domingo, 23 de setembro de 2012

Yes, we can

 Falcão García e Diego Simeone: os responsáveis pelo momento mágico vivido pelo Atlético de Madrid (getty images)

Não há como negar: a demissão de Gregório Manzano em janeiro deste ano fez muito bem ao Atlético de Madrid, que balançou com o treinador, viveu um período negativo durante o primeiro período da temporada passada e ainda por cima engoliu uma eliminação precoce na Copa do Rei para o pequeno Albacete. Manzano, durante sua pequena estadia em Manzanares, demonstrou uma grande indefinição tática, que variava a cada jogo. Além disso, ele nunca conseguiu achar uma escalação ideal.

O argentino Diego Simeone, campeão da Liga e da Copa com o clube em 1996, mudou o rumo dos colchoneros. Com o mesmo elenco de Manzano, El Cholo não só conquistou títulos relevantes como Liga Europa e Supercopa da Uefa como conseguiu dar um padrão de jogo à equipe. Um dos principais êxitos da gestão do ex-volante é privilegiar o futebol de Falcão García, que cresceu absurdamente de rendimento de janeiro para cá. Hoje, o Atléti derrotou o Valladolid por 2x1 e chegou aos 11 pontos no campeonato. Na quinta colocação, ainda tem um jogo adiado para cumprir contra o Bétis na próxima quarta-feira. Caso vença, os rojiblancos assumirão a vice-liderança, ficando dois pontos atrás do líder Barcelona. A fase é tão boa que a última derrota foi em abril, para o Rayo Vallecano. São 15 partidas consecutivas sem conhecer um revés.

Em campo, é fácil explicar o motivo da boa fase atleticana. O forte e combatente meio-campo é essencial na proposta de jogo de Simeone. As estatísticas mostram que o seu Atlético não joga com a bola nos pés. O Chelsea, no confronto da Supercopa, teve 62% da posse de bola, e perdeu por 4x1. Há uma semana, durante a estreia na Liga Europa, o Apoel teve o domínio territorial com 68% da posse. O resultado? 3x0 para o Atléti. Ironicamente, o único jogo na temporada em que teve mais posse de bola que o adversário terminou empatado: 1x1 contra o Levante, quando teve 58%. Os colchoneros adoram jogar sem a bola, mas sabem que tem obrigação. Têm méritos de armarem contra-ataques à perfeição e se defenderem com solidez, um problema crônico do time nos últimos anos. Personalidade e raça são as principais características da equipe.

O futebol desempenhado lembra muito o do rival Real Madrid (cultura de Madrid, lembram?). A vitória na final da Liga Europa contra o Athletic Bilbao ratificou essa comparação, quando os rojiblancos executaram uma tática à merengues contra o Barcelona. A marcação pesada gera ao adversário um cenário de desconforto. Além disso, o setor ofensivo não deixam a desejar. Arda Turan, Adrián López e Falcão García, principalmente, são provas cabais disso. Ao perder Diego, Simeone ficou sem seu principal articulador, mas vê em Koke, o Xavi rojiblanco, um bom substituto. Cebolla Rodríguez, contratado para esta temporada, tem entrado bem durante as partidas.

O treinador é o principal responsável por esse momento. Outro de seu grande trunfo foi ter acertado uma defesa inconstante há anos. Miranda e Godín formam uma dupla segura e Juanfran (que é improvisado como lateral, outro granda escolha do treinador) e Filipe Luís, pelos lados, são boas opções ofensivas. Eles também são importantes na recomposição porque voltam para marcar. O brasileiro vive sua melhor fase desde que saiu do Deportivo. Após uma temporada sábatica, o lateral-esquerdo, que chegou a ser pedido pela imprensa para ser convocado por Dunga à Copa, é muito importante nas infiltrações pelo flanco esquerdo. Hoje, o Atlético de Madrid é candidato real a uma vaga na próxima Champions League e o caminho é tomar do Valencia, que começou a temporada tímido, o posto de melhor equipe humana da Espanha. Após tanto errar, o presidente Enrique Cerezo acertou em cheio ao fechar com Diego Simeone.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Defender ou não defender, eis a questão

 Foi um passeio do Bayern de Munich na Alianz Arena (AS)

Quando foi apresentado ao Valencia, o treinador Maurício Pellegrino deixou no ar a probabilidade de escalar um time mais defensivo em relação ao de Unai Emery. O treinador afirmou que, numa hora, uma possível trinca de volantes entraria em ação, num provável 4-3-2-1. Nessa proposta de jogo, Gago seria um jogador essencial pelo fato de reunir características propícias ao módulo tático: qualidade na armação e força na marcação. No entanto, o que se vê neste início de temporada é a utilização natural do 4-2-3-1. A derrota para o Bayern de Munich na estreia da Champions League trouxe à tona o debate em torno das palavras ditas pelo treinador em julho.

