domingo, 10 de junho de 2012

O erro de Del Bosque

 Vicente Del Bosque sério: no momento, não há motivos para risadas (getty images)

Enquanto treinador da seleção brasileira, Dunga fora severamente criticado por abraçar seu grupo e não fazer mudanças nele de jeito nenhum, não importando a fase de outros jogadores. O treinador, também, era bastante criticado por não repensar nos seus ideais, mesmo estando fora de validade. No Hemisfério Norte, há quem viva situação semelhante. A imagem de Vicente Del Bosque com os meios de comunicações espanhóis, antes mesmo da Eurocopa começar, não era das melhores, mas o fato da Fúria vencer, mesmo não convencendo, blindava e escondia as críticas. Bastou uma jogo fora do eixo para isso explodir.

Durante a semana, especulava-se bastante sobre como o treinador madrilenho iria a campo para encarar a Itália. Em sua primeira coletiva em solo ucraniano, Del Bosque chegou a afirmar que o Barcelona é uma de suas inspirações, mas que não copiaria todo o estilo de jogo blaugrana, sobretudo o fato de usar um falso nove (no caso do Barça, Lionel Messi), pois queria um centroavante de velocidade para poder entrar em sincronia com os meio-campistas nos contra-ataques, principalmente. A declaração chamou a atenção e deixou mais dúvidas no ar: se Fernando Torres e Llorente não se encaixam nesse perfil de referência proposta pelo treinador, Negredo, sua última opção, começaria jogando? O Mundo Deportivo chegou a confirmar a escalação da Roja com o andaluz, o que levava a um novo debate: se, no Sevilla, suas atuações mais abaixo do nível foram jogando exatamente como única referência, qual motivo levaria Del Bosque a utilizá-lo nessa posição num jogo importante de Eurocopa? E outra: se a proposta de jogo, a partir de agora, seria essa, por que o corte de Soldado, que se encaixe perfeitamente nesse estilo?

Porém, tudo não passava de um blefe. Mesmo desmentindo, a escalação inicial não teve nenhum atacante. O madrilenho foi a campo com Fàbregas de falso nove, surpreendendo a muitos. Uma escalação bastante controversa, principalmente pelo fato da Espanha ter criado muito poucas ocasiões na primeira etapa. Apesar de ter feito o gol (que, vale comentar, pareceu de um centroavante), Fàbregas parecia perdido. No Barcelona, chegou a ser testado por Pep Guardiola na posição duas vezes, onde não saiu-se bem. O próprio Del Bosque tem o exemplo negativo, quando utilizou David Silva na posição contra a Inglaterra na derrota por 1x0. O "4-6-0 ", dito por Muricy Ramalho, de fato não dá certo na seleção espanhola. Talvez para tentar surpreender Cesare Prandelli, treinador da Itália, Del Bosque tenha optado por essa escalação, que não deve ser iniciada contra a Irlanda.

A imprensa europeia, no geral, foi contra a falta de referência e até personagens como José Mourinho e Luis Aragonés criticaram o futebol exercido pela Roja. " Não é bom só toque de bola entre Xavi, Iniesta e Cesc sem que se crie uma ameaça a Buffon. É claro que houve um grande esforço dos meias espanhóis, mas sem um centroavante a Espanha teve um ataque estéril", disse o português. Para Aragonés, a fórmula de um falso nove funciona no Barcelona porque Messi é o jogador utilizado para desempenhar a função. O treinador campeão com a Fúria foi sintético e claro em suas declarações. Mesmo tendo desperdiçado três oportunidades, o uso de Fernando Torres (ou Llorente) é obrigatório. El Niño pode não ter feito gol, mas a zaga da Itália entrou em apuros depois que ele entrou. Referência ofensiva deixou De Rossi perdido. O jogador da Roma fez um primeiro tempo impecável e foi o melhor em campo ao lado de Iniesta, que recebeu a honraria da Uefa.

O preciosismo espanhol na hora da arremate final também foi um ponto negativo. A Espanha foi técnica e envolvente, mas quase sempre preferiu o passe ao chute. Xavi, Iniesta, Fàbregas e Silva entravam tocando e promovendo intensa movimentação, mas demoravam a concluir. Algo que vem chamando a atenção desde a Copa do Mundo, mas que Del Bosque insiste em continuar deixando passar batido. Diante de uma Itália que defendia no 5-3-2 – com De Rossi na sobra da zaga e os laterais Maggio e Giaccherini mais contidos – e só arriscava nos passes longos de Pirlo para Balotelli e Cassano, a campeã europeia e mundial não encontrava soluções ofensivas. Com  Arbeloa e Jordi Alba muito conservadores no apoio e Xabi Alonso organizando de trás, não havia o elemento surpresa para desmontar a marcação. 

Xavi, fora de sua posição no 4-3-3 espanhol, passou despercebido. Quem também decepcionou foi David Silva. Apesar da assistência linda para Cesc marcar, o camisa 21 pode atuar melhor do que ontem. Outro emblema da seleção é o fato de não aproveitar uma das principais jogadas do Barcelona. Enquanto os blaugranas são avassaladores e esmagam seus adversários por aproveitaram, à perfeição, as entradas em diagonais e as infiltrações pelos flancos, na Fúria a jogada inexiste. Para muitos, o principal motivo para os catalães golearem e a Fúria ser mais pragmática. Quinta-feira, a Espanha volta a campo e espera espantar todas as dúvidas colocadas em xeque após o empate na estreia. Enquanto isso, as dúvidas também permanece sobre a escalação. Del Bosque vai fazer jus às palavras e não jogar com um falso nove?

Um comentário:

  1. É. Convocar 3 centroavantes para NENHUM ser titular é estranhissimo.

    Tava pensando, o 3-1-3-3 alá Guardiola, abrindo o campo: Abrir jogadores nas linhas laterais e preenche o meio campo com um numero considerável de jogadores. Sempre com superioridade numérica ao adversário.

    já pensou?É ruim hein, hahaha. Mas se não tem
    as entradas em diagonais e as infiltrações pelos flancos é uma opção.

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