sexta-feira, 30 de novembro de 2012

E se Guardiola fosse o treinador da seleção brasileira?

 Guardiola e Daniel Alves juntos na seleção brasileira? Usamos a imaginação nessa matéria especial (getty images)

Por Pedro Galindo e Victor Mendes.
Originalmente feito a Doentes Por Futebol

Com o confirmação do nome de Luiz Felipe Scolari como novo comandante da seleção brasileira, acabaram-se de vez as especulações em torno de Josep Guardiola, que corria por fora na disputa pelo cargo. Apesar de apelos de alguns setores da crônica esportiva e dos torcedores, o ex-treinador do Barcelona foi prontamente descartado pela cúpula da CBF. As justificativas para o descarte - mesmo após o rumor de que o técnico catalão teria confidenciado a amigos que aceitaria dirigir a Canarinha - não fugiram de um previsível ufanismo cego e exacerbado: “não precisamos de treinador estrangeiro, nosso futebol é pentacampeão mundial”, entre outros pachequismos e demonstrações de soberba. A realidade - triste para nós, brasileiros - é que se pode contar nos dedos de uma mão os treinadores nacionais que estão no nível do tamanho do desafio. Felipão, a esta altura da carreira, não parece a escolha mais indicada: vem de péssimas temporadas e de um rebaixamento pelo Palmeiras, que a CBF preferiu esquecer e se apegar à mística da “Família Scolari”, que completou uma década em julho deste ano.

Entretanto, a Doentes por Futebol resolveu fazer um exercício de imaginação e especular como agiria Pep Guardiola, propalado por muitos como o mais revolucionário treinador dos últimos anos. Inicialmente, partimos do pressuposto de que Pep, cuja carreira foi construída no futebol europeu, tem pouco conhecimento sobre o futebol brasileiro - o que já seria um grande obstáculo caso o catalão assumisse a Seleção. Portanto, se Guardiola tivesse sido escolhido pelo Excelentíssimo Sr. Marin, os jogadores brasileiros no futebol europeu certamente se encheriam de esperanças. Exatamente por isso, os que ainda atuam no futebol brasileiro provavelmente se sentiriam motivados a partir para o Velho Continente. Além disso, partimos também de indicações do próprio Pep: atletas brasileiros já elogiados por ele, especulações da imprensa catalã e esquemas táticos adotados pelo treinador.

O primeiro a celebrar seria Diego Alves, que saiu ainda menino do Atlético Mineiro para brilhar no futebol espanhol - antes no modesto Almería e agora, ainda que em menor intensidade, no Valencia. O goleiro, que já vinha tendo oportunidades com Mano Menezes, muito provavelmente seria lembrado por Guardiola, até mesmo por já ter fechado o gol contra o Barcelona treinado pelo próprio. Ponto negativo para Jefferson, Victor e Rafael, que atuam no futebol nacional e vêm recebendo oportunidades na posição. Na linha defensiva, Dani Alves, peça-chave do blaugranas nas últimas temporadas, teria toda a confiança para continuar como dono da camisa #2 da Seleção. Outro que certamente teria vaga no grupo é o multifuncional Adriano, lateral-coringa do Barça, contratado justamente por Guardiola.

Mas é nas laterais que o catalão teria um de seus maiores desafios: seu Barcelona se habitou a jogar com atletas diferentes em cada um dos lados do campo. Abidal, pela esquerda, se posicionava muitas vezes como um zagueiro, fechando o corredor esquerdo para dar a Daniel Alves a liberdade de brilhar na frente. Na Seleção, um “problema” impediria que a mesma estratégia fosse adotada: o Brasil hoje conta, talvez, com os dois melhores laterais do mundo. Marcelo vive grande fase no Real Madrid e Alves segue sendo decisivo pelo Barça. Guardiola dificilmente abriria mão de opções ofensivas deste quilate. A solução seria convocar um volante com mais poder de marcação, para cobrir as subidas dos alas. Esse cenário seria animador para Felipe Melo - feito de bode expiatório em 2010 e inapelavelmente banido da Seleção - e Luiz Gustavo, volante versátil do Bayern de Munique, que construíram suas carreiras no futebol europeu. Paulinho e Ramires, os atuais titulares, teriam que lidar com obstáculos distintos: o primeiro, com a já citada pouca familiaridade do treinador com os atletas atuando por aqui; o Queniano, por sua vez, provavelmente não teria muito espaço com o catalão justamente por seu jogo não ser muito baseado na troca de passes, e sim na condução da bola. Um jogador mais confiável para puxar contra-ataques, que teria que se adaptar ao estilo de jogo de Pep.