Na terça-feira, José Mourinho não teve vergonha de jogar no 4-3-3 no Santiago Bernabéu. Ele tirou Özil da equipe titular, mas, ao invés de dar chances a Modric, utilizou Essien ao lado de Xabi Alonso e Khedira na volância. Pellegrino, que encarou o fortíssimo Bayern de Munich na Allianz Arena, assinou atestado de derrota ao iniciar a equipe com Dani Parejo ao lado de Tino Costa. O meio-campista, que se destacou pelo Getafe há duas temporadas, nunca foi bem no Valencia quando atuou de volante. Sem os lesionados Gago e Banega, o natural seria a escolha - por emergência, diga-se de passagem - do espanhol, mas o treinador poderia utilizar um módulo tático mais conservador para não passar por apuros.

O 2x1, na teoria, não diz muito o que foi o jogo. Com 64% da posse de bola, o Bayern de Munich dominou os chés durante os 90 minutos. A intensidade na marcação ainda no campo de ataque forçou os valencianos a erros aos quais não está acostumado. Quando tinha a bola, os visitantes, pressionados por um ou dois jogadores, se livravam delas. Em suma, o Valencia foi uma máquina de perder bolas. Toni Kroos, o melhor em campo, Schweinsteiger, Robben, Ribéry e Müller impussionaram a equipe que conseguiu atuar de igual para igual contra Real Madrid e Barcelona um cenário de desconforto ainda não visto nesta temporada.

O elenco à disposição de Maurício Pellegrino é muito bom, mas lhe impõe alguns desafios. Por exemplo, há muita gente boa com a bola e nem tão boa sem ela. Talvez por isso ele balbuciou tais palavras em sua apresentação. Nos últimos anos, não houve um jogador no elenco com capacidade para fazer o trabalho sujo. Hoje, Tino Costa, no papel, é o responsável por executar tal função, mas o argentino desempenha um papel mais ofensivo, chegando à frente nas jogadas de ataque.

O início de temporada não reservou ao Valencia moleza. O fato de ter feito boas partidas ante os gigantes contrastam com o empate ante o Deportivo, a vitória sob dúvida diante do Celta Vigo e a derrota merecida para o Bayern de Munich. Os chés continuam sendo a melhor equipe humana da Espanha, mas vê no retrovisor o Atlético de Madrid bater à porta. Isso sem dizer o Málaga, vice-líder da Liga e de estreia convincente na Champions. O alerta já começou a ser ligado em Paterna.

Barcelona
O Barça estreou com vitória, mas passou por apuros. Tito Vilanova voltou a mostrar os erros de outrora, e demorou muito para colocar Villa em campo. A lesão de Piqué cai como uma bomba no Camp Nou porque pode deixá-lo de fora do superclássico. Sem Puyol, Piqué, Tito terá de improvisar Song ou dar chances a Bartra. Na coletiva pós-jogo, ele deixou no ar a possibilidade de optar pelo canterano.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A vitória e os erros

 José Mourinho comemorou acintosamente o gol de Cristiano Ronaldo, mas colaborou para a vitória sair de maneira tão dramática (AS)

A Champions League voltou com tudo. No Santiago Bernabéu, Real Madrid e Manchester City protagonizaram o melhor jogo do dia, que terminou numa virada épica dos merengues por 3x2. A vitória, sobretudo neste grupo, considerado o da morte, deve ser bastante comemorada, muito porque a fase da equipe da capital já começava a ganhar contornos de crise. No entanto, não deve deixar de lado os erros cometidos por José Mourinho na escalação inicial. Abaixo, alguns comentários:

1) O trivote defensivo. Se você parar para pensar e lembrar que o Real Madrid de Mourinho derrotou Milan, Bayern de Munich e Barcelona jogando no 4-2-3-1, a escalação do confronto de hoje tem que ser mais contestada ainda. Mourinho voltou a repetir o 4-3-3 com uma trinca de meio-campistas. Essien, Khedira e Xabi Alonso não jogaram mal, mas o domínio territorial amplo dos merengues na primeira etapa sentiu a falta de um cérebro. O gajo não poderia, necessariamente, utilizar Modric e Özil juntos, mas um deles seria ideal.

2) Benzema ou Higuaín? Mourinho, em suas duas primeiras temporadas, costumava revezar a posição de centroavante a cada jogo. Nesta temporada, no entanto, tem dado preferência a Higuaín. Ainda que seja o artilheiro da equipe com três gols ao lado de Cristiano Ronaldo, o jogo parece fluir menos com Pipita. Ele é bom centroavante, mas desperdiça mais chances do que marca. Benzema, novamente relegado ao banco, teve apenas uma chance real e marcou. Higuaín, no primeiro tempo, perdeu duas.

