terça-feira, 26 de junho de 2012

A evolução de Portugal

*Como todo irmão carinhoso, o blog dá espaço para comentar e analisar Portugal, adversário da Espanha na semifinal da Eurocopa e vizinho ibérico do país das touradas

O craque: Cristiano Ronaldo é a grande ameaça para acabar com a hegemonia espanhola (getty images)

No dia 29 de junho de 2010, Portugal se despediu da Copa do Mundo nas oitavas-de-finais. Na África do Sul, a equipe treinada por Carlos Queiroz viu a Espanha ser seu grande algoz. Na Cidade do Cabo, sofreu ante o jogo de posse de bola e troca de passes espanhóis e foi uma das presas da futura campeã mundial. À época, o clima nos bastidores não era dos melhores e boa parte dos jogadores estavam insatisfeitos com a gerência do treinador. Nesta quarta-feira, quase dois anos depois, os rivais ibéricos voltam a se enfrentar. Dessa vez, valendo vaga na grande final da Eurocopa. A Espanha é favorita, mas diferentemente do confronto no Mundial os gajos vêm com enormes expectativas de vitória. Além do confronto de dois anos atrás, Espanha e Portugal se encararam recentemente na Eurocopa de 2004. No jogo decisivo da fase de grupos, os portugueses, anfitriões do torneio, despacharam a Fúria precocemente com um gol de Nuno Gomes. A história do confronto está do lado espanhol: em sete jogos oficiais, quatro vitórias e apenas uma derrota.

Após passar de fase num grupo considerado da morte, a confiança do selecionado luso aumentou. A evolução da equipe desde a eliminação na África até o confronto de amanhã é notória. E boa parte dos créditos têm que ser direcionados a Paulo Bento, treinador que assumiu a seleção após o fracasso no Mundial. A troca de comando durante as eliminatórias foi crucial para a recuperação do ânimo do público e dos jogadores. Cristiano Ronaldo, um dos principais jogadores da Eurocopa até o momento, foi um dos mais favorecidos após a chegada do ex-volante de Benfica e Sporting Lisboa (na Espanha, atuou no Oviedo). Acostumado a jogar isolado no ataque à época de Queiroz, o dono da camisa sete se sente mais à vontade com o novo treinador, que o coloca para atuar na posição onde mais gosta: à esquerda do ataque, como no Real Madrid. Ronaldo, contudo, não se limita somente a esquerda e tem liberdade para flutuar em qualquer parte do ataque, confundindo a defesa adversária. Nem todos, porém, subiram no mesmo barco. Desentendimentos com o técnico fizeram com que Ricardo Carvalho e Bosingwa se afastassem da seleção.

Sua escolha para o cargo não era exatamente uma unanimidade entre o público. Em seus seis anos no Sporting, não conseguiu ganhar um campeonato nacional, limitando-se a quatro títulos de copas. Naturalmente, só existe um José Mourinho, e não está em seus planos imediatos assumir a seleção agora, embora tenha se colocado à disposição para dirigir interinamente a equipe após a saída de Queiroz. As suspeitas sobre Paulo Bento rapidamente desapareceram com os resultados, e os temores de que ele adotaria um esquema excessivamente defensivo não se confirmaram. Apesar do pouco tempo para trabalhar, conseguiu implantar disciplina tática e conquistar a confiança do grupo de jogadores. O elenco ficou ao seu lado após as brigas com Carvalho e Bosingwa.

As mudanças são significativas em praticamente cada posição do campo. No gol, a principal para muitos. Após uma boa participação na Copa do Mundo, Eduardo esqueceu todo seu futebol no Genoa, onde caiu substancialmente de produção e falha à rodo. No continente africano, foi um dos poucos que teve atuações positivas. Manteve a porteira intacta ante Costa do Marfim e Brasil e evitou uma derrota mais trágica contra a Espanha. Tentando recuperar prestígio, voltou a Portugal para defender o Benfica, mas não demorou muito para perder a titularidade para Artur. O bom Rui Patrício, após uma grande temporada com o Sporting de Lisboa, é o preferido de Paulo Bento para a posição.

A defesa também passou por reajustes. Os problemas extracampos com Ricardo Carvalho, que renunciou a seleção após ter sido sacado do time titular, no início da temporada passada foi visto como uma dor de cabeça para o treinador. Até o amistoso contra a Turquia, o último antes da partida contra a Alemanha, na estreia na Eurocopa, o setor passava muita desconfiança. Os três gols sofridos diantes do turcos geraram uma incógnita que, curiosamente, foi esquecida durante a competição: está bastante sólido e vê em Pepe um líder nato. O jogador do Real Madrid, que fora muito utilizado como volante na seleção, é um mago e passa a sustentação necessária para o esquema de Paulo Bento. Tem feito partidas impecáveis (aliás, vem de uma temporada praticamente perfeita) e é o melhor zagueiro da competição ao lado do alemão Hummels. A outra mudança foi na lateral direita, onde o valencianista Ricardo Costa deu a vez a João Pereira, contratado pelo clube ché no início do mês. Fábio Coentrão, na esquerda, é sinônimo de jogadas perigosas pelo setor onde está o ponto mais fraco da Espanha: Arbeloa.

O meio-campo tampouco se livrou das mudanças. O sumiço de Pepe na volância foi substituído pelas importantes presenças de Miguel Veloso e João Moutinho. Miguel faz as vezes de Pepe na Euro e permite a Raúl Meireles, único sobrevivente da meiuca em relação à Copa, ficar menos sobrecarregado e jogar mais liberado, aparecendo como elemento surpresa nos ataques. Moutinho, que acabou cortado do Mundial, é o cérebro português. Comparado com Xavi pela imprensa lusa, o jogador do Porto é o grande articulador de jogadas. Dos pés deles, nascem as melhores oportunidades de Portugal. Os trio é muito bem disciplinado taticamente e ajudam a defesa quando atacada. Juntos, formam um meio-campo coeso e batalhador, principal esperança de Paulo Bento para (tentar) quebrar o fluxo de passes espanhol.

