segunda-feira, 4 de junho de 2012

Nos pés de David e Andrés

 Iniesta e David Silva chegam à Eurocopa como principais esperanças de título espanhol (telegraph)

O último teste da seleção espanhola antes da Eurocopa serviu para ratificar uma máxima que vem acontecendo com frequência na Fúria: atualmente, seus principais jogadores são David Silva e Andrés Iniesta. Foram eles que construiram a vitória sobre a China por 1x0. Iniesta, que entrou no segundo tempo, se infiltrou pela esquerda, como há tempos não fazia, e tocou para Silva finalizar de primeira. Um chute seco, com a canhota, que, contudo, ainda deixa dúvidas quanto ao estilo de jogo espanhol.

Uma reportagem especial do Marca trouxe à tona uma verdade: dentre as principais seleções europeias, a Fúria é a menos goleadora. Algo que vem acontecendo desde quando Del Bosque assumiu a Espanha, precisamente no período da Copa. Na África do Sul, vale lembrar, a seleção só venceu uma partida por dois gols de diferença (contra a Honduras). No restante, vitórias apenas por 1x0 contra Portugal, Paraguai, Alemanha e Holanda e um 2x1 no último jogo da fase de grupos contra o Chile. Não obstante a uma Fúria mais pragmática, a ausência de Villa influi mais para isso. Ainda que tenha preferência por Fernando Torres e El Niño tenha recuperado pontos após o gol contra a Coreia do Sul, ontem o treinador madrilenho iniciou com Negredo. É, segundo o Marca, o preferido de Del Bosque para iniciar contra a Itália, no próximo domingo, acredite se quiser. Mas o andaluz não é um centro-avante de ofício que fica mais preso à área, como Torres ou Llorente. Entretanto, é, entre os quatro atacantes do elenco, o que mais se aproxima do estilo de jogo de Villa. Mas leva a um novo debate: pelo esquema tático utilizado, não seria preferível o atacante do Athletic Bilbao ou o do Chelsea? Negredo, quanto testado, não se saiu bem como referência do Sevilla. Suas melhores atuações foram jogando ao lado de Kanouté.

O estilo de jogo da Fúria é baseado no toque de bola e na paciência para chegar as redes. Nesse quesito, quem acelera as jogadas são justamente Silva e Iniesta, os extremos do 4-3-3 espanhol. Embora limite seu futebol, é perfeitamente possível entender o que se passa na cabeça de Del Bosque quando adianta Iniesta à ponta esquerda. O madrilenho quer ganhar mais força no meio-campo, escalando Xabi Alonso e Busquets juntos. Porém, paradoxalmente, o setor fica pesado e retira Xavi da parte do campo onde mais gosta de atuar: a ligação meio-ataque. Vicente até tentou barcelonizar a Fúria, mas não durou muito tempo. Nesse módulo tático, Xavi cumpre um papel semelhante ao de Iniesta no Barcelona, com a criação das jogadas ficando, principalmente, com Xabi Alonso. Não que Xavi não crie, lógico, mas os ataques, na maioria das vezes, são orquestrados pelo volante merengue.

Diferentemente do que acontece com Iniesta, Silva não sente uma queda no seu futebol quando atua mais adiantado do que de costume. O homem de 14 assistências na Premier League, o líder no quesito, consegue se adaptar à sua função na seleção. No Manchester City, Silva normalmente exerce um papel duplo, de criação de jogadas e recomposição para marcar um dos laterais adversários, como fazia Juan Mata com André Villas-Boas no Chelsea. Seu nível caiu demais entre janeiro e abril, quando era substituído com freqüência, mas não deixou de ser o principal jogador espanhol na temporada, empatado ou até um pouco à frente de Xavi, que caiu de produção na reta final. Na Fúria, o canterano ché começa a ganhar um novo peso: de protagonista. Ante coadjuvante, seus jogos após a Copa do Mundo o fizeram ganhar moral com Del Bosque, que o relegava ao banco, mas não teve como resistir. Suas últimas atuações com a Espanha foram tão acima da média que a imprensa espanhola passou a chamá-lo de Messi da Roja.

A entrada de Iniesta no segundo tempo do jogo contra a China evidenciou que ele é o parceiro ideal de Silva. Os dois trocaram tabelas, se aproximaram muito para construírem jogadas e aumentaram as ocasiões de gols espanhol, escassas na primeira etapa. Quem se beneficia desse modo de jogar da dupla é Xavi. O maestro barcelonista, no caso, pode ficar menos sobrecarregado possível e, se as atenções da marcação adversária caírem em cima de Silva e Iniesta, ficar mais livre para atuar. Um possível revezamento com Xabi ou a entrada de Mata ou Fàbregas para recuar o barcelonista à sua posição de origem seria importante numa hipotética decisão de Del Bosque.

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