segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Zorilla indesejável, desafiador Atléti e o renascido Valencia

Em quatro jogos feitos no José Zorilla nesta temporada, o Valladolid venceu dois, empatou um e perdeu um. Entre os destaques, as vitórias, que vieram ante Levante (2-0) e Rayo Vallecano (6-1). Fora de casa, o desempenho não é o mesmo: são três derrotas e apenas uma vitória. No último sábado, os pucelanos perderam para o Málaga por 2x1. Em oito rodadas, estão na décima colocação, com dez pontos. A campanha caseira pode não impressionar pelos adversários, mas já mostra que será o carro-chefe da equipe na luta contra o rebaixamento.

Na temporada passada, o Valladolid conseguiu associar um futebol atrativo a uma defesa sólida (a melhor da Liga Adelante ao lado do Celta Vigo). A efeito de comparação, em 2009/2010, havia sido a mais vazada com 74 gols. Em agosto, em entrevista, ao Marca, o treinador Miroslav Djukic prometeu que isso não vai mudar. Num discurso à Pep Guardiola, o sérvio foi sintético: "se for para morrer, que morremos praticando nossa filosofia". Jesus Ruéda, zagueiro que se destacou na temporada passada, também seguiu a mesma linha. Ele afirmou que o time deve manter seu estilo, ousadamente inspirado no Barcelona. O rebaixamento disfarça, mas o Villarreal, que joga um futebol semelhante ao dos pucelanos, colhe frutos na Liga Adelante por não se acovardar mesmo nos momentos de adversidades.

Na segunda divisão de 2011/-12, o Valladolid teve um aproveitamento de 72% como mandante, acumulando 50 de seus pontos 80 pontos na temporada regular. O time de Djukic sofreu apenas 11 gols em 23 partidas no Zorilla, 20 a menos do que levou longe de casa. Se mantiver o aproveitamento de 73% em casa, mesmo que não pontue como visitante, o pucelanos certamente escaparão da queda com seus 42, 43 pontos. É claro que eles devem roubar pontos longe de Castilla e Leão, porém o grande mérito do treinador é mesmo a transformação do Zorilla num estádio indesejado pelas outras equipes.

 Falcão García: o cara (getty images)

Clap, clap, clap
O gol de Falcão García aos 47 minutos do segundo não só colocou o Atlético de Madrid na co-liderança da Liga ao lado do Barcelona, como mostrou que os colchoneros irão desafiar blaugranas e merengues. A equipe jogou bem até certo ponto, mas o suficiente para vencer um adversário que certamente irá incomodar muito no decorrer da temporada, sobretudo em casa, a Real Sociedad.

E o Valencia, hein?
Não jogou bem, mas foi buscar uma virada ante o Athletic Bilbao na bacia das almas. A torcida que vaiava bastante mudou em apenas dois minutos, tempo dos gols de Tino Costa e Haedo Valdez, que começa a mostrar serviço. O 4-4-2 que juntou o paraguaio e Soldado saiu-se muito bem, mas Jonas, melhor ché na temporada até então e que saiu para entrada do ex-Hércules, não pode ficar de fora. Pellegrino tem uma dor de cabeça. O Valencia ainda não convenceu e, na quarta-feira, tem jogo decisivo pela Uefa Champions League. Caso queira passar de fase, precisará somar, pelo menos, quatro pontos nos próximos dois confrontos contra o Bate, que derrotou o Bayern na segunda rodada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Cenário diferente

 Iniesta e Pedro: o canário, melhor em campo contra a Bielorrúsia, deve começar novamente como titular contra a França (getty images)

Em Donetsk, há quatro meses, a Espanha entrou em campo contra a França sob dúvidas. Após uma fase de grupos onde mostrou um futebol bastante pragmático, a Fúria precisava se desligar dos rótulos. Nos primeiros 30 minutos, a seleção encaminhava-se para tal. Nesse período, o time de Vicente Del Bosque pressionou a França como ainda não havia feito com nenhum adversário nos três primeiros jogos. E abriu o placar, após passe incisivo de Iniesta, arrancada e cruzamento de Alba na medida para Xabi Alonso testar. Depois disso, a Roja voltou ao modo preguiça. Tocou, tocou, tocou, pouco foi ameaçada e achou mais um gol no final do jogo, novamente com Xabi Alonso, convertendo pênalti controverso sofrido em cima de Pedro.

