segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A recuperação merengue

Özil levanta Cristiano Ronaldo: o português começou o ano voando e impulsiona um Real Madrid que parecia morto na temporada (getty images)

Se tudo ocorrer da maneira que o madridismo deseja, o Real Madrid da temporada 2012-2013 pode ser dividido em dois: o de agosto a dezembro e o de janeiro ao restante da temporada. Isso porque o "segundo" Real Madrid dá mostras de recuperação em relação àquele que deu vexame na primeira parte da temporada. Nesta quarta-feira, às 18h (horário de Brasília), os merengues recebem o Barcelona no Santiago Bernabéu. É o primeiro confronto da fase de ida da semifinal da Copa do Rei. Em três confrontos contra o rival na atual temporada, uma vitória, uma derrota e um empate. Equilíbrio, que valeu o título da Supercopa em agosto.

Já é sabido por todos os múltiplos problemas nos vestiários merengues. É algo que o clube convive desde a chegada de Mourinho, mas teve seu estopim no final do ano passado, quando o treinador português, indiretamente, confirmou o conflito de relações ao barrar Casillas do difícil compromisso na Andaluzia ante o Málaga. Após a derrota por 3x2, ele desafiou: "Vejo que Adan está melhor no momento. Tenho a consciência tranquila", disse. O gajo cavava a própria cova. Como não poderia deixar de ser, imprensa e torcida madrilenha ficaram ao lado do capitão.

Dentro de campo, a proposta de jogo era executada num ritmo mais lento. O Real Madrid sofreu contra o Borussia Dortmund na Champions League, perdendo na Alemanha e empatando em Madrid, e só não saiu do Camp Nou derrotado pelo Barcelona pela bola na trave de Montoya e um chute desperdiçado por Pedro no minuto final. A bem da verdade, também por Cristiano Ronaldo, em noite mágica e autor de dois gols. As peças-individuais, como o próprio craque da camisa sete, não faziam tanto a diferença. Ronaldo se destacava, mas faltava mais contudência. E essa contundência aparece com perfeição em 2013. Em sete jogos no ano, foram dez gols (dois hat-tricks). 

Quando o seu principal jogador atua de maneira assim anima os demais. Isso explica a recuperação do bom futebol de Di María e Benzema.  Özil, por sua vez, mostra-se bem irregular. No entanto, o alemão tem crescido de produção nos jogos mais pegados da temporada (atuou bem contra Borussia Dortmund, Barcelona e Atlético de Madrid), diminuindo um pouco o ritmo contra os pequenos. É uma irregularidade paradoxal, mas que ele precisa acabá-la. O aspecto que precisa evoluir mesmo são os fundamentos defensivos, uma das virtudes da equipe na temporada passada. Laterais, proteção à defesa e, especialmente, concentração são essenciais.

Em meio ao aparecimento repentino de uma boa fase, uma má notícia. Após disputa de bola pelo alto, Arbeloa acabou, sem querer, lesionando a mão de Casillas, que irá ficar de fora por três meses. A lesão de Iker, que havia recuperado a titularidade na guardameta, cai como uma bomba, que Mourinho logo tratou de desarmar. Um dia após a confirmação de que não teria o goleiro multicampeão até abril, o treinador nascido em Setúbal pediu a Florentino Pérez a contratação urgente de um goleiro. Foi atendido, claro: na sexta-feira (25), o clube anunciou a contratação de Diego López, canterano que fez parte do elenco entre 2005-2008. Diego López não vive boa fase desde sua saída do Villarreal, mas é um goleiro confiável pelo seu histórico no passado (já foi terceira opção para gol da seleção espanhola - ok, não é grande coisa).

