domingo, 15 de julho de 2012

Geração de ouro

 Campeã pela segunda vez consecutiva da Eurocopa Sub-19, Espanha evidencia que o sucesso atual é muito graças ao trabalho feito na base (Marca)

Após um período de recesso, o ritmo de postagem do Quatro Tiempos vai retornando aos poucos, a partir dessa semana, ao normal. Neste domingo, a seleção espanhola sub-19 manteve o troféu da Eurocopa da categoria. Na final contra a Grécia, vitória por 1x0 que valeu para a conquista do sexto título da competição desde o novo formato, que começou em 2000. No ano passado, a vítima havia sido a República Tcheca.  No geral, a Espanha venceu o torneio nove vezes, sendo a  maior vencedora junto com a Inglaterra, que não levou nenhum troféu no novo formato.

O gol de Jesé, que garantiu o título à Roja, foi um retrato da seleção em toda a competição: jogada e assistência de Deulofeu, das canteras do Barcelona, e gol do merengue, que ao final da partida foi premiado com a Chuteira de Ouro (prêmio ao artilheiro) e a Bola de Ouro da competição (prêmio ao melhor jogador), embora há divergências quanto à última premiação - para muitos, o melhor jogador, de fato, foi o barcelonista. Foi uma campanha de vencedor: em cinco jogos, três vitórias (Grécia duas vezes e Estônia) e dois empates (contra Portugal e França - contra os Bleus, vitória no pênalti que garantiu a vaga na final). É um título que ratifica o poderio espanhol em âmbito europeu. A Roja é absoluta em todas as categorias da principal competição de seleções do velho continente: título no sub-19, no sub-21 e no principal. Agora, o futebol espanhol espera fechar a temporada de ouro com o ouro: a medalha nos Jogos Olímpicos de Londres.

Independente de nomes, a Espanha é nos últimos anos quem melhor trabalha a base, provavelmente ao lado da Alemanha. A conexão entre federação e os clubes é um dos principais pontos de sucesso, pois permite às equipes de base sempre ter os melhores jogadores à disposição. Além disso, a mentalidade de jogo é a mesma em todas as gerações, o que facilita a chegada de jogadores jovens ao time de cima. A Espanha, antes tão traumatizada pelas aventuras internacionais, deu o passo em definitivo para ser o que é hoje quando passou a apostar todas as suas fichas no trabalho prolífico feito na base. 

A Roja precisa aproveitar como puder as oportunidades de desenvolver um grupo habituado a decidir. Esses jogadores têm a chance de guiar a seleção a glórias maiores, como a geração de Casillas, Xavi, Iniesta e Villa vem fazendo nos últimos quatro anos. O exemplo germânico está aí. Quando os garotos da Alemanha esmagaram a Inglaterra por 4 a 0 na decisão da Euro sub-21 de 2009, ensaiavam uma inesquecível Copa com a seleção principal no ano seguinte. Neuer, Jerome Boateng, Khedira e Özil, titulares na África do Sul, arrebentaram no torneio.

Jesé e Deulofeu (17), os destaques do título: Jesé foi eleito o melhor jogador do torneio (uefa)
Um dado chama atenção nisso tudo: nos últimos dois anos, a Espanha só não foi a final do Europeu Sub-17 em 2011. Nos demais quatro campeonatos, quatro decisões, dois títulos e dois vice-campeonatos. No "biênio" 2008/09, a Fúria já havia chegado à etapa final de todas as competições, mas fez menos finais: "apenas" uma, a do Europeu Sub-17 de 2008, vencida sob a regência de Koke e Thiago Alcântara, que viria a ser o principal jogador da equipe sub-21 na conquista da Eurocopa de 2011. Nas demais, a equipe parou na fase de grupos, sempre no terceiro lugar de sua chave. Mas ainda assim, as seleções de base espanholas já demonstravam regularidade e apontavam para um futuro promissor. Um processo gradual, de amadurecimento semelhante ao que se passou com a própria equipe principal.

Aliás, a ligação entre a seleção de base e a de cima são muito prezadas na Espanha. Vicente Del Bosque tem contatos constante com os treinadores das seleções menores, que, por sua vez, trabalham essencialmente para que os meninos, do sub-17 ao sub-21, entrosem-se e sejam integrados ao estilo de toques rápidos e de valorização de posse de bola. Até por isso, se o garoto não acompanha o processo desde os 16, 17 anos, será difícil conquistar um espaço nas seleções seguintes. E para dar sequência aos trabalhos e preparar as devidas reposições em cada categoria, ocorre até do treinador ser promovido com os jogadores. Caso de Luís Milla, que comandou os sub-19 em 2010 e logo depois assumiu o time sub-21. É ele que vai comandar a seleção olímpica em Londres, após ser campeão europeu com a equipe da categoria.

Olhar tanto a equipe sub-19 como a sub-21 do país é comprovar que dos "pequenos" aos "grandes", o padrão do tiki-taka já foi introduzido, tanto aos jogadores mais habilidosos aos meninos sem tanta qualidade, o que evidencia a valorização do fator "grupo", tal qual o técnico. Além disso, ao marcar presença nas fases finais e  - principalmente - nas decisões europeias como vem sendo feito, a garotada começa a ganhar cancha para lidar com todo o aspecto emocional de uma final ou de um jogo crucial, que envolve o equilíbrio para que o padrão de jogo não se altere por ser uma decisão, o saber administrar o resultado positivo e aprendizado de se lidar com um gol sofrido sem que o desespero afete a forma como se está atuando.

Há pouco tempo, quando ainda exercia a função de diretor das seleções de base da Espanha, Fernando Hierro declarou que o futuro da Fúria estava assegurado. Mais do que pela existência de uma série de novos potenciais craques (que até existe), a Espanha acredita ter encontrado a fórmula ideal para a transição dos meninos à seleção principal. A julgar pelos resultados e pelo que se vê em campo, tanto pelo projeto desenvolvido entre as equipes principal e menores do país como pela qualidade técnica das safras que têm surgido na nação ibérica, Hierro não está nada equivocado. Assim, com alguns titulares da equipe principal chegando ou passando da casa dos trinta anos, o envelhecimento da safra campeã do Mundo e bi da Eurocopa não deve ser motivos de preocupação ao torcedor espanhol. A transição já está bem encaminhada.

Um comentário:

  1. Xavi, Iniesta, Villa e outros parecem que já tem seus substitutos algum dia. Isso se continuarem jogando bem, como na seleção sub.
    Mas a esperança na medalha para o brasil nunca morre, unica competiçao que falta, espero que pegue a espanha só na final.

    ResponderExcluir