Na meia ofensiva, opção é o que não falta. No Barcelona de Guardiola, a espinha-dorsal era o 4-3-3. No entanto, embora a Seleção disponha de jogadores com muita qualidades, nenhum deles tenha, talvez, a técnica que Xavi e Iniesta têm para dominar o meio-campo adversário com tanta naturalidade. Jogadores que ditam o ritmo do jogo, comandam e trabalham a bola com baixíssimo índice de erros. Até por isso, o trabalho dos volantes teria que ser ainda mais especial do que o que Busquets faz no Barça. Dois jogadores brasileiros têm característica semelhantes às da dupla espanhola, mas não vinham tendo muita oportunidade com Mano Menezes: Ganso e Hernanes. O primeiro, aliás, já fora elogiado por Pep Guardiola, que o chamou de "brilhante" às vésperas da final do Mundial. Hernanes, bastante especulado no Barcelona há alguns anos, é outro jogador que teria a simpatia do treinador. Seria bastante possível eles ganharem mais oportunidades caso Guardiola assumisse a Canarinho.

Ronaldinho é uma questão emblemática. Despedido do Barcelona justamente por Guardiola, a lógica seria imaginar ele não tendo chances nenhuma de retorno à seleção. No entanto, poderia acontecer do catalão ter uma conversa séria com o gaúcho, a mesma que teve quando o demitiu, e tentasse, agora, contar com sua confiança. Aí, justamente, entraria outra questão: como Ronaldinho, Neymar e Kaká jogam no mesmo setor do campo, o santista seria utilizado como falso nove, cumprindo o papel que Messi faz no Barcelona? Muito provavelmente, sim. Embora, à primeira vista, contar com um centroavante seria mais necessário. Talvez Leandro Damião, que chegou a estar na órbita do Barça na temporada passada, ou Luis Fabiano, com passagens pelo futebol espanhol, ou até mesmo Fred.

Outro jogador que também tem a simpatia de Guardiola é Robinho, cotado para ser contratado em 2009/2010, mas que, segundo a imprensa espanhola, não teve a aprovação dos senadores do elenco barcelonista. Como o milanista também se destaca jogando mais do lado direito do campo, provavelmente seria uma opção de banco. Hulk ou Lucas, por ser um jogador capaz de cumprir uma boa função tática, jogariam aberto à direita, com Oscar centralizado tendo liberdade para armar o jogo a partir de sua faixa no campo. Outra probabilidade é o uso de Daniel Alves aberto à direita da linha de três. O baiano chegou a jogar com Guardiola na ponta direita, ao lado de Messi e mais um no ataque. Neste caso, Maicon e Rafael seriam os mais cotados para assumir a lateral direita.

De volta à realidade: como se sabe, Felipão é o novo treinador da seleção. Ao contrário de Pep, ele não vem de bons trabalhos: apesar do título da Copa do Brasil, acaba de ser corresponsável pelo rebaixamento palmeirense e, antes disso, fracassou espetacularmente no Chelsea, cercado de expectativas. Sem dúvida, Scolari não vive mais um bom momento em sua carreira. Seus resultados recentes são reflexo de suas convicções, muitas vezes atrasadas e anacrônicas: o futebol de hoje é bem diferente do de dez anos atrás, quando o treinador gaúcho conquistou seu maior título. Resta a nós, brasileiros, torcer para que sua experiência transmita a confiança que tanto falta à nossa promissora geração.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ao resgate

 Nas últimas duas semanas, o Barcelona recuperou o bom futebol e promete voltar a encantar (getty images)

No Ciutat de Valencia, o Barcelona, na teoria, teria um confronto difícil contra o Levante. Quarto colocado da Liga Espanhola e com a moral em alta após conseguir uma inédita e histórica classificação ao mata-mata da Liga Europa, os levantinos prometiam vida difícil aos blaugranas, assim como nos dois últimos confrontos em Valencia. O que aconteceu, sobretudo no segundo tempo, foi justamente o contrário. O gol de Messi logo na volta do intervalo abriu o caixão e serviu para fazer o Barcelona relaxar e chegar a mais três gols naturalmente, construindo as jogadas e exercendo um belo futebol.