3) Mesut Özil é fundamental. Uma grande verdade. Quando ele está bem, todo o meio-campo funciona. Quando ele está mal, o jogo cai. Hoje, o alemão entrou no segundo tempo quando ainda estava 0x0. Participou, diretamente, apenas do primeiro gol, mas passa outra qualidade ao setor. Logo após o tento de empate de Benzema, deu um toque atrás do meio-campo para o francês que terminou em defesa de Hart. No escanteio, Cristiano Ronaldo, contando com a colaboração do goleiro inglês, definiu. O português, que tanto tentou, mereceu. Hart, que tanto salvou, não merecia sofrer um gol assim.

4) A questão Sérgio Ramos. Durante a semana, o periódico El País, especializado e confiável quando o assunto é bastidores do Real Madrid, divulgou uma matéria sobre uma possível discussão do treinador português com os senadores do elenco após a derrota para o Sevilla. A ida de Sergio Ramos ao banco logo no jogo seguinte só coloca mais panos quentes no assunto. Varane, que começou em seu lugar, não comprometeu, mas não é tão confiável quanto o espanhol. Na coletiva, Mourinho fugiu da pergunta: "foi por questão técnica", disse. Ok.

Málaga 3x0 Zenit
Estreia perfeita do Málaga. Contra um rival direito, os blanquiazules fizeram o dever de casa, essencial caso queria avançar às oitavas de finais. A vitória só ratifica o excelente início de temporada dos andaluzes. Ao contrário de Mourinho, Manuel Pellegrini não teve medo de ousar: mandou a campo uma equipe totalmente ofensiva, armada no 4-1-3-2, que teve Portillo e Saviola escalados como dupla de ataque. O argentino voltou a marcar e não deve mais sair da equipe titular. Agredir os russos desde o início foi a chave da vitória. Na esquerda, Monreal foi bem no combate a Hulk. 

Mas quem merece um parágrafo à parte é Isco Román, que a cada dia vai deixando de lado o rótulo de promessa para virar realidade. Disputando um jogo de fase de Champions League pela primeira vez, o jovem não teve medo de ser feliz e foi o principal nome do jogo, marcando dois gols, incluíndo um golaço. Joaquín, aberto à direita, foi outra válvula de escape. 

Pellegrini exagerou na comemoração ao dizer que "em 2005/2006, ninguém confiava no Villarreal chegando até a semifinal", mas esse Málaga tem direito a sonhar. Ainda mais num grupo onde o cabeça-de-chave, Milan, está bastante enfraquecido em relação a outrora e não passou de um empate por 0x0 contra o Anderletch, próximo adversário dos boquerones.

domingo, 16 de setembro de 2012

De bem com a vida

 No Málaga, Saviola tende a ser útil ao time (Zimbio)

O Málaga teve um verão bem complicado, tudo mundo sabe. O meio-campista Santi Cazorla, o atacante Salomón Rondón e o zagueiro Joris Mathijsen criticaram a postura controversa da administração do sheikh Abdullah Al-Thani, colocaram o clube na justiça por atraso no salário (ação que foi voltada atrás semanas depois) e rumaram para outros lugares. A diretoria pouco gastou na recomposição do elenco e esteve a um passo de perder o técnico Manuel Pellegrini. A lógica era imaginar a equipe brigando contra o rebaixamento e nem avançando de fase na Uefa Champions League. Bobagem.

Analisando friamente o elenco blanquiazul, as perdas dos três jogadores, obviamente, são consideráveis, mas não a ponto de criar um estardaçalho. Após quatro jogos, desfruta invencibilidade, a melhor defesa e a segunda posição na Liga BBVA. A péssima reação generalizada ao também péssimo mercado havia ampliado uma pressão que seria naturalmente grande. As respostas a ela, no entanto, são as melhores possíveis. Na fase prévia da LC, os boquerones engoliram o Panathináikos quando ainda nem havia contratado ninguém. A boa partida de Eliseu, sobretudo, deu esperança aos torcedores de que o português poderia ser, em certas ocasiões, um substituto interno de Cazorla.

A falta de um centroavante mais experiente foi preenchida no último dia do mercado, com as contratações de Javier Saviola e Roque Santa Cruz. Juanmi, Portillo e Fabricie (respectivamente, 19, 20 e 16 anos de idade), o trio que vinha sendo utilizado como referência antes do dia 31, são jovens promissores e com faro de gol, mas sem cancha e experiência suficiente para determinados jogos, sobretudo em âmbito europeu, onde os andaluzes irão enfrentar Zenit, Milan e Anderletch. Passar de fase é possível, sobretudo pelo enfraquecimento do Milan. Porém, a disputa, na teoria, ainda é pela segunda posição contra o forte Zenit, campeão da Copa da Uefa em 2007/2008 e que desponta como favorito ao título do campeonato russo. Os milionários, na última semana, fecharam com Hulk e Witsel, dois jogadores que acrescentam mais qualidade ao plantel.

