segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O dérbi de Reyes

 Reyes brilha no dérbi de Sevilha, recupera moral com torcedores e ressurge na temporada (El Desmarque)

José Antonio Reyes é um paradoxo difícil de entender e mais ainda de explicar. Dotado de técnica, o meio-campista possui uma habilidade incomum entre os espanhóis. Fatalmente, tinha futebol suficiente para se tornar um jogador world-class, sem exageros. Dono de uma perna esquerda mágica, no entanto, nunca chegou a ser o que prometia. Hoje, quando se pensa em Reyes o rótulo de eterna promessa vem à cabeça.

Nas categorias de base do Sevilla, Reyes já demonstrava todo seu potencial. Em 1999/2000, com apenas 16 anos, fez sua estreia pelo clube de Nervión. À época, a fase sevillista era negra. Rebaixado para a segunda divisão e vivendo uma grave crise financeira, a diretoria resolveu apostar nos canteranos. Na Liga Adelante, treinado por Joaquín Caparrós, o conjunto andaluz sagrou-se campeão e retornou à elite. Ali, começava a história do jovem nascido em Ultrera no futebol espanhol. Mais jovem jogador da história da primeira divisão a marcar um gol, Reyes converteu-se no protagonista do time, liderando uma magnífica geração de canteranos que havia conquistado a Copa do Rei juvenil nos dois anos anteriores.

Após passar por Arsenal, Real Madrid e Atlético de Madrid, Reyes retornou ao Sevilla no início do ano. Àquela altura da temporada, os hispalenses precisavam de um jogador de seu naipe para brigar por uma vaga na Champions League. Canterano e querido pelos torcedores, chegou sob confiança dos aficionados, que esperavam que suas esporádicas atuações mágicas passassem a ser mais frequentes. Não aconteceu. Em cinco meses, ele nada fez. Nem chegou a alternar partidas boas com ruins, algo praxe em sua carreira. O estopim foram as vaias sofridas após ser substituído no dérbi de Sevilha no Pizjuán, a duas rodadas do fim. O Sevilla perdeu para o Bétis em casa por 2x1, emplacou o quarto clássico consecutivo sem vencer o maior rival e deu adeus às chances de conseguir uma vaga na Liga Europa.

A partir dali, ele voltou ao ostracismo. Esquecido e relegado ao banco para um Perotti que voava, viu o Sevilla iniciar a atual temporada de maneira positiva sem sua presença na equipe titular. Mas o dérbi, que o levou ao inferno, serviu para fazer ressurgi-lo. Ontem, no principal jogo da rodada, o Sevilla esmagou o Bétis no Pizjuán por 5x1. Reyes teve atuação de gala. Logo aos 17 segundos de jogo, mostrara que aquela seria sua noite. O gol mais rápido do atual campeonato e da história do dérbi (superando, curiosamente, marca de Pepe Mel, atual treinador do Bétis, que havia marca um gol aos 35 segundos no dérbi de 90/91) foi o largar da reconciliação com os torcedores que o aplaudiram ao término do duelo. Doblete, assistência e jogadas importantes pelo lado esquerdo foram os ingredientes que tornaram Reyes o melhor em campo.

Em sua melhor partida desde o retorno a Nervión, Reyes pode ter visto um divisor d'águas. Os rojiblancos recuperaram a moral e ratificaram a briga por uma vaga na Champions League. No próximo final de semana, tem uma missão complicada: encara o Atlético de Madrid no Vicente Calderón. Desde já, Reyes é assunto. Não só pelo reencontro com o estádio no qual saiu brigado, mas pelo o que poderá fazer. Em paz após momentos conturbados, fica a pergunta: ele terá continuidade? Uma interrogação eterna quando se trata de Reyes.

Um comentário:

  1. Belo texto! Reyes foi mais um daqueles jogadores que prometiam muito mas pouco viraram, o que reforça minha teoria de que um canterano promissor tem que primeiro se firmar no time que o revelou e ficar um bom tempo pra só depois tentar sucesso em outros lugares... claro que não é só isso que explica, mas talvez tivesse ajudado muito!

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