É um desafio escrever sobre o Barcelona de Tito Vilanova sem entrar em comparações com o de Josep Guardiola (em evidência no Brasil após a suposta vontade de treinar a seleção brasileira). Mas esse é um desafio que deve ser encarado, porque não há nada mais vazio do que dizer que "o elenco é o mesmo" ou que "o time de Guardiola encantava mais", o que ainda é um equívoco, visto que a equipe de Vilanova poucas vezes fez um jogo completo com o onze que o novo treinador pretender levar a campo nos momentos decisivos. Ontem, por exemplo, Tito iniciou o duelo que fechou a noite com esses jogadores, ainda que tenha colocado Iniesta aberto à esquerda do ataque. Com Villa ainda sem estar no auge da forma e Tello e Alexis Sánchez em más fases, é perfeitamente plausível ver o meio-campista fazendo as vezes no ataque, como faz costumeiramente pela seleção espanhola.

O Barcelona de Tito Vilanova cumpre com competência, ainda que não com excelência, o que se espera dele: ele vence. Ontem, nos 4x0 diante do Levante, o Tito Team igualou o melhor arranque da história da Liga Espanhola, que, até o momento, pertencia em solitário ao Real Madrid de 91/92. À época, a equipe treinada por Antic somou 12 vitórias e um empate nas 13 primeiras rodadas, exatamente os mesmos registros que apresenta o Barça atual. No futebol espanhol, considerando Liga BBVA, Liga Adelante e Segunda División B, os blaugranas são os únicos a não conhecerem a derrotam em território doméstico, após o Tenerife perder sua primeira partida no sábado. Em âmbito continental, foram derrotados pelo Celtic por 2x1, pela quarta rodada da Uefa Champions League. Mais cedo, no início da temporada, uma derrota para o Real Madrid por 2x1 que custou a Supercopa Espanhola.

Mas essa excelência, pelo visto, começa a dar as caras. Contra Zaragoza, Spartak Moscou (primeiro tempo) e Levante, o Barcelona fez jogadas e gols semelhantes aos dos tempos áureos com o treinador anterior. Coincidentemente, o bom futebol retornou justamente quando Puyol se recuperou de lesão e formou a zaga ao lado de Piqué. A melhora defensiva é considerável. A recomposição também é feita com mais atenção. Pelo menos nesses três jogos, o Barcelona ofereceu pouca chances aos adversários e os laterais sofreram poucas bolas nas costas, algo que tornou-se praxe nos três meses anteriores. Jordi Alba iniciou a temporada em alto nível e não é exagero dizer que, atualmente, ele é o melhor lateral esquerdo do mundo, enquanto Marcelo não está apto por lesão.

No meio-campo, uma figura cresce e impussiona o Barcelona: Andrés Iniesta. Após um início de temporada modorrento, onde não engatou sequência na equipe titular graças à fase de Fàbregas, ele está fazendo jus ao prêmio de melhor jogador da Europa. Contra o Levante, ratificou a boa fase com atuação espetacular, ofuscando Messi. Foram três assistências e um golaço para dissipar as dúvidas. Por outro lado, o grande maestro Xavi permanece tímido. Fàbregas, quando escalado no setor do camisa 6, mostrou mais serviço e apresentou um leque de jogadas maiores que os do atual Xavi. Cesc deu oito assistências para gols e anotou quatro tentos, enquanto Xavi assistiu apenas uma vez e foi às redes três vezes.

