mostrar se o Atlético de Madrid é candidato ou não ao título (getty images)

Hoje, às 19h, o Atlético de Madrid irá à Comunidade Valenciana enfrentar o Valencia no Mestalla. É o primeiro de quatro jogos que a equipe treinada por Diego Simeone terá para fazer fora de casa que irá mostrar se é candidata ou não ao título. Invicto na temporada, essa é a "prova final" dos rojiblancos, que ainda são visto com olhares de desconfiança. As próximas visitas são ao Carménes (Granada), Santiago Bernabéu (Real Madrid) e Camp Nou (Barcelona). Em jogo, mais do que provar que pode brigar pelo título. No dérbi de Madrid, o Atléti, pela primeira vez em anos, chega com status para quebrar um tabu que dura 13 anos: vencer o principal rival.

O calendário irá requer bastante concentração. Simeone, atento a isso, tenta tirar o peso da responsabilidade de seus jogadores a cada coletiva. "Podemos brigar pelo título, mas vamos com calma", disse o argentino após a vitória do último domingo, contra o Osasuna. As estatísticas mostram que os colchoneros são capazes. Se derrotar o Valencia hoje, irão chegar ao melhor início de campeonato em sua história. As coincidências também são históricas: assim como em 1996/1997, temporada na qual ganhou a Liga pela última vez, divide a liderança com o Barcelona e está oito pontos à frente do Real Madrid em dez rodadas. A distância para o terceiro colocado Málaga, que começa a dar sinais de cansaço - até por conciliar Liga e Champions -, é de sete pontos.

Acima de tudo, Simeone irá precisar contar com o melhor Falcao, principalmente contra Real Madrid e Barcelona. Na temporada passada, o colombiano marcou dois gols contra a dupla, mas viu sua equipe sucumbir. Atualmente, a fase do Tigre é de outro mundo. Com a mesma média de gols de Messi e Cristiano Ronaldo, ele tem sido cotadíssimo para disputar a Bola de Ouro com os dois principais jogadores do mundo. Vice-artilheiro da Liga ao lado do português, Falcao, com 17 gols nos últimos 11 jogos, superou no final de semana passado o melhor início de temporada de Messi. Em enquete do Marca e do As, consideram o momento do centroavante melhor que do gajo e do argentino.

A defesa, em especial, também irá precisar manter o ritmo elevado que vem mostrando até o momento. Miranda, melhor zagueiro deste início de Liga, é homem de confiança de Simeone. O argentino, aliás, tem bastante méritos por ter ajustado uma defesa bastante criticada há muitos anos. Hoje, a retaguarda é sólida e passa por pouco apuros. Na lateral esquerda, El Cholo conseguiu recuperar o melhor Filipe Luís, em nível semelhante ao apresentado no Deportivo La Coruña, quando foi o melhor lateral esquerdo da Liga Espanhola 07/08.

O Atlético de Madrid 2012/2013 joga menos tempo com a bola, mas sabe se virar sem ela. Dificilmente eles terão uma maior posse de bola contra Valencia, Real Madrid e, sobretudo, Barcelona, mas não se enganem com isso. Simeone gosta de cedê-la para, num escape, sair no contra-ataque, outra característica dessa equipe. O Atléti, também, busca o resultado até o último minuto, uma marca registrada do clube historicamente. Há duas semanas, um gol de falta de Falcao no último lance da partida deu uma vitória suada à equipe contra a Real Sociedad, em San Sebastian, rival que irá dar trabalho aos grandes em casa. Se o Atlético é ou não capaz de, após anos, brigar pelo título com Real Madrid e Barcelona, saberemos nas próximas semanas. Mas os colchoneros mostraram que são capazes de desafiar os gigantes espanhóis.

Próximos jogos do Atlético de Madrid
Valencia - Atlético
Atlético - Getafe
Granada - Atlético
Atlético - Sevilla
Real Madrid - Atlético
Atlético - Deportivo
Barcelona - Atlético

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A fênix de Málaga

 Após temporadas opacas no Valencia, Joaquín renasceu no Málaga, onde é fundamental para as pretensões do time na temporada (AP Photos)

Todos sabem que o verão que o Málaga passou foi rodeado de polêmicas. O clube perdeu Cazorla, Mathijsen e Rondón, que criticaram a postura controversa da administração do sheikh Abdullah Al-Thanil. Sobre esse assunto, tratamos recentemente. O estardaçalho feito durante esse momento negro foi grande, mas, analisando calmamente, desnecessário. Em terceiro lugar na Liga e a dois pontos de avançar de fase na Champions League, a equipe blanquiazul vive um de seus melhores momentos na história. Nesse cenário, um nome tem se destacado positivamente. Trata-se de Joaquín Sánchez, um dos jogadores espanhóis mais talentosos dos últimos anos, mas que teve uma carreira atrapalhada, principalmente, pelas lesões.

Formado nas categorias de base do Bétis, ele nunca chegou a ser o que prometia. Titular da seleção espanhola na Copa de 2006, teve uma temporada de ouro com os verdiblancos em 2004-2005, quando foi o melhor jogador do título da Copa do Rei. No Valencia de Villa e Silva, perdeu a titularidade quando o jovem Pablo Hernández despontou. Mesmo após a saída do Guaje para o Barcelona, quando Joaquín assumiu a lendária camisa sete, não conseguiu se firmar na equipe titular, sendo deixado de lado por Unai Emery. Sua contratação por parte do Málaga foi vista sob desconfiança. E com razão. Na temporada passada, o andaluz alternou boas e más partidas e viu Cazorla e Isco assumirem o protagonismo. Com a saída de Santi ao Arsenal, ele tem sido um substituto à altura.