Nesse cenário, Saviola pode ser útil. Ontem, ele anotou um gol e foi o autor da assistência para o tento de Joaquín na vitória por 3x1 contra o Levante. Experiente e acostumado a desafios, o argentino ilusiona Pellegrini, que não tem dúvidas de utilizá-lo como titular na estreia de terça, contra os russos, no La Rosaleda. Estrear com três pontos ante um adversário direto é o primeiro passo rumo às oitavas de finais. A manuntenção de jogadores como Monreal e Toulalan também foi essencial. O espanhol, voando no início de temporada, já desponta como candidato a melhor lateral-esquerdo do campeonato. O francês dá o toque de qualidade na volância.

Ainda que a zaga assuste em certos momentos, o setor ofensivo tende a desequilibrar um confronto. Melhor jovem da temporada passada, Isco assume com contundência neste início de temporada a responsabilidade de ser o melhor jogador da equipe. Joaquín, aberto à direita, é confiável quando está em forma. Com apoio da diretoria e dos torcedores, Pellegrini é novamente o responsável por fazer a equipe fluir. O revezamento incessante dos três meio-campistas de seu 4-2-3-1 é a chave do triunfo inicial. No próximo sábado, o Málaga viaja a Bilbao para encarar o Athletic Bilbao, que, enfim, começa a entrar com competividade na temporada. Se tem condições ou não de manter esse pique até o final da temporada e novamente conquistar uma vaga na Champions League, isso só saberemos depois. Mas a conquista de uma vaga na Liga Europa representaria, sim, um inesperado sucesso do projeto que, por pouco, não caiu por ladeira abaixo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Eu quero você, Brasil

 Nos bastidores, os amigos Casillas e Xavi não escondem o desejo de enfrentar a seleção brasileira. É o confronto que todo o povo espanhol quer ver (Reuters)

Pareceu uma declaração boba, despretensiosa. Em outubro de 2010, logo após o título mundial da Espanha, Fernando Hierro, ex-jogador e diretor esportivo da RFEF, disse que “todos” gostariam de ver um duelo entre Espanha e Brasil na reabertura do Maracanã, em 2013. A entidade negou que negocie essa partida, como fez a CBF. O que não significa que o assunto esteja morto. Nesta semana, o amistoso voltou a ficar em pauta. Segundo informações do AS, Xavi e Casillas teriam pedido ao presidente Justo Villar que negocie o confronto com a seleção brasileira. Curiosamento, o amistoso iria acontecer no final do ano passado, mas por "divergências" acabou cancelado.

A questão não é se a Espanha enfrentará o Brasil. A questão é que a Espanha quer enfrentar o Brasil. Não foi só a declaração de Hierro ou as de Xavi e Casillas. Iniesta, em entrevista à da Revista ESPN de dezembro de 2010, afirmou que o Brasil é uma “conta pendente” para os campeões do mundo e contou que Casillas fez o mesmo comentário na concentração espanhola, observando que faz tempo que as seleções não se encontram. David Villa afirmou que seu sonho quando criança era enfrentar o Brasil numa final de Copa do Mundo. Está claro que enfrentar os brasileiros é um desejo espanhol. Mas por quê?

É perfeitamente defensável que a Espanha tem, hoje, a melhor seleção do mundo. É a atual campeã da Eurocopa e da Copa do Mundo. Conquistou os três títulos consecutivos mostrando superioridade técnica, eliminando equipes fortes e tradicionais como Alemanha (duas vezes), Holanda, França, Itália e Portugal. Mas, para a nova realidade espanhola, não basta ser reconhecida como a melhor. É preciso ser reconhecida como uma das grandes seleções do mundo, aquele clube em que só estavam brasileiros, alemães, argentinos, italianos e, dependendo da referência, ingleses e franceses.

A última vez que as duas seleções se confrontaram foi em Vigo, em 13 de novembro de 1999. O Brasil de Candinho (acredite se quiser) entrou em campo com Marcos; Cafu, Antônio Carlos, Aldair e Roberto Carlos; Marcos Assunção, Émerson, Zé Roberto (Giovanni) e Rivaldo (Zé Elias); Sonny Anderson (Jardel) e Élber. A Espanha da época, treinada por José Antonio Camacho, foi ao Balaídos com Molina; Míchel Salgado, Paco, Abelardo e Sergi; Guardiola, Etxeberria (Urzaiz), Valerón (Engonga) e Luís Enrique (Mendieta); Raúl (Alfonso) e Morientes (Munitis). Atualmente, Guardiola é lembrado mais como técnico do Barcelona e Alfonso por dar nome do estádio do Getafe. Reparem que, das duas seleções, nem passam próximos dos times de Mano Menezes e Vicente Del Bosque

