quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Orgulho resgatado

Özil e Cristiano Ronaldo são as imagens do novo Real Madrid. Antes criticados por não renderem contra o Barcelona, deram a volta por cima e saíram de campos exaltados (reuters)

Guardiola assumiu o comando técnico do Barcelona em 2008. Estamos em 2012 e desde que o treinador chegou à equipe principal dos barcelonistas foram disputados 13 superclássicos nesse período. Em 10 deles o Barcelona foi totalmente superior ao Real Madrid, até mesmo quando foi derrotado na final da Copa do Rei 2010/2011. Já teve 5 x 0, 6 x 2, 3 x 1. Em dois deles, os merengues conseguiram neutralizar o poderio azulgrená e fizeram uma partida igualada. Quatro anos depois de ser superior ao rival catalão pela última vez, o Real Madrid voltou a ser o Real Madrid.

O empate por 2 x 2 pelo jogo da volta da Copa classificou o Barcelona à semifinal da competição. Mas se teve uma notícia positiva no lado perdedor foi o fato da equipe ter recuperado a áurea merengue, o sangue de vencedor. Demorou, mas enfim o Real Madrid voltou a se comportar como um gigante num superclássico. Voltou a honrar o clube mais vencedor da história do futebol mundial. Jogou com a dignidade daquele que tem 9 Ligas dos Campeões da Uefa, 31 Campeonatos Espanhóis, 3 Mundiais de Clubes, 18 Copas do Rei. O orgulhou do madridismo foi resgatado. Estavam soterrados, humilhados, cabisbaixos, enterrados. Mas ressuscitaram das cinzas como uma fênix. E, como a mítica ave da mitologia grega, querem dar a volta por cima. A vida longa da fênix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da imortalidade e do renascimento espiritual. É o que quer José Mourinho daqui para frente.

A excelente partida do Real Madrid no Camp Nou envia uma mensagem de esperança aos torcedores blancos. Foi confirmado que, por melhor que seja o Barcelona, melhor equipe do mundo, apequenar-se não é o mais indubitável em jogos como esses. Excelência se combate com excelência. Talento se combate com talento. História se combate com história. Foi isso que o Madrid desta quarta-feira fez no Camp Nou. Faltou sorte, também. Um chute perfeito de Özil acertou a trave de Pinto. Um chute perfeito de Daniel Alves, por sua vez, morreu no ângulo direito de Casillas. Uma arrancada de Messi parou perfeitamente nos pés de Pedro, que colocou no contra-pé do capitão merengue para vencê-lo. Uma arrancada de um repentino Kaká caiu no pé esquerdo de Cristiano Ronaldo, mas que acabou carimbando a placa publicitária às costas do gol de Pinto.

Os blancos perderam na soma de resultados, mas ganharam em dignidade. Isso revela uma situação emblemática para José Mourinho: por que arriscar tudo no campo do adversário quando se pode definir um duelo atuando em seus domínios? O 4-3-3 com Altintop na lateral direita, Özil, Callejón e Kaká no banco e Lass, Xabi Alonso e Khedira no meio-campo soa como inacreditável se comparado ao 4-2-3-1 usual utilizado ontem. Teve Özil, Kaká, Cristiano Ronaldo, Arbeloa, Fabio Coentrão. O novo Real Madrid, a equipe do futuro, jogou melhor que seu adversário quando resolveu jogar que um gigante do futebol mundial.

O Real Madrid do futuro tem Mesut Özil, camisa 10 raro, que joga de terno e gravata. Özil tem vocação técnica para ditar o ritmo de jogo do time em que joga. Ontem foi o motor do Real Madrid na partida. A imagem de um meio-campista craque mas displicente deu lugar a um jogador de aura energética. Foi para isso que José Mourinho o contratou. O Real Madrid do futuro tem Cristiano Ronaldo, craque com dna de vencedor. Chegou a ser vaiado pelos torcedores por não render nem 25% do que pode num superclássico. Mas os dois duelos pela Copa foram a rendenção do português, único jogador capaz de rivalizar com Messi o posto de melhor do mundo.

O Real Madrid do futuro tem Benzema, homem-gol sempre sedento por ir às redes. Bate com as duas, cabeceia, se posiciona bem. O Real Madrid do futuro tem Xabi Alonso, meia que marca, arma e finaliza. É o ponto de equilíbrio da equipe, o jogador que faz a bola rodar e que comanda o meio-campo. O Real Madrid do futuro tem Marcelo, lateral-esquerdo arisco, ousado e agudo. O Real Madrid do futuro tem Sergio Ramos, lateral direito que já teve o mundo aos seus pés. Utilizado de zagueiro, como no início da carreira, não tem comprometido. Foram longos quatro anos para o Real Madrid voltar a ser o Real Madrid.

4 comentários:

  1. belo texto como sempre, e concordo. Ozil jogou uma barbaridade, faltou sorte no chute. e Cristiano Ronaldo lembrou aquele Cristiano de Manchester que não ligava pra quem estava a sua frente.

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  2. Verdade. Ainda pode render mais ao meu ver, mas o avanço foi notável.

    Abraço!

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  3. Curioso, bem no momento que o Mourinho está reerguendo o Madrid, jornais especulam a saída dele...

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  4. È o que dizem os jornais ingleses, que sempre especulam algo do jeito. Eu acredito que ele não fica ao final da temporada, indepentende de títulos ou não, mas tá muito cedo para especular.

    Abraço!

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