domingo, 26 de maio de 2013

Por que o Barcelona é a melhor opção para Neymar

Futuro parceiro de Messi, Neymar será importante para o argentino (getty images)

Neymar é do Barcelona. Uma das novelas mais demoradas do futebol brasileiro chegou ao fim ontem, quando o (ex) craque do Santos confirmou em seu Instagram a ida ao clube catalão na próxima temporada. Os valores ainda não foram oficialmente divulgados, mas é provável que tenha sido algo em torno de 32-35 milhões de euros.

A ida de Neymar ao futebol europeu chega em excelente hora, já que ele estava estagnado e sem nada a fazer no futebol brasileiro. Agora, num time totalmente oposto ao desorganizado e bagunçado taticamente Santos, o brasileiro começará uma nova história em sua carreira. Abaixo, os motivos que mostram por que a escolha pelo Barcelona foi a melhor que Neymar poderia ter feito.

Menos pressão
Apesar da expectativa alta, a torcida do Barcelona não é tão exigente com seus jogadores. O maior exemplo é Alexis Sánchez, contratado em 2011, que nunca mostrou sua versão Udinese no Camp Nou. Nem por causa disso os torcedores deixam de apoiar. E no caso de Neymar, em que haverá todo um tempo para se adaptar a um estilo de futebol novo, a torcida certamente será paciente. Em Madrid, por outro lado, os torcedores costumam pegar no pé. Cristiano Ronaldo só foi ganhar respeito máximo após ser o protagonista do título da Liga 2011-2012. Por suas frequentes fracas apresentações diante do Barcelona, o gajo era criticado por uma parte da torcida.

Questão tática
De acordo com um dossiê que o clube vinha preparando desde 2009, "Neymar é um jogador que irá se encaixar de forma perfeita no lado esquerdo do ataque". Só do brasileiro ter a garantia que, inicialmente, é opção para jogar no setor do campo onde mais gosta de atuar já é uma grande vantagem. No Real Madrid, por exemplo, ele esbarraria na presença de Cristiano Ronaldo pelo lado do campo. Aberto à esquerda do 4-3-3, com Messi se aproximando para tabelar, e Iniesta e Xavi armando atrás, Neymar tem tudo para brilhar.

Ser o parceiro ideal de Messi
Num time onde 80% dos gols são concentrados em um jogador, Neymar chega para "dividir essa responsabilidade", com bem frisou Daniel Alves. Com 138 gols em 228 jogos, o brasileiro é um exímio finalizador. É claro que o cargo de protagonista vai continuar com Messi, mas em situações onde o argentino é anulado pelo esquema adversário (em outras palavras: contra retranca como as do Milan, Chelsea ou Inter) Neymar pode servir para dar liberdade ao camisa dez, até mesmo trocando de posição e aparecendo como falso nove, função que já desempenhou em alguns jogos com Mano Menezes na seleção brasileira.

Local onde brasileiros brilham
Nos últimos anos, os torcedores do Barcelona se acostumaram a ver os brasileiros se destacaram vestindo a camisa azulgrená. Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho ganharam títulos e foram Bola de Ouro. Lá atrás, Evaristo de Macedo virou ídolo da torcida culé. O mais supersticioso acredita que Neymar dará continuidade aos grandes brasileiros que brilharam no clube. Além disso, o Barcelona já está pensando em fazer uma versão em português de seu site oficial.

Filosofia
O Barcelona tem uma filosofia de jogo simples e direta: privilegiar o futebol ofensivo, baseado na troca de passes. Num time que em situação nenhuma vai optar por um esquema defensivo, Neymar vai se sentir em casa. Com o plus de ganhar uma disciplina tática que dificilmente ganharia no futebol brasileiro. Ainda que Pedro cumpra o papel de marcar o lateral adversário no lado direito, Neymar terá que fazer isso em algumas situações para desafogar Alba.

sábado, 18 de maio de 2013

San Simeone

Diego Simeone sorri à toa: ele é o principal nome do atual Atlético de Madrid (AS)

23 de dezembro de 2011. Após uma fraca primeira parte de temporada, que culminou numa eliminação precoce na Copa do Rei diante do modesto Albacete, a diretoria do Atlético de Madrid resolveu demitir Gregório Manzano, que, durante cinco meses, não conseguiu definir uma tática e dar um padrão jogo à equipe. Sem muitos treinadores disponíveis no mercado, o jeito foi recorrer a Diego Simeone, ex-jogador e ídolo do clube. Hoje, quase um ano e cinco meses depois, não há mais dúvidas de que a diretoria acertou em cheio na contratação do argentino.

