segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ao resgate

 Nas últimas duas semanas, o Barcelona recuperou o bom futebol e promete voltar a encantar (getty images)

No Ciutat de Valencia, o Barcelona, na teoria, teria um confronto difícil contra o Levante. Quarto colocado da Liga Espanhola e com a moral em alta após conseguir uma inédita e histórica classificação ao mata-mata da Liga Europa, os levantinos prometiam vida difícil aos blaugranas, assim como nos dois últimos confrontos em Valencia. O que aconteceu, sobretudo no segundo tempo, foi justamente o contrário. O gol de Messi logo na volta do intervalo abriu o caixão e serviu para fazer o Barcelona relaxar e chegar a mais três gols naturalmente, construindo as jogadas e exercendo um belo futebol.

É um desafio escrever sobre o Barcelona de Tito Vilanova sem entrar em comparações com o de Josep Guardiola (em evidência no Brasil após a suposta vontade de treinar a seleção brasileira). Mas esse é um desafio que deve ser encarado, porque não há nada mais vazio do que dizer que "o elenco é o mesmo" ou que "o time de Guardiola encantava mais", o que ainda é um equívoco, visto que a equipe de Vilanova poucas vezes fez um jogo completo com o onze que o novo treinador pretender levar a campo nos momentos decisivos. Ontem, por exemplo, Tito iniciou o duelo que fechou a noite com esses jogadores, ainda que tenha colocado Iniesta aberto à esquerda do ataque. Com Villa ainda sem estar no auge da forma e Tello e Alexis Sánchez em más fases, é perfeitamente plausível ver o meio-campista fazendo as vezes no ataque, como faz costumeiramente pela seleção espanhola.

O Barcelona de Tito Vilanova cumpre com competência, ainda que não com excelência, o que se espera dele: ele vence. Ontem, nos 4x0 diante do Levante, o Tito Team igualou o melhor arranque da história da Liga Espanhola, que, até o momento, pertencia em solitário ao Real Madrid de 91/92. À época, a equipe treinada por Antic somou 12 vitórias e um empate nas 13 primeiras rodadas, exatamente os mesmos registros que apresenta o Barça atual. No futebol espanhol, considerando Liga BBVA, Liga Adelante e Segunda División B, os blaugranas são os únicos a não conhecerem a derrotam em território doméstico, após o Tenerife perder sua primeira partida no sábado. Em âmbito continental, foram derrotados pelo Celtic por 2x1, pela quarta rodada da Uefa Champions League. Mais cedo, no início da temporada, uma derrota para o Real Madrid por 2x1 que custou a Supercopa Espanhola.

Mas essa excelência, pelo visto, começa a dar as caras. Contra Zaragoza, Spartak Moscou (primeiro tempo) e Levante, o Barcelona fez jogadas e gols semelhantes aos dos tempos áureos com o treinador anterior. Coincidentemente, o bom futebol retornou justamente quando Puyol se recuperou de lesão e formou a zaga ao lado de Piqué. A melhora defensiva é considerável. A recomposição também é feita com mais atenção. Pelo menos nesses três jogos, o Barcelona ofereceu pouca chances aos adversários e os laterais sofreram poucas bolas nas costas, algo que tornou-se praxe nos três meses anteriores. Jordi Alba iniciou a temporada em alto nível e não é exagero dizer que, atualmente, ele é o melhor lateral esquerdo do mundo, enquanto Marcelo não está apto por lesão.

No meio-campo, uma figura cresce e impussiona o Barcelona: Andrés Iniesta. Após um início de temporada modorrento, onde não engatou sequência na equipe titular graças à fase de Fàbregas, ele está fazendo jus ao prêmio de melhor jogador da Europa. Contra o Levante, ratificou a boa fase com atuação espetacular, ofuscando Messi. Foram três assistências e um golaço para dissipar as dúvidas. Por outro lado, o grande maestro Xavi permanece tímido. Fàbregas, quando escalado no setor do camisa 6, mostrou mais serviço e apresentou um leque de jogadas maiores que os do atual Xavi. Cesc deu oito assistências para gols e anotou quatro tentos, enquanto Xavi assistiu apenas uma vez e foi às redes três vezes.

