O dono da bola: Iniesta trouxe o protagonismo para si, foi eleito o melhor jogador da Eurocopa e dá a volta por cima após uma turbulenta temporada (getty images)
Pode parecer exagero, mas o título que encabeça esse texto tem tudo a ver com o futebol da Espanha. Bastante criticado durante toda a Eurocopa, taxado de pragmático, chato e sonolento até mesmo pela imprensa espanhola, a Fúria deixava no ar uma interrogação: seria capaz de vencer e convencer? Pois bem, o tri-campeonato europeu, o segundo consecutivo (algo inédito na história da competição), serviu para jogar todas as argumentações anti-Espanha por ladeira abaixo. A Roja venceu, convenceu e foi campeã. Em sua melhor exibição em terras ucranianas, a equipe treinada por Vicente Del Bosque deu um enorme passo rumo à galeria dos maiores do esporte. Os 4x0 ante a Itália, tetra-campeã mundial, representa muito bem o poderio absurdo desse grupo.
Em campo, Del Bosque repetiu a mesma escalação que usou contra a mesma Itália na estreia na Eurocopa. Um onze inicial que, semanas atrás, criou dúvidas quanto ao estilo de jogo espanhol e gerou críticas ao treinador. Porém, o campeão mundial e agora europeu deu andamento ao que faltava: a ousadia. Se é para comparar, como a imprensa espanhola tanto gosta de fazer, a Espanha da final lembrou aquela avassaladora que conquistou a Eurocopa em Viena há quatro anos. Foi incisiva, utilizou bastante seus pontas, com destaque para a grande partida de David Silva, viu em Fàbregas um falso nove de excelente nível e, sobretudo, teve em Xavi seu principal articulador.
O dono da camisa oito foi outro nome que decepcionava na competição. Como o blog já previa, o fato de Del Bosque adiantá-lo para um setor do meio-campo onde não estava acostumado a jogar foi um dos principais fatores para seu mau futebol no torneio. Além disso, o cansaço de uma temporada para lá de cansativa com o Barcelona e o surgimento de novos problemas físicos valeram para Xavi não mostrar nem 80% de seu futebol. Ele mesmo admitiu antes da bola rolar que se sentia um pouco decepcionado com suas exibições. "Gostaria de poder ajudar mais", disse. Na coletiva pré-jogo, porém, os múltiplos elogios de Del Bosque, que mostrou confiança no cérebro da equipe, valeram para seu futebol aparecer. Xavi tomou conta do meio-campo, assistiu Alba e Fernando Torres, cadenciou o jogo e, além disso, tomou conta de Pirlo durante os 90 minutos.
Os grandes trunfos da Roja para parar a Azzurra foram congestionar o
meio-campo para evitar a superioridade numérica do losango italiano,
alternar Xavi e Fàbregas no cerco a Pirlo e combinar retenção de bola e
verticalidade, arriscando mais o passe longo e as ultrapassagens, utilizando bastante das infiltrações, algo que tanto faltava nessa equipe. Tanto
que não houve o habitual controle da posse de bola (apenas 53% na
primeira etapa e 57% no total), com mais erros de passe e equilíbrio nas
conclusões enquanto houve disputa. Os acertos compensaram. A objetividade ficou em primeiro plano. Como bem disse André Rocha, a fantástica atuação não isenta e até enfatiza as críticas ao futebol apresentado nas fases
anteriores. Uma verdade. De acordo com Cesare Prandelli, treinador da Itália, a Azurra sentiu problemas
físicos, por falta de descanso - vide Chiellini, que chegou lesionado à
Euro e se machucou outras duas vezes durante o torneio.
Um título que acrescenta ao currículo respeitável de Vicente Del Bosque a única competição que lhe faltava. Como treinador, o madrilenho pode ser orgulhar de ter conquistado Champions League, Copa do Mundo e Eurocopa, uma trinca desejável por qualquer técnico do planeta. Além disso, pelo Real Madrid, Del Bosque conquistou duas Ligas Espanholas e um Mundial de Clubes. Um título que mostra, de vez, ao mundo o talento de Jordi Alba. O melhor lateral esquerdo da competição abusou do bom futebol e mostrou-se sócio perfeito de Iniesta no setor esquerdo. A dupla, agora, irá se encontrar mais vezes em campo, visto que Alba retornou ao Barcelona. Mais um motivo para temer o time azulgrená e tentar achar mais motivos para pará-lo.
Mas quem merece um parágrafo à parte nessa conquista é justamente Iniesta. Após passar por uma temporada irregular onde as lesões novamente voltaram a atazaná-lo, o meio-campista brilhou. Eleito pela Uefa o MVP da Eurocopa - com justiça, diga-se de passagem -, Iniesta foi o ponto de equilíbrio da Fúria e voltou a ratificar sua importância para a seleção. "O homem mais querido por toda a Espanha"se destacou em todas as partidas da Roja no torneio, sem exceção. É um merecido prêmio a um jogador extremamente profissional, avesso às câmeras, humilde, que só pensa no trabalho. "Não jogo para ganhar Bola de Ouro, e sim para ganhar títulos com meu país e meu clube", afirmou na zona mista. Mas você merece, Don Andrés Iniesta.
A mesma imprensa espanhola que criticava foi a mesma que comemorou o título, rs
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