O ataque não passou por muitas mudanças dentro de campo, somente na postura. Cristiano Ronaldo tem atuado em grande nível com Bento e Nani, que entrou no lugar de Simão, é bastante importante no flanco direito. Os dois são as armas portuguesas para o confronto, sobretudo Ronaldo, que, assim como Coentrão, irá encarar Arbeloa pela frente como marcador invidual. Está aí a grande oportunidade do duelo ser decididor a favor dos gajos. Com a lesão do maño Helder Postiga, Hugo Almeida volta ao onze titular.

Em um amistoso em novembro de 2010, um promissor Portugal esmagou a Espanha, que ainda estava de ressaca pelo título mundial conquistado meses atrás. Os críticos portugueses são unânimes quando dizem que aquela foi a melhor atuação de Cristiano Ronaldo com a camisa da seleção. O craque jogou por apenas 45 minutos, o suficiente para fazer a vida de Busquets, Sergio Ramos, Piqué, Puyol e Xabi Alonso um inferno. Os 4x0 poderia ter sido muito mais, caso Nani não tivesse sido egoísta e deixado um golaço do camisa sete ter validado: um toque seu na bola na conclusão da jogada acabou invalidando o gol, por impedimento. O povo português espera uma atuação como essa de 2010 de Cristiano Ronaldo e cia para poder voltar a uma final de Eurocopa.

domingo, 24 de junho de 2012

Propaganda enganosa

 Com atuações positivas nesta Euro, Xabi Alonso tem saído da sombra de Xavi e é um dos destaques da competição (Marca)

Por Ubiratan Leal

Ver o jogo por cima, sem muitas considerações e reflexões, permite equívocos. É como avaliar o Espanha 2x0 França pelo placar, e pela superioridade espanhola durante a partida. A Fúria praticou seu futebol de toque de bola, não foi ameaçada pelos franceses e não teve dúvidas de que conseguiria se classificar. Boa atuação, então? Não é bem assim. A facilidade da vitória não significa que o desempenho tenha sido bom ou convincente. Foi seguro. E parte da segurança se deveu à passividade da França diante do placar negativo, diante do predomínio do sistema de jogo espanhol sobre o seu. Mas, quando precisou ser mais aguda e incisiva com esse seu futebol, a Espanha sofreu.

A troca incessante de passes neutralizou o meio-campo francês, mas a equipe de Vicente Del Bosque deu razão para quem fala em “futebol improdutivo”. Durante quase todo o jogo, o meio-campo não encontrou o ataque. Os espaços não apareciam, e a movimentação ofensiva não era suficiente para criá-lo. A crônica da falta que David Villa faz a esse time continua válida. O duelo foi modorrento durante os 90 minutos. Só houve um momento em que a dinâmica foi quebrada: quando a Espanha conseguiu jogar pelos lados. No caso, foi o apoio de Jordi Alba pela esquerda. Um lateral que aparece pouco, e, quando o fez, pegou Reveillère desprevenido. O espanhol venceu na velocidade e chegou livre na linha de fundo. Teve temo de olhar para a área e perceber Xabi Alonso livre para receber o cruzamento e cabecear para o gol. Detalhe para o passe de Iniesta, melhor da Espanha e da Eurocopa, no lance oriundo da jogada, que quebrou a linha defensiva dos Bleus.

Detalhe que nenhum jogador do meio-campo e do ataque encontraram esses espaços. Foi um lateral e um volante que apareceram. Isso não tira o mérito da Espanha, já que mostra que o perigo pode vir de diferentes lados. No entanto, também mostra os problemas do meio para frente, o que já ficou evidente nas partidas contra Itália e Croácia. O segundo tempo praticamente não existiu. Foi um time segurando a bola para manter o placar contra outro que olhava jogar. Fàbregas teve uma boa jogada, quando foi lançado por Xavi e só não fez o segundo gol porque Lloris salvou. Fora isso, foi um jogo arrastado, em que a facilidade dos espanhóis de impor seu jogo não significa que tenha pressionado o adversário e feito o que bem entendesse em campo.

Ah, e teve o segundo gol... Mas, convenhamos, só o árbitro viu aquele pênalti em Pedro. De qualquer modo, ele não mudou o andar da partida (o jogo estava nos minutos finais) e só ajudou a construir um marcador que dá uma sensação enganosa de vitória convincente. A Espanha tem mais bola do que jogou contra a França, e não pode se contentar pelo fato de o placar ter ficado em 2 a 0.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O 12º jogador

 No gol de Jesus Navas, Fàbregas foi dono de 90% da jogada (getty images)

Cesc Fàbregas chegou à Eurocopa como coadjuvante. Vindo de uma temporada onde se esperava que brilhasse mais no Barcelona, a expectativa era de ser reserva durante a competição. No entanto, Del Bosque surpreendeu a todos e começou o jogo de estreia contra a Itália com o catalão titular, cumprindo o papel de falso nove, bem longe de sua posição de origem. Cesc, que chegou a atuar assim em poucos jogos durante o início de 2011/2012, se sentiu claramente incomodado. Não cumpriu a função com excelência, mas marcou o gol que deu o empate à Fúria. Foi sacado da equipe titular no jogo seguinte contra a Irlanda, viu Fernando Torres anotar dois, mas, quando entrou em campo, também não passou em branco.

Contra a Croácia, Fàbregas voltou a sentar no banco. Viu, durante mais ou menos 75 minutos, a Croácia pressionar a Espanha e Fernando Torres passar despercebido no ataque. Sua entrada no lugar de um apagado Silva mudou os rumos da partida. Cesc, que havia desperdiçado boa oportunidade logo em seu primeiro toque na bola, se redimiu. Ele dominou a bola na intermediária, observou a passagem de Iniesta e tocou por cima, desmontando uma confiante e forte defesa croata. Iniesta dominou e, cara a cara com Pletikosa, rolou para Jesus Navas estufar as redes livres, dar a vitória à Espanha e tirar a equipe do caminho da Alemanha nas semifinais. O gol foi do andaluz e a assistência do camisa seis, mas o protagonista da jogada foi o catalão que vesta a camisa 10.

