Originalmente de Lincoln Chaves, do site Olheiros.
Tiki-taka. Uma expressão de apenas oito letras, mas que explica o porquê da Espanha ser a grande seleção que é hoje, campeã europeia e mundial. E para manter esse status por tempo indeterminado, o padrão de jogo que representa tal expressão, em que predomina o toque e a posse da bola, é o que rege o trabalho feito nas seleções espanholas de base. Do ponto de vista de resultado, o trabalho vem sendo bem feito, como mostram os vice-campeonatos europeus sub-17 e sub-19 em 2010 e o título continental sub-21, conquistado mês passado. E a equipe que defenderá o vermelho da Fúria na Colômbia segue esses mesmos passos, respaldada pela qualidade e entrosamento do grupo, mesmo com desfalques importantes.
O objetivo está claro: firmada como potencia europeia na base, é chegada a hora de conquistar o mais badalado dos Mundiais. Ou seja: repetir o feito da geração encabeçada por Xavi Hernández, campeã do torneio em 1999. Além do meia do Barcelona, também despontaram nomes como Carlos Marchena, Gabri, Iker Casillas (que foi reserva) e Pablo Couñago - artilheiro daquele Mundial. A Fúria deixou para trás o Brasil de Ronaldinho Gaúcho, Gana de Stephen Appiah e Mali de Seydou Keita, até alcançar a final e bater um surpreendente Japão. O segundo caneco quase veio em 2003, quando o time estrelado por Andrés Iniesta e David Silva chegou à final contra o Brasil, mas acabou superado no fim do segundo tempo.
A chave espanhola, composta por Austrália, Costa Rica e Equador, não é das mais complicadas nem deve comprometer o favoritismo da equipe. Favoritismo esse ainda maior que o da geração 2009, de Dani Parejo e Fran Mérida. No entanto, as disputas no Egito deixaram o alerta. Afinal, na ocasião, a Espanha também se deparou com um grupo teoricamente fácil (Nigéria, Venezuela e Tahiti) e avançou com pompa, mas no mata-mata, caiu nas oitavas para uma irregular Itália. Para esta que será a 14ª participação do país no torneio, a expectativa é de que a experiência de dois anos atrás e o fim do estigma "perdedor" da Fúria tenham valido para conter a pressão e a empolgação da atual e promissora safra ibérica.
Sem tanto preparo, mas com entrosamento
A classificação para o Mundial vem sem sobressaltos, via Europeu Sub-19 de 2010. Na fase preliminar, de grupos, um segundo lugar na chave de Portugal (que avançou em primeiro), País de Gales e Macedônia foi suficiente. Na etapa seguinte, após uma primeira rodada complicada (empate com a Noruega), a reação veio com vitórias sobre Turquia e Azerbaijão, seguidas da liderança da chave e da vaga à fase final. E mesmo sorteada em um verdadeiro grupo da morte, a Espanha soube se impor. Bateu Croácia (2 a 1), Portugal (2 a 1) e Itália (3 a 0), assegurando o passaporte para a Colômbia e um posto nas semifinais do Europeu. Venceria ainda a Inglaterra (3 a 1), até cair diante da França (1 a 2) na decisão.
Passado o Europeu, porém, foram poucos os encontros visando o Mundial. O primeiro se deu em agosto, com o vice-campeonato no Torneio Internacional Sub-19 do Japão. Na campanha, uma inesperada derrota para a seleção de Shizuoka (2 a 0), seguida de vitórias ante ganenses (2 a 0) e nipônicos (4 a 0). Com o início do Europeu Sub-19 de 2011 - e que envolveu alguns dos /92 que estarão na Colômbia -, a preparação só foi retomada em março com uma série de treinamentos finalizada com triunfo ante o Atlético de Madrid B. Em abril, por fim, nova vitória, desta vez por 1 a 0, em amistoso com a Itália. Sinal de que a aposta será mesmo no entrosamento do grupo, que vem junto desde a era sub-17.
