Nenhum torcedor – ou talvez o italiano na época de Internazionale – viu um Ronaldo tão dominante tecnicamente quanto o espanhol. E foram dois Ronaldos bem diferentes. O primeiro, o catalão, estava no auge de sua forma física. Era pura explosão. O segundo, madrileno, já era mais experiente, sabia como usar a inteligência para economizar tempo e espaço em campo. Não foram poucos os jogadores a defenderem as camisas de Barcelona e de Real. Foram 33 no total, de nomes que vão de jogadores medianos como Celades e Soler a craques como Eto’o, Hagi, Schuster, Figo, Zamora, Michael Laudrup e Evaristo. Muitos deles são bem aceitos nos dois lados da rivalidade, mas poucos (e Evaristo é um deles) são tão benquistos das duas torcidas.
“O Fenômeno.” Muito se fala do que Ronaldo poderia ser se não tivesse tantos problemas físicos. O barcelonista sabe como seria. A temporada do brasileiro no Camp Nou foi fora do comum. Em jogos oficiais, foram 47 gols em 49 jogos, sendo 34 (em 37 partidas) pelo Campeonato Espanhol. Foi artilheiro destacado da temporada, chegando a estabelecer o recorde de ir às redes em dez rodadas seguidas. Seus gols, muitos deles decisivos, ajudaram a carregar o Barcelona na disputa do título com o Real Madrid.
Não foi suficiente. Os merengues ficaram com o título por dois pontos (92x90), mas o Barça terminou com o melhor ataque (102x85) e mais vitórias (28x27). Faltou time. O Barcelona da época não era um esquadrão como o de hoje. O time-base era Vítor Baía; Ferrer, Abelardo, Popescu e Sergi; Fernando Couto, Guardiola, De La Pena e Luis Enrique; Figo e Ronaldo. O técnico era o inglês Bobby Robson e seu auxiliar, José Mourinho. Ainda assim, esse time não terminou a temporada 1996/97 sem título. Conquistou a Recopa ao vencer o Paris Saint-Germain na final: 1 a 0, gol de Ronaldo de pênalti. O time ainda conquistou a Copa do Rei ao vencer o Betis por 3 a 2 na decisão. O brasileiro não participou porque já estava servindo à seleção brasileira na Copa América da Bolívia.
Certamente foi uma das melhores temporadas de um jogador nos últimos 20 anos. Ronaldo não ficou porque ele e seus empresários pediram um novo contrato ao Barcelona, com substancial aumento. Recebeu um “não” e preferiu ir à Internazionale. Foi eleito o melhor do mundo em 1996 e 97 e recebeu a Bola de Ouro em 1997.
“El Gordo.” Para muitos torcedores do Real Madrid, o apelido que melhor cabe a Ronaldo faz referência a sua barriga, e não a dotes fenomenais. Mas, de um modo que só os latinos sabem fazer, xingar é uma forma de mostrar carinho. E não se duvide o quanto de crédito o atacante tem com o torcedor merengue. Com a camisa branca, foi um grande, um dos jogadores que realmente justificava o apelido de galáticos com que Florentino Pérez queria consagrar o clube de Chamartín.
Seu retorno ao futebol espanhol, após cinco temporadas em Milão, foi espetacular. Entrou no segundo tempo em uma partida pelo Campeonato Espanhol contra o Alavés e marcou dois gols. O primeiro, apenas dois minutos depois de entrar em campo. Há quem pense que o último grande momento de Ronaldo foi com a camisa da Seleção, na Copa de 2002. Injustiça por tudo o que ele fez em Madrid. Foram cinco temporadas (2002/03 a 2006/07), com 104 gols em 177 jogos. Foi o artilheiro da liga na temporada 2003/04, com 25 gols. Conquistou um Mundial de Clubes e dois Campeonatos Espanhóis (o último em sua temporada de despedida do clube, jogando só a primeira metade).
Mas, em Madrid, mais importante que os números e os troféus, foram os momentos de estrela. Ao colocar o atacante ao lado de Zidane, o Real Madrid finalmente tinha um time que podia se vender ao mundo como galático. E, por um tempo, o fez. De fato, era um clube que provocava furor mundial, do qual efetivamente se esperava coisas espetaculares sempre. Teve menos títulos porque o projeto de marketing superou o esportivo.
Por isso, Ronaldo é ídolo em Barcelona e em Madrid. Em cada clube vivia uma fase física diferente, mas foi espetacular nos dois momentos. Sorte dos espanhóis de terem visto isso de perto.
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