Impussionado pela temporada excelente de David Silva, que foi um dos destaques do Manchester City no título da Premier League, competição na qual Fàbregas não conseguiu levar o Arsenal à taça, era de se esperar que o barcelonista fosse relegado ao banco. Entretanto, tem quebrado qualquer tipo de desconfiança. Com Silva sentindo o peso de uma temporada cansativa, onde já havia caído de rendimento ao longo do segundo semestre, Cesc tem tomado o protagonismo que deveria ser do canário. Mais uma vez decisivo, não será surpresa se aparecer como titular ao lado de Fernando Torres mas no lugar do ex-ché nas quartas-de-finais.

Se ainda pode jogar em um nível superior ao apresentado nesta Euro, Fàbregas ao menos não tem decepcionado. Hoje, por exemplo, seria perfeitamente plausível ele aparecer em sua posição original no meio-campo no lugar de Xavi, outro que sente claramente o cansaço de uma temporada cansativa. As atuação do culé na referência do ataque mostra que ele é mestre no improviso, característica que Vicente Del Bosque mais gosta. Pelo menos pela Roja, Cesc nunca decepciona. Na Eurocopa de 2008, havia sido decisivo contra Itália e foi dono de um excelente jogo contra a Alemanha na final. Na Copa de 2010, foi dele a assistência para o gol de Iniesta. Agora, sabe que é a primeira escolha do treinador, chama a responsabilidade e faz Euro positiva (Iniesta, Casillas e Fàbregas foram os melhores da Espanha na fase de grupos). A Fúria tem um 12º jogador.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Aprendeu, Del Bosque?

 "Dois gols tá bom ou você quer mais?", poderia ter dito Fernando Torres a Del Bosque (getty images)

Antes da estreia na Eurocopa contra a Itália, Vicente Del Bosque se expressou utilizando todas as palavras: não usaria o modo Barcelona de jogar, com um falso nove. Puro blefe. Abdicou de Llorente, Fernando Torres e Negredo e foi a campo com Fàbregas na referência. O meio-campista do Barcelona (meio-campista, é bom deixar claro) marcou, mas a Roja penou para bater a meta defendida por Buffon. Só marcou porque abusou de seu estilo de jogo na jogada, com troca de passes e triangulação entre Iniesta, David Silva e Fàbregas. Minutos depois, Vicente sacou Cesc e colocou Fernando Torres. Em menos de 30 minutos, El Niño criou três oportunidades claras de gols. 

Não obstante, o treinador campeão mundial recebeu uma chuva de críticas após o duelo. Até José Mourinho e Luis Aragonés trataram de criticar a escalação inicial. O madrilenho manteve a calma e até acenou com a possibilidade de atuar novamente com a mesma escalação ante a Irlanda. Novamente, puro blefe. Dessa vez, positivo. Em relação ao jogo contra os italianos, uma única mudança: saiu Fàbregas e entrou Fernando Torres. Uma troca substancial. Não que Fàbregas seja mau jogador, muito longe disso. Acontece que não há como escalá-lo como centroavante. É abdicar das principais características dele. Fica longe da fluência de jogo no meio-campo, do tiki-taka feito pelo setor e, principalmente, da armação das jogadas, que, a bem da verdade, foi muito bem feita por Xabi Alonso contra a Irlanda.

A seleção de Trapattoni nada pôde fazer para segurar o ímpeto espanhol. Conhecido por armar bem uma boa retranca, como um bom e velho italiano, o treinador vê seus comandados decepcionarem. A Irlanda da Eurocopa é a antítese daquela das Eliminatórias. Sentindo o peso da competição, atua em um baixo nível e não consegue segurar os ataques rivais. Havia sofrido com os contra-ataques da Croácia e perdeu a cabeça ante o jogo de troca de passes espanhol. "Foi um golpe psicológico", como apontou José Capdevila, editor-chefe do Diário Sport. Daniel Leite, colunista de futebol inglês do IG, escreveu bem sobre a seleção e a definiu perfeitamente: Trapattoni prioriza a experiência em detrimento do talento. Em momento algum sabe o que fazer com a bola nos raros momentos em que a tem nos pés. Sai do torneio de forma decepcionante, já que o ferrolho que a caracterizou nas eliminatórias não foi eficiente em momento algum. 

Para a Espanha, valeu por três nomes. David Silva reencontrou seu bom futebol. Marcou uma vez e assistiu duas. Dos cinco gols espanhóis em solo ucraniano, participou de quatro. Ainda pode aparecer mais, mas sua evolução é notória. Há duas semanas, escrevi que ele, junto a Iniesta, seriam os candidatos a destaques da seleção e da competição. Quem começa a entrar nessa galeria é justamente o blaugrana. O melhor em campo contra a Itália voltou a repetir uma exibição positiva. Driblou, tocou, chutou. Para esse colunista, é, ao lado de Schweinsteiger, Pirlo e Dzagoev, o craque dessa edição da Eurocopa. 

O maior destaque, contudo, não poderia ser diferente de Fernando Torres. Há dois meses, tinha sua participação na competição colocada em xeque. Após uma temporada negra no Chelsea, sua reta final teve lampejos do velho Torres. O gol contra o Barcelona em pleno Camp Nou, pelo visto, valeu para recuperar a confiança de um dos melhores matadores dos últimos anos. Dentro das quatro linhas, ratificou a confiança de Del Bosque. Se movimento, saiu de fora da área várias vezes para participar das linhas de passes, abria espaço para as infiltrações de Iniesta, Silva e Xavi e marcou duas vezes. Sua boa partida é uma excelente notícia para a Espanha. Agora, a Roja pode contar com um centroavante de confiança e parar de ver as improvisações de meios-campistas no ataque. Com quatro pontos, joga por um empate contra a Croácia para avançar de fase.

domingo, 10 de junho de 2012

O erro de Del Bosque

 Vicente Del Bosque sério: no momento, não há motivos para risadas (getty images)

Enquanto treinador da seleção brasileira, Dunga fora severamente criticado por abraçar seu grupo e não fazer mudanças nele de jeito nenhum, não importando a fase de outros jogadores. O treinador, também, era bastante criticado por não repensar nos seus ideais, mesmo estando fora de validade. No Hemisfério Norte, há quem viva situação semelhante. A imagem de Vicente Del Bosque com os meios de comunicações espanhóis, antes mesmo da Eurocopa começar, não era das melhores, mas o fato da Fúria vencer, mesmo não convencendo, blindava e escondia as críticas. Bastou uma jogo fora do eixo para isso explodir.

