sábado, 18 de maio de 2013

San Simeone

Diego Simeone sorri à toa: ele é o principal nome do atual Atlético de Madrid (AS)

23 de dezembro de 2011. Após uma fraca primeira parte de temporada, que culminou numa eliminação precoce na Copa do Rei diante do modesto Albacete, a diretoria do Atlético de Madrid resolveu demitir Gregório Manzano, que, durante cinco meses, não conseguiu definir uma tática e dar um padrão jogo à equipe. Sem muitos treinadores disponíveis no mercado, o jeito foi recorrer a Diego Simeone, ex-jogador e ídolo do clube. Hoje, quase um ano e cinco meses depois, não há mais dúvidas de que a diretoria acertou em cheio na contratação do argentino.

Ontem, Simeone conseguiu, por tudo que envolveu, o maior título de sua carreira: a Copa do Rei 2012-2013. Diante do Real Madrid, no Santiago Bernabéu, um tabu perseguia o Atlético de Madrid: há 14 anos que o clube de Manzanares não vencia o rival de Chamartín. No entanto, numa das melhores apresentações do Atléti em tempos, a equipe manteve a concentração após o gol de Cristiano Ronaldo, empatou ainda no primeiro tempo com Diego Costa e levou o jogo à prorrogação, quando Miranda decretou o fim do pesadelo e o primeiro título de um clube-não-Real-Madrid-e-Barcelona em solo nacional desde a Copa do Rei do Sevilla em 2010, justamente contra o Atlético de Madrid.

Mas os méritos de Simeone vão muito além das taças levantadas (Liga Europa, Supercopa da Uefa e Copa do Rei). A começar pelo sistema defensivo, inconstante há anos, que El Cholo ajustou de maneira brilhante. Com Juanfran, Miranda, Godin e Filipe Luís, o argentino formou uma retaguarda sólida, capaz aguentar a pressão adversária. Coincidência ou não, Miranda e Filipe Luís fizeram suas melhores temporadas na Europa, enquanto a adaptação de Juanfran à lateral direita foi um golpe de mestre do treinador - Juanfran, aliás, chegou até a ser chamado para a seleção espanhola.

O segredo dos bons resultados na atual temporada passa, em partes, pela forte marcação no meio-campo, que desarma à rodo e aciona os contra-ataques. A marcação pressão no campo adversário, principalmente em jogos decisivos, gera um cenário de desconforto ao rival. O Atlético adora jogar sem a bola, mas sabe que tem obrigação. Executa contra-ataques à perfeição e se defende com grande aplicação tática. Personalidade e raça são as principais características da equipe.

Outro dos acertos de Simeone foi ter conseguido encaixar Diego Costa ao lado de Falcao García sem necessariamente abrir mão dos atributos dos dois jogadores, embora para privilegiar o faro de gol do colombiano o brasileiro tenha cumprido outro papel em 90% da temporada. Sem seu principal armador, Diego, que voltou ao futebol alemão, El Cholo encarregou o cerebral Arda Turan (que mostrou, durante o período que ficou ausente, ser tão essencial quanto Falcao) à função da armação, deslocando Diego Costa ao flanco esquerdo do 4-2-3-1.

Os 34 gols em 40 jogos, sendo 28 na Liga Espanhola, cravam Falcao García como o melhor jogador do Atlético de Madrid na temporada. E os gritos da torcida de "Falcao, quedate" (especulações o colocam no Monaco, novo rico da Europa) na comemoração do título da Copa do Rei prova isso. Além dos méritos do próprio Falcao, Simeone também tem a ver com a excelente fase do centroavante. Com Manzano, até pela bagunça que era o time, o camisa 9 não se encontrou. Com um time moldado para ele brilhar, El Tigre não decepcionou. Colecionou aparições decisivas (gols na final da Liga Europa e da Supercopa, assistência na final da Copa do Rei) e tornou-se querido pelos aficionados.

Os resultados estão aí. O Atlético de Madrid aguentou até onde pôde acompanhar o Barcelona na Liga Espanhola, terminou o primeiro turno em segundo lugar, mas não suportou o pique e acabou ultrapassado pelo Real Madrid. No entanto, soube manter os jogadores em alta e não pressioná-los, porque, apesar do título ter ficado difícil, ainda havia a disputa por uma vaga na Champions em jogo. E, dessa forma, sem ser pressionado por Real Sociedad, Valencia e Málaga, times que disputam o quarto lugar, os rojiblancos confirmaram, com três rodadas de antecedência, o retorno à maior competição de clubes do mundo, após três temporadas disputando Liga Europa.

Agora, Simeone tem novos desafios. Conquistar UCL e Liga é uma missão difícil, porém o Atléti precisa fazer campanhas aceitáveis para ganhar mais força e respeito em âmbito europeu. Por exemplo, o time precisa ir além das oitavas de finais como em 2008/2009 ou de uma queda precoce na fase de grupos como em 2009/2010. Na Liga, a equipe é o melhor time humano e, em CNTP, não deve ter muito trabalho para terminar em terceiro (ou, quem sabe, brigar com Barcelona e Real Madrid novamente). Contudo, o momento agora é de aproveitar a melhor temporada rojiblanca desde 1995-96.

2 comentários:

  1. Belo texto, como de costume. O grande trunfo do Cholo especialmente na atual temporada foi ter transformado Diego Costa em alguém tão essencial no time quanto o próprio Falcão. Vou até blasfemar: no fim da temporada, diria que o Diego é até mais importante ao time que o próprio Falcão.

    É ótimo ver um time além de Real e Barcelona na Espanha fazendo grandes campanhas. Próximo passo: Champions League.

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    1. Obrigado!

      De fato, foi uma bela de aposta - que deu certo - deslocar o Diego Costa para encaixá-lo com Falcao. Nos momentos que o colombiano, naturalmente, caiu de produção, o brasileiro correspondeu à altura. Excelente temporada.

      Abraço.

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