Amanhã, às 16h, as seleções se enfrentam no Vicente Calderón, em Madrid. A partida marca o retorno de Fernando Torres ao estádio onde teve suas primeiras grandes exibições como profissional. El Niño, provavelmente, não será titular, mas o reencontro com a torcida colchonera será emocionante. Os aficionados do Atlético de Madrid prometeram uma homenagem ao seu ídolo antes da bola rolar. Em campo, Del Bosque deve manter Fàbregas como falso nove. O barcelonista se adaptou à posição e sente-se à vontade em campo com uma maior liberdade de movimentação. Mais cedo, na coletiva antecedente ao duelo, Cesc afirmou que a posição é relativa, ainda que prefira atuar de meio-campista. O Marca fez um levantamento afirmando que, nesse sistema, a Fúria marca mais gols.
As prováveis escalações, segundo o Marca

Há quatro meses, o duelo, válido pelas quartas-de-finais da Euro, foi naturalmente estudado durante boa parte da primeira etapa. Amanhã deve ser diferente. Com as duas seleções dividindo o poderio de favoritas do grupo, o confronto tende a ser mais disputado. Ainda mais pelo fato de haver mais uma partida a ser feita entre eles, daqui a um ano, o que mostra que tanto França quanto a Espanha devem ousar mais. Ninguém tem convicção de que a dupla irá superar Geórgia, Finlândia e Bielorrúsia.

As lesões de Piqué e Puyol deixa a defesa espanhola sem seus donos. Del Bosque tem Raúl Albiol à disposição, mas deve optar pela improvisação de Busquets, como no confronto de sexta. O treinador, também, não sabe se irá contar com Sergio Ramos, com desconfortos musculares. Embora o andaluz esteja apto pelo departamento médico, Del Bosque afirmou que só irá se decidir em última hora, pois não pretende forçar seu uso. No ataque, após a ótima atuação com direito a hat-trick ante a Bielorrúsia, Pedro larga na frente de Villa e Jesus Navas para iniciar o jogo. A defesa de Laurent Blanc atua bem adiantada, e a dupla formada por Rami e Sakho é muito lenta. Koscielny, do Arsenal, parecia ser uma alternativa interessante para minimizar a questão, mas Blanc prefere os zagueiros de Valencia e PSG pelo fato do gunner não viver boa fase. A capacidade de Pedro de se infiltrar nas defesas adversária  pode ser a chave da vitória espanhola. Xavi, que irá atuar no setor onde mais gosta, provavelmente irá abusar das bolas lançadas às costas de Debuchy.

Do meio para frente, em compensação, a França é ótima. Ainda que M’Vila seja desfalque, Matuidi  pode substituí-lo em alto nível. A tendência é o meio-campo francês sentir-se mais "à vontade" em relação ao confronto de junho pelo fato do meio-campo espanhol estar desfalcado de seu principal marcador, Busquets. Com Xabi Alonso, que não é marcador nato, jogando de primeiro volante e organizando o time à frente da defesa, a Fúria fica mais "exposta". O contra-ataque francês exigirá concentração da defesa Roja. Ribéry, à esquerda, deve centralizar para criar jogadas, trocando posição com Benzema, que, assim como contra o Japão, irá jogar no auxílio ao centroavante Giroud. Menéz, à direita, irá dar trabalho extra ao ofensivo Alba, que terá que fazer uma marcação semelhante a que fez em Di María, no superclássico - onde se saiu bem, diga-se de passagem.

A França perdeu para o Japão num lance de azar na última sexta-feira. Os Bleus controlaram a partida, tiveram quase 60% da posse de bola, mas sofreram um contra-ataque fatal que resultou no gol de Kagawa. Amanhã, a equipe de Blanc irá trabalhar como os nipônicos. Vicente Del Bosque sabe disso. A seleção espanhola tem armas mais do que suficientes para levar os três pontos, mas a França, como bem disse Iniesta, promete dificultar e muito a vida dos atuais campeões mundiais e europeus.

sábado, 13 de outubro de 2012

O falso nove Fàbregas

 Fàbregas é o falso nove que Del Bosque tanto tentou achar (Zimbio)

Francesc Fàbregas surgiu no Arsenal como um garoto-prodígio cerebral. Capaz de dar excelentes passes longose e curtos e organizar o jogo, o jogador atuava como segundo volante. Antes, nas canteras do Barcelona, ele era o cérebro da famosa geração 87, tida até hoje como a melhor equipe da base blaugrana. Com o passar do tempo, Arséne Wenger, técnico do Arsenal, adiantou Fàbregas a uma nova posição, mas sem que ele perdesse sua principal característica, a de organizador. Em seus últimos anos em Londres, Cesc passou a atuar centralizado na linha de 3 do 4-2-3-1, com Nasri e Walcott abertos pelos flancos.