Durante a semana, especulava-se bastante sobre como o treinador madrilenho iria a campo para encarar a Itália. Em sua primeira coletiva em solo ucraniano, Del Bosque chegou a afirmar que o Barcelona é uma de suas inspirações, mas que não copiaria todo o estilo de jogo blaugrana, sobretudo o fato de usar um falso nove (no caso do Barça, Lionel Messi), pois queria um centroavante de velocidade para poder entrar em sincronia com os meio-campistas nos contra-ataques, principalmente. A declaração chamou a atenção e deixou mais dúvidas no ar: se Fernando Torres e Llorente não se encaixam nesse perfil de referência proposta pelo treinador, Negredo, sua última opção, começaria jogando? O Mundo Deportivo chegou a confirmar a escalação da Roja com o andaluz, o que levava a um novo debate: se, no Sevilla, suas atuações mais abaixo do nível foram jogando exatamente como única referência, qual motivo levaria Del Bosque a utilizá-lo nessa posição num jogo importante de Eurocopa? E outra: se a proposta de jogo, a partir de agora, seria essa, por que o corte de Soldado, que se encaixe perfeitamente nesse estilo?

Porém, tudo não passava de um blefe. Mesmo desmentindo, a escalação inicial não teve nenhum atacante. O madrilenho foi a campo com Fàbregas de falso nove, surpreendendo a muitos. Uma escalação bastante controversa, principalmente pelo fato da Espanha ter criado muito poucas ocasiões na primeira etapa. Apesar de ter feito o gol (que, vale comentar, pareceu de um centroavante), Fàbregas parecia perdido. No Barcelona, chegou a ser testado por Pep Guardiola na posição duas vezes, onde não saiu-se bem. O próprio Del Bosque tem o exemplo negativo, quando utilizou David Silva na posição contra a Inglaterra na derrota por 1x0. O "4-6-0 ", dito por Muricy Ramalho, de fato não dá certo na seleção espanhola. Talvez para tentar surpreender Cesare Prandelli, treinador da Itália, Del Bosque tenha optado por essa escalação, que não deve ser iniciada contra a Irlanda.

A imprensa europeia, no geral, foi contra a falta de referência e até personagens como José Mourinho e Luis Aragonés criticaram o futebol exercido pela Roja. " Não é bom só toque de bola entre Xavi, Iniesta e Cesc sem que se crie uma ameaça a Buffon. É claro que houve um grande esforço dos meias espanhóis, mas sem um centroavante a Espanha teve um ataque estéril", disse o português. Para Aragonés, a fórmula de um falso nove funciona no Barcelona porque Messi é o jogador utilizado para desempenhar a função. O treinador campeão com a Fúria foi sintético e claro em suas declarações. Mesmo tendo desperdiçado três oportunidades, o uso de Fernando Torres (ou Llorente) é obrigatório. El Niño pode não ter feito gol, mas a zaga da Itália entrou em apuros depois que ele entrou. Referência ofensiva deixou De Rossi perdido. O jogador da Roma fez um primeiro tempo impecável e foi o melhor em campo ao lado de Iniesta, que recebeu a honraria da Uefa.

O preciosismo espanhol na hora da arremate final também foi um ponto negativo. A Espanha foi técnica e envolvente, mas quase sempre preferiu o passe ao chute. Xavi, Iniesta, Fàbregas e Silva entravam tocando e promovendo intensa movimentação, mas demoravam a concluir. Algo que vem chamando a atenção desde a Copa do Mundo, mas que Del Bosque insiste em continuar deixando passar batido. Diante de uma Itália que defendia no 5-3-2 – com De Rossi na sobra da zaga e os laterais Maggio e Giaccherini mais contidos – e só arriscava nos passes longos de Pirlo para Balotelli e Cassano, a campeã europeia e mundial não encontrava soluções ofensivas. Com  Arbeloa e Jordi Alba muito conservadores no apoio e Xabi Alonso organizando de trás, não havia o elemento surpresa para desmontar a marcação. 

Xavi, fora de sua posição no 4-3-3 espanhol, passou despercebido. Quem também decepcionou foi David Silva. Apesar da assistência linda para Cesc marcar, o camisa 21 pode atuar melhor do que ontem. Outro emblema da seleção é o fato de não aproveitar uma das principais jogadas do Barcelona. Enquanto os blaugranas são avassaladores e esmagam seus adversários por aproveitaram, à perfeição, as entradas em diagonais e as infiltrações pelos flancos, na Fúria a jogada inexiste. Para muitos, o principal motivo para os catalães golearem e a Fúria ser mais pragmática. Quinta-feira, a Espanha volta a campo e espera espantar todas as dúvidas colocadas em xeque após o empate na estreia. Enquanto isso, as dúvidas também permanece sobre a escalação. Del Bosque vai fazer jus às palavras e não jogar com um falso nove?

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Nos pés de David e Andrés

 Iniesta e David Silva chegam à Eurocopa como principais esperanças de título espanhol (telegraph)

O último teste da seleção espanhola antes da Eurocopa serviu para ratificar uma máxima que vem acontecendo com frequência na Fúria: atualmente, seus principais jogadores são David Silva e Andrés Iniesta. Foram eles que construiram a vitória sobre a China por 1x0. Iniesta, que entrou no segundo tempo, se infiltrou pela esquerda, como há tempos não fazia, e tocou para Silva finalizar de primeira. Um chute seco, com a canhota, que, contudo, ainda deixa dúvidas quanto ao estilo de jogo espanhol.