O craque do time tem correspondido até num nível acima do normal. Após apresentar uma versão mais humana, Lionel Messi já desempenha um futebol digno de melhor do mundo. Se movimentando com mais contundência e arriscando mais dribles e arrancadas, ele está bem longe do Messi tímido que iniciou a temporada, muito preso à função de um verdadeiro nove. Seus números assustam. São 82 gols em 2012 e 26 na temporada 2012/2013. Após ultrapassar a maior marca de Pelé num único ano, La Pulga está a um passo de chegar em Gerd Müller, o maior artilheiro, que marcou 85 gols em 1972. Agora é questão de tempo. Artilheiro isolado da Liga Espanhola com 19 gols e da Champions League com 5 (ao lado de Artur e Cristiano Ronaldo), o dado a seguir assusta: equipes como Liverpool e Milan marcaram 71 e 81 gols ao longo do ano, menos do que o argentino sozinho.

Ainda assim, há quem viva um pesadelo. Antes tratado como peça-chave, Daniel Alves já não é mais tão fundamental. Mais uma vez lesionado (pela quarta vez em três meses), ele ficará duas semanas fora do gramado. Montoya não é um substituto à altura, mas tem sido essencial porque está servindo para contrabalancear as subidas de Alba pela esquerda. Até por ser mais conservador que o baiano, o canterano deixa o sistema defensivo menos exposto. Sua atuação no superclássico do início de outubro foi positiva. Daniel Alves, por ter boa qualidade ofensiva, poderia ser opção para jogar aberto à direita no ataque, papel este que desempenhou em algumas partidas com Guardiola, quando o treinador optou pelo uso do 3-4-3. O entendimento com Xavi e Messi pode ajudá-lo.

Finalmente, após algumas críticas e especulações de fim de ciclo, o Barcelona mostrou capacidade de ser avassalador novamente. Com o bom futebol de volta, será que veremos a melhor equipe dessa geração encantar em campo novamente, como vimos com tanta frequência nos últimos quatro anos?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O dérbi de Reyes

 Reyes brilha no dérbi de Sevilha, recupera moral com torcedores e ressurge na temporada (El Desmarque)

José Antonio Reyes é um paradoxo difícil de entender e mais ainda de explicar. Dotado de técnica, o meio-campista possui uma habilidade incomum entre os espanhóis. Fatalmente, tinha futebol suficiente para se tornar um jogador world-class, sem exageros. Dono de uma perna esquerda mágica, no entanto, nunca chegou a ser o que prometia. Hoje, quando se pensa em Reyes o rótulo de eterna promessa vem à cabeça.

Nas categorias de base do Sevilla, Reyes já demonstrava todo seu potencial. Em 1999/2000, com apenas 16 anos, fez sua estreia pelo clube de Nervión. À época, a fase sevillista era negra. Rebaixado para a segunda divisão e vivendo uma grave crise financeira, a diretoria resolveu apostar nos canteranos. Na Liga Adelante, treinado por Joaquín Caparrós, o conjunto andaluz sagrou-se campeão e retornou à elite. Ali, começava a história do jovem nascido em Ultrera no futebol espanhol. Mais jovem jogador da história da primeira divisão a marcar um gol, Reyes converteu-se no protagonista do time, liderando uma magnífica geração de canteranos que havia conquistado a Copa do Rei juvenil nos dois anos anteriores.

Após passar por Arsenal, Real Madrid e Atlético de Madrid, Reyes retornou ao Sevilla no início do ano. Àquela altura da temporada, os hispalenses precisavam de um jogador de seu naipe para brigar por uma vaga na Champions League. Canterano e querido pelos torcedores, chegou sob confiança dos aficionados, que esperavam que suas esporádicas atuações mágicas passassem a ser mais frequentes. Não aconteceu. Em cinco meses, ele nada fez. Nem chegou a alternar partidas boas com ruins, algo praxe em sua carreira. O estopim foram as vaias sofridas após ser substituído no dérbi de Sevilha no Pizjuán, a duas rodadas do fim. O Sevilla perdeu para o Bétis em casa por 2x1, emplacou o quarto clássico consecutivo sem vencer o maior rival e deu adeus às chances de conseguir uma vaga na Liga Europa.

