sexta-feira, 9 de julho de 2010

A um passo da história!

Dessa vez, foi Puyol quem decidiu. Com um meio-campo perfeito, a Espanha está a um passo de fazer história (getty images)


Predadores são animais espertos. A prática da caça diária, a necessidade de vencer combates diários para se alimentar, formaram um arsenal de técnicas para abater o adversário. O leigo pode achar que basta ter força, mas até um espinossauro ou um velociraptor sabia como explorar as fraquezas de sua presa. É parte do metiê de um predador.

Era essa a filosofia alemã desde que teve início o mata-mata da Copa. É uma equipe bastante técnica, com meio-campo poderoso e contra-ataque mortal. Mas que cresceu muito ao saber como atacar os pontos frágeis do oponente. Uma Inglaterra confusa e com linha defensiva desconexa viu tabelas rápidas. Uma Argentina com meio-campo ralo encarou uma marcação sólida e com saída de bola. Só que a Espanha, mesmo com todos os problemas que enfrentou durante a campanha, é uma equipe consistente e organizada. Aí, a semifinal da Copa virou briga de predadores do mesmo tamanho. Vencer era questão de se adaptar às circunstâncias do momento.

Para resistir à Alemanha, os espanhóis precisariam tapar seus buracos. Ou, pelo menos, o mais visível. Depois de muito insistir com um Fernando Torres fora de sua melhor forma, Vicente del Bosque fez o óbvio e colocou mais um jogador no meio-campo. Com um trio de armadores, teria mais facilidade para articular jogadas e intensificar seu estilo de troca de passes curtos, rápidos e pacientes. David Villa é um grande artilheiro, mas não é o centroavante dos sonhos para se ter como referência, pois se movimenta muito. Era um problema menor.

O meio-campo com cinco homens deu à Espanha o domínio do setor, até porque Sergi Busquets e Xabi Alonso estavam sempre atentos para qualquer tentativa de saída de jogo da Alemanha. Era uma marcação agressiva, que tomava a iniciativa do desarme ao invés de esperar o movimento do adversário. Os alemães não conseguiam usar sua velocidade, até porque a entrada de Trochowski tirou um pouco do poder criativo do time, mais concentrado em Özil. Schweinsteiger era um leão nas funções defensivas, mas a forte presença ibérica a seu redor inibiu os avanços.

Mesmo com um cenário positivo para a campeã europeia, o primeiro tempo foi equilibrado. As duas equipes jogaram no máximo de sua concentração, ciente de que enfrentavam um oponente que não dava margem para erros. As defesas prevaleciam e poucas jogadas surgiram.

Depois do intervalo, a Espanha pareceu entender o momento histórico pelo qual passava. Empurrar o jogo para a prorrogação, e eventualmente aceitar uma disputa de pênaltis, era um risco grande para quem não podia admitir uma eliminação. A Furia nunca teve um time tão competitivo, tão técnico, com comprovada capacidade de vencer e que já tivesse ido tão longe em um Mundial. Talvez a seleção espanhola demore a ter outra oportunidade de ser campeã do mundo. Então, eram 45 minutos para mostrar que tinha virado grande, um grande predador capaz de abater outro.

A organização tática não se alterou, mas os ibéricos avolumaram seu jogo. Passaram a empurrar a Alemanha, usaram Pedro (grande sacada de Del Bosque) para explorar Boateng, o ponto mais fraco da defesa germânica, e usaram arremates de longa distância para ameaçar o gol – já que entrar na área estava difícil devido às monstruosas atuações de Friedrich e Mertesacker.

Não havia um bombardeio, mas já estava evidente que, se a partida seguisse naquele ritmo, o gol espanhol surgiria em algum momento. Acabou ocorrendo em uma bola parada, com um salto impressionantes de Puyol para superar sua falta de estatura e cabecear ao gol de Neuer.

Os alemães adiantaram seu time e buscaram o empate, claro. Ante um time muito compacto como o espanhol, a Alemanha abusou do jogo aéreo. E Puyol, Piqué e Sergio Ramos venceram todas pelo alto. Casillas teve pouco trabalho e a Espanha até teve boas oportunidades para ampliar sua vantagem no contra-ataque.

O jogo ficou mesmo no 1 a 0, mas o placar mais justo até teria margem maior. Sinal que a Espanha está aprendendo a ser grande. Não deu possibilidade de o adversário praticar seu futebol e impôs seu estilo até que a vitória surgisse com alguma naturalidade. A Alemanha não deixa de ser uma grande predadora, mas sucumbiu diante de outro predador.

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