quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pós-jogo: Real Madrid 0x2 Barcelona

Treinadores em foco: Guardiola preferiu responder a Mourinho em campo e provou estar certo. O Barcelona, com a vitória, está mais próximo que nunca da final em Wembley (reuters)

O dia 27 de abril de 2011 já pode ser inscrito na história do Barcelona. Se, de uma hora para outra, o Real Madrid invertou o outro lado da moeda, ao chegar "favorito" para o confronto da Champions, o Barcelona mostrou por que não deve ser "subestimado". Ontem, Josep Guardiola demonstrou estar certo ao afirmar, na coletiva, para José Mourinho que a resposta ao gajo seria dado em campo. Mesmo com a notícia de que jogaria sem o lesionado Iniesta, que caiu como uma bomba em Barcelona, Guardiola recuperou Puyol e armou seu Barcelona com maestria para o terceiro dos quatro confrontos contra o rival Real Madrid. Assim, os azulgrenás jogaram muito bem contra os blancos e impusseram ao Real Madrid uma dura derrota por 2 a 0, dando um sólido passo rumo à final em Wembley.

Sem Ricardo Carvalho, melhor zagueiro merengue na temporada, Mourinho voltou a escalar Pepe na volância e deu mais uma chance a Raúl Albiol, que havia cometido pênalti infantil no confronto da Liga. Na parte ofensiva, Cristiano Ronaldo voltou a atuar como falso nove, enquanto Özil e Di María jogavam no suporte ao gajo. O camisa sete merengue, assim como o turco-alemão, fez uma péssima partida e pouco contribuiu para que sua equipe levasse perigo ao gol de Víctor Valdés, a não ser em um chute de longa distância ao final da primeira etapa. O Real Madrid começou a partida repetindo a marcação agressiva da final da Copa do Rei. Só que depois de cinco minutos de desarmes no início das jogadas do Barça, o time catalão passou a não arriscar bolas em profundidade e apenas trocou passes laterais para não correr riscos, esfriando o ímpeto merengue.

Villa, que no último final de semana, contra o Zaragoza, havia quebrado um incômodo jejum de onze partidas sem marcar, foi o primeiro a ameaçar as redes de Casillas. Caindo pelo lado direito, El Guaje deixou Marcelo e Raúl Albiol para trás e chutou de canhota rente à trave direita do capitão blanco. Dois minutos depois, Xavi arriscou de fora da área para defesa de Casillas. A linha de meio-campo do Real Madrid então recuou e o Barça passou a implementar seu toque de bola paciente e cadenciado. O time de Guardiola tinha dificuldades para encontrar espaços na bem organizada defesa do Real, mas aos poucos a movimentação de Messi passou a dar alternativas aos meio-campistas responsáveis pela transição da defesa para o ataque

Aos 24 minutos, Messi começou a aparecer e deu passe dentro da área para Xavi, que bateu no canto esquerdo para boa defesa do goleiro merengue. Messi participava do jogo ativamente recebendo a bola na região da intermediária, mas se a primeira linha de marcação dos blancos já haviam se mostrado difícil de quebrar, a última também resistia bravamente. Assim, o Barcelona conseguiu várias vezes cercar a área merengue, mas só penetrou na área com perigo uma vez. Aos 38 minutos, a primeira grande confusão no gramado em Madri: Pedro foi derrubado por Arbeloa e Daniel Alves foi caçado por Özil, enquanto Piqué e Sérgio Ramos discutiram rispidamente. Sobrou para Arbeloa, que recebeu cartão amarelo. A tensão voltou a tomar conta de todos na saída para os vestiários, com Keita, Pinto, Valdés e Milito discutindo com o delegado do Real Madrid, o ex-jogador Chendo. O goleiro reserva do Barcelona acabou sendo expulso pelo árbitro alemão Wolfgang Stark.

Na segunda etapa, Mourinho resolveu mudar seu 4-3-2-1 sem um centroavante de ofício para colocar Adebayor no lugar de um apagada Özil. Dessa forma, Cristiano Ronaldo voltou à sua função original, mas seu futebol continuou sem aparecer. O Real Madrid exerceu uma pequena função e parecia perto do 1 a 0, porém Pepe jogou tudou por água abaixo. Daniel Alves foi afastar a bola da defesa e Pepe entrou com a sola da chuteira em sua canela. Cartão vermelho direto para o luso-brasileiro e expulsão também do técnico José Mourinho, pela reclamação. Aos 17 minutos da segunda etapa, o Barça tinha um jogador a mais. A saída de Pepe teve efeito imediato sobre o jogo, com o Barcelona bem mais confortável nas trocas de passes e fazendo a bola chegar aos seus homens de flanco em boa posição para a jogada individual. Foi assim que o Barça chegou à abertura do marcador.

Aos 31 minutos, Afellay, que havia entrado no lugar de Pedro, deixou Marcelo, que escorregou no lance, para trás e cruzou para Messi, que antecipou-se a Sergio Ramos e finalizou por debaixo das pernas de Casillas para inaugurar o marcador. O holandês, autor da jogada do gol, mudou a cara da partida ao entrar em campo e, já há algum tempo, vem merecendo a vaga na equipe titular. Autor de boas partidas, Afellay, tímido (literalmente) quando chegou à Catalunha, parece ter se adaptado ao esquema de Guardiola e sempre entra bem quando o treinador o coloca em campo. Depois do gol, o Real Madrid chegou a esboçar uma reação com muita correria e pouca criatividade, mas logo o Barça voltou a controlar a partida e trocar passes para administrar o placar. Ainda houve tempo para Messi mostrar sua genialidade em um grande lance que ampliou a vantagem blaugrana.

