quinta-feira, 21 de abril de 2011

Jogadores Históricos: Bernd Schuster

Como jogador, Schuster jogou no Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid. E foi respeitado nos três clubes (abola)

Na infância, Schuster gostava de pegar a bola da defesa e levá-la ao ataque carregando a responsabilidade de desarmar o adversário e construir uma possível jogada de gol. Em seu time do bairro, ele fazia isto com precisão e técnica fantástica: a técnica é dom, já a precisão foi aprendida vendo televisão.

A inspiração vinha do Bayern Munique tricampeão da Liga dos Campeões (1974, 1975 e 1976). O líder daquele time esbanjava uma habilidade em desarmar o adversário e construir uma possível jogada de gol. Franz Beckenbauer foi exemplo para muitas crianças alemãs que passaram a querer jogar numa posição diferente: líbero. Schuster começou a gostar de futebol vendo o grande ídolo jogar e logo foi tentando imitá-lo nos campinhos em Ausburgo. Outra feição de Beckenbauer atraía Schuster: sua imponência dentro das quatro linhas. O jogador do Bayern tinha uma postura real, vestia o uniforme, calçava as chuteiras e dominava. Um imperador digno. Esta mística de império e magnificência fazia com que Schuster se identificasse, pois tinha uma personalidade introvertida e sensível e que desaparecia quando o juiz soprava o apito e a partida iniciava. O então garoto se sentia o próprio Kaiser, desfilando nobreza com a bola nos pés.

Um iluminado treinador do time da cidade natal, FC Ausburg, viu no líbero um aspecto tangível e que poderia ajudar o time em outra posição. Schuster já demonstrava excelente visão de jogo e passes milimetricamente no alvo, perfeito para jogar no meio-campo. Pois bem, assim foi que ocorreu. O aspirante a imperador se tornou o responsável por armar as jogadas do time e o resultado acabou sendo altamente satisfatório. Ele se tornou um jogador com uma fina qualidade no controle/domínio da bola e manteve a força e agressividade necessária que utilizara quando líbero, uma combinação rara. Porém antes do bárbaro ir ao território estranho, deixou sua marca no seu país. O primeiro clube como profissional foi o Köln. Logo na temporada de estreia ele foi campeão alemão, jogando 24 vezes e marcando um gol. Mais um ano foi suficiente para atrair interesses de outros clubes e, após subjugar Colônia e entregar ao clube o último título nacional até o presente momento, partia Schuster à Cidade Condado, como é conhecida Barcelona.

Uma nova era, um novo tempo. Foram oito anos defendendo as cores azulgrená. Diversos títulos, muito sucesso, muitas desavenças. O temperamento bipolar de Schuster criava reações misturadas que flutuavam entre pontos opostos. Uns o “endeusavam”, outros o odiavam. Uns o admiravam, outros o menosprezavam. Alguns lhe rotularam de “Jogador Brasileiro” o que atesta o quanto ele era bom (marca que Beckenbauer recebeu antes de ser chamado de Imperador/Kaiser).

Schuster vivia tempos de tranquilidade somente quando estava em campo e não levava em consideração críticas ou elogios. Eram momentos nos quais ele se desligava de tudo e fazia o que sabia melhor. Seu relacionamento fora de campo sofria questionamentos, mas sua função era totalmente desempenhada nos 90 minutos de jogo. Seja lá quem foi, entretanto, o autor do seu apelido na Espanha, o caracterizou perfeitamente: Dom Bernardo. Schuster tinha mesmo certa áurea aristocrática em volta de si. Quem conviveu de perto com o jogador diz que ele era afável e atencioso, um amigo. Outros argumentam que não tinha nada disto. Certamente o Dom Bernardo alemão sofria típicos comentários que nobres recebem: ou é tudo, ou é nada. Para manter o nível, Schuster não se portava tão democrático nem tampouco político, mostrava traços de totalitarismo e buscava seus próprios interesses fora de campo.

Muitas brigas e discussões com a diretoria do Barça fizeram com que Dom Bernardo saísse do condado catalão e se transferisse para o inimigo. Está aí um exemplo de que ele não escutava muitos conselhos. O controverso ídolo do Barcelona diretamente se transferiu para o maior rival e Schuster decide esbanjar seu dom no Real Madrid. Na equipe merengue jogou duas temporadas e conquistou quatro títulos. Ele chegou num tempo que o time madrileño estava com dois grandes atacantes que marcaram época: Hugo Sanchéz e Emilio Butragueño. Dom Bernardo assumiu o posto de comandante e alimentava ambos com passes açucarados e jogadas na medida exata. O resultado disso foram dois históricos campeonatos espanhóis com um dos melhores e mais empolgantes ataques que La Liga já presenciou.

Dom Bernardo atingiu mais um nível de sucesso, agora energizado com muita popularidade. Em Madrid Schuster tinha paz fora de campo, bem diferente da transição céu-inferno vivida em território catalão. Gozava de um prestígio monárquico na capital espanhola que sua ida ao rival foi suave (em comparação ao ocorrido no episódio Barça-Real). O ceticismo dos torcedores do Atlético de Madrid se concentrava na idade do jogador, passado dos 30 anos. Por mais que ele não tinha a juventude dos tempos em Barcelona, seu dom permanecia nele. O descrédito passou a ser euforia, pois Schuster transformou por completo o clube rojiblanco, que durante sua estadia foi duas vezes campeão da Copa del Rey e vice em La Liga.

Schuster conseguiu o que poucos nem chegaram perto: jogar nos três grandes clubes da Espanha. E não só isto, em todos ganhou títulos, fãs e admiração. O alemão foi bem acolhido pelo país estrangeiro e sofreu algumas represálias que podem ser consideradas normais. Sua carreira no país atual campeão do mundo lhe rende boas lembranças e um sentimento único de conquista. Para vestir essas três camisas e ser respeitado, é preciso ter o dom.

Bernd Schuster
Data de nascimento: 22 de dezembro de 1959
Posição: Meio-campo
Clubes como jogador: Köln (1978 a 1980), Barcelona (1980 a 1988), Real Madrid (1989/90), Atlético de Madrid (1990 a 1993), Bayer Leverkusen (1993 a 1996) e UNAM Pumas (1996/97)
Títulos como jogador: 1 Bundesliga: (1978), 3 La Liga (1985, 89 e 90), 6 Copas do Rei (1981, 83, 88, 89, 91 e 92), 1 Recopa Europeia (1982) e 1 Eurocopa (1980)
Clubes como treinador: Köln (1997/1998), Köln (1998/99), Xerez (2001 a 2003), Shaktar Donetsk (2003/04), Levante (2004/2005), Getafe (2005 a 2007), Real Madrid (2007/08) e Besiktas (desde 2010)
Títulos como treinador: La Liga (2007-08)

2 comentários:

  1. Lembro dele, como treinador do Getafe, revertendo um placar de 5 a 2 contra o Barcelona... virou mito em Getafe.

    Abraço!

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  2. É verdade, João. Foi após esse jogo que Schuster passou a ter seu nome fortemente especulado no Real Madrid, onde retornaria para ser campeão espanhol.

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