O jogo foi bem fraco e terminou em 0x0. Foi um amistoso como tantos outros, sem nenhum peso especial para os dois lados. Tanto que o Brasil foi comandado por seu auxiliar técnico, deixando Luxemburgo na Austrália, onde esteve com a seleção olímpica para dois amistosos. Desde então, o mais perto que o Brasil esteve de enfrentar a Espanha foram dois amistosos contra a Catalunha em Barcelona: vitórias brasileiras por 3x1, em 18 de maio de 2002, e 5x2, em 25 de maio de 2004, com direito a golaço de bicicleta de Júlio Baptista, que viria a brilhar no estádio novamente três anos depois, marcando o gol da vitória do Real Madrid ante o Barcelona por 1x0.

Um reencontro hoje entre esses dois países seria diferente. Seria a melhor seleção do mundo na atualidade contra a maior seleção da história do futebol, ainda que passe por um momento ruim dois anos antes da Copa de 2014. Torcedores de todo o planeta reconheceriam a importância simbólica do duelo. Grandes times se mostram em grandes eventos, realizam grandes duelos e se desafiam com o respeito que se tem pelo igual. A Espanha vê no Brasil o adversário que a legitimaria como novo membro do grupo de “grandes”. Por isso a Espanha quer jogar com o Brasil. Mesmo sabendo que isso pode não acontecer tão cedo. Ou, quem sabe, na Copa das Confederações. Ou, indo mais além, num hipotético confronto de mata-mata na Copa.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

David e Fernando

Juntos novamente? De titular, será difícil (getty images)

Principais jogadores do título europeu de 2008, David Villa e Fernando Torres formaram uma das duplas mais legais e letais de ataque entre 2006 e 2009. Um tem 30 anos, maior goleador da história da seleção, marcou cinco gols na última Copa e um na final da Champions League 2010/2011. O outro tem 28 anos, histórico goleador na Inglaterra, a grife de uma transferência de £50 milhões e um grupo acolhedor e paciente diante de seu fracasso inicial. Seu carisma é enorme e, mesmo não vivendo boa fase, terminou a última Eurocopa com a chuteira de ouro pelos três gols e duas assistências. O que, há três anos, parecia que não iria acontecer, hoje é a realidade: no atual time titular da Espanha, os dois brigam por uma vaga.

Desde que assumiu a Espanha em meados de 2008, Vicente Del Bosque optou por povoar o meio-campo. A ascensão de Busquets no Barcelona caiu como uma luva para o treinador, que também passou a dar mais oportunidades a Xabi Alonso no onze inicial em dentrimento de Marcos Senna. O setor ganhou em passe, mas perdeu em combate. Até hoje, a Fúria entra em pane se sofrer um contra-ataque - a semifinal contra Portugal mostrou o caminho. A atitude teve consequências no ataque e abriu um dilema ao madrilenho: abdicar de Iniesta ou Fernando Torres e Villa? Inicialmente, os três jogaram juntos num 4-2-3-1 que teve o Guaje à esquerda, Iniesta à direita, Xavi centralizado e Fernando Torres como referência, o que já mudou totalmente a parceria entre os dois, que ficaram distantes um do outro.

No entanto, a segunda opção começou a ganhar mais força quando El Niño entrou numa longíqua má fase. A reta final da Copa do Mundo, aliás, teve Pedro como titular e Villa escalado como centroavante, justamente onde menos rendeu na África. O pós-Copa trouxe mais situações desconfortáveis à dupla. Mais pragmática e menos goleadora, a Espanha sentia - e ainda sente, diga-se de passagem - claramente a falta de um artilheiro como Torres, que, a cada jogo, oferecia menos resistência. Llorente, que ganhou algumas chances, mostrou mais trabalho que o canterano colchonero. Como não houve boas respostas em campo, Del Bosque cortou a sequência do camisa nove e abriu, também no ataque, espaço ao que repaginou a Roja e criou armadilhas ao inimigo: as improvisações. Na Euro, Fàbregas foi falso nove durante boa parte da competição. Até David Silva foi centroavante por um dia.