Os aficionados malagueses veem o melhor de Joaquín a cada jogo. Com cinco gols, três na Liga e dois na Champions, ele é fundamental para as pretensões de um Málaga que mostra que irá brigar novamente por uma vaga na principal competição europeia. Sempre caindo pelo lado direito, mas com liberdade para centralizar e criar jogadas para o centroavante Saviola no 4-2-3-1, não tem decepcionado. Há uma semana, contra o Milan, perdeu um pênalti na primeira etapa, mas deu a volta por cima marcando o gol da vitória que levou La Rosaleda à loucura. Os nove pontos na UCL (100% de aproveitamento) deixa os blanquiazules a um passo da história classificação às oitavas.

Ainda que, convenhamos, Isco seja o principal jogador do Málaga neste início de temporada, até por cumprir um papel tático de protagonista, Joaquín não está para trás. Manuel Pellegrini ratifica sua importância a cada coletiva. No ranking do Marca, a eterna promessa é o sexto melhor jogador da Liga Espanhola 12/13, atrás de Messi, Jesus Navas, Falcao García, Iago Aspas e Isco. Com 31 anos, Joaquín faz jus ao apelido de fênix que vem recebendo: renasceu das cinzas para ser destaque de uma equipe que faz história.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Zorilla indesejável, desafiador Atléti e o renascido Valencia

Em quatro jogos feitos no José Zorilla nesta temporada, o Valladolid venceu dois, empatou um e perdeu um. Entre os destaques, as vitórias, que vieram ante Levante (2-0) e Rayo Vallecano (6-1). Fora de casa, o desempenho não é o mesmo: são três derrotas e apenas uma vitória. No último sábado, os pucelanos perderam para o Málaga por 2x1. Em oito rodadas, estão na décima colocação, com dez pontos. A campanha caseira pode não impressionar pelos adversários, mas já mostra que será o carro-chefe da equipe na luta contra o rebaixamento.

Na temporada passada, o Valladolid conseguiu associar um futebol atrativo a uma defesa sólida (a melhor da Liga Adelante ao lado do Celta Vigo). A efeito de comparação, em 2009/2010, havia sido a mais vazada com 74 gols. Em agosto, em entrevista, ao Marca, o treinador Miroslav Djukic prometeu que isso não vai mudar. Num discurso à Pep Guardiola, o sérvio foi sintético: "se for para morrer, que morremos praticando nossa filosofia". Jesus Ruéda, zagueiro que se destacou na temporada passada, também seguiu a mesma linha. Ele afirmou que o time deve manter seu estilo, ousadamente inspirado no Barcelona. O rebaixamento disfarça, mas o Villarreal, que joga um futebol semelhante ao dos pucelanos, colhe frutos na Liga Adelante por não se acovardar mesmo nos momentos de adversidades.

Na segunda divisão de 2011/-12, o Valladolid teve um aproveitamento de 72% como mandante, acumulando 50 de seus pontos 80 pontos na temporada regular. O time de Djukic sofreu apenas 11 gols em 23 partidas no Zorilla, 20 a menos do que levou longe de casa. Se mantiver o aproveitamento de 73% em casa, mesmo que não pontue como visitante, o pucelanos certamente escaparão da queda com seus 42, 43 pontos. É claro que eles devem roubar pontos longe de Castilla e Leão, porém o grande mérito do treinador é mesmo a transformação do Zorilla num estádio indesejado pelas outras equipes.

 Falcão García: o cara (getty images)

Clap, clap, clap
O gol de Falcão García aos 47 minutos do segundo não só colocou o Atlético de Madrid na co-liderança da Liga ao lado do Barcelona, como mostrou que os colchoneros irão desafiar blaugranas e merengues. A equipe jogou bem até certo ponto, mas o suficiente para vencer um adversário que certamente irá incomodar muito no decorrer da temporada, sobretudo em casa, a Real Sociedad.

E o Valencia, hein?
Não jogou bem, mas foi buscar uma virada ante o Athletic Bilbao na bacia das almas. A torcida que vaiava bastante mudou em apenas dois minutos, tempo dos gols de Tino Costa e Haedo Valdez, que começa a mostrar serviço. O 4-4-2 que juntou o paraguaio e Soldado saiu-se muito bem, mas Jonas, melhor ché na temporada até então e que saiu para entrada do ex-Hércules, não pode ficar de fora. Pellegrino tem uma dor de cabeça. O Valencia ainda não convenceu e, na quarta-feira, tem jogo decisivo pela Uefa Champions League. Caso queira passar de fase, precisará somar, pelo menos, quatro pontos nos próximos dois confrontos contra o Bate, que derrotou o Bayern na segunda rodada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cenário diferente

 Iniesta e Pedro: o canário, melhor em campo contra a Bielorrúsia, deve começar novamente como titular contra a França (getty images)

Em Donetsk, há quatro meses, a Espanha entrou em campo contra a França sob dúvidas. Após uma fase de grupos onde mostrou um futebol bastante pragmático, a Fúria precisava se desligar dos rótulos. Nos primeiros 30 minutos, a seleção encaminhava-se para tal. Nesse período, o time de Vicente Del Bosque pressionou a França como ainda não havia feito com nenhum adversário nos três primeiros jogos. E abriu o placar, após passe incisivo de Iniesta, arrancada e cruzamento de Alba na medida para Xabi Alonso testar. Depois disso, a Roja voltou ao modo preguiça. Tocou, tocou, tocou, pouco foi ameaçada e achou mais um gol no final do jogo, novamente com Xabi Alonso, convertendo pênalti controverso sofrido em cima de Pedro.