Na seleção, ele havia atuado dessa maneira na Eurocopa de 2008. Quando Villa se lesionou e ficou fora da final contra a Alemanha, Aragonés abandonou o 4-4-2 para dar vez ao 4-2-3-1, que teve Fàbregas na armação, com Silva aberto à direita, Iniesta aberto à esquerda e Xavi e Marcos Senna na linha de trás. Ao voltar para o Barcelona, o catalão sabia que disputar posição com Iniesta e Xavi seria tarefa ingrata. Além disso, na equipe de Guardiola, o terceiro meio-campista (Iniesta) tinha (e ainda tem com Tito Vilanova) a função de acelerar a bola, ao contrário do segundo volante (Xavi), que cadencia mais o jogo. Para não ter que tirar a dupla da equipe titular e nem deixar Cesc no banco, Pep resolveu adiantar ainda mais o canterano, que passou seus sete primeiros meses jogando no ataque ao lado de Messi e Alexis Sánchez. Em algumas partidas, chegou a atuar de falso nove.

Essa proposta de jogo foi levada à seleção. No amistoso de novembro passado contra a Inglaterra, Del Bosque testou Fàbregas pela primeira vez como falso centroavante. Não deu certo. Fàbregas sentiu-se perdido em campo e pouco participou do jogo. Para tentar consertar seu erro, o treinador o inverteu com Silva. A tragédia aumentou. Logicamente, Del Bosque desistiu da opção. Temporariamente. A lesão de Villa e a má fase de Torres o obrigou a repensar no assunto. Na estreia da Eurocopa contra a Itália, Fàbregas apareceu na criticada posição. O gol que salvou a Fúria da derrota não isentou o técnico madrilenho das críticas, mas ele não abandonou sua, digamos, "filosofia". Ao final do torneio, Fàbregas não apareceu em momento algum no meio-campo e ainda foi um dos destaques.

Hoje, o barcelonista é um falso nove que caminha para a perfeição que a posição obriga. Durante a Euro, cheguei a comentar que ele era um 12º jogador essencial para uma equipe que estava longe de apresentar o futebol encantador dos últimos anos. No momento, Fàbregas é peça-chave e titular absoluto. É claro que, por ter atacantes confiáveis à disposição, Del Bosque pode variar seu titular; mas, à primeira vista, Cesc está à frente de todos. O treinador já acenou com a possibilidade de utilizá-lo ao lado de Villa, que atua aberto à esquerda, embora seja difícil aparecer os dois num jogo oficial por Iniesta ser o dono da posição.

Contra a Bielorrúsia, Pedro foi o destaque. O canário anotou três gols e assistiu Alba marcar após lindo passe de calcanhar, na vitória por 4x0. Mas Fàbregas merece, novamente, menção honrosa. Ele não marcou, mas deu uma assistência para um dos tentos do atacante culé. Ainda que a qualidade do adversário seja fraca para chegar a uma conclusão definitiva, Cesc caminha para tornar-se um falso centroavante útil. Com liberdade de movimentação, ele participa da incessante troca de passes no meio-campo, cai pelos flancos e chega à área para concluir, como Messi no Barcelona. Há quem diga que, por estar jogando muito bem adiantado, Fàbregas "esqueceu" como atuar no meio-campo. O mal início de temporada em sua posição de origem até dá margem à especulação, mas contra Sevilla, Benfica e o início do segundo contra o Real Madrid joga por água abaixo essa tese. Fàbregas é craque e sabe se adaptar a qualquer função, seja ela meio-campista ou centroavante.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Um pequeno problema

 A dor de cabeça é sua, Del Bosque (El Digital)

A Espanha entra em campo amanhã e na próxima terça-feira para encarar Bielorrúsia e França respectivamente pelas Eliminatórias Europeias para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O primeiro adversário não irá requer muito esforço, mas bastante concentração, para evitar possíveis surpresas como a que a Geórgia, na primeira rodada, quase aprontou. Contra a França, em Madrid, a Roja tem a obrigação de apertar a seleção de Blanc e ser mais incisiva do que no confronto da Eurocopa, quando venceu por 2x0 num jogo sonolento.