Uma reportagem especial do Marca trouxe à tona uma verdade: dentre as principais seleções europeias, a Fúria é a menos goleadora. Algo que vem acontecendo desde quando Del Bosque assumiu a Espanha, precisamente no período da Copa. Na África do Sul, vale lembrar, a seleção só venceu uma partida por dois gols de diferença (contra a Honduras). No restante, vitórias apenas por 1x0 contra Portugal, Paraguai, Alemanha e Holanda e um 2x1 no último jogo da fase de grupos contra o Chile. Não obstante a uma Fúria mais pragmática, a ausência de Villa influi mais para isso. Ainda que tenha preferência por Fernando Torres e El Niño tenha recuperado pontos após o gol contra a Coreia do Sul, ontem o treinador madrilenho iniciou com Negredo. É, segundo o Marca, o preferido de Del Bosque para iniciar contra a Itália, no próximo domingo, acredite se quiser. Mas o andaluz não é um centro-avante de ofício que fica mais preso à área, como Torres ou Llorente. Entretanto, é, entre os quatro atacantes do elenco, o que mais se aproxima do estilo de jogo de Villa. Mas leva a um novo debate: pelo esquema tático utilizado, não seria preferível o atacante do Athletic Bilbao ou o do Chelsea? Negredo, quanto testado, não se saiu bem como referência do Sevilla. Suas melhores atuações foram jogando ao lado de Kanouté.

O estilo de jogo da Fúria é baseado no toque de bola e na paciência para chegar as redes. Nesse quesito, quem acelera as jogadas são justamente Silva e Iniesta, os extremos do 4-3-3 espanhol. Embora limite seu futebol, é perfeitamente possível entender o que se passa na cabeça de Del Bosque quando adianta Iniesta à ponta esquerda. O madrilenho quer ganhar mais força no meio-campo, escalando Xabi Alonso e Busquets juntos. Porém, paradoxalmente, o setor fica pesado e retira Xavi da parte do campo onde mais gosta de atuar: a ligação meio-ataque. Vicente até tentou barcelonizar a Fúria, mas não durou muito tempo. Nesse módulo tático, Xavi cumpre um papel semelhante ao de Iniesta no Barcelona, com a criação das jogadas ficando, principalmente, com Xabi Alonso. Não que Xavi não crie, lógico, mas os ataques, na maioria das vezes, são orquestrados pelo volante merengue.

Diferentemente do que acontece com Iniesta, Silva não sente uma queda no seu futebol quando atua mais adiantado do que de costume. O homem de 14 assistências na Premier League, o líder no quesito, consegue se adaptar à sua função na seleção. No Manchester City, Silva normalmente exerce um papel duplo, de criação de jogadas e recomposição para marcar um dos laterais adversários, como fazia Juan Mata com André Villas-Boas no Chelsea. Seu nível caiu demais entre janeiro e abril, quando era substituído com freqüência, mas não deixou de ser o principal jogador espanhol na temporada, empatado ou até um pouco à frente de Xavi, que caiu de produção na reta final. Na Fúria, o canterano ché começa a ganhar um novo peso: de protagonista. Ante coadjuvante, seus jogos após a Copa do Mundo o fizeram ganhar moral com Del Bosque, que o relegava ao banco, mas não teve como resistir. Suas últimas atuações com a Espanha foram tão acima da média que a imprensa espanhola passou a chamá-lo de Messi da Roja.

A entrada de Iniesta no segundo tempo do jogo contra a China evidenciou que ele é o parceiro ideal de Silva. Os dois trocaram tabelas, se aproximaram muito para construírem jogadas e aumentaram as ocasiões de gols espanhol, escassas na primeira etapa. Quem se beneficia desse modo de jogar da dupla é Xavi. O maestro barcelonista, no caso, pode ficar menos sobrecarregado possível e, se as atenções da marcação adversária caírem em cima de Silva e Iniesta, ficar mais livre para atuar. Um possível revezamento com Xabi ou a entrada de Mata ou Fàbregas para recuar o barcelonista à sua posição de origem seria importante numa hipotética decisão de Del Bosque.

sábado, 2 de junho de 2012

Balanço Final: Análise da temporada (segunda parte)

Abaixo, a continuação da Análise da temporada, com os restantes dos times. Se você quiser conferir a primeira parte, clique aqui. Para saber quem foram as revelações, clique aqui.

GETAFE
Classificação: 11º
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: não disputou
Destaque: Miku (foto, Marca)
Revelação: Abdel Barrada
Decepção: Daniel Güiza
Nota da temporada: 6
Se alguém falar que o Getafe não disputou o Campeonato Espanhol, é capaz de muita gente acreditar. O time ficou no meio da tabela toda a temporada, redefinindo o conceito de não chamar a atenção de ninguém. A campanha não teve uma boa fase destacada (a maior série de vitórias foram de duas seguidas, em três momentos diferentes), tampouco uma muito ruim (a maior seqüência de derrotas foi de três, uma vez). O único destaque individual foi o atacante venezuelano Miku Fedor, autor de 12 gols. Tudo bem, o oleiro Moyá também merece menção pelo bom desempenho.

REAL SOCIEDAD
Classificação: 12º
Copa nacional: oitavas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Xabi Prieto (foto, Diário de Navarra)
Revelação: Iñigo Martínez
Decepção: Mikel Aranburu
Nota da temporada: 6
É uma equipe decente, mas que teve dificuldades para deslanchar no campeonato. A falta de uma sequência de bons resultados deixou o time perto da zona de rebaixamento por muito tempo. A defesa foi o destaque, com boas apresentações de Illarramendi, González e De la Bella. O ataque ficou muito dependente da inspiração de Griezmann e Vela, mas a dupla fez o suficiente para garantir um final de temporada mais tranquilo em San Sebastián.

