sexta-feira, 11 de março de 2011

Brasileiros na LFP: Rivaldo

Poucos honraram tanto essa camisa 10 quanto o brasileiro Rivaldo
(fcbarcelonaweb.com)

Infância pobre, começo em time pequeno, dificuldades financeiras, estrelato meteórico, sucesso em Barcelona, craque vital na Copa do Mundo, volta ao Brasil para encerrar a carreira. A trajetória tem pontos de semelhança com o Fenômeno Ronaldo, mas Rivaldo prefere não ter tanta exposição assim...

Camisa #10 da seleção brasileira em duas Copas, Rivaldo sempre foi taxado de "jogador à moda antiga", mais parecido com os meias articuladores da década de 1960/70 do que com seus contemporâneos de final de século, como Nedved, Zidane e Luís Figo. Até por isso, o pernambucano nascido em Paulista, em 19 de abril de 1972, demorou a ter o reconhecimento de público e mídia, principalmente no Brasil.

O início no futebol pernambucano teve pouco destaque a nível profissional. Rivaldo foi bem mesmo na Copa São Paulo de futebol junior em 1992, vestindo o manto tricolor do Santa Cruz. O bom desempenho levou o meia canhoto para o Mogi Mirim, onde fez parte do "Carrossel Caipira" ao lado de Válber e Leto - equipe campeã da segundona paulista do mesmo ano. O Carrossel mudou-se por empréstimo para o Corinthians, após o meia ter feito um antológico gol do meio-campo, um de seus dez com a camisa do Sapão.

No Timão, Rivaldo ganhou a Bola de Prata da placar como atacante no Brasileirão 1993, mas o fraco início da temporada seguinte acabou com as chances do pernambucano irem para a Copa dos EUA, apesar de ter estreado com a amarelinha marcando o gol da vitória em um amistoso diante dos mexicanos. A desvalorização do jogo de Rivaldo pesou na hora da negociação entre Corinthians e Mogi Mirim, que não chegaram a um acordo sobre o pagamento de R$2,4 milhões de multa recisória.

Grande clube-empresa da época, o Palmeiras, em parceria com uma multinacional de laticínios, pagou o valor pedido pela direção do clube do interior e levou o pernambucano para o Palestra Itália para transformá-lo em ídolo. Atuando mais recuado, na posição de camisa #10 mesmo, Rivaldo fez 14 gols no Campeonato Nacional - incluindo dois na final diante de seu ex-clube, o Corinthians - e fixou lugar entre os convocáveis de Zagallo até para a Olimpíada de Atlanta, em 1996, onde foi um dos três jogadores acima da idade limite - 23 anos - que podem ser inscritos.

Seus 103 jogos e 54 gols chamaram a atenção do emergente Deportivo Lã Coruña, à época uma mini-colônia de brasileiros do mundo da bola. Donato, Mauro Silva e Bebeto tiveram bons momentos no time da Galícia e Rivaldo chegaria ao Riazor como substituto de Bebeto no clube, já que o atacante voltara ao Brasil para atuar no Flamengo. Seu jogo longitudinal, cabeça erguida sempre em direção do objetivo - a meta do adversário -, causou terror e pânico às defesas espanholas. Com o Depor, Rivaldo faturou o terceiro posto em La Liga, atrás da dupla de gigantes: Barcelona e Real Madrid. Foram 22 gols em 46 jogos pelo time do noroeste espanhol e a troca de patamar de seu status futebolístico.

O Barcelona não ganhava La Liga há três temporadas, desde o final da era dos galáticos do Camp Nou, liderados por Stoichkov e Romário. A responsabilidade era parar um Real Madrid cujo dupla de ataque marcara 45 gols no campeonato anterior - Davor Suker fizera 24 gols e Raúl outros 21. Outro problema de Rivaldo ao chegar no Barça era a perda de Ronaldo, que trocara Barcelona por Milão para atuar com a camisa da Inter, após ter sido o maior goleador da Europa no ano anterior, marcando 47 vezes em 49 jogos.

Os primeiros anos de Barcelona foram de grande sucesso: dois títulos nacionais seguidos logo na chegada ao clube, o segundo no ano das comemorações do centenário do clube, em 1999. Aliás, o penúltimo ano do segundo milênio foi a melhor temporada da carreira do camisa #10. O pernambucano faturou os dois prêmios de melhor jogador do mundo (concedidos pela FIFA e pela revista France Football), além da conquista da Copa América do Paraguai.