A convocação de Vicente Del Bosque para os duelos revela uma carência que começa a ganhar atenção na imprensa espanhola: a falta de zagueiros confiáveis. A atual geração tem Sergio Ramos, Carles Puyol e Gerard Piqué como defensores consagrados. Mas o treinador esbarra na falta de opções quando um deles está fora de combate. Dessa vez, ele não terá a dupla catalã, lesionados, e terá que quebrar a cabeça para achar um companheiro para o andaluz. Em teoria, Del Bosque tem somente Raúl Albiol como zagueiro de ofício, mas o madridista tende a ser ignorado pelas poucas partidas feitas na temporada. Como titular, atuou somente em uma, contra o Barcelona na ida da Supercopa.

O jeito, portanto, é improvisar. Javi Martínez, em tese, deveria ser a primeira opção de Del Bosque. Com Marcelo Bielsa, o basco atuou mais como zagueiro do que de volante na temporada passada e não fez feio. Com boa saída de bola e importante no jogo aéreo, foi sem dúvidas um dos principais defensores da Liga 12/13. No Bayern de Munich, neste início de temporada, Martínez tem retornado à sua posição de origem. Ora substituindo Schweinsteiger, ora substituindo Luiz Gustavo, ainda não apareceu recuado. Em sua coletiva, o treinador confirmou a possibilidade de utilizar Busquets na zaga. O barcelonista, durante um período da temporada 2010/2011, atuou assim com Guardiola, que também havia perdido Piqué e Puyol.

Atualmente, o futebol convive com essa escassez de zagueiros consagrados. Nos principais clubes da Liga, os jovens ganham destaque. No Athletic Bilbao, Mikel San José e Aurtenetxe ganham destaque com Bielsa e mostram o quanto são promissores, ainda que tenham que corrigir vícios, naturais por suas idades. No Barcelona, a utilização de Bartra no superclássico chegou a ser especulada. O zagueiro teve atuações positivas na pré-temporada com o elenco A e é opção para Tito Vilanova na hora do aperto. Víctor Ruíz e Álvaro Domínguez também entram nessa lista. E não podemos esquecer de Iñigo Martínez, da Real Sociedad, eleito pelo blog a principal reveleção do campeonato passado.

Mas eles não passam de jovens promissores sem cancha para jogos como contra a França, por exemplo. Del Bosque deveria testá-los em amistosos, como fez com o lateral direito Montoya há um ano. Se do meio para frente sobram de opções e volta e meia alguém com qualidade é cortado - como Mata na atual lista -, a Espanha esbarra na escassez de nomes confiáveis para a zaga.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Melhorando

 Messi fez seu melhor jogo na temporada e ilusiona o torcedor culé (getty images)

O Barcelona sofreu o primeiro gol, virou e recebeu o de empate logo em seguida. O empate por 2x2 contra o Real Madrid não foi ruim porque, querendo ou não, ele servia bastante para manter a diferença de oito pontos, mas certamente há o que lamentar. A chance desperdiçada por Pedro no último lance do jogo tirou o gosto de uma vitória que seria mais do que essencial e abasteceria de moral uma equipe que, apesar de estar invicta na Liga e na UCL, tem muitas interrogações para responder.

No entanto, há uma melhora substancial dos blaugranas a cada partida. No meio da semana passada, contra o Benfica, o time de Tito Vilanova passou por alguns apuros, mas soube controlar com contundência os Encarnados. No superclássico do final de semana, a história se repetiu no segundo tempo. Após um primeiro tempo mais a favor do Real Madrid, especialmente até o gol de empate marcado por Messi, o Barcelona teve lampejos do tempo áureo na reta final da primeira etapa e durante 80% do tempo do segundo tempo. O gol de empate merengue, por outro lado, escancarou um erro que vem sendo criticado desde o início de temporada pela imprensa: o mau posicionamento da linha defensiva.

Os problemas do Barcelona, porém, não se resumem apenas a isso. À exceção de Daniel Alves, que atuou menos de 30 minutos, Piqué, Puyol e Abidal, titulares da primeira linha de quatro em condições normais, não foram convocados ao duelo por lesão. O condicionamento físico dos jogadores não é o melhor possível. Um problema que já dura desde a última temporada, quando Josep Guardiola viu-se em meio a grande dor de cabeça com as mais de 103 (!) lesões musculares de seus comandados. Javier Mascherano é o retrato da atual zaga barcelonista. O argentino é perfeito no mano-a-mano e, apesar de acharem o contrário, desarma limpamente em boa parte das jogadas; contudo, se posiciona muito mal e volta e meia deixa um adversário em condições de gol.