Amanhã, às 16h, as seleções se enfrentam no Vicente Calderón, em Madrid. A partida marca o retorno de Fernando Torres ao estádio onde teve suas primeiras grandes exibições como profissional. El Niño, provavelmente, não será titular, mas o reencontro com a torcida colchonera será emocionante. Os aficionados do Atlético de Madrid prometeram uma homenagem ao seu ídolo antes da bola rolar. Em campo, Del Bosque deve manter Fàbregas como falso nove. O barcelonista se adaptou à posição e sente-se à vontade em campo com uma maior liberdade de movimentação. Mais cedo, na coletiva antecedente ao duelo, Cesc afirmou que a posição é relativa, ainda que prefira atuar de meio-campista. O Marca fez um levantamento afirmando que, nesse sistema, a Fúria marca mais gols.
As prováveis escalações, segundo o Marca

Há quatro meses, o duelo, válido pelas quartas-de-finais da Euro, foi naturalmente estudado durante boa parte da primeira etapa. Amanhã deve ser diferente. Com as duas seleções dividindo o poderio de favoritas do grupo, o confronto tende a ser mais disputado. Ainda mais pelo fato de haver mais uma partida a ser feita entre eles, daqui a um ano, o que mostra que tanto França quanto a Espanha devem ousar mais. Ninguém tem convicção de que a dupla irá superar Geórgia, Finlândia e Bielorrúsia.

As lesões de Piqué e Puyol deixa a defesa espanhola sem seus donos. Del Bosque tem Raúl Albiol à disposição, mas deve optar pela improvisação de Busquets, como no confronto de sexta. O treinador, também, não sabe se irá contar com Sergio Ramos, com desconfortos musculares. Embora o andaluz esteja apto pelo departamento médico, Del Bosque afirmou que só irá se decidir em última hora, pois não pretende forçar seu uso. No ataque, após a ótima atuação com direito a hat-trick ante a Bielorrúsia, Pedro larga na frente de Villa e Jesus Navas para iniciar o jogo. A defesa de Laurent Blanc atua bem adiantada, e a dupla formada por Rami e Sakho é muito lenta. Koscielny, do Arsenal, parecia ser uma alternativa interessante para minimizar a questão, mas Blanc prefere os zagueiros de Valencia e PSG pelo fato do gunner não viver boa fase. A capacidade de Pedro de se infiltrar nas defesas adversária  pode ser a chave da vitória espanhola. Xavi, que irá atuar no setor onde mais gosta, provavelmente irá abusar das bolas lançadas às costas de Debuchy.

Do meio para frente, em compensação, a França é ótima. Ainda que M’Vila seja desfalque, Matuidi  pode substituí-lo em alto nível. A tendência é o meio-campo francês sentir-se mais "à vontade" em relação ao confronto de junho pelo fato do meio-campo espanhol estar desfalcado de seu principal marcador, Busquets. Com Xabi Alonso, que não é marcador nato, jogando de primeiro volante e organizando o time à frente da defesa, a Fúria fica mais "exposta". O contra-ataque francês exigirá concentração da defesa Roja. Ribéry, à esquerda, deve centralizar para criar jogadas, trocando posição com Benzema, que, assim como contra o Japão, irá jogar no auxílio ao centroavante Giroud. Menéz, à direita, irá dar trabalho extra ao ofensivo Alba, que terá que fazer uma marcação semelhante a que fez em Di María, no superclássico - onde se saiu bem, diga-se de passagem.

A França perdeu para o Japão num lance de azar na última sexta-feira. Os Bleus controlaram a partida, tiveram quase 60% da posse de bola, mas sofreram um contra-ataque fatal que resultou no gol de Kagawa. Amanhã, a equipe de Blanc irá trabalhar como os nipônicos. Vicente Del Bosque sabe disso. A seleção espanhola tem armas mais do que suficientes para levar os três pontos, mas a França, como bem disse Iniesta, promete dificultar e muito a vida dos atuais campeões mundiais e europeus.

sábado, 13 de outubro de 2012

O falso nove Fàbregas

 Fàbregas é o falso nove que Del Bosque tanto tentou achar (Zimbio)

Francesc Fàbregas surgiu no Arsenal como um garoto-prodígio cerebral. Capaz de dar excelentes passes longose e curtos e organizar o jogo, o jogador atuava como segundo volante. Antes, nas canteras do Barcelona, ele era o cérebro da famosa geração 87, tida até hoje como a melhor equipe da base blaugrana. Com o passar do tempo, Arséne Wenger, técnico do Arsenal, adiantou Fàbregas a uma nova posição, mas sem que ele perdesse sua principal característica, a de organizador. Em seus últimos anos em Londres, Cesc passou a atuar centralizado na linha de 3 do 4-2-3-1, com Nasri e Walcott abertos pelos flancos.

Na seleção, ele havia atuado dessa maneira na Eurocopa de 2008. Quando Villa se lesionou e ficou fora da final contra a Alemanha, Aragonés abandonou o 4-4-2 para dar vez ao 4-2-3-1, que teve Fàbregas na armação, com Silva aberto à direita, Iniesta aberto à esquerda e Xavi e Marcos Senna na linha de trás. Ao voltar para o Barcelona, o catalão sabia que disputar posição com Iniesta e Xavi seria tarefa ingrata. Além disso, na equipe de Guardiola, o terceiro meio-campista (Iniesta) tinha (e ainda tem com Tito Vilanova) a função de acelerar a bola, ao contrário do segundo volante (Xavi), que cadencia mais o jogo. Para não ter que tirar a dupla da equipe titular e nem deixar Cesc no banco, Pep resolveu adiantar ainda mais o canterano, que passou seus sete primeiros meses jogando no ataque ao lado de Messi e Alexis Sánchez. Em algumas partidas, chegou a atuar de falso nove.