Ontem, Simeone conseguiu, por tudo que envolveu, o maior título de sua carreira: a Copa do Rei 2012-2013. Diante do Real Madrid, no Santiago Bernabéu, um tabu perseguia o Atlético de Madrid: há 14 anos que o clube de Manzanares não vencia o rival de Chamartín. No entanto, numa das melhores apresentações do Atléti em tempos, a equipe manteve a concentração após o gol de Cristiano Ronaldo, empatou ainda no primeiro tempo com Diego Costa e levou o jogo à prorrogação, quando Miranda decretou o fim do pesadelo e o primeiro título de um clube-não-Real-Madrid-e-Barcelona em solo nacional desde a Copa do Rei do Sevilla em 2010, justamente contra o Atlético de Madrid.

Mas os méritos de Simeone vão muito além das taças levantadas (Liga Europa, Supercopa da Uefa e Copa do Rei). A começar pelo sistema defensivo, inconstante há anos, que El Cholo ajustou de maneira brilhante. Com Juanfran, Miranda, Godin e Filipe Luís, o argentino formou uma retaguarda sólida, capaz aguentar a pressão adversária. Coincidência ou não, Miranda e Filipe Luís fizeram suas melhores temporadas na Europa, enquanto a adaptação de Juanfran à lateral direita foi um golpe de mestre do treinador - Juanfran, aliás, chegou até a ser chamado para a seleção espanhola.

O segredo dos bons resultados na atual temporada passa, em partes, pela forte marcação no meio-campo, que desarma à rodo e aciona os contra-ataques. A marcação pressão no campo adversário, principalmente em jogos decisivos, gera um cenário de desconforto ao rival. O Atlético adora jogar sem a bola, mas sabe que tem obrigação. Executa contra-ataques à perfeição e se defende com grande aplicação tática. Personalidade e raça são as principais características da equipe.

Outro dos acertos de Simeone foi ter conseguido encaixar Diego Costa ao lado de Falcao García sem necessariamente abrir mão dos atributos dos dois jogadores, embora para privilegiar o faro de gol do colombiano o brasileiro tenha cumprido outro papel em 90% da temporada. Sem seu principal armador, Diego, que voltou ao futebol alemão, El Cholo encarregou o cerebral Arda Turan (que mostrou, durante o período que ficou ausente, ser tão essencial quanto Falcao) à função da armação, deslocando Diego Costa ao flanco esquerdo do 4-2-3-1.

Os 34 gols em 40 jogos, sendo 28 na Liga Espanhola, cravam Falcao García como o melhor jogador do Atlético de Madrid na temporada. E os gritos da torcida de "Falcao, quedate" (especulações o colocam no Monaco, novo rico da Europa) na comemoração do título da Copa do Rei prova isso. Além dos méritos do próprio Falcao, Simeone também tem a ver com a excelente fase do centroavante. Com Manzano, até pela bagunça que era o time, o camisa 9 não se encontrou. Com um time moldado para ele brilhar, El Tigre não decepcionou. Colecionou aparições decisivas (gols na final da Liga Europa e da Supercopa, assistência na final da Copa do Rei) e tornou-se querido pelos aficionados.

Os resultados estão aí. O Atlético de Madrid aguentou até onde pôde acompanhar o Barcelona na Liga Espanhola, terminou o primeiro turno em segundo lugar, mas não suportou o pique e acabou ultrapassado pelo Real Madrid. No entanto, soube manter os jogadores em alta e não pressioná-los, porque, apesar do título ter ficado difícil, ainda havia a disputa por uma vaga na Champions em jogo. E, dessa forma, sem ser pressionado por Real Sociedad, Valencia e Málaga, times que disputam o quarto lugar, os rojiblancos confirmaram, com três rodadas de antecedência, o retorno à maior competição de clubes do mundo, após três temporadas disputando Liga Europa.

Agora, Simeone tem novos desafios. Conquistar UCL e Liga é uma missão difícil, porém o Atléti precisa fazer campanhas aceitáveis para ganhar mais força e respeito em âmbito europeu. Por exemplo, o time precisa ir além das oitavas de finais como em 2008/2009 ou de uma queda precoce na fase de grupos como em 2009/2010. Na Liga, a equipe é o melhor time humano e, em CNTP, não deve ter muito trabalho para terminar em terceiro (ou, quem sabe, brigar com Barcelona e Real Madrid novamente). Contudo, o momento agora é de aproveitar a melhor temporada rojiblanca desde 1995-96.

sábado, 11 de maio de 2013

O título da regularidade

O abraço entre Messi e Iniesta, os protagonistas do título de Liga Espanhola do Barcelona 2012-13 (getty images)

Soa como clichê dizer que o campeão de um torneio de pontos corridos se destaca pela regularidade apresentada durante a competição. Mas essa é a palavra que mais se encaixa ao Barcelona de Tito Vilanova, campeão espanhol em sua primeira temporada como treinador profissional e líder do início ao fim. Em temporada inconstante e com alguns problemas extracampos, a equipe não deu sopa ao azar e capitalizou positivamente os tropeços de Atlético de Madrid e Real Madrid, seus principais rivais durante boa parte da Liga. 