A partir dali, ele voltou ao ostracismo. Esquecido e relegado ao banco para um Perotti que voava, viu o Sevilla iniciar a atual temporada de maneira positiva sem sua presença na equipe titular. Mas o dérbi, que o levou ao inferno, serviu para fazer ressurgi-lo. Ontem, no principal jogo da rodada, o Sevilla esmagou o Bétis no Pizjuán por 5x1. Reyes teve atuação de gala. Logo aos 17 segundos de jogo, mostrara que aquela seria sua noite. O gol mais rápido do atual campeonato e da história do dérbi (superando, curiosamente, marca de Pepe Mel, atual treinador do Bétis, que havia marca um gol aos 35 segundos no dérbi de 90/91) foi o largar da reconciliação com os torcedores que o aplaudiram ao término do duelo. Doblete, assistência e jogadas importantes pelo lado esquerdo foram os ingredientes que tornaram Reyes o melhor em campo.

Em sua melhor partida desde o retorno a Nervión, Reyes pode ter visto um divisor d'águas. Os rojiblancos recuperaram a moral e ratificaram a briga por uma vaga na Champions League. No próximo final de semana, tem uma missão complicada: encara o Atlético de Madrid no Vicente Calderón. Desde já, Reyes é assunto. Não só pelo reencontro com o estádio no qual saiu brigado, mas pelo o que poderá fazer. Em paz após momentos conturbados, fica a pergunta: ele terá continuidade? Uma interrogação eterna quando se trata de Reyes.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Prazer, Europa

 Isco brilha na Champions League e se consolida como um dos melhores jovens do mundo (getty images)
 
O Málaga obteve um feito histórico no San Siro. Ao empatar com o Milan por 1x1, os blanquiazules, em sua primeira participação na Uefa Champions League, conseguiram com duas rodadas de antecedência a classificação às oitavas de finais da competição. Naquele que foi considerado, por meio de uma votação no site do periódico andaluz El Desmarque, o jogo mais importante da história do clube, o Málaga começou "assustado", acanhando-se perante adversário e estádio histórico, mas logo deixou a timidez de lado e passou a encarar de igual para igual o time treinado por Allegri. Durante boa parte do primeiro tempo, os andaluzes sufocaram os rossoneros, chegando a abrir o placar com Eliseu. No segundo tempo, a necessidade do empate obrigou o Milan a atacar mais e o gol de empate saiu através de Pato.

O gol do português foi oriundo de uma assistência tirada da cartola de Isco. O jovem, até o momento, brilha na temporada e tem feito partidas de ouro na principal competição de clubes do mundo. Por mais uma temporada, Isco faz jus ao rótulo de promissor, mas dessa vez vai se consolidando como realidade. Não é exagero dizer que ele está, por que não, no grupo dos melhores jovens da nova geração do futebol, ao lado de nomes como Götze, Reus, Oscar, Neymar, Jovetic e Balotelli.

Cria do Valencia, estreou pelo clube de Paterna há dois anos, contra o Logroñes, pela Copa do Rei, e marcou dois gols. A estreia perfeita fez o garoto ser, precocemente, o substituto natural de David Silva, à época brilhando com a camisa blanquinegra. Ainda nessa temporada, Isco teve participação fundamental na campanha de acesso do Valencia Mestalla à Segunda Divisão B ao lado do também promissor Paco Alcácer. Badalado entre os espanhóis por sua participação no último Mundial Sub-17, quando foi terceiro lugar com a Espanha, Isco jogou só cinco jogos da Liga e apareceu até na Liga dos Campeões com o elenco A. O blog o elegeu como uma das 15 melhores promessas do futebol espanhol na temporada. A lógica era imaginar ele tendo mais espaço na temporada posterior. Engano.

Numa transferência bastante surpreendente, o Málaga passou a cláusula de seis milhões de reais e levou o jovem de volta à sua terra natal. Na equipe de Pellegrini, não tardou a ser titular. Em 2011/2012, foi o melhor jovem da Liga Espanhola. A recente venda de Santi Cazorla ao Arsenal criou a lacuna de que Isco, hoje com 20 anos, precisava para virar protagonista no time da Costa do Sol. Em 16 jogos nesta temporada, marcou quatro gols, deu quatro assistências e chama a atenção por atuações bem mais dominantes no meio-campo. Em âmbito europeu, não tem deixado a desejar. Seu estilo de jogo, semelhante ao de Iniesta, rende comparações com o meio-campista do Barcelona.