Essa proposta de jogo foi levada à seleção. No amistoso de novembro passado contra a Inglaterra, Del Bosque testou Fàbregas pela primeira vez como falso centroavante. Não deu certo. Fàbregas sentiu-se perdido em campo e pouco participou do jogo. Para tentar consertar seu erro, o treinador o inverteu com Silva. A tragédia aumentou. Logicamente, Del Bosque desistiu da opção. Temporariamente. A lesão de Villa e a má fase de Torres o obrigou a repensar no assunto. Na estreia da Eurocopa contra a Itália, Fàbregas apareceu na criticada posição. O gol que salvou a Fúria da derrota não isentou o técnico madrilenho das críticas, mas ele não abandonou sua, digamos, "filosofia". Ao final do torneio, Fàbregas não apareceu em momento algum no meio-campo e ainda foi um dos destaques.

Hoje, o barcelonista é um falso nove que caminha para a perfeição que a posição obriga. Durante a Euro, cheguei a comentar que ele era um 12º jogador essencial para uma equipe que estava longe de apresentar o futebol encantador dos últimos anos. No momento, Fàbregas é peça-chave e titular absoluto. É claro que, por ter atacantes confiáveis à disposição, Del Bosque pode variar seu titular; mas, à primeira vista, Cesc está à frente de todos. O treinador já acenou com a possibilidade de utilizá-lo ao lado de Villa, que atua aberto à esquerda, embora seja difícil aparecer os dois num jogo oficial por Iniesta ser o dono da posição.

Contra a Bielorrúsia, Pedro foi o destaque. O canário anotou três gols e assistiu Alba marcar após lindo passe de calcanhar, na vitória por 4x0. Mas Fàbregas merece, novamente, menção honrosa. Ele não marcou, mas deu uma assistência para um dos tentos do atacante culé. Ainda que a qualidade do adversário seja fraca para chegar a uma conclusão definitiva, Cesc caminha para tornar-se um falso centroavante útil. Com liberdade de movimentação, ele participa da incessante troca de passes no meio-campo, cai pelos flancos e chega à área para concluir, como Messi no Barcelona. Há quem diga que, por estar jogando muito bem adiantado, Fàbregas "esqueceu" como atuar no meio-campo. O mal início de temporada em sua posição de origem até dá margem à especulação, mas contra Sevilla, Benfica e o início do segundo contra o Real Madrid joga por água abaixo essa tese. Fàbregas é craque e sabe se adaptar a qualquer função, seja ela meio-campista ou centroavante.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Um pequeno problema

 A dor de cabeça é sua, Del Bosque (El Digital)

A Espanha entra em campo amanhã e na próxima terça-feira para encarar Bielorrúsia e França respectivamente pelas Eliminatórias Europeias para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O primeiro adversário não irá requer muito esforço, mas bastante concentração, para evitar possíveis surpresas como a que a Geórgia, na primeira rodada, quase aprontou. Contra a França, em Madrid, a Roja tem a obrigação de apertar a seleção de Blanc e ser mais incisiva do que no confronto da Eurocopa, quando venceu por 2x0 num jogo sonolento.

A convocação de Vicente Del Bosque para os duelos revela uma carência que começa a ganhar atenção na imprensa espanhola: a falta de zagueiros confiáveis. A atual geração tem Sergio Ramos, Carles Puyol e Gerard Piqué como defensores consagrados. Mas o treinador esbarra na falta de opções quando um deles está fora de combate. Dessa vez, ele não terá a dupla catalã, lesionados, e terá que quebrar a cabeça para achar um companheiro para o andaluz. Em teoria, Del Bosque tem somente Raúl Albiol como zagueiro de ofício, mas o madridista tende a ser ignorado pelas poucas partidas feitas na temporada. Como titular, atuou somente em uma, contra o Barcelona na ida da Supercopa.

O jeito, portanto, é improvisar. Javi Martínez, em tese, deveria ser a primeira opção de Del Bosque. Com Marcelo Bielsa, o basco atuou mais como zagueiro do que de volante na temporada passada e não fez feio. Com boa saída de bola e importante no jogo aéreo, foi sem dúvidas um dos principais defensores da Liga 12/13. No Bayern de Munich, neste início de temporada, Martínez tem retornado à sua posição de origem. Ora substituindo Schweinsteiger, ora substituindo Luiz Gustavo, ainda não apareceu recuado. Em sua coletiva, o treinador confirmou a possibilidade de utilizar Busquets na zaga. O barcelonista, durante um período da temporada 2010/2011, atuou assim com Guardiola, que também havia perdido Piqué e Puyol.

Atualmente, o futebol convive com essa escassez de zagueiros consagrados. Nos principais clubes da Liga, os jovens ganham destaque. No Athletic Bilbao, Mikel San José e Aurtenetxe ganham destaque com Bielsa e mostram o quanto são promissores, ainda que tenham que corrigir vícios, naturais por suas idades. No Barcelona, a utilização de Bartra no superclássico chegou a ser especulada. O zagueiro teve atuações positivas na pré-temporada com o elenco A e é opção para Tito Vilanova na hora do aperto. Víctor Ruíz e Álvaro Domínguez também entram nessa lista. E não podemos esquecer de Iñigo Martínez, da Real Sociedad, eleito pelo blog a principal reveleção do campeonato passado.