Ainda que tenha bastante moral com o treinador, a lesão de Villa tirou seu status de craque do time. Hoje, ele pertence a Iniesta, melhor jogador da Europa em 2012. El Albino atua cada vez melhor aberto à esquerda do ataque no 4-3-3 e não dá margem a Del Bosque mudá-lo de posição. Na direita, David Silva, que há dois anos reclamou publicamente de não receber chances, é outro que se destaca. Ou seja: atualmente, Villa e Fernando Torres disputam uma das vagas no ataque. Hoje, na estreia da Espanha nas Eliminatórias para a Copa de 2014, o titular, no entanto, foi Soldado, que ficou em campo os noventa minutos e marcou o gol da suada vitória ante a Geórgia, por 1x0. Se Villa, que já deixou claro que prefere jogar numa das pontas, cai de rendimento quando atua centralizado, a lógica é imaginar Fernando Torres largando à frente. Mas Del Bosque é coerente: se Soldado, Llorente ou, seja lá quem for, estiver melhor, ele não terá "vergonha" de deixar a dupla, por mais querida que ela seja, no banco.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O paradoxo de Tito Vilanova

 Tito Vilanova e a árdua missão de substituir Josep Guardiola (getty images)

Mudança de ciclo sempre são bastante complicadas. Ainda mais em clubes grandes, onde a pressão por um trabalho bem feito começam desde os primeiros meses. No Barcelona, logicamente, não é diferente. Tito Vilanova passa por um processo semelhante ao que seu antecessor, Josep Guardiola, passou quando assumiu o lugar de Frank Rijkaard em 2008: a cobrança pelo resultado. A perda da Supercopa para o Real Madrid deixou boa parte de torcedores e simpatizantes do clube catalão com um pulga atrás da orelha.

É natural que Tito Vilanova seja pressionado, mas as análises mais ponderadas precisam esperar pelo verdadeiro Barcelona 2012/13. O novo treinador fez uma pré-temporada bem saudável e tinha tudo nas mãos para começar a temporada voando, mas não é isso que os jogadores mostraram nos primeiros cinco jogos antes da pausa para a Data Fifa. É arriscado e pesado chamar de pragmático o futebol da equipe que mais encantou o mundo nos últimos quatro anos; mas, baseando nos duelos contra Real Madrid no Santiago Bernabéu, Osasuna e Valencia, a definição é cabível. O toque de bola, tão refinado e objetivo, parece ser utilizado somente para passar o tempo e esperar o jogo acabar. Mal comparando, parece a Espanha em boa parte da Eurocopa 2012.

A linha defensiva está mais frágil. Vilanova falhou na tentativa de contratar um zagueiro, que seria o substituto de Puyol, passando por consecutivos problemas físicos, e por isso mudou a atenção para a contratação de um substituto para Busquets. Efetivar o jovem Marc Bartra foi a alternativa utilizada para preencher a lacuna da não contratação de um defensor, mas colocar as esperanças num canterano que, por mais promissor que seja, ainda é inexperiente é arriscado. Contra o Real Madrid, Adriano, Piqué, Mascherano e Alba sofreram, principalmente no primeiro tempo, com a velocidade imposta pelos fortes contra-ataques merengues. A expulsão de Adriano foi simbólica. 

O ataque, pelo menos neste início de temporada, parece continuar bastante dependente de Lionel Messi. Paradoxalmente, isso representa o maior perigo para Tito Vilanova: e quando Messi não decidir?; e quando Messi for anulado pelo esquema adversário, como contra nos duelos contra o Chelsea? Não há um Samuel Eto'o ou um Thierry Henry, que cansavam de decidir, durante a primeira temporada de Guardiola no Barcelona, quando o argentino não estava em boa noite. Alexis Sánchez não é um goleador nato e Tello é só incógnita, apesar da (cega) insistência do treinador no garoto. A esperança é David Villa, que ainda não recebeu alta médica, retornar em um bom nível e Pedro reencontrar o caminho dos gols decisivos. Contra o Real Madrid, na partida de ida da Supercopa, o canário marcou um importante gol que recolocou o Barça no duelo.

O que tem chamado a atenção são as substituições de Tito Vilanova. Ele demora a mexer na equipe e, quando o faz, não é da maneira que deveria ser. O caso mais lembrado é a entrada de Tello no Bernabéu, quando o treinador tinha à disposição dois campeões do mundo no banco de reservas, Villa e Fàbregas. Ainda que o Guaje não possa atuar num ritmo mais pesado, por que não tentar Fàbregas? O catalão é outro capítulo à parte do início da era Vilanova. Displicente, tem limitado-se a dar passes para o lado e parece fora de conexão com o restante dos jogadores. Escalado no setor onde mais gostaria de atuar, Cesc não foi bem quando jogou no lugar de Xavi, na armação, nem de Iniesta, ao lado do camisa seis no meio-campo.