O Real Madrid está invicto em 2013. Isso porque Mourinho resgatou uma equipe mais sólida e recuperou o contra-ataque mais mortal do mundo, que fez estragos em 2011-2012. Por enquanto, a ascensão dos jogadores citados acima e a perspicácia tática para superar a coleção de problemas assegura paz e tranquilidade no ambiente em Chamartin. Mas vem aí um Barcelona confiante pela temporada que faz e com Messi e Iniesta em estados de graças. É a chance do elenco blanco ratificar a ressurreição na temporada e confirmar, acima de tudo, por que o Manchester United tem de abrir o olho na Liga dos Campeões da Uefa.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Futebol ofensivo

Antes de mais nada, gostaria de pedir de desculpa pela escassa atualização no blog nos últimos meses. De fato, o tempo está pegado para mim até em janeiro. Ainda que num período menor, no entanto, uma coisa eu prometo: não deixarei esse espaço acabar, atualizando-o semanalmente. Aproveitem e conheçam um projeto no qual faço parte há mais ou menos cinco meses, o Doentes Por Futebol, clicando aqui.

Vitória da Real Sociedad ante o Barcelona não surpreende (AP Photos)

2006/2007 foi a última temporada que uma equipe sem ser Barcelona e Real Madrid conseguiu disputar o título com a dupla até a rodada final. Naquela temporada, o Sevilla de Juande Ramos demonstrou poder de força ao ganhar Copa do Rei e Copa da Uefa e terminar em terceiro na Liga com 71 pontos, cinco a menos que os gigantes. Na temporada posterior, o Villarreal até ficou à frente do Barcelona (dez pontos), num campeonato decidido com quatro rodadas de antecedência - o Real Madrid, campeão, ficou oito pontos à frente do Submarino Amarelo. 

A monopolização da Liga Espanhola nos últimos anos criou uma espécie de preconceito por parte de quem não assiste. "Ah, mas só tem Barcelona e Real Madrid", diz um. Está mais que claro que a diferença deles para os demais é abissal, o que não quer dizer que o campeonato vive só de jogos de merengues ou blaugrana. E é esse motivo que me leva à criação desse texto. Sobretudo na atual temporada, quase 80% das equipes do futebol espanhol tem adotado uma proposta de jogo ofensiva, baseada no estilo direto de buscar o gol. É algo que vem em ascensão desde o início do Barcelona de Guardiola e, consequentemente, do período vencedor da seleção espanhola.

É claro que, atualmente, a Liga BBVA está muito longe da Premier League e da Bundesliga como campeonatos, em geral. A média de público do campeonato espanhol é muito inferior aos campeonatos da Inglaterra e da Alemanha, muito por causa dos altos ingressos cobrados pelos clubes. Nem o líder Barcelona tem atraído muitos fãs em alguns locais em relação às temporadas anteriores. Em setembro, na visita ao Getafe, pouco mais de dez mil pessoas acompanharam a vitória azulgrená por 4x1 com dois gols de Messi. No aspecto técnico, no entanto, a diferença não é tão notável. Dentro de campo as equipes da primeira divisão têm proporcionado jogos agradáveis.

Um exemplo recente foi o duelo entre Real Sociedad e Deportivo há uma semana. Lanterna do campeonato, o Deportivo foi a San Sebastián disposto a vencer, enquanto os mandantes crescem atuando no Anoeta, onde tiraram a invencibilidade do Barcelona neste sábado. O 1x1 foi pouco porque os dois times pecaram na finalização, mas o duelo divertiu o público e quem assistiu. Foram mais de 30 chutes a gols, 56% da posse de bola para os bascos e aplausos ao término da partida. A mentalidade ofensiva da Real, adquiridade desde a chegada do hoje contestado Phillipe Montánier, apelidado na França de Guardiola francês, vem colhendo frutos à equipe, que hoje briga por uma vaga na Liga Europa, e tira o melhor de seus principais jogadores, como Vela, Griezzmann e o subestimado Xabi Prieto.

Athletic Bilbao no Old Trafford em 2011-2012: aula de futebol ao Manchester United (BBC)

Na temporada passada, o Athletic Bilbao de Bielsa chamou a atenção da Europa pela proposta de jogo levada a campo. Alcançou as finais da Copa do Rei e da Liga Europa, mas perdeu para o Atlético de Madrid e Barcelona. Ainda assim, fica na cabeça dos torcedores a lembranças das classificações ante Manchester United e Schalke 04. Em sua visita a Old Trafford, os Leones mostraram duas virtudes irrefutáveis. A primeira foi individual, de ótimos jogadores como Javi Martínez, De Marcos, Muniain, Susaeta e Llorente, que derrubaram o conceito preconceituoso de que o clube, limitado a atletas bascos, não pode competir em alto nível. A segunda e mais importante foi coletiva: os habituais ataques em bloco, pressão à defesa adversária e zelo com a posse de bola que fazem de Marcelo Bielsa um treinador brilhante. Atualmente, os bilbaínos fazem temporada muito abaixo da média, muito pelo fato dos problemas internos terem refletixo nas atuações em campo. O jogo não flui, as peças-individuais não brilham, mas mesmo assim a equipe não abdica do estilo de jogo que encantou o futebol europeu na temporada passada.