Aos 43 minutos, Messi arrancou da intermediária, passou por Lass Diarra, Sérgio Ramos, Raúl Albiol e Marcelo e tocou na saída de Casillas, sacramentando o superclássico e colocando o Barcelona a um passo de Wembley. Nos minutos finais, Guardiola promoveu a estreia do canterano Sergi Roberto no lugar de um onipresente Villa, que passou a jogar mais aberto pela esquerda na segunda etapa. Com os gols sofridos no Santiago Bernabéu, o Real Madrid não igualará a marca do Milan campeão de 1992/1993, que não tinha levado gols em casa pela Liga dos Campeões.

Dos que decidiram
Messi foi o autor dos gols vitoriosos, quebrando a maldição de nunca ter marcado em jogos de semifinais de Champions e chegando a onze tentos na atual edição da Champions League, artilheiro isolado. Pela terceira vez consecutiva, é de se esperar que, ao final do ano, La Pulga ganhe o prêmio de melhor jogador do mundo novamente. Artilheiro da Liga Espanhola, da Copa do Rei e da principal competição europeia, o argentino a cada ano se supera: na atual temporada, La Pulga já marcou 52 gols, superando uma marca surreal de Ferenc Puskás e tornando-se o único jogador de uma temporada espanhola a chegar em tal casa de gols. São, além de 52 gols, 23 assistências em 50 jogos, totalizando uma participação direta em 75 gols do Barcelona nesta temporada. Como bem definiu Wágner Sarmento, Messi é um adjetivo. Sinônimo de maior.

Messi que com apenas 23 anos figura para ser o melhor (e, por que não, o maior), da história, superou o número de gols de um mito do barcelonismo, Samitier, com o doblete ante o Real Madrid. Com 175 gols, apenas Kubala e César estão à frente do argentino na artilharia do Barcelona. Outra marca magistral de Messi é ter sido o único jogador da história do superclássico a marcar pelo menos um gol em quatro jogos consecutivos na casa do rival. No total, são onze gols contra o Real Madrid, sendo seis no Bernabéu. Segundo Ronaldo, o segundo gol marcado por Messi ante o Real Madrid foi algo de PlayStation. Já Szczesny, que também já sofreu com Messi, mostrou não ter mágoas do argentino e, forçando um pouco a barra, escreveu no twitter: "é o melhor da história".

Na coletiva pós-jogo, como não deveria deixar de ser, Mourinho ironizou a expulsão de Pepe e o cartão amarelo de Sergio Ramos, que o tira da partida de volta e ainda colocou em xeque o último título europeu do Barcelona, o que causou revolta dos barcelonistas: "por que expulsaram Pepe, Thiago Motta e Van Persie e deram um cartão a Sergio Ramos, sendo que eles não fizeram nada? Eu tenho dois títulos europeus conquistados no esforço, e teria vergonha se tivesse conquista um igual Guardiola conquistou em 2009". As palavras do técnico de Setubal, que chegou a falar da parceria do Barcelona com a Unicef, foram interpretadas com indignação no mundo barcelonista, que denunciaram o técnico ao Comitê Disciplinar da Uefa. Apesar de Mourinho não ter aceitado a derrota, Guardiola provou que fez certo ao falar, na coletiva, que daria a resposta ao português em campo. Faltando sete jogos para o fim da temporada (seis, caso o Barcelona seja eliminado pelos merengues), a equipe blaugrana pode ter o gostinho de comemorar o doblete: LC e Liga BBVA.

Se o sonho da Tríplice Coroa se dizimou após a perda da Copa do Rei, os aficionados culés seguem eufóricos com a provável chance de ver o Barcelona ser tetracampeão europeu. Neste momento, antes mesmo de a temporada acabar, há de se reconhecer novamente o fantástico trabalho de Guardiola, que desmentiu estar com seu ciclo no Barcelona chegando ao fim, após uma entrevista a um jornalista da emissora italiana RAI. Um treinador que, pouco tempo atrás, antes mesmo de assumir a equipe principal do Barcelona, já mostrava seus dotes de bom técnico ao levar o Barcelona à Segunda División B. Agora, com um time desenhado taticamente por ele; com um 4-3-1-2 montado por ele para dar, especialmente, liberdade para Messi criar; com jogadores que atuam com seu perfil, dedicando-se inteiramente a um jogo de sacrifício pelo coletivo, Josep Guardiola continua firme para conquistar sua segunda Liga dos Campeões em menos de três temporadas. E, também, não há dúvidas de que este Barcelona foi construído por ele. Como bem definiu Pedro Venancio, "há quem diga que Guardiola não faria em outro clube o que faz no Barcelona. Mas não precisa. Mesmo que perca a vaga para a decisão, o que é muito improvável, Pep já está na história".

Real Madrid 0x2 Barcelona
Real Madrid: Casillas; Arbeloa, Sérgio Ramos, Albiol e Marcelo; Pepe, Lass Diarra e Xabi Alonso; Özil (Adebayor), Cristiano Ronaldo e Di María. Técnico: José Mourinho.
Barcelona: Valdés; Daniel Alves, Piqué, Mascherano e Puyol; Xavi, Busquets e Keita; Pedro (Afellay), David Villa (Sergi Roberto) e Lionel Messi. Técnico: Josep Guardiola.
Árbitro: Wolfgang Stark (ALE)
Gols: Messi e Messi (Barcelona).
Cartões Amarelo: Arbeloa, Sérgio Ramos, Adebayor (Real Madrid); Daniel Alves, Mascherano (Barcelona).
Cartões vermelho: Pepe, José Mourinho (Real Madrid); José Manuel Pinto (Barcelona).

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