Com um primeiro turno de alto nível, com 18 vitórias e um empate em 19 jogos, os blaugranas puderam atuar com mais tranquilidade na segunda parte, onde a queima de gordura foi permitida. Mais concentrado na parte decisiva da Uefa Champions League, o Barça caiu naturalmente de rendimento, mas nada que assustasse bastante: apenas duas derrotas (Real Sociedad e Real Madrid) em 15 jogos, até o momento. Ainda que não tenha derrotado o Real Madrid nos dois superclássicos, não há do que reclamar da campanha catalã.

Taticamente, Tito Vilanova deixou a desejar. O treinador manteve o 4-3-3 natural da filosofia azulgrená, mas não o utilizou em essência. Sem marcação pressão, poucas infiltrações dos ponteiros e uma recomposição mais lenta em relação ao time de Guardiola, a defesa ficou vulnerável aos contra-ataques. Outro problema foi as jogadas aéreas, sempre um Deus nos acuda ao sistema defensivo. A bem da verdade, o aparecimento repêntino de um câncer na glândula paródita acabou por colocar em xeque seu trabalho. É injusto julgar negativamente Tito Vilanova e esquecer do bom futebol que o Barcelona parecia estar recuperando até sua ida a Nova Iórque para o tratamente de quimioterapia. A vitória contra o Málaga por 1x3 na Andaluzia, com 74% da posse de bola e um tiki-taka ao fino, é a prova disso. Com Jordi Roura, os blaugranas viveram seu pior momento em 2012-2013.

Dos personagens, dois se destacaram: Andrés Iniesta e Lionel Messi. Apesar dos números assustadores do argentino, o espanhol talvez tenha se destacado tanto quanto. Em fevereiro, num momento crucial da temporada, Messi padeceu, enquanto o meio-campista (que atuou durante 60% da temporada aberto à esquerda do ataque) manteve-se bem. Até esse período, a temporada de Iniesta era de outro mundo. Para muitos críticos, foi o melhor ano do jogador de Albacete, que vem mantendo a boa fase desde a Eurocopa, quando foi campeão e melhor jogador. 

Mas o camisa 10 não pode se esquecido. Pichichi da Liga pela segunda vez consecutiva e terceira em sua carreira, Messi alcançou, mais uma vez, registros sobrenaturais. Ele se tornou o primeiro jogador a marcar gols em 19 rodadas consecutivas, o que dá, em outras palavras, um turno inteiro indo às redes. Além disso, marcou pelo menos um gol em todas as equipes da competição (à exceção do Barcelona, óbvio), feito que só Cristiano Ronaldo, na temporada passada, havia conseguido. Com 46 gols em 34 rodadas, La Pulga está a quatro de igualar seu recorde de 50 anotados em 2011-2012.

Com o título, o Barcelona se torna o clube espanhol com o maior número de títulos oficiais (79), dois à frente do Real Madrid, que disputa a final da Copa do Rei na próxima sexta-feira. Esse é o título de número 24 da carreira de Xavi, o jogador espanhol com mais títulos em toda a história. Em campo, no entanto, foi uma temporada atípica do maestro catalão, que já não foi tão dominante no meio-campo quanto nos últimos anos. Ainda que em janeiro e fevereiro tenha tido uma excelente sequência, o camisa seis barcelonista fez sua pior temporada desde 2008.

Agora, a diretoria começa a se planificar visando a próxima temporada. Principalmente pela eliminação acachapante na Uefa Champions League para o Bayern de Munique, com direito a 4x0 na Alemanha e 0x3 na Catalunha, o elenco precisa de uma renovação, sobretudo na retaguarda. Com Piqué inconstante e Puyol dando sinais claros de decadência, é necessário contratar, ao menos, dois zagueiros. Dentre os especulados, o nome de Hummels, do Borussia Dortmund, aparece com mais força, embora o preferido de Tito Vilanova e Andoni Zubizarreta seja o brasileiro Thiago Silva, sonho antigo dos espanhóis. 