BETIS
Classificação: 13º
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: não disputou
Destaque: Beñat (foto, AS)
Revelação: Álex Pozuelo
Decepção: Ustaritz
Nota da temporada: 6,5
A estabilidade quase monótona do Getafe teve como contraponto a trajetória cheia de emoções do Betis. O time de Sevilha começou o campeonato, seu primeiro após retornar da segunda divisão, com quatro vitórias. A torcida até achou que o time podia brigar pela Liga Europa, mas os béticos perderam os cinco jogos seguintes. E a equipe ficou nesses altos e baixos durante quase toda a temporada. Faltou um pouco mais de paciência para gerenciar os jogos e a campanha como um todo. O Betis reagia de forma emocional às partidas, muitas vezes se deixando levar pelo impulso e perdendo oportunidades de fazer bons resultados controlando seus esforços.

ESPANYOL
Classificação: 14º
Copa nacional: quartas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Joan Verdú (foto, Mundo Deportivo)
Revelação: Thievy Bifouma
Decepção: Vladimir Weiss
Nota da temporada: 5
Esteve na briga pela Liga Europa em boa parte do campeonato, mas afundou no final, fazendo um ponto nas últimas cinco rodadas. A defesa foi um problema em toda a temporada, e custou ao time barcelonês pontos fundamentais. No entanto, o ataque também tem sua responsabilidade. A falta de um artilheiro de vocação atrapalhou uma equipe que tinha meias de armação de nível razoável. O único jogador do elenco com essa característica era o uruguaio Pandiani, reserva de 36 anos que segue no clube mais em consideração a seu passado do que pela real capacidade de ajudar durante uma temporada completa.

RAYO VALLECANO
Classificação: 15º
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: não disputou
Destaque: Michu (foto, Rayistas)
Revelação: Lass Bangoura
Decepção: David Cobeño
Nota da temporada: 6,5
A campanha do Rayo Vallecano foi um milagre. O time tem um elenco bastante modesto, atrasa salários desde a temporada passada, teve troca de direção e acabou o campeonato sob intervenção para evitar a falência. Mesmo assim, o Rayo ficou boa parte do campeonato no meio da tabela e, mesmo quando o fôlego acabou e o time se afundou numa sequência de seis derrotas, encontrou forças para vencer na última rodada e evitar um rebaixamento que seria mais que compreensível. Destaques? O brasileiro Diego Costa, o argentino Armenteros e a dupla espanhola Michu e Javi Fuego.

ZARAGOZA
Classificação: 16º
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: não disputou
Destaque: Hélder Postiga (foto, Reuters)
Revelação: Franco Zuculini
Decepção: Ruben Micael
Nota da temporada: 4,5
O Zaragoza era um caso perdido a um mês e meio do final do campeonato. O time ocupava a lanterna desde o meio do primeiro turno e não parecia ter forças para reagir, ainda que o elenco fosse de um time de meio de tabela. De repente, tudo se encaixou em La Romareda. O trabalho de Manolo Jiménez, que havia assumido a equipe na virada do ano, demorou para fazer efeito, mas acabou aparecendo. O time recuperou a confiança, lideranças como Ponzio, Roberto e Luís García, além do artilheiro Helder Postiga, surgiram e comandaram o crescimento zaragocista. Uma série de cinco vitórias nos últimos seis jogos impulsionou os maños, que escaparam do rebaixamento na última rodada.

GRANADA
Classificação: 17º
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: não disputou
Destaque: Carlos Martins (foto, Marca)
Revelação: Álex Carmona
Decepção: Alexandre Geijo
Nota da temporada: 5,5
A regra dos três pontos por vitória salvou o Granada. O time é tecnicamente fraco e não cumpriu a promessa de revelar jogadores (ou de ajudar no desenvolvimento de jovens para seu primo rico, a Udinese), mas teve o mérito de empatar pouco. Com o terceiro pior ataque do campeonato, os andaluzes conseguiram um número alto de vitórias apertadas (das 12, apenas uma foi por mais de um gol de diferença). Mas esses triunfos foram fundamentais: dos times que lutaram contra o rebaixamento, apenas o Rayo Vallecano não perdeu para os granadistas.

VILLARREAL
Classificação: 18º (rebaixado)
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: Liga dos Campeões (fase de grupos)
Destaque: Borja Valero (foto, Getty Images)
Revelação: Joselu
Decepção: Nilmar
Nota da temporada: 2
Temporada ridícula. O Villarreal começou o ano sofrendo com contusões de jogadores importantes como Rossi e Nilmar. Isso explica o início ruim no campeonato, mas a incapacidade de reagir é indesculpável. O Submarino Amarillo até teve um brilhareco na metade do segundo turno, quando chegou a abrir uma vantagem que parecia confortável em relação à zona de rebaixamento, mas se acomodou com isso. Por mais que alguns jogadores (como Marcos Senna, Borja Valero e Marchena) mostrassem real disposição de evitar a queda, faltou futebol. O esquema tático era burocrático e o técnico Miguel Ángel Lotina, contratado no final da temporada para evitar o rebaixamento, primou pela série de escolhas equivocadas. Tentou endurecer um time que, por vocação, joga com leveza e foi punido com a queda à segunda divisão após mais de uma década na elite.

SPORTING DE GIJÓN
Classificação: 19º (rebaixado)
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: não disputou
Destaque: David Barral (foto, David Barral)
Revelação: Alejandro Gálvez
Decepção: Sebastián Egurén
Nota da temporada: 3,5
O Sporting de Gijón sobreviveu nas duas últimas temporadas devido a sua defesa. O técnico Manolo Preciado montou um esquema para tomar poucos gols e, com isso, conseguir vitórias apertadas para garantir uma temporada segura. Mas, em 2011/12, essa retaguarda não funcionou. O time foi uma peneira atrás, e não estava preparado para compensar isso com seu ataque. Tornou-se um alvo fácil para qualquer adversário, mesmo os da parte de baixo da tabela. As trocas de treinadores no segundo turno (entraram Iñaki Tejada, Javier Clemente e Manolo Sánchez) só deixou a equipe mais confusa, sem esquema e sem planejamento claro para buscar a reação. Na base da raça, o time venceu três jogos entre a 34ª e a 37ª rodadas, mas já chegou ao último jogo matematicamente rebaixado – e com a segunda defesa mais vazada do campeonato.