Mas há luz no fim do túnel catalão. A jogada construída no lance que terminou em chute na trave de Montoya, no fim da partida, mostrou que os jogadores ainda sabem acelerar a bola e confundir o adversário com ela. Foi de Messi para Iniesta, de Iniesta para Pedro, de Pedro para Xavi, de Xavi para Montoya, que acertou um belo chute no travessão de Casillas. O jovem lateral, vale o adendo, substituiu positivamente Daniel Alves. Mais defensivo do que o baiano, a opção por ganhar mais solvência porque, na esquerda, Alba é um lateral reconhecidamente mais ofensivo. Ainda que seu trabalho de reposição tenha recebido nota 10 na crítica do Diário Sport, Alba, certamente, não terá fôlego para subir e descer toda hora.

A atuação de Messi ilusiona o torcedor culé. Após iniciar a temporada mostrando uma versão menos avassaladora e mais humana, La Pulga, sobretudo no segundo tempo, desempenhou um futebol digno de um dos melhores jogadores da história. Arrancou com a bola, deixou companheiros na cara do gol, espalhou pane a uma defesa que estava sólida e marcou dois gols. Só não saiu como protagonista mór do jogo porque, do outro lado, havia um Cristiano Ronaldo sedento por ir às redes. O Barcelona (e Messi) ainda não retornou à forma perfeita, e dificilmente irá encantar tanto quanto nos últimos quatro anos, mas caminha para uma melhora significativa. Pode ter certeza de que esse time irá brigar por todos os títulos da temporada.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Real Madrid aprendeu a lição

 Mourinho e Cristiano Ronaldo são os principais responsáveis pelos recentes resultados positivos do Real Madrid contra o Barcelona (zimbio)

Casillas; Arbeloa, Sergio Ramos, Pepe, Marcelo; Xabi Alonso, Khedira; Di María, Özil, Cristiano Ronaldo; Benzema. Há dois anos, 10 desses 11 nomes começaram como titulares na humilhante derrota de 5x0 para o Barcelona. Naquele dia, apenas Arbeloa começou no banco, entrando no segundo tempo. Os blaugranas continuam sendo superiores, mas atualmente o Real Madrid já consegue enfrentá-los de igual para igual. Os resultados dos superclássicos apenas em 2012 evidencia tal evolução madrilenha: duas vitórias barcelonistas, dois empates e duas vitórias merengues. Ontem, mais um capítulo da história do Superclássico foi escrito. Em partida de gala, o 2x2 mostrou as carências das duas equipes na temporada, mas ratificou o novo peso do duelo. 

Atualmente, o Real Madrid sabe como jogar contra o Barcelona sem se acovardar (muito). Nesse cenário, dois personagens merecem destaque: Cristiano Ronaldo e José Mourinho. O treinador português conseguiu dar um padrão de jogo à equipe que Florentino Pérez tanto tentou achar com Manuel Pellegrini. A lição da manita foi aprendida em peso: para jogar contra o Barcelona, a aplicação tática precisa estar à mil. Após muitos confrontos, Mourinho, estrategista que é, conseguiu encaixar seu jogo ao do rival. Com intensidade, compactação dos setores negando espaços a Messi e velocidade para surpreender a zaga adiantada e em linha do Barça com Cristiano Ronaldo se infiltrando em diagonal, o Real Madrid, hoje, sabe como jogar contra os catalães.

Aí, o craque português tem seus méritos. Sempre taxado por amarelar nos clássicos, ele virou a página. Ao marcar de esquerda o gol que abriu o placar, Ronaldo tornou-se o primeiro jogador da história da rivalidade a marcar em seis confrontos consecutivos. Quem vê o Ronaldo de 2012 e o Ronaldo das temporadas anteriores sabe que houve uma mudança. O atual não tem medo de ousar. Chuta, dribla, toca, provoca. Aquele Cristiano Ronaldo apagado, com medo e displicente que enfrentava o Barcelona é coisa do passado.