No gol, o clube vive um dilema: Víctor Valdés revelou não querer renovar seu contrato, que se encerra em julho de 2014, e o desejo do corpo técnico é contratar um novo arqueiro já na próxima temporada. Ter Stegen, Guaita, Handanovic e De Gea são os que têm o nome ligado a uma possível transferência ao Camp Nou. Nas laterais, Daniel Alves mostrou-se irregular, enquanto Alba se adaptou perfeitamente ao time titular. Do meio para frente, o nome mais desejado é o de Neymar. O santista, que parece estar com um pé e meio em Barcelona, voltou a ser atacado pelo Real Madrid, de acordo com a imprensa espanhola, embora seu desejo seja o de atuar com Messi e cia. Além de Neymar, Tito prefere contar com mais um atacante de lado do campo.

Abaixo, os principais jogos, em ordem de acontecimento, que marcaram o título barcelonista. Para ver os gols, clique em cima do resultado.

Barcelona 5x1 Real Sociedad, 1ª rodada. Gols de Messi (2), Puyol, Pedro e Villa.
Nada melhor começar o campeonato goleando. No retorno (e com gol) de Villa, a Real assustou nos primeiros minutos, mas Messi deu seu cartão de visita à temporada com um doblete.

Osasuna 1x2 Barcelona, 2ª rodada. Gols de Messi (2).
Em um jogo extremamente difícil em Navarra, onde o Barcelona sempre encontra dificuldades, o time de Tito Vilanova não se encontrava em campo. Mas eis que Messi, como de praxe, decidiu marcando os gols da virada aos 31 e 35 minutos do segundo tempo. Na mesma rodada, o Real Madrid perdeu para o Getafe por 1x0 e os azulgrenás abriram distância na tabela.

Sevilla 2x3 Barcelona, 6ª rodada. Gols de Fàbregas (2) e David Villa.
A uma semana do primeiro superclássico contra o Real Madrid, o Barcelona iria à Andaluzia encarar o Sevilla, que à época viveu sua melhor fase na temporada. Com uma marcação forte, perigoso nos jogos aéreos e um contra-ataque fatal, os nervionenses abriram 2x0 e, indiretamente, ressuscitavam os merengues. Mas aí o Barcelona acordou, impulsionado por Fàbregas, autor de um doblete providencial. No último suspiro do jogo, Villa mostrou estar recuperado ao tabelar com Messi e anotar o gol da remontada.

Barcelona 2x2 Real Madrid, 7ª rodada. Gols de Messi (2).
No Camp Nou, tanto Barcelona quanto Real Madrid chegavam ao superclássico rodeado de dúvidas. E Cristiano Ronaldo e Messi, que anotaram dois gols cada, trataram de mascarar os problemas das duas equipes, num jogo não tão espetacular tecnicamente.

Barcelona 4x1 Atlético de Madrid, 16ª rodada. Gols de Adriano, Busquets e Messi (2)
À época, o confronto do líder contra o vice-líder. O Atlético de Madrid de Simeone chegava ao Camp Nou  com uma grande campanha e a segunda colocação. Dentro de campo, nos primeiros 45 minutos, os rojiblancos se comportaram muito bem e chegaram a abrir o placar com Falcao García. O golaço de Adriano trouxe o Barcelona de volta ao jogo e, depois, o Atléti inexistiu.

Málaga 1x3 Barcelona, 19ª rodada. Gols de Messi, Fàbregas e Thiago Alcântara.
O Málaga vivia um ótimo momento, era o quarto colocado e havia derrotado o Real Madrid um mês antes. Era um compromisso bastante difícil ao Barcelona. No entanto, o que se viu em campo foi um time à Guardiola, com muita pegada na marcação, infiltrações pelos lados do campo e belas trocas de passes.

Barcelona 2x1 Sevilla, 16ª rodada. Gols de Messi e Villa
Era o jogo depois da derrota em Milão para o Milan e antes do confronto decisivo pela Copa do Rei contra o Real Madrid. A virada marcou uma espécie de mudança na equipe titular: Villa aproveitou a chance dada por Roura, marcou o gol do empate e ganhou a vaga de Fàbregas no onze inicial, com Iniesta sendo recuado à sua posição original, no meio-campo.

Barcelona 4x2 Bétis, 34ª rodada. Gols de Alexis Sánchez, Villa e Messi (2)
Os blaugranas acabavam de sair da eliminação humilhante na Champions para o Bayern e pareciam estar sentindo a queda em âmbito europeu. Messi, que começou no banco, teve que entrar para decidir: no primeiro toque na bola, sofreu uma falta. No segundo, cobrou com perfeição. Com uma nova postura, o Barcelona virou e aliviou a relação com a torcida, que acabou o primeiro tempo vaiando a equipe.