sábado, 5 de fevereiro de 2011

Inexplicável

Após um péssimo primeiro turno, o sheikh Abdullah Al Thani resolveu abrir o bolso. Mas a situação só piorou, com a equipe entrando na zona de rebaixamento e assumindo a lanterna (getty images)

Nas aulas de história, sempre se ouve falar que o Emirado de Granada era fortemente comandado por árabes, incluindo a capital Ghanarnatah e o importante porto de Malaqah. Mas faltava uma região, ao sul de Al-Andalus. Apenas entre as décadas de 1480 e 1490 que os espanhóis completaram a reconquista de toda a península. A cidade portuária caiu em 1487. Levou mais cinco anos para a capital moura ceder definitivamente. Mais de 500 anos depois, os árabes voltaram à região. Ela não se chama mais Al-Andalus, e sim Andaluzia. O Emirado de Granada é mais lembrado pelas joias artísticas e arquitetônicas que deixou como legado. Malaqah já teve o nome latinizado para Málaga, e seu porto não provoca mais tanto interesse. A cidade foi berço de artistas como Pablo Picasso e Antonio Banderas, mas o que chama a atenção dos neomouros é o futebol.

A mentalidade revolucionária do conterrâneo está, desde junho de 2010, de volta à região. Quando a atual temporada se iniciava, o sheikh Abdullah Al Thani anunciou o processo definitivo de compra do Málaga, após comprar as ações do clube de Fernando Sanz. Foi o primeiro caso de time de futebol da Espanha a pertencer a um árabe. A partir daí, cresceu as expectativas para ver como seria o mercado blanquiazul. No verão, porém, a cúpula foi ao mercado, mas não trouxe nenhum grande nome. Das onze contratações feitas, apenas três deram certo e acabaram tornando-se os destaques da equipe até o momento. O português Eliseu, artilheiro da equipe; o venezuelano Rondón, ponto de equilíbrio; e o ganês Quincy Owusu-Abeyie, extremo direito sempre elogiado por jogar em velocidade pelos flancos.

O jeito foi abrir o bolso. O técnico português Jesualdo Ferreia, contratado devido a seu bom trabalho com orçamento limitado no Porto, foi demitido em novembro. Em seu lugar foi contratado Manuel Pellegrini. A movimentação no mercado de inverno também é intensa: já foram contratados Demichelis (ex-Bayern e seleção argentina), Júlio Baptista (que chegou com ares de ídolo da torcida, provavelmente se baseando no desempenho do brasileiro no também andaluz Sevilla), Asenjo (promissor goleiro que perdeu espaço no Atlético de Madrid com a ascensão de de Gea), Camacho (jovem volante formado no Atlético de Madrid) e Maresca. Um goleiro, um zagueiro, um volante, um meia e um atacante. Ou seja, uma nova base.

Porém, já se passou um turno do Campeonato Espanhol e o Málaga não fez nada que desse grandes alegrias a seu novo dono. Mesmo com todos suas contratações à disposição, os blanquiazules têm uma campanha medíocre, com apenas 17 pontos em 21 partidas. E, acreditem: o time, que antes de seus investimentos era o décimo sexto colocado, hoje é o lanterna da competição.

O que acontece, no fim das contas e com tantas mudanças, é que não se constrói continuidade. O ambiente atribulado, de pura impaciência e busca por resultados positivos, que impera dentro do clube faz com que Pelegrinni pouco insista nos mesmos jogadores. Entretanto, um voto de confiança foi dado aos jogadores. O diretor esportivo dos - hoje - colistas (como são chamados os lanternas na Espanha), Antonio Fernández, já encarregou de dizer que esse plantel é extremamente competente e deve sair da zona de rebaixamento tranquilamente.

Para isso, basta fugir das pressões por grandes resultados e vencer os confrontos diretos (não é tão difícil, até porque receberá Zaragoza, Gijón e Almería em La Rosaleda). Com isso, é possível se estabelecer no meio da tabela, logo abaixo dos times grandes e médios. Se isso acontecer, o primeiro capítulo dessa versão futebolística do retorno árabe ao sul da Espanha terá sucesso. Aí, ficará a expectativa por quais passos Al Thani tentará dar em seguida. Se ficará satisfeito com seu time médio ou tentará uma reconquista de todo o país.

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