RACING DE SANTANDER
Classificação: 20º (rebaixado)
Copa nacional: oitavas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Christian Stuani (foto, Racinguistas)
Revelação: Álvaro González
Decepção: Lautaro Acosta
Nota da temporada: 3
Equipe muito fraca, que conseguiu passar o segundo turno inteiro sem uma vitória sequer. Excetuando o atacante uruguaio Stuani, artilheiro da equipe com 9 gols, nada funcionou. Nem seus jogadores símbolos, como o goleiro Toño e o meia-atacante Munitis, tiveram uma boa temporada para liderar um time tecnicamente ruim e taticamente sem direção. Uma queda traumática, que indica a necessidade de mudanças profundas para a disputa da segunda divisão na próxima temporada.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Balanço Final: Análise da temporada (primeira parte)

 Cristiano Ronaldo dá o ok: ele foi a estrela do Real Madrid campeão da Liga Espanhola (getty images)

Real Madrid x Barcelona, Barcelona x Real Madrid. O Campeonato Espanhol tem se limitado a isso nas últimas quatro temporadas. Ainda assim, a temporada 2011/12 teve suas novidades. Primeiro, que o vencedor do duelo entre os dois gigantes não foi catalão. Segundo, porque o segundo pelotão da Espanha mostrou força. Se não o fez em La Liga, usou a Liga Europa para tal. Valencia, Atlético de Madrid e Athletic Bilbao chegaram às semifinais da segunda competição de clubes do continente, sendo que os dois últimos decidiram o título. E, na parte de baixo da tabela, o que parecia uma luta que se definiria rapidamente viu mudanças de última hora, com um gol no último minuto da última rodada rebaixando uma das principais forças do país desde a virada do século.

REAL MADRID
Classificação: campeão (vaga na Liga dos Campeões)
Copa nacional: quartas de final
Copas europeias: Liga dos Campeões (semifinais)
Destaque: Cristiano Ronaldo (foto, Getty Images)
Revelação: nenhuma
Decepção: Kaká
Nota da temporada: 8,5
O Real Madrid só se sentirá plenamente satisfeito quando voltar a conquistar a Liga dos Campeões. Aí, a torcida terá certeza que o clube atingiu seu potencial, que o dinheiro investido realmente deu retorno. Mas, tirando o fato de a LC ter ido para Londres, a temporada 2011/12 foi muito positiva para os merengues. O clube recuperou o título espanhol e, melhor ainda, mostrando autoridade e superioridade diante do Barcelona. Só o fato de ter deixado o grande rival para trás já legitima o trabalho de José Mourinho, e dá confiança para o trabalho seguir seu curso natural em Chamartín.

BARCELONA
Classificação: vice-campeão (vaga na Liga dos Campeões)
Copa nacional: campeão
Copas europeias: Liga dos Campeões (semifinais)
Destaque: Lionel Messi (foto, Getty Images)
Revelação:
Decepção: Pedro Rodríguez
Nota da temporada: 7
O Barcelona caiu na Liga dos Campeões por uma fatalidade (Messi perdeu um pênalti) e levou a Copa do Rei, mas a temporada termina com um sabor amargo no Camp Nou. O Barcelona deu sinais de desmotivação durante o Campeonato Espanhol, perdendo pontos bobos por falta de concentração. Além disso, mostrou vulnerabilidade no jogo de volta contra o Real Madrid e um raro descontrole emocional contra o Chelsea, sobretudo no jogo de volta das semifinais da LC. Para completar o ano ruim (na verdade, um ano “menos bom”), o técnico Pep Guardiola anunciou que não ficará em Les Corts. O clima não termina bom, e há uma expectativa de que a próxima temporada será mais turbulenta.

VALENCIA
Classificação: 3º (vaga na Liga dos Campeões)
Copa nacional: semifinais
Copas europeias: Liga dos Campeões (fase de grupos) e Liga Europa (semifinais)
Destaque: Roberto Soldado (foto, Getty Images)
Revelação: Bernat
Decepção: Dani Parejo
Nota da temporada: 7
Não foi bom, mas não foi ruim. O Valencia ficou no quase em boa parte da temporada. No Campeonato Espanhol, despontou como terceiro colocado com folga, mas teve uma série de maus resultados que obrigou o time a suar nas rodadas finais para evitar o vexame de perder uma vaga ganha na Liga dos Campeões. Na Liga dos Campeões, só foi eliminado na última rodada da fase de grupos (perdendo para o Chelsea, que se tornaria campeão). Na Copa do Rei, deu muito trabalho ao Barcelona (que também se tornaria campeão) e, na Liga Europa, caiu nas semifinais para o Atlético de Madrid (que, adivinha!, também se tornaria campeão). Tecnicamente, também foi um time que ficou no quase. A dupla de ataque (Jonas e Soldado) funcionou muito bem. A defesa teve seus bons momentos. O problema é que o meio-campo se ressentiu da temporada fraca de Pablo Hernández e não deu o dinamismo que o time precisou em alguns momentos. Nas más fases, até o cargo do técnico Unai Emery foi contestado pela torcida, mas é um time com boa estrutura para o futuro.

MÁLAGA
Classificação: 4º (vaga na Liga dos Campeões)
Copa nacional: oitavas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Santiago Cazorla (foto, Getty Images)
Revelação: José Récio
Decepção: Diego Buonanotte
Nota da temporada: 7,5
Pelo dinheiro gasto pelos donos catarianos, o mínimo que se exigia do Málaga era classificar para a Liga dos Campeões. Bem, o objetivo foi cumprido e a nota 7,5 se deve muito a isso. Mas não é um time brilhante, que jogue um futebol proporcional ao dinheiro que custou. O ataque é econômico, mas se virou bem com as bolas paradas de Cazorla (9 gols direto, 4 assistências) e o oportunismo de Rondón (11 gols, 4 assistências). A dupla compensou a baixa produtividade de jogadores como Julio Baptista e Ruud van Nilstelrooy e a própria falta de motivação de veteranos contratados apenas pela grife. A própria vaga na LC só chegou devido ao bom aproveitamento em casa (só Barcelona e Real Madrid foram melhores) e à perda de foco de Atlético de Madrid e Athletic Bilbao devido à Liga Europa.