O craque do time tem correspondido até num nível acima do normal. Após apresentar uma versão mais humana, Lionel Messi já desempenha um futebol digno de melhor do mundo. Se movimentando com mais contundência e arriscando mais dribles e arrancadas, ele está bem longe do Messi tímido que iniciou a temporada, muito preso à função de um verdadeiro nove. Seus números assustam. São 82 gols em 2012 e 26 na temporada 2012/2013. Após ultrapassar a maior marca de Pelé num único ano, La Pulga está a um passo de chegar em Gerd Müller, o maior artilheiro, que marcou 85 gols em 1972. Agora é questão de tempo. Artilheiro isolado da Liga Espanhola com 19 gols e da Champions League com 5 (ao lado de Artur e Cristiano Ronaldo), o dado a seguir assusta: equipes como Liverpool e Milan marcaram 71 e 81 gols ao longo do ano, menos do que o argentino sozinho.

Ainda assim, há quem viva um pesadelo. Antes tratado como peça-chave, Daniel Alves já não é mais tão fundamental. Mais uma vez lesionado (pela quarta vez em três meses), ele ficará duas semanas fora do gramado. Montoya não é um substituto à altura, mas tem sido essencial porque está servindo para contrabalancear as subidas de Alba pela esquerda. Até por ser mais conservador que o baiano, o canterano deixa o sistema defensivo menos exposto. Sua atuação no superclássico do início de outubro foi positiva. Daniel Alves, por ter boa qualidade ofensiva, poderia ser opção para jogar aberto à direita no ataque, papel este que desempenhou em algumas partidas com Guardiola, quando o treinador optou pelo uso do 3-4-3. O entendimento com Xavi e Messi pode ajudá-lo.

Finalmente, após algumas críticas e especulações de fim de ciclo, o Barcelona mostrou capacidade de ser avassalador novamente. Com o bom futebol de volta, será que veremos a melhor equipe dessa geração encantar em campo novamente, como vimos com tanta frequência nos últimos quatro anos?

4 comentários:

  1. Deste uma bela esmiuçada sobre esse atual Barça, com dados e destaques que muitos deixam passar.
    Só discordo com relação à Xavi e Montoya. Xavi tem dado o ritmo a equipe, orquestrando. Alba, Iniesta e Messi são os executores. Montoya chega bem pela direita e perde menos bola que Dani Alves. Pra mim, ele é um substituto à altura sim. É muito mais ligado no jogo.
    No mais, percebo que com Piqué de volta, o Barça tem uma transição mais eficaz. Busquets é sempre o Busquets, essencial.
    Mais uma vez, um excelente post. Abraços!

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  2. Quando digo à altura, é pelo fato de dificilmente o Montoya criar oportunidades de gols e tabelar com Messi e Xavi como Daniel Alves fazia. No mais, você está correto.

    Obrigado,
    e abraço!

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  3. Além das contusões e do fato de Alba ser agora o lateral de apoio,D.Alves não vem bem tecnicamente há algum tempo. Vinha falhando tanto na defesa com no apoio. Evidente que essa imagem para alguns se diluiu um pouco por causa do gol recente marcado. Mas mesmo nesse jogo ele não foi o mesmo de temporadas passadas. Barça deveria pensar em um lateral mais defensivo na direita, além do Montoya (bom, mas lhe falta peso em jogos mais difíceis).

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  4. helder, não acho que falte peso ao Montoya em jogos mais difíceis. Ele entrou bem em dois jogos contra o Real Madrid, sendo que no segundo ele chutou uma bola no travessão que teria dado a vitória ao Barcelona caso tivese entrado. Abraços.

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