Mas eles não passam de jovens promissores sem cancha para jogos como contra a França, por exemplo. Del Bosque deveria testá-los em amistosos, como fez com o lateral direito Montoya há um ano. Se do meio para frente sobram de opções e volta e meia alguém com qualidade é cortado - como Mata na atual lista -, a Espanha esbarra na escassez de nomes confiáveis para a zaga.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Melhorando

 Messi fez seu melhor jogo na temporada e ilusiona o torcedor culé (getty images)

O Barcelona sofreu o primeiro gol, virou e recebeu o de empate logo em seguida. O empate por 2x2 contra o Real Madrid não foi ruim porque, querendo ou não, ele servia bastante para manter a diferença de oito pontos, mas certamente há o que lamentar. A chance desperdiçada por Pedro no último lance do jogo tirou o gosto de uma vitória que seria mais do que essencial e abasteceria de moral uma equipe que, apesar de estar invicta na Liga e na UCL, tem muitas interrogações para responder.

No entanto, há uma melhora substancial dos blaugranas a cada partida. No meio da semana passada, contra o Benfica, o time de Tito Vilanova passou por alguns apuros, mas soube controlar com contundência os Encarnados. No superclássico do final de semana, a história se repetiu no segundo tempo. Após um primeiro tempo mais a favor do Real Madrid, especialmente até o gol de empate marcado por Messi, o Barcelona teve lampejos do tempo áureo na reta final da primeira etapa e durante 80% do tempo do segundo tempo. O gol de empate merengue, por outro lado, escancarou um erro que vem sendo criticado desde o início de temporada pela imprensa: o mau posicionamento da linha defensiva.

Os problemas do Barcelona, porém, não se resumem apenas a isso. À exceção de Daniel Alves, que atuou menos de 30 minutos, Piqué, Puyol e Abidal, titulares da primeira linha de quatro em condições normais, não foram convocados ao duelo por lesão. O condicionamento físico dos jogadores não é o melhor possível. Um problema que já dura desde a última temporada, quando Josep Guardiola viu-se em meio a grande dor de cabeça com as mais de 103 (!) lesões musculares de seus comandados. Javier Mascherano é o retrato da atual zaga barcelonista. O argentino é perfeito no mano-a-mano e, apesar de acharem o contrário, desarma limpamente em boa parte das jogadas; contudo, se posiciona muito mal e volta e meia deixa um adversário em condições de gol.

Mas há luz no fim do túnel catalão. A jogada construída no lance que terminou em chute na trave de Montoya, no fim da partida, mostrou que os jogadores ainda sabem acelerar a bola e confundir o adversário com ela. Foi de Messi para Iniesta, de Iniesta para Pedro, de Pedro para Xavi, de Xavi para Montoya, que acertou um belo chute no travessão de Casillas. O jovem lateral, vale o adendo, substituiu positivamente Daniel Alves. Mais defensivo do que o baiano, a opção por ganhar mais solvência porque, na esquerda, Alba é um lateral reconhecidamente mais ofensivo. Ainda que seu trabalho de reposição tenha recebido nota 10 na crítica do Diário Sport, Alba, certamente, não terá fôlego para subir e descer toda hora.

A atuação de Messi ilusiona o torcedor culé. Após iniciar a temporada mostrando uma versão menos avassaladora e mais humana, La Pulga, sobretudo no segundo tempo, desempenhou um futebol digno de um dos melhores jogadores da história. Arrancou com a bola, deixou companheiros na cara do gol, espalhou pane a uma defesa que estava sólida e marcou dois gols. Só não saiu como protagonista mór do jogo porque, do outro lado, havia um Cristiano Ronaldo sedento por ir às redes. O Barcelona (e Messi) ainda não retornou à forma perfeita, e dificilmente irá encantar tanto quanto nos últimos quatro anos, mas caminha para uma melhora significativa. Pode ter certeza de que esse time irá brigar por todos os títulos da temporada.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Real Madrid aprendeu a lição

 Mourinho e Cristiano Ronaldo são os principais responsáveis pelos recentes resultados positivos do Real Madrid contra o Barcelona (zimbio)

Casillas; Arbeloa, Sergio Ramos, Pepe, Marcelo; Xabi Alonso, Khedira; Di María, Özil, Cristiano Ronaldo; Benzema. Há dois anos, 10 desses 11 nomes começaram como titulares na humilhante derrota de 5x0 para o Barcelona. Naquele dia, apenas Arbeloa começou no banco, entrando no segundo tempo. Os blaugranas continuam sendo superiores, mas atualmente o Real Madrid já consegue enfrentá-los de igual para igual. Os resultados dos superclássicos apenas em 2012 evidencia tal evolução madrilenha: duas vitórias barcelonistas, dois empates e duas vitórias merengues. Ontem, mais um capítulo da história do Superclássico foi escrito. Em partida de gala, o 2x2 mostrou as carências das duas equipes na temporada, mas ratificou o novo peso do duelo. 

Atualmente, o Real Madrid sabe como jogar contra o Barcelona sem se acovardar (muito). Nesse cenário, dois personagens merecem destaque: Cristiano Ronaldo e José Mourinho. O treinador português conseguiu dar um padrão de jogo à equipe que Florentino Pérez tanto tentou achar com Manuel Pellegrini. A lição da manita foi aprendida em peso: para jogar contra o Barcelona, a aplicação tática precisa estar à mil. Após muitos confrontos, Mourinho, estrategista que é, conseguiu encaixar seu jogo ao do rival. Com intensidade, compactação dos setores negando espaços a Messi e velocidade para surpreender a zaga adiantada e em linha do Barça com Cristiano Ronaldo se infiltrando em diagonal, o Real Madrid, hoje, sabe como jogar contra os catalães.