Logo após o vice-campeonato continental, o então treinador Luís Milla foi promovido à seleção sub-21 - com a qual foi campeão europeu neste ano -, e assumiu Julen Lopetegui, um dos goleiros espanhois convocados para a Copa de 1994 e vice-campeão mundial sub-20 em 1985, que comandará a Fúria na Colômbia. Lopetegui chegou ao cargo sem grande experiência na função. Comandou o Rayo Vallecano em 2003/04 pouco após se aposentar, mas não conseguiu evitar o rebaixamento da equipe à segunda divisão. Ausentou-se da carreira de técnico até a temporada 2008/09, quando treinou o Real Madrid Castilla, "batendo na trave" na luta por vaga no playoff de acesso à Liga Adelante.
Adequações aos desfalquesDo meio para frente, a promessa é de uma equipe bem ofensiva. Na contenção estará o colchonero Koke, outro presente no Mundial Sub-17 de dois anos atrás (quando foi capitão). Se Lopetegui optar em utilizar dois volantes - o que é mais provável -, o favorito para atuar com Koke é o barcelonista Oriol Romeu. E nesse esquema, a ligação com o ataque ficaria a cargo do badalado madridista Sérgio Canales e do elogiado Isco Alarcón - que também esteve na Nigéria em 2009. Se preferir jogar com apenas um volante, por sua vez Oriol ou Koke devem dar lugar ao blaugrana Sergi Roberto, mais um que jogou no Mundial Sub-17 de 2009.
A linha ofensiva terá desfalques importantes como Thiago Alcântara e Iker Muniain, que estão na pré-temporada de, respectivamente, Barcelona e Athletic Bilbao e estiveram no Europeu Sub-21. Desta forma, as esperanças de gol estão no hispano-brasileiro Rodrigo Moreno e em Daniel Pacheco, artilheiro da fase final do último Europeu Sub-19, no que se desenha como um 4-4-2 adaptado. Dependendo da necessidade tática da partida, Lopetegui tem a opção de aproximar Isco ou Canales e Moreno de deixar Pacheco com centroavante de referência de um 4-3-2-1. A missão dos homens de frente, portanto, será a de fazer a ausência de Thiago e Munaín ser a menos sentida possível.
Chuteira caliente
Dani Pacheco. Com quatro gols, foi o principal goleador do último Europeu Sub-19, ainda luta para encontrar espaço no Liverpool, mas terá a oportunidade de chamar atenção de Kenny Dalglish - que tem aberto gradual espaço aos jovens de Anfield - com um bom desempenho na Colômbia. Baixo (1,68 metro) mas bastante veloz e de boa movimentação, Pacheco teve desempenho bastante elogiado em seu recente empréstimo ao Norwich e chega motivado para brigar pela chuteira de ouro no Mundial.
Pelota cuadrada
Sérgio Canales. Ele surgiu com grande destaque no Racing Santander, marcado por ser um dos principais nomes da seleção campeã europeia sub-17 em 2008. Não a toa, chegou como titular entre os galácticos do Real Madrid. No entanto, não demorou a perder espaço para Mezut Özil e já na conquista do último Europeu Sub-19, não foi decisivo. Sem as mesmas atenções de outrora, terá no Mundial Sub-20 que se aproxima a chance de reconquistar os holofotes que obteve há dois anos, torcendo também para que José Mourinho esteja de olho.
El Libertador
Oriol Romeu. Josep Guardiola é um de seus admiradores, e isso já representa muito. Ser contratado como reforço do milionário Chelsea por cerca de 5 milhões de euros, também. Já ter um Mundial Sub-20 no currículo, tão representativo ainda. Desta forma, é difícil não ver no versátil volante (que també pode atuar como zagueiro), campeão mundial de clubes pelo Barça em 2009 e de duas belas temporadas pelo Barcelona B, a figura que deverá liderar os espanhois na Colômbia. Talvez não como capitão, mas como uma referência em campo.
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