domingo, 29 de maio de 2011

Getafe Dubai Team

Sheikh Butti bin Suhail al Maktoum prometeu uma série de medidas para montar um Getafe mais forte. Terá sucesso? (guardian)

"Aumentar o orçamento anual de € 40 milhões para até € 65 milhões para permitir ao clube concorrer todas as temporadas por vagas em competições europeias". É esse o discurso básico da Royal Emirates, grupo de investimentos com sede em Dubai e presidido pelo xeique Butti bin Suhail al Maktoum, ao anunciar a compra do Getafe. Parece bonito, soa mais como ação profissional que como excentricidade de algum trilionário mimado do Oriente Médio cansado de brincar com sua coleção de Ferraris. Pode até ser, mas difícil imaginar como essa conta vai fechar.

No anúncio do negócio, Ángel Torres, presidente do Getafe (continuará no cargo), afirmou que serão investidos cerca de € 90 milhões nos primeiros três anos (valor extra, além do que o clube normalmente já dispõe de suas fontes tradicionais de renda). Normalmente, o Azulón se vira bem com menos que isso, mas, se quiser se equiparar ao grupo de clubes que costumam povoar essa parte da tabela, o valor prometido pode ser insuficiente. Não há dúvidas que Real Madrid e Barcelona são as duas potências destacadas do país e, salvo alguma temporada catastrófica, quase sempre terão duas vagas na Liga dos Campeões. Desse modo, o segundo grupo briga por duas vagas na LC (economicamente, as duas da Liga Europa só servem de consolo). Nesse pelotão está o Atlético de Madrid, 17º no relatório das finanças do futebol preparado pela consultoria Deloitte, com receitas de € 124,5 milhões na última temporada. O Sevilla foi o 24º, com € 99,6, seguido pelo Valencia, que faturou € 99,3. O Villarreal, outro concorrente desse grupo, não entrou no top 25 do ranking.

Em uma temporada ou outra, até é admissível que o Getafe consiga disputar em campo com esse quarteto, mas a tendência é que fique para trás. Ou seja, os tais € 65 milhões anuais não colocariam o clube madrileno no grupo dos que brigariam sempre pela LC. Ou os árabes colocam mais dinheiro, ou o clube viverá de um ou outro ano em que as peças se encaixam. Aos poucos, a conta fica mais difícil de fechar. Sem participações constantes em copas continentais, o faturamento é limitado ao Campeonato Espanhol e à Copa do Rei. Na temporada 2009/10, o Getafe ganhou € 18 milhões da TV. É menos que qualquer um dos quatro integrantes do segundo grupo (que estão entre € 42 e 24 milhões), mas dificilmente o clube conseguirá melhorar muito esse valor. O Athletic Bilbao, com muito mais torcida e tradição, leva apenas € 17 milhões. Os azulones estão à frente por representarem o mercado de Madri, mas mesmo nesse quesito podem perder força, devido à provável promoção do Rayo Vallecano.

Outro caminho seria aumentar o faturamento em bilheteria. A ideia, porém, soa surreal. Até o início de maio, a média de público do Getafe era de 10.916 pagantes, a pior do Campeonato Espanhol. Não é fácil imaginar uma melhoria significativa disso. Primeiro, porque o clube tem de conviver com a forte concorrência de Real Madrid e Atlético na cidade e sua torcida é realmente pequena. Segundo, porque o Coliseum Alfonso Pérez tem capacidade para apenas 17 mil pessoas. A prefeitura de Getafe, dona do estádio, já disse que os investidores poderiam bancar uma nova arena, mas seria mais custo para esse projeto árabe. A venda de jogadores também não traz otimismo, ainda que os investidores árabes tenham chegado para reduzir esse problema. O Getafe sempre fez boas campanhas com elencos baratos, mas não é um grande vendedor em comparação com Sevilla e Valencia. Apenas duas transações estiveram acima de € 10 milhões (e passaram raspando) e nenhum dos jogadores envolvidos é prata-da-casa ou teve o clube como primeira parada dentro do futebol espanhol, sinal da ineficiência das categorias de base getafistas.

Com essas dificuldades, os azulones ainda têm esperança, olhando para o exemplo do Villarreal. De fato, ambos são clubes de orçamentos pequenos. Mas as semelhanças não vão muito além disso. O Submarino Amarillo já tem larga experiência em trabalhar nesse mercado, é gerido por um empresário que conhece as nuances do futebol espanhol, conta com categorias de base organizadas há vários anos e tem uma torcida razoável por ser o único representante forte de sua região (a média de público é de quase 19 mil, maior que o estádio getafista). Desse modo, o investimento dos árabes no Getafe – um pensamento que vale também para Málaga, pertencente a um xeique do Catar, e Racing de Santander, comprado por um empresário indiano – não tem perspectiva de retorno direto. A estrutura do futebol espanhol simplesmente não dá espaço para um pequeno virar um novo-grande, como é até possível na Inglaterra, na Alemanha e na Rússia. Ou o objetivo é fazer barulho e ter retorno pela repercussão, ou é realmente um luxo de algum trilionário cansado de suas Ferraris. Pode ser bom para a torcida do Getafe em curto prazo, mas não tornará o Campeonato Espanhol mais ou menos competitivo como um todo.

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