Rivaldo só não era unanimidade no Brasil. Tanto que a expectativa da população para a Copa era muito baixa. Mas Rivaldo foi o pilar de sustentação do esquema de Luiz Felipe Scolari, onde Ronaldo consagrou-se artilheiro da Copa com oito gols - os dois da final contra a Alemanha com participação direta do camisa #10.

Em Barcelona, assim como em La Coruña, Rivaldo tem honrarias de craque. Dois títulos nacionais em seis temporadas, marcando 107 gols em 198 jogos, fora os gols antológicos, como a bicicleta nos acréscimos da partida decisiva contra o Valencia, em confronto direto que classificou o Barcelona para a Champions League da temporada 2001/02.

Depois da saída da Espanha, Rivaldo não teve o mesmo brilho. No Milan e no Cruzeiro, passagens rápidas, repletas de lesões. No fraco futebol grego, foram quatro temporadas competitivas, onde foi tricampeão da Liga Grega pelo Olympiakos, além do bicampeonato da Copa da Grécia, mas fracassou na oportunidade única pelo AEK. Da Grécia, o pernambucano rumou para o futebol do Uzbequistão. O Bunyodkor apresentou um grande projeto, levou junto o treinador do penta pela seleção brasileira, mas deu calote a partir da segunda temporada e Rival do saiu fugido para o Brasil.

Quando tudo parecia acabado, já que foram seis anos em campeonatos de pouquíssima divulgação no Brasil, e Rivaldo já tinha inclusive assumido como presidente do Mogi Mirim - seu primeiro time profissional -, veio a surpresa: em um projeto de união entre marketing e profissão, respaldado pelo apoio do capitão Rogério Ceni, o São Paulo acertou com o veterano de 38 anos.

O acerto feito pela direção do Tricolor paulista tem um quê educacional. Com Rivaldo no Morumbi, Lucas, a nova jóia rara produzida pelo CT de Cotia, terá o melhor exemplo treinando à sua frente todos os dias. Afinal, Rivaldo foi um #10 nota 10 em todos os sentidos profissionais. Com a bola à seus pés, poucos fizeram e conquistaram o que o pernambucano de Paulista alcançou. Se não tivesse esse comportamento tão exemplar, quem sabe tivesse destaque ainda maior. Mas Rivaldo gosta mesmo é dos gramados. E a gente respeita isso...

Rivaldo
Nome completo: Rivaldo Vitor Borba Ferreira
Data de nascimento: 19/04/1972
Local de nascimento: Paulista, Pernambuco, Brasil
Clubes: Santa Cruz, Mogi Mirim, Corinthians, Palmeiras, Deportivo La Coruña, Barcelona, Milan, Cruzeiro, Olympiakos, AEK Atenas, Bunyodkor e São Paulo.
Títulos: Uma Liga dos Campeões (2003 - Milan); Um Campeonato Brasileiro (1994 - Palmeiras); Duas La Liga (1997/8 e 1998/9 - Barcelona); Uma Coppa Italia (2003 - Milan); Duas Supercopas Européias (1997 - Barcelona e 2003 - Milan); Três Campeonatos Gregos (2005/6/7 - Olympiakos); Duas Supercopas da Grécia (2005/6 - Olympiakos); Dois Campeonatos Paulistas (1994 - Corinthians e 1996 - Palmeiras); Uma Copa América (1999); Uma Copa das Confederações (1997); e Uma Copa do Mundo (2002).
Prêmios Individuais: Bola de Prata Placar (1993 e 1994); Melhor do Mundo FIFA (1999); Bola de Ouro (1999); Futebolista Europeu do Ano (1999); MVP Copa América (1999); Melhor jogador de La Liga (1998/9); All-Star Team Copa do Mundo FIFA (1998 e 2002); e Melhor Estrangeiro na Grécia (2006 e 2007).

2 comentários:

  1. Esse é gênio. Pena que saiu do Barcelona numa época que os holandeses malditos mandavam lá.

    Belo texto, Bruno. Abraços!

    ResponderExcluir