No entanto, acontece que é praxe o Barcelona iniciar a temporada num ritmo mais leve. A exemplo de comparação, o Barcelona de Guardiola em 2008/2009 somou quatro pontos nas três primeiras rodadas (uma derrota, um empate e uma vitória). O da atual temporada, pelo menos, tem nove pontos, o que dá margem para um descanso lá na reta final, se a equipe tiver disputando as fases finais da Champions League. Em 2010/2011, ano que ganhou Liga e Champions League, o Barcelona só foi convencer no final de novembro, quando derrotou o Real Madrid por 5x0 e, a partir dali, explodiu definitivamente. Por isso, a pressa quanto ao trabalho de Vilanova é, em certo ponto, exagerada. Quem acompanha os azulgrenás veementemente nos últimos anos sabe que eles tendem a começar a "voar" a partir do final de outubro ou começo de novembro. Porém, por outro lado, Vilanova já deveria dar demonstração de que acerta mais que erra e não criar mais dúvidas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Surpresas

O início de temporada sempre gera bastante surpresas. Na temporada passada, Real Sociedad, Bétis e Levante fizeram parte deste grupo. O Bétis chegou a liderar a Liga, mas perdeu o fôlego ainda no primeiro turno, assim como a Real Sociedad. O Levante foi longe e hoje disputa a Liga Europa. Em 2012/11, Mallorca e Rayo Vallecano são as equipes que surpreendem. O principal motivo dessa surpresa é comum entre a dupla: perderam seus principais jogadores e não conseguiram repôr à altura, mas funcionam ao natural.

 Enquanto Michu brilha na Premier League, o Rayo Vallecano não tem sentindo sua falta... por enquanto (Zimbio)

O Rayo Vallecano já vem chamando a atenção desde a temporada passada. Após viver uma grave crise financeira durante quase uma temporada, os franjiroyos driblaram todas as adversidades e, como num filme de drama, se salvaram do rebaixamento na última rodada e aos 48 minutos do segundo tempo. Se administrativamente a crise persistia, em campo as coisas caminharam muito melhor que a encomenda. Nesta temporada, para fazer caixa, a venda de seu principal craque, Michu, foi obrigatória. O meio-campista marcou 17 gols na temporada passada e mostrou um verdadeiro repertório de dribles e passes. Ele comprova sua qualidade neste início de Premier League pelo Swansea, onde marcou quatro gols em três jogos. Outra grande perda do mercado foi a não-renovação do empréstimo de Diego Costa, que caiu como uma luva no esquema de José Ramón Sandoval no mercado de inverno, mas voltou ao Atlético de Madrid.

A principal mudança em relação à equipe da temporada passada é uma defesa mais sólida preparada pelo treinador. Em 2011/12, o Rayo teve a pior, com 76 gols sofridos. Em três jogos na Liga 12/13, sofreu apenas 1. Ontem, os rayistas seguraram o veloz ataque do Sevilla com um jogador a menos durante quase um tempo do jogo. É cedo para chegar a uma conclusão definitiva, mas a equipe de Vallecas tende a fazer uma temporada mais segura se seguirem à risca a proposta de Sandoval. O presidente Raúl Martín Presa está bastante animado, e o discurso é de permanência na elite. Desse jeito, com uma bola parada que dá resultados e uma defesa mais eficiente, o Rayo pode fazer uma temporada mais acessível. Cada um sabe no que pode acreditar e investir.

Em Palma de Mallorca, o último dia de mercado trouxe boa notícia. Para esse colunista, a aquisição do mexicano Giovanni dos Santos foi a melhor do deadline. Num Mallorca tão carente de drible e sem extremos genuínos, ele chega como peça-chave. Se ao menos repetir as atuações da passagem pelo Racing Santander, quando evitou o rebaixamento da equipe cantabriano de uma maneira melhor que a de Canales em 2010, Gio irá valer o investimento. A responsabilidade no Ono Estadi é maior: substituir Gonzalo Castro, principal jogador mallorquín nas últimas cinco temporadas. O uruguaio se transferiu para a Real Sociedad no verão e deixou uma grande lacuna em Mallorca. 

A parceria do meio-campista criado nas canteras do Barcelona com Hemed tende a funcionar com à medida que os jogos passarem e colher frutos aos bermellones. O israelense começou a temporada à toda: anotou três dos quatro gols do Mallorca nas três primeiras rodadas. É cedo para profetizer como será a temporada dos baleares, mas Caparrós, novamente, merece elogios por manter um padrão de jogo mesmo sem Chori Castro. Novamente, o andaluz mostra qualidade e trabalho positivo em equipes com elenco limitados. Após projetar um Sevilla e Athletic Bilbao que viriam a fazer sucesso com Juande Ramos e Marcelo Bielsa, ele começa a transformar o Mallorca em competitivo. Naturalmente, não no mesmo tom de suas ex-equipes, mas ainda assim as respostas são as melhores possíveis.