A explosão de Isco transforma o Málaga numa das melhores equipes da Espanha. 5º colocado na Liga e a um ponto de terminar a fase de grupos da Champions em primeiro, os blanquiazules se preparam para a época mais densa da temporada. Até o dia 6 de janeiro, enfrenta Real Sociedad, Osasuna, Zenit (UCL), Valencia, Cacereño (Copa do Rei), Getafe, Anderletch (UCL), Granada, Sevilla, Real Madrid e Barcelona. Num campeonato onde a disputa por vagas nas competições europeias preza pela imprevisibilidade (hoje, por exemplo, o Bétis está na zona de UCL), as perdas de pontos são recuperáveis. Influente no ataque, Isco será fundamental para melhorar o aproveitamento. Enquanto isso, ele se prepara para ser o maior trunfo da equipe no tão esperado mata-mata da Champions League.

*Na semana passada, o personagem do Málaga retratado aqui foi Joaquín.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Periquitos em baixa

 Cabisbaixo: é a tônica dos jogadores do Espanyol na atual temporada (getty images)

O fã mais afinco do futebol espanhol acostumou-se a, nos últimos anos, presenciar um Espanyol guerreiro, enjoado de derrotar e que gostava de complicar a vida dos gigantes, principalmente seu rival Barcelona. Nesta temporada, tem visto totalmente o contrário. Bastante enfraquecido em relação aos últimos anos, a tendência é os péricos disputarem algo que ainda não haviam encontrado outrora: o rebaixamento. Penúltimo colocado da Liga com nove pontos, a equipe de Maurício Pochettino já convive com o descenso desde cedo, sabendo o rumo que irá tomar.

Ontem, ganhou um fôlego nesta disputa ao derrotar, surpreendentemente, a Real Sociedad no Anoeta por 1x0. Momentaneamente, chegou a sair da zona de rebaixamento, voltando quatro horas depois, após o término de Granada 1x2 Athletic Bilbao, que tirou os bascos de lá. Na quinta-feira, o discurso utilizado por Pochettino após a derrota por 3x1 para o Sevilla, no confronto de ida da Copa do Rei, ratificou o momento negro dos barcelonistas. Perguntado sobre o motivo de ter preservado jogadores como Verdú, Raúl Rodríguez e Christian Alvárez, ele foi claro: "nós precisamos tratar as próximas partidas (da Liga Espanhola) como se fossem finais", disse.

Os últimos três resultados pela competição foram positivos. As vitórias contra Rayo Vallecano e Real Sociedad e o empate contra o Málaga na Andaluzia deram sete pontos importantes, que podem ser o diferencial lá na frente, quando a disputa apertar. Os próximos jogos exigirão mais dos comandados do treinador argentino: Osasuna (casa), Valencia (fora), Getafe (c) e Granada (f). Uma vitória ante o Osasuna, último colocado e outro forte candidato à Liga Adelante, é fundamental por ser, exatamente, um rival direto na disputa. Ganhar do Valencia no Mestalla é difícil, então o jeito é compensar contra Getafe no Cornellà e Granada nos Carménes.

Dentro de campo, os catalães são sofríveis. Um feixe de luz em meio à escuridão atende-se pelo nome de Verdu, que toma total controle do meio-campo e suas ações. A dependência é tanta que todas as jogadas só nascem do seus pés. Algo semelhante ao que aconteceu com o Deportivo há duas temporadas, quando os galegos dependiam à exaustão de Valerón e Adrián. Em Barcelona, Verdu sente a falta de um companheiro de ataque para concluir suas jogadas. O jovem Longo, emprestado pela Inter, é talentoso, mas parece ter não se adaptado ainda. Ao contrário de Philippe Coutinho, que, na temporada passada, precisou de cinco meses para mostrar um futebol decente.