Na parte defensiva, houve mudanças substanciais. Ainda que Pepe saia do sério a todo momento (e, convenhamos, se ele não saísse estranharíamos), ele mantém a cabeça no lugar a ponto de não comprometer. A emblemática expulsão no confronto da Champions League 10/11 mudou seus nervos - ainda que, na ida do jogo da Copa do Rei, ele tenha pisado em Messi. E isso ajuda em seu desempenho em campo. Na vitória de abril, por exemplo, o luso-brasileiro teve atuação de gala.

Quem também merece menção é Özil e Di María. O argentino é a válvula de escape dos blancos, sempre impussionando velocidade na parte esquerda da zaga blaugrana e sendo importante na recomposição. A marcação a Daniel Alves (ou Montoya, como no caso de ontem), anula uma dos trunfos do Barcelona. O alemão, por sua vez, vive cenário semelhante ao de Cristiano Ronaldo. E a parceria entre os dois é alta: em superclássicos, são cinco assistências do camisa dez ao gajo, quatro apenas nos confrontos deste ano.

O cenário é tão favorável ao Real Madrid que o empate foi comemorado do lado barcelonista. Tudo bem que deveria ser mesmo, afinal os oito pontos de vantagem se mantém e os azulgrenás atuaram com a zaga reserva, mas fatalmente isso seria lamentado há um ano, por exemplo. E a volta por cima dos merengues favorecem os fãs do futebol espanhol. A equipe de José Mourinho se concentra em jogar bola e não ficar à base de pancadas. Assim, mesmo sendo inferior, conseguiu achar uma fórmula de encarar o Barcelona.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Um Messi humano

Pela primeira vez em três anos, Lionel Messi teve férias completas. Sem Copa América ou Copa do Mundo, o argentino se apresentou no primeiro dia programado por Tito Vilanova. Os exames médicos no primeiro dia da pré-temporada apontaram um Messi tão saudável quanto da época do triplete. Os números deles neste início de temporada mostram até uma superioridade em relação a 08/09: são 10 gols e cinco assistências em 10 jogos. Porém, em campo, o desempenho da Pulga é de um humano qualquer.

A máquina de jogar futebol das últimas quatro temporadas é vista somente em lampejos. Aquém do que pode fazer, ele tem se limitado a dar muitos passes para o lado e pouco finalizar ao gol. Mais disciplente do que o comum, as costumeiras arrancadas raras vezes foram vistas nesses primeiros 10 jogos. A questão é que quando Messi resolve ser Messi alguma jogada eficiente sai. Contra o Spartak Moscou, na estreia da Champions League, o argentino passou 75 minutos do duelo despercebido. Nos 15 minutos finais, marcou dois gols e definiu a virada barcelonista. Na vitória contra o Sevilla, no último sábado, foram duas assistências para Fábregas e Villa decretarem a importante e suada vitória na Andaluzia.

Contra o Benfica, novamente vimos um Messi opaco, mas que à medida que o tempo passava se soltava. Ele voltou a mostrar erros primários e escolhas, no mínimo, controversas. A imprensa espanhola demorou para tocar no assunto, mas aos poucos já começa a perceber a faceta humana do camisa 10. Não se trata de questão física porque Messi está, teoricamente, bem. O Diário Sport, antes do compromisso da Argentina contra Paraguai e Peru, noticiou que ele tem jogado com dores desde o final da temporada passada. Isso nos remete a uma declaração de Xabi Alonso na Eurocopa: "naquele jogo (Barcelona 1x2 Real Madrid), o Messi parecia que estava lesionado".

Pode ser, também, uma questão de posicionamento. Com Guardiola, desde 09/10, Messi passou a atuar no centro do ataque com liberdade de movimentação. Ele participava da fluência do jogo no meio junto de Xavi e Iniesta e chegava para concluir as jogadas na frente, um autêntico falso nove. Com Tito Vilanova, La Pulga parece, de fato, um 9. Guardando mais posição do que de costume, tem ficado preso à linha de marcação adversária. Em situações adversas, resolve se prender. O periódico argentino Olé, em setembro, havia publicado uma reportagem especulando que Messi avisou a Alejandro Sabella, técnico da seleção argentina, que preferia jogar como enganche, atrás dos atacantes. O argentino continua decisivo, como os números mostram, mas menos energético em campo.

