segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Cavando a própria cova

Mourinho e Casillas: amigos? (getty images)

É preciso ter a noção necessária para entender toda a algazarra feita após o término do duelo do final de semana entre Málaga e Real Madrid, vencido pelos blanquiazules por 3x2. A derrota merengue ficou em segundo plano pelo simples e único fato de José Mourinho ter barrado Casillas. Pela primeira vez em 10 anos, o goleiro e bandeira máxima do clube foi relegado ao banco de reservas por questões técnicas. Mourinho, logo após a partida, não fugiu das perguntas. "Deixar Casillas no banco foi decisão minha. Vejo que Adán está melhor no momento", desafiou o gajo. "Tenho a consciência tranquila", completou. É sabido por todos que o ambiente merengue não é lá muito tranquilo. Há deveras especulações sobre uma possível guerra entre os portugueses e os espanhóis do elenco. Há um mês, por exemplo, Xabi Alonso deu margem aos boatos ao dizer, publicamente, que não é amigo de Cristiano Ronaldo fora de campo.

Mas o ato de Mourinho pode ter sido o estopim. Florentino Pérez, que sempre ficou ao lado do treinador de Setubal, já não confia 100% nele. Ao saber da titularidade de Adán pela jornalista Mónica Marchante, do Canal +, mostrou uma expressão de assustado no rosto e encerrou a "sessão" de perguntas da periodista. A imprensa madrilenha mostrou-se a ao lado de Casillas. AS e Marca criticaram a postura de Mourinho, definindo como ridícula. "A culpa não é de Iker", disse o Marca. Enquanto isso, o País foi mais duro, descrevendo seus métodos como feudais.

Está claro que os prestígios de Mourinho em Chamartín já não são tão grandes como em outrora. Parte da torcida blanca vem pegando em seu pé na atual temporada. Em 2011/2012, em uma de suas polêmicas, havia afirmado que não liga para o que o madridismo fala. Foi um tiro em seu pé. Ontem, em uma enquete promovida pelo Marca, mais de 87% dos eleitores votaram a favor de sua demissão. Joaquin Löw, treinador da seleção da Alemanha, é o preferido para assumir caso o gajo seja, de fato, demitido. Há duas semanas, no empate no Bernabéu contra o Espanyol, até os ultrás madridistas o vaiaram ao fim do jogo e mais um vexame do Real Madrid na temporada, dessa vez contra o penúltimo colocado da Liga. Os graves problemas internos se refletem dentro de campo: a diferença para o Barcelona é de 16 pontos.

O Marca reuniu uma lista de "vítimas" de Mourinho, que vai de diretores técnicos até a cozinheiros. Jorge Valdano foi o primeiro nome a perder a guerra, logo na primeira temporada do português em Madrid, em 2010/2011. À época diretor esportivo do clube, o argentino não aguentou os atritos com o "rival" e acabou demitido por Florentino. Em janeiro de 2011, comentei isso aqui no blog. Logo após o caso, Mourinho tornou-se manager do Real Madrid, tornando-se o primeiro treinador da história do clube a ter carta branca na hora das contratações. O poder dele era imenso.

Nas quatro linhas, o Real Madrid 2012/2013 está bem longe da versão avassaladora apresentada na temporada passada. Os contra-ataques não são tão fatais, a ineficiência é grande e o meio-campo não tem funcionado. Até valores individuais como Cristiano Ronaldo tem atuado num nível baixo. Na última quinta-feira, o sorteio da UEFA colocou o Manchester United no caminho dos merengues nas oitavas-de-finais da Uefa Champions League. Encarar o líder da Premier League nesta atual situação é tarefa ingrata.

Contratado para, especialmente, dar a décima taça de LC ao Real Madrid, Mourinho caminha para mais um fracasso em âmbito europeu. Aliás, não é tão difícil de imaginar outro treinador no cargo nos confrontos contra os mancunianos. O que pode impedir isso é o fato da multa rescisória de Mou ser bastante alta, o que pode influenciar em contratações futuras. Mas o fato é que o português cava a própria cova ao decretar, indiretamente, sua guerra particular com Casillas.

Recomendo a leitura do 'Dossiê Real Madrid - a guerra de egos', produzido por José Eduardo Volpini, do site Doentes por Futebol. Matéria que explica todos os recentes atritos nos vestiários merengues.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Brasileiros e a Liga Espanhola

 O ex-palmeirense Cicinho caiu nas graças da torcida do Sevilla e é o melhor lateral direito da Liga até o momento (getty images)

Os fãs de futebol europeu, em geral, sabem que a Liga Espanhola é uma das vitrines para os jogadores brasileiros aparecerem positivamente. Recentemente, vimos Ronaldinho Gaúcho conquistar o mundo após atuações mágicas vestindo a camisa do Barcelona. Na mesma época, Ronaldo não cansava de ir às redes pelo Real Madrid - isso sem dizer sua fase fenomenal pelo Barcelona, em 1996. Um pouco antes, Rivaldo e Djalminha viraram reis de Catalunha e Galícia. No entanto, nos últimos dois anos, o número de destaques tornaram-se escassos. À exceção de Daniel Alves e Marcelo, nenhum brasileiro apareceu na mídia europeia recebendo muita atenção. Porém, baseado neste início de temporada, isso está chegando ao fim. Em 2012/2013, praticamente cada setor do campo tem um ou dois brasileiros como destaque de seus times.