A zaga, um dos principais trunfos do time nos últimos anos, também vive fase negra. A carência no jogo aéreo é enorme. Em Valladolid, num jogo que caminhava para uma vitória blanquiazul, Amat só olhou Nauzet subir e empatar o duelo. As falhas individuas múltiplas evidenciam os problemas na retaguarda. Cabe a Alvarez a missão do milagre, que nem sempre é possível. Na vitória de ontem, ele foi perfeito e saiu como o melhor em campo. Mas não será sempre que isso acontecerá.

Em crise administrativa, com média de público de 70% da capacidade do estádio, um treinador com potencial mas que se vê sem alternativas e elenco enfraquecido, o Espanyol é favorito ao rebaixamento. Mas nem tudo é (ainda) tragédia. Apesar dos resultados recentes, a equipe esboçou uma melhora considerável nas últimas semanas. A diretoria périca se especializou em fazer um mercado de inverno bastante útil nos últimos anos, com capturas positivas ao elenco. Se seguir essa tendência, há uma luz no fim do túnel de Cornellà El-Prat.

sábado, 3 de novembro de 2012

Sequência de fogo

Falcao García, com média de gols tão boas quanto as de Messi e Cristiano Ronaldo, é o principal trunfo de Simeone na sequência que irá mostrar se o Atlético de Madrid é candidato ou não ao título (getty images)

Hoje, às 19h, o Atlético de Madrid irá à Comunidade Valenciana enfrentar o Valencia no Mestalla. É o primeiro de quatro jogos que a equipe treinada por Diego Simeone terá para fazer fora de casa que irá mostrar se é candidata ou não ao título. Invicto na temporada, essa é a "prova final" dos rojiblancos, que ainda são visto com olhares de desconfiança. As próximas visitas são ao Carménes (Granada), Santiago Bernabéu (Real Madrid) e Camp Nou (Barcelona). Em jogo, mais do que provar que pode brigar pelo título. No dérbi de Madrid, o Atléti, pela primeira vez em anos, chega com status para quebrar um tabu que dura 13 anos: vencer o principal rival.

O calendário irá requer bastante concentração. Simeone, atento a isso, tenta tirar o peso da responsabilidade de seus jogadores a cada coletiva. "Podemos brigar pelo título, mas vamos com calma", disse o argentino após a vitória do último domingo, contra o Osasuna. As estatísticas mostram que os colchoneros são capazes. Se derrotar o Valencia hoje, irão chegar ao melhor início de campeonato em sua história. As coincidências também são históricas: assim como em 1996/1997, temporada na qual ganhou a Liga pela última vez, divide a liderança com o Barcelona e está oito pontos à frente do Real Madrid em dez rodadas. A distância para o terceiro colocado Málaga, que começa a dar sinais de cansaço - até por conciliar Liga e Champions -, é de sete pontos.

Acima de tudo, Simeone irá precisar contar com o melhor Falcao, principalmente contra Real Madrid e Barcelona. Na temporada passada, o colombiano marcou dois gols contra a dupla, mas viu sua equipe sucumbir. Atualmente, a fase do Tigre é de outro mundo. Com a mesma média de gols de Messi e Cristiano Ronaldo, ele tem sido cotadíssimo para disputar a Bola de Ouro com os dois principais jogadores do mundo. Vice-artilheiro da Liga ao lado do português, Falcao, com 17 gols nos últimos 11 jogos, superou no final de semana passado o melhor início de temporada de Messi. Em enquete do Marca e do As, consideram o momento do centroavante melhor que do gajo e do argentino.

A defesa, em especial, também irá precisar manter o ritmo elevado que vem mostrando até o momento. Miranda, melhor zagueiro deste início de Liga, é homem de confiança de Simeone. O argentino, aliás, tem bastante méritos por ter ajustado uma defesa bastante criticada há muitos anos. Hoje, a retaguarda é sólida e passa por pouco apuros. Na lateral esquerda, El Cholo conseguiu recuperar o melhor Filipe Luís, em nível semelhante ao apresentado no Deportivo La Coruña, quando foi o melhor lateral esquerdo da Liga Espanhola 07/08.