Aí, o craque português tem seus méritos. Sempre taxado por amarelar nos clássicos, ele virou a página. Ao marcar de esquerda o gol que abriu o placar, Ronaldo tornou-se o primeiro jogador da história da rivalidade a marcar em seis confrontos consecutivos. Quem vê o Ronaldo de 2012 e o Ronaldo das temporadas anteriores sabe que houve uma mudança. O atual não tem medo de ousar. Chuta, dribla, toca, provoca. Aquele Cristiano Ronaldo apagado, com medo e displicente que enfrentava o Barcelona é coisa do passado.

Na parte defensiva, houve mudanças substanciais. Ainda que Pepe saia do sério a todo momento (e, convenhamos, se ele não saísse estranharíamos), ele mantém a cabeça no lugar a ponto de não comprometer. A emblemática expulsão no confronto da Champions League 10/11 mudou seus nervos - ainda que, na ida do jogo da Copa do Rei, ele tenha pisado em Messi. E isso ajuda em seu desempenho em campo. Na vitória de abril, por exemplo, o luso-brasileiro teve atuação de gala.

Quem também merece menção é Özil e Di María. O argentino é a válvula de escape dos blancos, sempre impussionando velocidade na parte esquerda da zaga blaugrana e sendo importante na recomposição. A marcação a Daniel Alves (ou Montoya, como no caso de ontem), anula uma dos trunfos do Barcelona. O alemão, por sua vez, vive cenário semelhante ao de Cristiano Ronaldo. E a parceria entre os dois é alta: em superclássicos, são cinco assistências do camisa dez ao gajo, quatro apenas nos confrontos deste ano.

O cenário é tão favorável ao Real Madrid que o empate foi comemorado do lado barcelonista. Tudo bem que deveria ser mesmo, afinal os oito pontos de vantagem se mantém e os azulgrenás atuaram com a zaga reserva, mas fatalmente isso seria lamentado há um ano, por exemplo. E a volta por cima dos merengues favorecem os fãs do futebol espanhol. A equipe de José Mourinho se concentra em jogar bola e não ficar à base de pancadas. Assim, mesmo sendo inferior, conseguiu achar uma fórmula de encarar o Barcelona.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Um Messi humano

Pela primeira vez em três anos, Lionel Messi teve férias completas. Sem Copa América ou Copa do Mundo, o argentino se apresentou no primeiro dia programado por Tito Vilanova. Os exames médicos no primeiro dia da pré-temporada apontaram um Messi tão saudável quanto da época do triplete. Os números deles neste início de temporada mostram até uma superioridade em relação a 08/09: são 10 gols e cinco assistências em 10 jogos. Porém, em campo, o desempenho da Pulga é de um humano qualquer.

A máquina de jogar futebol das últimas quatro temporadas é vista somente em lampejos. Aquém do que pode fazer, ele tem se limitado a dar muitos passes para o lado e pouco finalizar ao gol. Mais disciplente do que o comum, as costumeiras arrancadas raras vezes foram vistas nesses primeiros 10 jogos. A questão é que quando Messi resolve ser Messi alguma jogada eficiente sai. Contra o Spartak Moscou, na estreia da Champions League, o argentino passou 75 minutos do duelo despercebido. Nos 15 minutos finais, marcou dois gols e definiu a virada barcelonista. Na vitória contra o Sevilla, no último sábado, foram duas assistências para Fábregas e Villa decretarem a importante e suada vitória na Andaluzia.

Contra o Benfica, novamente vimos um Messi opaco, mas que à medida que o tempo passava se soltava. Ele voltou a mostrar erros primários e escolhas, no mínimo, controversas. A imprensa espanhola demorou para tocar no assunto, mas aos poucos já começa a perceber a faceta humana do camisa 10. Não se trata de questão física porque Messi está, teoricamente, bem. O Diário Sport, antes do compromisso da Argentina contra Paraguai e Peru, noticiou que ele tem jogado com dores desde o final da temporada passada. Isso nos remete a uma declaração de Xabi Alonso na Eurocopa: "naquele jogo (Barcelona 1x2 Real Madrid), o Messi parecia que estava lesionado".

Pode ser, também, uma questão de posicionamento. Com Guardiola, desde 09/10, Messi passou a atuar no centro do ataque com liberdade de movimentação. Ele participava da fluência do jogo no meio junto de Xavi e Iniesta e chegava para concluir as jogadas na frente, um autêntico falso nove. Com Tito Vilanova, La Pulga parece, de fato, um 9. Guardando mais posição do que de costume, tem ficado preso à linha de marcação adversária. Em situações adversas, resolve se prender. O periódico argentino Olé, em setembro, havia publicado uma reportagem especulando que Messi avisou a Alejandro Sabella, técnico da seleção argentina, que preferia jogar como enganche, atrás dos atacantes. O argentino continua decisivo, como os números mostram, mas menos energético em campo.

O texto vem nesse momento porque, como sabemos, domingo tem superclássico. Num momento onde o Barcelona atravessa uma fase cheia de carências, Messi é muito mais do que importante. Mourinho sabe como marcá-lo e ele vai precisar se reinventar. Do outro lado, o rival Cristiano Ronaldo, que começou a temporada tão opaco quanto Messi, começa a mostrar seu real futebol.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O time do futuro

 Real Sociedad derrotou Athletic Bilbao e ratificou apelido de time do futuro (AS)

Nos últimos anos, a alcunha "time do futuro" sempre foi associada ao Arsenal. Os Gunners, treinados pelo francês Arséné Wenger, se destaca por, a cada ano, montar uma equipe formada por jogadores, em sua maioria, jovens. Na Espanha, duas equipes em especial podem receber esse apelidos: os rivais bascos Real Sociedad e Athletic Bilbao. Na temporada passada, os Leones chamaram a atenção por mostrar um futebol bonito, ofensivo e de resultados. Mesmo sendo vice-campeão da Copa do Rei e da Liga Europa, os meninos de Marcelo Bielsa foram aplaudidos pela temporada surpreendente.

