segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A competência é valencianista

Começo de temporada sem Villa e Silva parecia preocupante para o Valencia, mas clube tem conseguido viver no aperto (AP)

Nos últimos anos, virou praxe a disputa do título ser polarizada entre Barcelona e Real Madrid. Para se ter uma noção maior, da temporada 2000-01 para cá, apenas o Valencia (duas vezes - 2001-02 e 2003-04) conseguiu a proeza de desbancar os dois gigantes do futebol espanhol. A situação "piora" se fomos pensar que, nas últimas seis temporadas, apenas um clube sem ser blaugranas ou merengues conseguiu disputar, de fato, o título da Liga. Este foi o Sevilla de 2006-07, que chegou à última rodada com possibilidades remotas de ser campeão e que terminou aquela temporada com um doblete histórico: campeão da Copa da Uefa (enfrentando o Espanyol na final) e da Copa del Rey (enfrentando o Getafe na final).

Convenhamos que ser comparado ao "Sevilla de uns anos atrás" é um baita elogio, ainda mais a quem havia acabado de perder dois de seus principais jogador. E foi assim que Joaquín Caparrós, técnico do Atlhetic Bilbao, definiu o "novo Valencia", na coletiva após o jogo entre sua equipe e os chés. O treinador andaluz tem sua dose de razão. Óbvio que é muito cedo para ter retratos definitivos sobre os chés desta temporada, mas as primeiras partidas dão sinais positivos. A equipe valenciana lidera La Liga após seis rodadas, com cinco vitórias e um empate. Além disso, mostrou que tem força suficiente para passar pela fase de grupos da Liga dos Campeões, considerando que os adversários não são dos mais ameaçadores (Manchester United à parte, claro).

Um dos grandes méritos foi manter Unai Emery no comando técnico. Responsável pela oitava colocação surpreendente do Almería de 2007-08, Unai teve a missão de revificar o Valencia 2010-11. E, até o momento, tem dado muito certo. O treinador se notabiliza pela criatividade em jogadas ensaiadas, saber trabalhar com orçamento limitado e estudar minuciosamente os oponentes. É evidente que a saída dos Davids teria um impacto fortíssimo no Valencia, mas a base foi mantida e havia caminhos para montar um grupo competitivo. O principal objetivo era recompor meio-campo e ataque, bastente atingidos pelas saídas dos Davids (sem esquecer que a zaga perdeu Marchena).

Para felicidade de Emery, o elenco já contava com algumas boas opções nesses setores. Pablo Hernández já se consolidara como um ótimo meia de armação. Ele ficou à direita, tendo como companheiro de esquerda Mata – que começou como meia aberto, mas vinha jogando de atacante. Se Villa fez história com a camisa sete, esta parece ter algo de bom: o herdeiro Joaquín começou a temporada voando e é um dos grandes responsáveis pela liderança valenciana. Joaquín, porém, se lesionou e, assim como Vicente, não um retorno previsto. Ele será, sem dúvidas, um desfalque sentindo para o jogaço que o Valencia fará na próxima rodada contra o Barcelona, no Camp Nou.

A solução equilibrou o meio-campo, mas o recuo de Mata tirou de vez os atacantes da temporada passada. Aí foi questão de ir ao mercado buscar boas ofertas. A mais inteligente foi Soldado, atacante formado no Real Madrid que acabou indo para times pequenos na impossibilidade de disputar posição com Ronaldo. O centroavante de nome militaresco vinha de duas boas temporadas no Getafe (33 gols em 66 jogos) e poderia dar poder de definição com alguma mobilidade ofensiva. Para completar a dupla de frente, a direção valencianista contratou Áduriz, atacante que até se movimenta um pouco, mas se notabiliza por compensar a limitação técnica com muita entrega na disputa por espaço com os zagueiros. Curiosamente, também fez 33 gols nas duas últimas temporadas (mas fez 69 jogos). Como os dois atacantes têm no cabeceio as suas virtudes, as jogadas aéreas passou a ser praxe.

A troca da dupla Villa-Mata por Áduriz-Soldado fez o jogo ofensivo do Valencia ficar mais centrado no meio, mas merece algum respeito. Considerando que o setor defensivo não teve grandes perdas (Ricardo Costa chegou para o lugar de Marchena), os valencianistas têm potencial para brigar no segundo pelotão da Espanha e superar Bursaspor e Rangers na disputa da fase de grupos da Liga dos Campeões. Por enquanto, tem sido suficiente para liderar a liga. Dificilmente esse cenário se manterá. A tabela tem sido gentil com o Valencia (venceu Málaga, Racing de Santander, Hércules, Sporting de Gijón e Athletic Bilbao, todas equipes acessíveis, e empatou em casa com o único oponente realmente forte, o Atlético de Madrid) e o elenco não é denso o suficiente para suportar as inevitáveis contusões e suspensões de jogadores importantes ao longo da temporada.

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