O Atlético de Madrid 2012/2013 joga menos tempo com a bola, mas sabe se virar sem ela. Dificilmente eles terão uma maior posse de bola contra Valencia, Real Madrid e, sobretudo, Barcelona, mas não se enganem com isso. Simeone gosta de cedê-la para, num escape, sair no contra-ataque, outra característica dessa equipe. O Atléti, também, busca o resultado até o último minuto, uma marca registrada do clube historicamente. Há duas semanas, um gol de falta de Falcao no último lance da partida deu uma vitória suada à equipe contra a Real Sociedad, em San Sebastian, rival que irá dar trabalho aos grandes em casa. Se o Atlético é ou não capaz de, após anos, brigar pelo título com Real Madrid e Barcelona, saberemos nas próximas semanas. Mas os colchoneros mostraram que são capazes de desafiar os gigantes espanhóis.

Próximos jogos do Atlético de Madrid
Valencia - Atlético
Atlético - Getafe
Granada - Atlético
Atlético - Sevilla
Real Madrid - Atlético
Atlético - Deportivo
Barcelona - Atlético

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A fênix de Málaga

 Após temporadas opacas no Valencia, Joaquín renasceu no Málaga, onde é fundamental para as pretensões do time na temporada (AP Photos)

Todos sabem que o verão que o Málaga passou foi rodeado de polêmicas. O clube perdeu Cazorla, Mathijsen e Rondón, que criticaram a postura controversa da administração do sheikh Abdullah Al-Thanil. Sobre esse assunto, tratamos recentemente. O estardaçalho feito durante esse momento negro foi grande, mas, analisando calmamente, desnecessário. Em terceiro lugar na Liga e a dois pontos de avançar de fase na Champions League, a equipe blanquiazul vive um de seus melhores momentos na história. Nesse cenário, um nome tem se destacado positivamente. Trata-se de Joaquín Sánchez, um dos jogadores espanhóis mais talentosos dos últimos anos, mas que teve uma carreira atrapalhada, principalmente, pelas lesões.

Formado nas categorias de base do Bétis, ele nunca chegou a ser o que prometia. Titular da seleção espanhola na Copa de 2006, teve uma temporada de ouro com os verdiblancos em 2004-2005, quando foi o melhor jogador do título da Copa do Rei. No Valencia de Villa e Silva, perdeu a titularidade quando o jovem Pablo Hernández despontou. Mesmo após a saída do Guaje para o Barcelona, quando Joaquín assumiu a lendária camisa sete, não conseguiu se firmar na equipe titular, sendo deixado de lado por Unai Emery. Sua contratação por parte do Málaga foi vista sob desconfiança. E com razão. Na temporada passada, o andaluz alternou boas e más partidas e viu Cazorla e Isco assumirem o protagonismo. Com a saída de Santi ao Arsenal, ele tem sido um substituto à altura.

Os aficionados malagueses veem o melhor de Joaquín a cada jogo. Com cinco gols, três na Liga e dois na Champions, ele é fundamental para as pretensões de um Málaga que mostra que irá brigar novamente por uma vaga na principal competição europeia. Sempre caindo pelo lado direito, mas com liberdade para centralizar e criar jogadas para o centroavante Saviola no 4-2-3-1, não tem decepcionado. Há uma semana, contra o Milan, perdeu um pênalti na primeira etapa, mas deu a volta por cima marcando o gol da vitória que levou La Rosaleda à loucura. Os nove pontos na UCL (100% de aproveitamento) deixa os blanquiazules a um passo da história classificação às oitavas.

Ainda que, convenhamos, Isco seja o principal jogador do Málaga neste início de temporada, até por cumprir um papel tático de protagonista, Joaquín não está para trás. Manuel Pellegrini ratifica sua importância a cada coletiva. No ranking do Marca, a eterna promessa é o sexto melhor jogador da Liga Espanhola 12/13, atrás de Messi, Jesus Navas, Falcao García, Iago Aspas e Isco. Com 31 anos, Joaquín faz jus ao apelido de fênix que vem recebendo: renasceu das cinzas para ser destaque de uma equipe que faz história.