quarta-feira, 4 de maio de 2011

De volta ao lugar da consagração

O Barcelona comemorou, de uma vez só, a passagem para a final e a volta de Abidal aos gramados (reuters)

A Liga dos Campeões desta temporada já reservou partidas memoráveis. Depois do duelo entre Arsenal e Barcelona e Bayern Munique e Inter, Barcelona e Real Madrid protagonizaram um confronto que entrou para a história da competição. A intensidade do confronto era tão grande que mesmo após a absoluta vantagem obtida na ida, o Barcelona ainda não era cravado por boa parte da crítica como um dos finalistas. Após parar no muro de José Mourinho e sua Inter, os blaugranas voltam a ter grande dimensão europeia e irá encarar um velho conhecido na final: o Manchester United, adversário de seu último título de Champions League, em 2008-2009. Dezenove anos depois de comemorar seu primeiro título europeu contra a Sampdoria de Vialli e Roberto Mancini, com gol de Ronaldo Koeman de falta, o Barcelona volta ao estádio de sua consagração: o mítico Wembley, em Londres, será o palco de Barcelona x Manchester United.

A partida de ontem já seria histórico "apenas" por isso, mas a forma como os blaugranas se classificaram ante o Real Madrid impõe ainda mais peso à conquista: precisando tirar uma vantagem de dois gols para ir à final, o Real Madrid entrou em campo totalmente ofensivo, mas não conseguiu chegar com muito perigo à meta de Valdés nos primeiros quarenta e cinco minutos. Pelo contrário: foram os azulgrenás quem atacaram como se estivessem precisando do resultado. Até por isso, Casillas foi o grande nome dos primeiro tempo, quando parou Messi, duas vezes, e Villa. Durante todo o primeiro tempo, o ímpeto do Barcelona foi claramente maior do que o Real Madrid, que, acanhado, apenas rezou para Casillas parasse os frequentes ataques do Barcelona. Os blancos começaram a partida marcando a saída de bola do Barcelona, empurrando o adversário para o campo defensivo e forçando erros de passe pouco característicos da equipe catalã. Mesmo com a forte pressão inicial, a equipe merengue não conseguiu traduzir o domínio territorial em chances claras de gol.

O Barça desta temporada tem mostrado, em algumas partidas, que tem a capacidade de ser atacado a exaustão, oferecendo poucas oportunidades para seus adversários, já que deixa poucos espaços para que a bola seja trabalhada pelos adversários. Especialmente ontem, foi essencial a participação de Puyol, que mais uma vez atuou com o coração na mão na lateral esquerda. Por ali, Di María, na primeira etapa, e Cristiano Ronaldo, na segunda etapa, pouco fizeram para levar perigo pelo setor. Kaká, mais centralizado, foi figura tão anulada quanto Özil, que substituiu o brasileiro no segundo tempo. Ontem, a expectativa era de que o alemão começasse a partida como titular. Entretanto, depois de uma reunião entre José Mourinho e o presidente Florentino Pérez teria sido decidido que Kaká seria escalado.

No final do jogo, Guardiola ainda deu chances para Abidal, que substituiu el capitán. O francês, que entrou ovacionado pelos aficionados culés em campo, voltou aos gramados menos de dois meses depois de se recuperar de um tumor no fígado. Guardiola, mais uma vez, esteve em foco: após vencer o confronto contra José Mourinho, que não assistiu à partida em um hotel, o treinador não teve nem muito tempo para comemorar, pois partiu em um voo rumo a Manchester, para acompanhar o Manchester United encarar o Schalke 04. A mentalidade vencedora do Barcelona no campeonato espanhol ampliou-se em solo nacional e também se mostra presente em solo continental: em quatro temporadas, os blaugranas estiveram em quatro semifinais e, contando com essa, duas finais. Os merengues ainda ensaiaram pressionar como fizeram no início dos dois tempos, mas logo o Barça se assentou e passou a administrar o jogo longe de seu próprio gol. As longas trocas de passes foram provocando faltas e mantinham a equipe segura na defesa para garantir o resultado favorável.