Seleção da 3ª rodada
Andrés Fernandez (Osasuna), Demichelis (Málaga), Rami (Valencia), Marchena (Deportivo), Adriano (Barcelona); Camacho (Málaga), Xavi (Barcelona), Juanlu (Levante); Susaeta (Athletic Bilbao), Barrada (Getafe), Cristiano Ronaldo (Real Madrid). Treinador: Paco Jémez (Rayo Vallecano)

sábado, 1 de setembro de 2012

As melhores do deadline

 Se Mourinho conseguir recuperar o futebol do Essien de 2007 a 2009, o Real Madrid terá em seu elenco um dos melhores volantes do mundo (Article)

Não foram tantas surpresas na Espanha, mas o último dia do mercado de verão sempre dá o que escrever. Por isso, o blog separa as sete melhores contratações fechada ontem.

7 - Park Chu Young no Celta Vigo
Iago Aspas é o melhor atacante do elenco galego, mas a concorrência do coreano Park Chu Young fará com que o espanhol trabalhe mais. Young, de passagem apagada pelo Arsenal, espera dar a volta por cima no Balaídos e voltar a Londres com outro status. A depender de sua motivação, será um sucesso. Logo de cara, prometeu: o desafio é marcar mais de 15 gols.

6 - Álvaro Vázquez no Getafe
Artilheiro da Espanha no último Mundial Sub-20, o jovem chega a Madrid para ser titular após o empréstimo de Miku ao Celtic. O outro lado da moeda leva à curiosidade: por que o Espanyol libertou-se de seu principal atacante? Vázquez, vale lembrar, já marcou nesta Liga BBVA. Os péricos também se desfizeram de Thievy, emprestado ao Las Palmas.

5 - Javier Saviola e Roque Santa Cruz no Málaga
O Málaga precisava de um centroavante de respeito após perder Rondón. Saviola e Santa Cruz seriam contratações tops há dez anos, mas ainda hoje podem dar um caldo, sobretudo o argentino. O paraguaio teve uma passagem nota 6 pelo Bétis e, provavelmente, será apenas uma alternativa. Os blanquiazules ganham também em variação tática, já que Pellegrini, se quiser encaixar os dois, pode utilizar o amado 4-4-2. No caso, o desenvolvimento de Fabricie não seria barrado porque ele possui 16 anos ainda. Se der liga, os andaluzes podem, quem sabe, sonhar em avançar de fase na LC.

4 -Oguchi Onyewu no Málaga
Jesus Gámez começou a temporada bem, mas é quase certeza o estadunidense será titular. Ou, ao menos, uma opção confiável, já que Sérgio Sánchez não inspira confiança. Ele irá oferecer velocidade pela direita e pode ser um complemento interessante a Joaquín ou a quem cair pela direita da linha de três. Se jogar o que sabe, Pellegrini terá um bom lateral à disposição. Mas ainda falta um zagueiro confiável e uma alternativa a Camacho e Toulalan na volância.

3 - Cristian Sapunaru no Zaragoza
Após quatro temporadas no Porto, onde ganhou Copa, Liga e Liga Europa, o rômeno chega ao Zaragoza mais pragmático dos últimos anos. Ele é um bom potencial que havia atraído interesse de Sevilla e Málaga e até do Villarreal em outros tempos. Em mercado fraco dos maños que a cada temporada parecem próximos da Liga Adelante, Sapunaru é um ponto fora da curva e deve dar certo no La Romareda.

2 - Michael Essien no Real Madrid
Um pedido de transferência a uma hora do fechamento da janela, uma proposta relâmpago do blancos, e José Mourinho contratava o jogador que ele mesmo levou ao Chelsea em 2005. Bom para o Real Madrid, que tem mais uma opção para o meio, onde Essien deve brigar por vaga com Khedira e Modric ou mesmo ser uma alternativa torta a Arbeloa na lateral. O marfinense não chega a Chamartin para ser titular, mas é um ótimo reforço. Mesmo que não volte a ser o mesmo de antes, Mourinho tem à disposição um jogador a quem confiar. Após boa pré-temporada com o Chelsea, Essien promete bom futebol na capital espanhola.

1 - Giovanni dos Santos no Mallorca
Sim, Giovanni dos Santos. Num Mallorca tão carente de drible e sem extremos genuínos, ele chega como peça-chave. Giovanni fracassou em Barcelona e Londres e teve lampejos no Racing Santander, onde foi o principal jogador da equipe cantabriana em 2010/2011, mas Joaquín Caparrós, que sabe trabalhar com jogadores desse naipe, pode tirar muito do mexicano e transformá-lo num bom parceiro a Hemed, que começou a temporada voando. Giovanni é talentoso, possui um bom passe e chuta muito bem com a esquerda. Se desempenhar o futebol que costuma jogar na seleção mexicana, ajudará muito o Mallorca que, logicamente, tende a sentir a falta de Gonzalo Castro nos momentos mais propícios da temporada.