No entanto, o assunto do texto de hoje é justamente o rival de San Sebastian. Assim como o Athletic, a Real Sociedad aposta nas canteras. Ainda que em menor plano, os Donostiarras procuram a identidade com o País Basco. Por muito tempo, a entidade só admitia jogadores bascos ou estrangeiros de origens bascas no elenco. Aos jogadores de nacionalidade espanhola, a restrição se mantém na atualidade, mas o clube admite estrangeiros livremente. O primeiro não-basco a disputar uma partida oficial com o uniforme branco e azul da Real foi o irlandês John Aldridge, em 1989.

Desde que voltou à elite espanhola, em 2011, ainda sob período de Martin Lasarte, o clube tenta rejuvenescer o elenco. Ao contrário do Arsenal, que nos últimos anos tem formado jogadores e vendido a outros clubes, eles preparam uma equipe visando o futuro. Os promissores jogadores já sentem desde cedo o sabor de disputar jogos importantes na primeira divisão. O maior exemplo deles é o francês Antoine Griezmann, de 21 anos. Há três anos, ele havia sido o principal nome da Real Sociedad campeã da Liga Adelante. Um ano depois, foi a principal reveleção da Liga BBVA. Em abril, falamos que o fato da equipe ficar na Liga BBVA era algo muito mais que apenas uma permanência. E é, realmente.

Desde o ano passado, o elenco é treinador pelo competente Philippe Montanier. Após uma magnífica campanha com o Valenciennes na Ligue One 2010/2011, quando o time terminou em 10º lugar, sua melhor posição na história, o técnico foi apelidado pela imprensa francesa de Guardiola francês. Em campo, ele se espelha bastante no catalão. O 4-3-3 é seu esquema tático preferido (embora para encaixar alguns jogadores tenha utilizado bastante o 4-2-3-1 desde que chegou ao Anoeta) e suas equipes sempre tentam jogar com a bola nos pés, valorizando a posse de bola.

Os nove pontos conquistados nas primeiras seis rodadas não traduzem perfeitamente a situação da Real Sociedad. É cedo para rótulos, mas a equipe continua fazendo jus aos elogios que tem recebido. Nos dois últimos anos, a questão física fez diferença no segundo turno, onde era natural uma queda livre. Esta temporada não deve ser diferente, provavelmente. O mercado de verão foi bem trabalhado. Chori Castro, Ruben Pardo, Sarpong, José Ángel e Javi Ros foram contratados. Mas a melhor notícia foi a contratação em definitiva do meio-campista mexicano Vela, de ótima fase desde 2011/2012.

Xabi Prieto, jogador mais subestimado do futebol espanhol, manda no meio-campo. Ele é o cérebro do time e todas as bolas passam por seus pés. No último sábado, completou 300 jogos com a Real, na importante vitória ante o Athletic Bilbao, que quebrou uma sequência negativa diante do maior rival. Montanier também comemora o fato do bom futebol de Griezmann ter retornado. Após uma temporada bem opaca, o promissor extremo-esquerdo tem atuado bem neste começo de Liga. Foi dele o gol que sacramentou a vitória ante os rojiblancos bascos. No comando do ataque, Agirretxe é o atacante mais confiável desde a mágica dupla Nihat-Kovacevic. Dessa forma, os blanquiazules agradam os fãs do futebol espanhol, mas deixam um aviso: essa atual geração, num futuro próximo, irá dar muito mais trabalho.

*Por questão de saúde, não pude atualizar o blog na última semana. Peço desculpas. As atividades voltaram ao normal.

domingo, 23 de setembro de 2012

Yes, we can

 Falcão García e Diego Simeone: os responsáveis pelo momento mágico vivido pelo Atlético de Madrid (getty images)

Não há como negar: a demissão de Gregório Manzano em janeiro deste ano fez muito bem ao Atlético de Madrid, que balançou com o treinador, viveu um período negativo durante o primeiro período da temporada passada e ainda por cima engoliu uma eliminação precoce na Copa do Rei para o pequeno Albacete. Manzano, durante sua pequena estadia em Manzanares, demonstrou uma grande indefinição tática, que variava a cada jogo. Além disso, ele nunca conseguiu achar uma escalação ideal.

O argentino Diego Simeone, campeão da Liga e da Copa com o clube em 1996, mudou o rumo dos colchoneros. Com o mesmo elenco de Manzano, El Cholo não só conquistou títulos relevantes como Liga Europa e Supercopa da Uefa como conseguiu dar um padrão de jogo à equipe. Um dos principais êxitos da gestão do ex-volante é privilegiar o futebol de Falcão García, que cresceu absurdamente de rendimento de janeiro para cá. Hoje, o Atléti derrotou o Valladolid por 2x1 e chegou aos 11 pontos no campeonato. Na quinta colocação, ainda tem um jogo adiado para cumprir contra o Bétis na próxima quarta-feira. Caso vença, os rojiblancos assumirão a vice-liderança, ficando dois pontos atrás do líder Barcelona. A fase é tão boa que a última derrota foi em abril, para o Rayo Vallecano. São 15 partidas consecutivas sem conhecer um revés.

Em campo, é fácil explicar o motivo da boa fase atleticana. O forte e combatente meio-campo é essencial na proposta de jogo de Simeone. As estatísticas mostram que o seu Atlético não joga com a bola nos pés. O Chelsea, no confronto da Supercopa, teve 62% da posse de bola, e perdeu por 4x1. Há uma semana, durante a estreia na Liga Europa, o Apoel teve o domínio territorial com 68% da posse. O resultado? 3x0 para o Atléti. Ironicamente, o único jogo na temporada em que teve mais posse de bola que o adversário terminou empatado: 1x1 contra o Levante, quando teve 58%. Os colchoneros adoram jogar sem a bola, mas sabem que tem obrigação. Têm méritos de armarem contra-ataques à perfeição e se defenderem com solidez, um problema crônico do time nos últimos anos. Personalidade e raça são as principais características da equipe.