Se, na eufórica vitória barcelonista, Guardiola e Messi podem ter saído como os principais artífices e vencedores, certamente há também o principal perdedor do lado merengue. Cristiano Ronaldo, que passou a ser cobrado pela torcida blanca por uma atuação convincente na Champions, novamente foi figura decepcionante contra o Barcelona e, além de ser eliminado, certamente deixou o caminho livre para o extraterrestre Messi poder comemorar o seu terceiro título de melhor jogador do mundo. Embora a postura defensiva de Mourinho não ajudou para que o futebol de Cristiano Ronaldo aparecesse, em cinco jogos contra os blaugranas na temporada o meio-atacante português foi nulo (à exceção da final da Copa, quando marcou o gol do título).

Enquanto Cristiano Ronaldo fracassa em superclássicos, Messi só brilha: após os dois gols no jogo de ida, La Pulga foi um verdadeiro demônio para a defesa remendada do Real Madrid ontem, sendo responsável pelo cartão amarelo a Ricardo Carvalho e Lassana Diarra, que não "tiraram os pés" das divididas. O maior artilheiro europeu da temporada não ajuda sua equipe apenas com gols, mas com o coletivo: na temporada, já são vinte e duas assistências - poderia ser vinte e três, se Casillas não tivesse feito uma defesaça em chute de Villa, no primeiro tempo. No 4-3-1-2 de Guardiola, o argentino desempenha uma função mais cerebral e mais preocupada com a armação das jogadas: se com Frank Rijkaard e o 4-3-3, Messi ficava mais preso à direita, com Guardiola é notável que seu futebol cresceu, passando a assumir mais a função de homem-gol da equipe, principalmente após a saída de Eto'o.

Na segunda partida das semifinais da Champions League, o Barcelona teve 64% de posse de bola, contra apenas 36% do rival. Desde que Guardiola treina a equipe, há dois anos e meio, o Barça sempre tem mais posse que seus adversários. Mas foi outro dado que chamou mais a atenção: juntos, os três jogadores da linha de três do meio-campo do Barcelona – Xavi, Busquets e Iniesta – acertaram 263 passes. Mais do que todo o time do Real Madrid, que acertaram 261. Xavi acertou 123 dos 134 passes dados na partida, com 92% de aproveitamento. O jogador do Real Madrid que acertou mais passes foi Lass Diarra, com 37. Xavi também aparece em destaque na lista dos jogadores que mais correram. O ‘motor’ do Barcelona percorreu 11.417 metros em campo. Na segunda colocação, ficou Xabi Alonso, do Real Madrid, por 11.154 metros. O atacante Pedro Rodríguez, autor do gol do Barcelona, percorreu 10.695 metros e ficou em terceiro lugar na lista.

Com a moral em alta após a classificação para Wembley e a calorosa festa feita por cinco mil torcedores em Canaletes, centro da cidade de Barcelona, em plena madrugada, o Barcelona receberá o rival Espanyol no final de semana para comemorar o provável primeiro título da temporada: no derby barceloní, basta uma simples vitória ante os péricos e uma derrota do Real Madrid para o Sevilla na Andaluzia para a festa do tri-campeonato ser feita. Agora, mais do que tudo, é fato que os comandados de Guardiola se concentrarão na grande final, em que entrará em campo, ao contrário de Roma 2009, como favorito. Sonhar tão alto é possível.

Barcelona 1x1 Real Madrid
Barcelona
: Valdés; Daniel Alves, Piqué, Mascherano e Puyol (Abidal); Xavi, Busquets e Iniesta; Pedro (Afellay), David Villa (Keita) e Lionel Messi. Técnico: Josep Guardiola.
Real Madrid: Casillas; Arbeloa, Ricardo Carvalho, Albiol e Marcelo; Lass Diarra; Xabi Alonso, Cristiano Ronaldo, Kaká (Özil) e Di María; Higuaín (Adebayor). Técnico: José Mourinho.
Árbitro: Frank de Bleeckere (BEL)
Gols: Pedro (Barcelona); Marcelo (Real Madrid)
Cartões Amarelos: Pedro (Barcelona); Ricardo Carvalho, Lass Diarra, Xabi Alonso, Marcelo, Adebayor (Real Madrid)

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