A grande ironia disso tudo, talvez, é que a Liga Espanhola mais agradável para se assistir nos últimos anos já parece ter um campeão definido. O Barcelona, que está oito pontos à frente do Atlético de Madrid e 15 do Real Madrid, não deve deixar o título escapar. O virtual campeão tenta agora alcançar e ultrapassar os registros do Real Madrid de José Mourinho, que é, nos números, o maior campeão espanhol da história. As atenções se voltam à disputa por vagas na Liga dos Campeões. Além do Barcelona, é difícil imaginar a dupla de Madrid de fora do torneio, o que faz restar uma última vaga. Atualmente, Bétis, Rayo, Valencia e, em menor proporção, Levante e Real Sociedad se mantém na disputa. Em comum entre eles, além do esquema tático (4-2-3-1), está o estilo de jogo ofensivo.

Os milionários elencos de Barcelona e Real Madrid e a criticada divisão de receitas das cotas de televisão tendem a ainda deixar, pelos próximos anos, a Liga BBVA bipolarizada - a não ser que campanhas como a do atual Atlético de Madrid apareça no meio do caminho. No entanto, as demais equipes apresentam espírito competitivo das demais equipes e um estilo de jogo atrativo. Assim, a Liga Espanhola, definitivamente, tem argumentos para ganhar novos fãs e diminuir o preconceito por quem não assiste.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Os melhores do primeiro semestre

 Lionel Messi: 25 gols, pichichi absoluto e, por ora, o melhor jogador do campeonato (getty images)

Com 2012 chegando ao fim e, com ele, o primeiro semestre da temporada europeia, já podemos montar com convicção a seleção do primeiro turno da Liga Espanhola, ainda que falte mais duas rodadas para o final. Com incríveis 49 pontos em 17 rodadas (16 vitórias, 1 empate e nenhuma derrota), o Barcelona fincou seu nome na história do campeonato ao ter os melhores registros da Liga, com os números acima. O campeonato retorna neste final de semana, e os líderes terão dérbi para fazer contra o Espanyol. Abaixo, o 11 do primeiro turno, escalado no 4-3-3 por ser a tática do líder e virtual campeão Barcelona.

Willy Caballero (Málaga)
A melhor defesa do campeonato é impulsionada pelo excelente arqueiro Caballero, que vem numa crescente desde a temporada passada, onde foi um dos principais responsáveis pela boa temporada do Málaga, que culminou com a vaga na Champions. Há duas semanas, teve atuação de ouro contra o Real Madrid, ratificando por que é, até o momento, o melhor goleiro da elite espanhola

Cicinho (Sevilla)
Na lateral direita, Cicinho surpreende. Questionado em sua chegada pela saída conturbada do Palmeiras, o brasileiro caiu nas graças da torcida ainda na pré-temporada. Taxado de "novo Daniel Alves", ganhou destaque após a partida contra o Real Madrid no início da temporada, onde anulou Cristiano Ronaldo e ainda fez graça com o português. Ele caiu consideravelmente de rendimento nos últimos jogos, mas não apaga as brilhantes partidas feitas nas primeiras dez rodadas.

Gerard Piqué (Barcelona)
Piqué veio de uma temporada apagada. Durante a reta final de 11/12, perdeu a titularidade para Mascherano, ficando no banco nos jogos decisivos da Liga e da Champions League. Porém, tem recuperado à medida que a atual temporada passada sua melhor versão. Piqué garante segurança e excelência na saída de bola a um sistema defensivo que ainda não é perfeito.