O futebol desempenhado lembra muito o do rival Real Madrid (cultura de Madrid, lembram?). A vitória na final da Liga Europa contra o Athletic Bilbao ratificou essa comparação, quando os rojiblancos executaram uma tática à merengues contra o Barcelona. A marcação pesada gera ao adversário um cenário de desconforto. Além disso, o setor ofensivo não deixam a desejar. Arda Turan, Adrián López e Falcão García, principalmente, são provas cabais disso. Ao perder Diego, Simeone ficou sem seu principal articulador, mas vê em Koke, o Xavi rojiblanco, um bom substituto. Cebolla Rodríguez, contratado para esta temporada, tem entrado bem durante as partidas.

O treinador é o principal responsável por esse momento. Outro de seu grande trunfo foi ter acertado uma defesa inconstante há anos. Miranda e Godín formam uma dupla segura e Juanfran (que é improvisado como lateral, outro granda escolha do treinador) e Filipe Luís, pelos lados, são boas opções ofensivas. Eles também são importantes na recomposição porque voltam para marcar. O brasileiro vive sua melhor fase desde que saiu do Deportivo. Após uma temporada sábatica, o lateral-esquerdo, que chegou a ser pedido pela imprensa para ser convocado por Dunga à Copa, é muito importante nas infiltrações pelo flanco esquerdo. Hoje, o Atlético de Madrid é candidato real a uma vaga na próxima Champions League e o caminho é tomar do Valencia, que começou a temporada tímido, o posto de melhor equipe humana da Espanha. Após tanto errar, o presidente Enrique Cerezo acertou em cheio ao fechar com Diego Simeone.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Defender ou não defender, eis a questão

 Foi um passeio do Bayern de Munich na Alianz Arena (AS)

Quando foi apresentado ao Valencia, o treinador Maurício Pellegrino deixou no ar a probabilidade de escalar um time mais defensivo em relação ao de Unai Emery. O treinador afirmou que, numa hora, uma possível trinca de volantes entraria em ação, num provável 4-3-2-1. Nessa proposta de jogo, Gago seria um jogador essencial pelo fato de reunir características propícias ao módulo tático: qualidade na armação e força na marcação. No entanto, o que se vê neste início de temporada é a utilização natural do 4-2-3-1. A derrota para o Bayern de Munich na estreia da Champions League trouxe à tona o debate em torno das palavras ditas pelo treinador em julho.

Na terça-feira, José Mourinho não teve vergonha de jogar no 4-3-3 no Santiago Bernabéu. Ele tirou Özil da equipe titular, mas, ao invés de dar chances a Modric, utilizou Essien ao lado de Xabi Alonso e Khedira na volância. Pellegrino, que encarou o fortíssimo Bayern de Munich na Allianz Arena, assinou atestado de derrota ao iniciar a equipe com Dani Parejo ao lado de Tino Costa. O meio-campista, que se destacou pelo Getafe há duas temporadas, nunca foi bem no Valencia quando atuou de volante. Sem os lesionados Gago e Banega, o natural seria a escolha - por emergência, diga-se de passagem - do espanhol, mas o treinador poderia utilizar um módulo tático mais conservador para não passar por apuros.

O 2x1, na teoria, não diz muito o que foi o jogo. Com 64% da posse de bola, o Bayern de Munich dominou os chés durante os 90 minutos. A intensidade na marcação ainda no campo de ataque forçou os valencianos a erros aos quais não está acostumado. Quando tinha a bola, os visitantes, pressionados por um ou dois jogadores, se livravam delas. Em suma, o Valencia foi uma máquina de perder bolas. Toni Kroos, o melhor em campo, Schweinsteiger, Robben, Ribéry e Müller impussionaram a equipe que conseguiu atuar de igual para igual contra Real Madrid e Barcelona um cenário de desconforto ainda não visto nesta temporada.

O elenco à disposição de Maurício Pellegrino é muito bom, mas lhe impõe alguns desafios. Por exemplo, há muita gente boa com a bola e nem tão boa sem ela. Talvez por isso ele balbuciou tais palavras em sua apresentação. Nos últimos anos, não houve um jogador no elenco com capacidade para fazer o trabalho sujo. Hoje, Tino Costa, no papel, é o responsável por executar tal função, mas o argentino desempenha um papel mais ofensivo, chegando à frente nas jogadas de ataque.

O início de temporada não reservou ao Valencia moleza. O fato de ter feito boas partidas ante os gigantes contrastam com o empate ante o Deportivo, a vitória sob dúvida diante do Celta Vigo e a derrota merecida para o Bayern de Munich. Os chés continuam sendo a melhor equipe humana da Espanha, mas vê no retrovisor o Atlético de Madrid bater à porta. Isso sem dizer o Málaga, vice-líder da Liga e de estreia convincente na Champions. O alerta já começou a ser ligado em Paterna.

Barcelona
O Barça estreou com vitória, mas passou por apuros. Tito Vilanova voltou a mostrar os erros de outrora, e demorou muito para colocar Villa em campo. A lesão de Piqué cai como uma bomba no Camp Nou porque pode deixá-lo de fora do superclássico. Sem Puyol, Piqué, Tito terá de improvisar Song ou dar chances a Bartra. Na coletiva pós-jogo, ele deixou no ar a possibilidade de optar pelo canterano.