A grande exceção é o homem de referência, o que evidencia um problema que o futebol brasileiro passa de maneira geral. Hoje, a maioria dos jogadores de área com poder de decisão atuam no futebol brasileiro. Fred, Luis Fabiano e Leandro Damião, por exemplo, foram os últimos convocados por Mano Menezes para atuar de nove. Até podemos comentar sobre Pato, mas este não vive sua melhor fase no Milan e se lesiona com frequência. Até por isso, o ex-treinador utilizou Neymar de falso nove em suas últimas partidas, até, também, para poder encaixar o santista com Oscar e Kaká na equipe titular. ale comentar sobre Diego Costa, que fez um bom primeiro semestre no Rayo Vallecano atuando de referência, mas no Atlético de Madrid foi "recuado" à posição de segundo atacante por causa de Falcao García.

Mas voltando ao tema central do texto começamos pelo gol. Diego Alves nunca foi titular absoluto do Valencia por causa do sistema de rotação que os ex-treinadores Unai Emery e Mauricio Pellegrino faziam. Contudo, desde a época de Almería, onde chegou a ser especulado com força no Real Madrid, ele vem aparecendo de modo positivo. Nesta temporada, logo na primeira rodada, fechou com o gol contra o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Exímio pegador de pênaltis, já parou Messi e Cristiano Ronaldo no mano a mano. No último sábado, foi um dos únicos poupados pela exigente torcida valenciana após a goleada sofrida em pleno Mestalla para a Real Sociedad, por 5x2. Os números apontam uma contradição, mas não fosse por Diego Alves o vexame poderia ser muito maior.

Pouco conhecido do grande público, Leo Baptistao (19) é a principal reveleção da temporada. Natural de Santos, jogou salão com Neymar quando garoto (AS)

Na setor defensivo, os colchoneros brilham: Miranda é o melhor zagueiro da temporada e Filipe Luís, no mínimo, aparece no top 3 na lateral esquerda. O ex-são paulino, após um início conturbado, se adaptou à forma de jogo do Atlético de Madrid e principalmente após a chegada de Simeone viu seu futebol crescer bastante. O mesmo vale para Filipe Luís. Atualmente, ele está numa versão semelhante ou superior àquela dos tempos de Deportivo La Coruña, onde foi eleito o melhor lateral esquerdo da Liga 07/08. O polivalente Adriano, que faz as vezes de lateral esquerdo, direto e até zagueiro, também merece uma menção honrosa. Homem de confiança de Tito Vilanova, seu único porém é se lesionar bastante. Apto, tem feito boas partidas. No sábado, saiu de campo aplaudido pelos torcedores presentes no Camp Nou.

Mas o grande destaque é o ex-palmeirense Cicinho. Após um início de temporada a mil, ele tem caído substancialmente de produção nos últimos jogos, mas continua sendo o melhor lateral direito da Liga. Parceria com Jesus Navas pela direita é o principal trunfo do Sevilla. Após tirar onda com Cristiano Ronaldo no duelo da sexta rodada, caiu definitivamente nas graças da torcida. Cicinho é disciplinado taticamente e aparece com sobressaliência nas jogadas ofensivas.

Na parte ofensiva, a grande revelação é Leo Baptistao, jovem de 19 anos do Rayo Vallecano. Natural de Santos, transferiu-se ainda cedo, aos 15 anos, para o clube de Vallecas, mostrando uma progressão madura em seu futebol. Em 2011/2012, passou boa parte da temporada no departamento médico graças a uma grave lesão na clavícula, mas está 100% curado e vê, em 2012/2013, um ano de redenção. Apesar de muleque, tem futebol de gente grande e vem justificando isso nesses primeiros quatro meses de temporada. São sete gols e quatro assistências em 13 jogos, o principal artilheiro brasileiro nas principais ligas europeias. Por outro lado, Jonas, após um suposto atrito com Pellegrino, foi relegado ao banco nos últimos jogos, mas tem moral com a torcida ché e pode voltar à equipe titular com Ernesto Valverde, confirmado como novo treinador do Valencia hoje pela manhã.

Em tempos de mudança de treinador na seleção brasileira, vale a pena ficar de olhos em alguns desses nomes. Diego Alves e Adriano eram figurinhas carimbadas nas convocações de Mano Menezes, e devem continuar fazendo parte das listas de Felipão. Valeria a pena testar os outros?