Miranda (Atlético de Madrid)
É outro brasileiro que vai bem na temporada. Assim como Cicinho, teve uma queda no rendimento, mas é homem de confiança de Simeone e um dos principais jogadores da excelente temporada rojiblanca. Chefão da zaga, é importante também no jogo aéreo e faz uma dupla coesa com o uruguaio Godin.

Jordi Alba (Barcelona)
Alba repete, por ora, as atuações de alto nível que o levaram de volta ao Barcelona. O melhor lateral esquerdo da Eurocopa é, sem dúvidas, um dos três principais jogadores dos blaugranas na atual temporada na opinião deste colunista. Disciplinado taticamente, tem em Iniesta seu principal "ajudante" na ponta esquerda, uma parceria que deu certo durante a disputa da Euro. É provável que Abidal retorne como zagueiro, porque é difícil imaginar Alba perdendo a titularidade com Tito Vilanova.

Sergio Busquets (Barcelona)
"O jogador silencioso", assim definiu Diego Torres, colunista do El País em uma de suas recentes colunas no periódico. Jogador que equilibra o meio-campo barcelonista, é imprescindível ao estilo de jogo azulgrená. Você pode questionar Guardiola por ele ter deixado Touré sair de maneira tão fácil, mas, mesmo sendo inferior ao marfinense, o catalão encaixa mais na tática blaugrana. Aos 23 anos, é um dos melhores volantes do mundo.

Cesc Fàbregas (Barcelona)
Em 2011/2012, Fàbregas retornou ao Barcelona. No primeiro semestre, foi importante e fez excelentes partidas. No entanto, a partir da reta final, caiu drasticamente de rendimento, criando dúvidas quanto ao seu poder de decisão. Na Eurocopa, atuando de falso nove, foi importante, mas restava mostrar isso com mais regularidade no Barça. Por enquanto, repete o que fez na primeira parte da temporada passada com mais sobressaliência, atuando no meio-campo, ora fazendo a função de Xavi (onde se sai melhor, diga-se de passagem), ora exercendo o papel de Iniesta.

Andrés Iniesta (Barcelona)
Iniesta faz juz ao título de melhor jogador da Europa conquistado em agosto do ano passado. Se durante a era Guardiola (e a parte final da era Rijkaard), atuava num baixo nível quando escalado aberto à esquerda do ataque, o espanhol parece adaptado à função que cumpre tanto na seleção espanhola quanto agora no Barcelona. Versátil e incisivo o bastante para atuar por ali, tem contribuido à exaustão para Messi alimentar mais recordes. Com Iniesta em forma, é muito mais difícil do que o normal derrotar o esquadrão da Catalunha.

Lionel Messi (Barcelona)
25 gols em 17 jogos, 91 em 2012, seis rodadas consecutivas anotando ao menos dois gols numa mesma partida. Não há palavras para descrever Lionel Messi, o melhor jogador do campeonato. La Pulga começou a temporada num ritmo menos elevado, ficando muito preso à função de centroavante, mas já recuperou a forma avassaladora. Daqui a uma semana, tem tudo para receber mais um prêmio de melhor do mundo.

Falcao García (Atlético de Madrid)
El Tigre, mas pode chamá-lo de El Demolidor. O colombiano faz uma temporada dos sonhos e não é exagero dizer que, atualmente, ele é o melhor centroavante do mundo. Vice-artilheiro com 17 gols, é o protagonista da melhor campanha do Atlético de Madrid em muito tempo.

Cristiano Ronaldo (Real Madrid)
O gajo pode atuar melhor do que vem atuando, mas no ambiente mais do que conturbado que vive o Real Madrid não há mais o que pedir dele. Mesmo "triste" com pessoas do clube, não falta entrega dentro de campo. Será um verdadeiro baque para o Real Madrid perdê-lo ao final da temporada, como vem especulando a imprensa espanhola - prováveis destinos: retorno a Manchester ou ida ao PSG.

Menções honrosas: Courtois (Atlético de Madrid), Adriano (Barcelona), Filipe Luís (Atlético de Madrid), Godin (Atlético de Madrid), Demichelis (Málaga), Isco Román (Málaga), Joaquín (Málaga), Hemed (Mallorca), Leo Baptistão (Rayo Vallecano), Piti (Rayo Vallecano)Soldado (Valencia), Vela (Real Sociedad).