ATLÉTICO DE MADRID
Classificação: 5º (vaga na Liga Europa)
Copa nacional: quarta fase (1/32 de final)
Copas europeias: Liga Europa (campeão)
Destaque: Radamel Falcao García (foto, Reuters)
Revelação: Thibaut Courtois
Decepção: Silvio
Nota da temporada: 8
Nenhuma equipe foi tão instável na temporada espanhola. O Atlético de Madrid teve altos e baixos muito agudos, o que dificulta uma avaliação muito clara do que o time fez durante nos últimos 12 meses. O ataque dependeu demais de Adrián e Diego na armação e Falcao García na finalização. Na defesa, os colchoneros sofreram na primeira metade do campeonato, quando Gregorio Manzano não estabelecia seu quarteto titular. Com a entrada de Diego Simeone, a linha Juanfran-Miranda-Godín-Filipe Luís se consolidou, a produção defensiva aumentou consideravelmente e a equipe cresceu como um todo. Aí veio a arrancada que levou ao título da Liga Europa e quase a uma vaga na Liga dos Campeões. No final, o saldo é positivo, ainda que seria melhor se não tivesse perdido tempo na primeira metade da temporada.

LEVANTE
Classificação: 6º (vaga na Liga Europa)
Copa nacional: quartas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Barkero (foto, Mundo Deportivo)
Revelação: Nabil El Zhar
Decepção: Asier del Horno
Nota da temporada: 8,5
Nenhum clube espanhol superou mais as expectativas iniciais que o Levante. O segundo clube de Valência deu uma arrancada nas rodadas iniciais, bateu o Real Madrid, e chegou a ocupar a liderança. Claro que não aguentou muito tempo, mas teve fôlego para brigar por uma vaga na Liga dos Campeões até a última rodada. E tudo isso com um time velho: dos 15 jogadores que mais atuaram na temporada, dez tinham mais de 30 anos. Um fato notável, de uma equipe tecnicamente fraca, mas que soube se montar em torno de uma defesa aguerrida.

OSASUNA
Classificação:
Copa nacional: oitavas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Álvaro Cejudo (foto, El País)
Revelação: Ibrahima Baldé
Decepção: Damiá
Nota da temporada: 6,5
Faltou uma pincelada de técnica. O Osasuna é uma equipe muito aguerrida, que consegue bons resultados em casa (apenas Real Madrid e Barcelona perderam menos como mandante) e sempre fica no meio da tabela. Mas, quando precisa de um pouco mais de talento para brigar por uma vaga em competições europeias, fica pelo caminho. É um time de jogo pesado e lento, que precisa de mais dinamismo em alguns momentos. Mas, quando pode colocar a partida em seus termos, tem bons resultados. Curiosidade: os navarros foram os últimos do Campeonato Espanhol em aproveitamento de passes (67,1%, menos até que o Racing de Santander), mas o primeiro em vitórias nos duelos pelo alto (18,6 por jogo).

MALLORCA
Classificação:
Copa nacional: quartas de final
Copas europeias: não disputou
Destaque: Gonzalo Castro (foto, Bermellones)
Revelação: Pedro Bigas
Decepção: Akihiro Ienaga
Nota da temporada: 7
Equipe que fez campanha discreta, praticamente se instalando no meio da tabela. Não fez nada de notável, até vencer quatro jogos seguidos na reta final e, de repente, se colocar na briga por um lugar na Liga Europa. Não teve sucesso, mas já foi muito para um time de elenco enxuto e pouco talento. O brilho ficou com a defesa, a quinta melhor do campeonato, que segurou a onda de um ataque pouco produtivo (o sexto pior).

SEVILLA
Classificação:
Copa nacional: oitavas de final
Copas europeias: Liga Europa (fase preliminar)
Destaque: Jesús Navas (foto, Getty Images)
Revelação: Antonio Luna
Decepção: José Antonio Reyes
Nota da temporada: 5
Já foi um time empolgante e brilhante, mas o Sevilla de hoje é um arremedo do bicampeão da Copa da Uefa no final da década passada. A equipe é burocrática e joga sem a confiança e a motivação de quem se considera capaz de brigar por um lugar na Liga dos Campeões. Além disso, há tempos não apresenta um talento que empolgue pelo potencial. A aposta em Reyes não funcionou, Kanouté foi inoperante e nunca pareceu um candidato viável às primeiras posições, mesmo quando a pontuação permitira sonhar.

ATHLETIC BILBAO
Classificação: 10º
Copa nacional: vice-campeão (vaga na Liga Europa)
Copas europeias: Liga Europa (vice-campeão)
Destaque: Fernando Llorente (foto, Getty Images)
Revelação: Ibai Gómez
Decepção: Carlos Gupergui
Nota da temporada: 7
Foi o terceiro time do campeonato em posse de bola e o quarto em acerto de passes. Foi também o clube que recebeu menos cartões vermelhos, apenas dois (empatado com Mallorca, Rayo Vallecano e Granada). É uma equipe que joga bonito, e se orgulha disso. Ainda assim, a classificação final não mostra isso. O Athletic de futebol vistoso e envolvente que Marcelo Bielsa montou, que teve jovens de talento como Muniain ganhando mais espaço no cenário internacional, que bateu o Manchester United duas vezes, só apareceu no Campeonato Espanhol em poucos momentos. Compreensível. Com um elenco enxuto, o técnico argentino teve de priorizar as competições no calendário. Preferiu as que o Athletic tinha chance de título (Liga Europa e Copa do Rei, foi vice em ambas) e deixou o segundo turno do Espanholão em segundo plano. As chances de classificação para a Liga dos Campeões, um objetivo viável, se perdeu. Mas é um grupo de futuro.