terça-feira, 7 de agosto de 2012

Consciente

 Após ser rebaixado com o Hércules em 2011, Miroslav Djukic deu a volta por cima no Valladolid (AS)

Quem acompanhou o Valladolid na última vez que a equipe esteve na primeira divisão vai se surpreender com o que verá nesta temporada. Em 2009/2010, quando foi rebaixado na última rodada com 36 pontos após uma derrota para o Barcelona, os Violetas praticaram um futebol insosso e sem objetivo algum. Além disso, não conseguiram utilizar o José Zorilla como um trunfo para somar pontos. Para se ter uma noção, o aproveitamento em jogos dentro de casa foi de 35,1%, o nono pior entre os quatro principais campeonatos da Europa. O cenário era desanimador. Na temporada seguinte, já na Liga Adelante, a equipe mostrou evolução. Treinada por Abel Resino, terminou em sétimo, conseguindo uma vaga nos playoffs, onde caiu para o Elche.

A evolução, no entanto, só foi ratificada definitivamente uma temporada depois. Os pucelanos mostraram uma maior regularidade na campanha, mas graças a uma queda substancial na reta final de temporada acabaram terminando em terceiro, três pontos atrás do Celta, o que resultou numa nova participação nos playoffs. Dessa vez, foi tranquilo. Duas vitórias ante o Córdoba na semifinal e ante o Alcorcón na final garantiram o retorno da equipe de Castilla e Leão à elite. Aquela vitória por 1x0 em Madrid teve um enorme valor simbólico. Foi o triunfo da ousadia, de uma equipe que, três anos atrás, parecia fadada ao fundo do poço. 

O Valladolid conseguiu associar um futebol atrativo a uma defesa sólida (a melhor da Liga Adelante ao lado do Celta Vigo). A efeito de comparação, em 2009/2010, havia sido a mais vazada com 74 gols. Em entrevista recente ao Marca, o treinador Miroslav Djukic prometeu que isso não vai mudar. Num discurso à Pep Guardiola, o sérvio foi sintético: "se for para morrer, que morremos praticando nossa filosofia". Jesus Ruéda, zagueiro que se destacou na temporada passada, também segue a mesma linha. Ele afirmou que o time deve manter seu estilo, ousadamente inspirado no Barcelona. O rebaixamento disfarça, mas o Villarreal, que joga um futebol semelhante ao dos pucelanos, deve colher frutos por não se acovardar mesmo nos momentos de adversidades.

Mas a briga do Valladolid também será contra o rebaixamento. A questão é de que maneira ela será abordada. Na temporada passada, Juan Ignácio Martínez não parava de afirmar que a disputa do Levante, apesar do excelente resultado nos seis primeiros meses, seria para não ser rebaixado. Deu certo porque não deixou desviar o foco dos jogadores, possivelmente eufóricos por estarem na zona de Liga dos Campeões. Ao final da temporada, os levantinos conseguiram uma inédita vaga na Liga Europa. Foi a vitória da simplicidade. O time de José Zorilla, por sua vez, sabe o caminho.

E ele certamente passa por segurar os principais jogadores e dar mais profundidade ao elenco. Djukic e a diretoria são firmes e mantêm os cobiçados Javi Guerra (homem-gol), Óscar González e o promissor Víctor Pérez. Nauzet Alemãn acabou rumando ao Las Palmas. As contratações são interessantes. Rukavina e Ebert, provenientes dos alemães Munich 1860 e Hertha Berlim, chegam para oferecerem qualidade às laterais. Apesar de atuar na lateral-direita, Rukavina tem sido testado na zaga nos amistosos de pré-temporada. Ebert, por outro lado, pode atuar também mais à frente, na linha de três. É provável que ele seja titular na extrema direita. Lluis Sastre, revelado pelo Barcelona, certamente dará um toque de experiência ao meio-campo, após boa passagem pelo Huesca. O clube está próximo de um acerto com o canário Omar Ramoz e o basco David López, sem espaço no Athletic Bilbao. Ouali, do CSKA Sofia, também é especulado.

No entanto, a prática ainda precisa se igualar às palavras. O clube não se reforçou tanto quanto o Deportivo La Coruña, por exemplo. Ainda que a qualidade do elenco seja positiva, é preciso saber que a Liga BBVA é bem diferente da Liga Adelante. O Bétis que o diga. Os verdiblancos sobraram na segundona há duas temporadas, mas passaram por apuros e brigaram contra o rebaixamento em 2011/2012. O Deportivo sabe disso e não para de anunciar novas contratações. Se o Valladolid fizer o dever de casa no mercado, deixar o plantel mais homogêneo e não mudar totalmente à primeira derrota, o 4-2-3-1 bem protegido e com Óscar armando as jogadas e Lolo impondo velocidade pela esquerda pode dar samba. Na frente, Javi Guerra é garantia de gol. O calendário prevê dificuldades nos cinco primeiros jogos: Zaragoza (fora), Levante (casa), Athletic Bilbao (f), Bétis (c) e Atlético de Madrid (f). Se, de fato, Djukic honrar as palavras, o Valladolid promete agradar os telespectadores nesta nova temporada.

2 comentários:

  1. Esse Valladolid deverá manter um nível de atuação parecido com o da Liga Adelante, acho que não cairá, se manter a estrutura e filosofia de jogo. Victor, você que é um aficcionado pelo futebol espanhol, eu descobri um site muito interessante sobre o futebol dessas terras, é um banco de dados gigantesco e completo, dos times de todas as divisões, o link é esse: http://www.bdfutbol.com/es/index.html

    Abraço e parabéns pelo excelente trabalho!

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  2. Confesso que não conhecia o site. Muitíssimo interessante.

    Valeu, Douglas.
    Abraço!

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