quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Caçula sujo

Problemas grave para o Hércules. A comemoração pode ter sido à toa (AS)

Contratação do serviço de coleta de lixo nas cidades é motivo comum de escândalo de corrupção ou mau uso de dinheiro público. Por isso, não chega a ser inusitado ver um empresário como Ángel Fenoll acusar a concorrente Urbaser de suborno a vereadores e ao prefeito de Orihuela (cidade vizinha à Alicante). Era março de 2006. A polícia começou a investigar e descobriu um esquema muito maior, no que ficou conhecido como Caso Brugal (de “Basuras Rurales Gestión Alicante”).

Mais de quatro anos depois do escândalo estourar, as autoridades seguiam prendendo responsáveis e revelando fatos novos. E um deles causou surpresa: na gravação de uma conversa telefônica, um jogador do Hércules – principal clube alicantino – estaria subornando o Córdoba, que se deixaria vencer na partidas que as equipes fariam na 36ª rodada da segunda divisão 2009/10. O Hércules precisava dos três pontos para não perder terreno diante de Levante e Cartagena, o que ocorreu após a vitória por 4 a 0. Em outra parte das gravações, os herculanos também dariam uma “mala preta” para incentivar o Gimnàstic contra o Betis, concorrente direto na competição. O time de Tarragona perdeu por 1 a 0.

Ao final das 42 rodadas, o Hércules ficou na segunda posição, empatado em pontos com Levante e Betis (este último não subiu por perder no confronto direto entre os três times). O Córdoba ficou na décima colocação, sem risco de cair para a terceira divisão. O Nàstic foi 18º, um ponto acima da zona de rebaixamento.

O Tribunal Superior de Justiça da Comunidade Valenciana (onde está Alicante) decidiu não considerar as gravações que comprometeriam o time blanquiazul. No último dia 3, o Hércules publicou um comunicado em que nega as acusações, além de apontar para a possibilidade de plantação de provas. O Gimnàstic negou ter aceitado “mala preta”, apontando o fato de ter perdido para o Betis e vencido o Hércules como evidência. O Córdoba reclama do dano à imagem de Raúl Navas, seu goleiro e apontado como responsável pela intermediação ao lado de Tote (ex-Real Madrid e atacante herculano).

Aí o Betis resolveu entrar no caso, exigindo reabertura do caso de olho em uma punição, que daria a ele a vaga na elite espanhola. A torcida do Cádiz também reclamou, organizando manifestação pela punição aos envolvidos (os canários ficaram na 19ª posição e, se alguma equipe for rebaixada, ela recuperaria a vaga na Segundona). O Conselho Superior de Esportes (CSD) concorda com a dupla andaluz e pediu que a Justiça lhe entregue as gravações para analisar o caso.

Abraham Paz, um dos líderes do Hércules, diz aceitar uma investigação do CSD, mas desafia as autoridades a fazer um pente fino nas últimas 15 temporadas. “É preciso ver como subiram as equipes na temporada passada, e na outra, e na outra. Ou investigar todas as partidas da última rodada da segunda divisão da última temporada, porque, aos 30 minutos, já havia muita gente ganhando por três ou quatro a zero”, insinua.

Por enquanto, só Betis e Cádiz falam em mudar a relação de participantes da primeira e da segunda divisão. Como faltam apenas três semanas para o início da liga, talvez falte tempo para investigar e julgar o caso, mesmo com intervenção mais agressiva do CSD. De qualquer modo, os fatos levantados – inclusive a acusação de Paz – joga uma luz sobre o modo como nem tudo é glamouroso como Real Madrid e Barcelona no futebol espanhol.

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