O texto vem nesse momento porque, como sabemos, domingo tem superclássico. Num momento onde o Barcelona atravessa uma fase cheia de carências, Messi é muito mais do que importante. Mourinho sabe como marcá-lo e ele vai precisar se reinventar. Do outro lado, o rival Cristiano Ronaldo, que começou a temporada tão opaco quanto Messi, começa a mostrar seu real futebol.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O time do futuro

 Real Sociedad derrotou Athletic Bilbao e ratificou apelido de time do futuro (AS)

Nos últimos anos, a alcunha "time do futuro" sempre foi associada ao Arsenal. Os Gunners, treinados pelo francês Arséné Wenger, se destaca por, a cada ano, montar uma equipe formada por jogadores, em sua maioria, jovens. Na Espanha, duas equipes em especial podem receber esse apelidos: os rivais bascos Real Sociedad e Athletic Bilbao. Na temporada passada, os Leones chamaram a atenção por mostrar um futebol bonito, ofensivo e de resultados. Mesmo sendo vice-campeão da Copa do Rei e da Liga Europa, os meninos de Marcelo Bielsa foram aplaudidos pela temporada surpreendente.

No entanto, o assunto do texto de hoje é justamente o rival de San Sebastian. Assim como o Athletic, a Real Sociedad aposta nas canteras. Ainda que em menor plano, os Donostiarras procuram a identidade com o País Basco. Por muito tempo, a entidade só admitia jogadores bascos ou estrangeiros de origens bascas no elenco. Aos jogadores de nacionalidade espanhola, a restrição se mantém na atualidade, mas o clube admite estrangeiros livremente. O primeiro não-basco a disputar uma partida oficial com o uniforme branco e azul da Real foi o irlandês John Aldridge, em 1989.

Desde que voltou à elite espanhola, em 2011, ainda sob período de Martin Lasarte, o clube tenta rejuvenescer o elenco. Ao contrário do Arsenal, que nos últimos anos tem formado jogadores e vendido a outros clubes, eles preparam uma equipe visando o futuro. Os promissores jogadores já sentem desde cedo o sabor de disputar jogos importantes na primeira divisão. O maior exemplo deles é o francês Antoine Griezmann, de 21 anos. Há três anos, ele havia sido o principal nome da Real Sociedad campeã da Liga Adelante. Um ano depois, foi a principal reveleção da Liga BBVA. Em abril, falamos que o fato da equipe ficar na Liga BBVA era algo muito mais que apenas uma permanência. E é, realmente.

Desde o ano passado, o elenco é treinador pelo competente Philippe Montanier. Após uma magnífica campanha com o Valenciennes na Ligue One 2010/2011, quando o time terminou em 10º lugar, sua melhor posição na história, o técnico foi apelidado pela imprensa francesa de Guardiola francês. Em campo, ele se espelha bastante no catalão. O 4-3-3 é seu esquema tático preferido (embora para encaixar alguns jogadores tenha utilizado bastante o 4-2-3-1 desde que chegou ao Anoeta) e suas equipes sempre tentam jogar com a bola nos pés, valorizando a posse de bola.

Os nove pontos conquistados nas primeiras seis rodadas não traduzem perfeitamente a situação da Real Sociedad. É cedo para rótulos, mas a equipe continua fazendo jus aos elogios que tem recebido. Nos dois últimos anos, a questão física fez diferença no segundo turno, onde era natural uma queda livre. Esta temporada não deve ser diferente, provavelmente. O mercado de verão foi bem trabalhado. Chori Castro, Ruben Pardo, Sarpong, José Ángel e Javi Ros foram contratados. Mas a melhor notícia foi a contratação em definitiva do meio-campista mexicano Vela, de ótima fase desde 2011/2012.

Xabi Prieto, jogador mais subestimado do futebol espanhol, manda no meio-campo. Ele é o cérebro do time e todas as bolas passam por seus pés. No último sábado, completou 300 jogos com a Real, na importante vitória ante o Athletic Bilbao, que quebrou uma sequência negativa diante do maior rival. Montanier também comemora o fato do bom futebol de Griezmann ter retornado. Após uma temporada bem opaca, o promissor extremo-esquerdo tem atuado bem neste começo de Liga. Foi dele o gol que sacramentou a vitória ante os rojiblancos bascos. No comando do ataque, Agirretxe é o atacante mais confiável desde a mágica dupla Nihat-Kovacevic. Dessa forma, os blanquiazules agradam os fãs do futebol espanhol, mas deixam um aviso: essa atual geração, num futuro próximo, irá dar muito mais trabalho.

*Por questão de saúde, não pude atualizar o blog na última semana. Peço desculpas. As atividades voltaram ao normal.