domingo, 6 de maio de 2012

Tragédia anunciada

 O vilão. Ahsan Ali Syed, empresário indiano que comprou o Racing Santander, nada fez para ajudar o clube a sair da crise e o estopim é o rebaixamento à Liga Adelante (Daily Email)

A primeira sentença que a temporada espanhola conheceu foi o rebaixamento do Racing Santander à Liga Adelante. Na última semana, os cantabrianos foram derrotados pela Real Sociedad no País Basco por 3x0, sentenciando o descenso à segundona. Tímida ações no mercado, grande crise interna e manuntenção de uma base que já havia assustado em temporadas anteriores foram os ingredientes que resultaram na queda verdiblanca. O Racing Santander, por ironia do destino, disputará a Liga Adelante justamente no ano de seu centenário. O enterro dos cantabrianos aconteceu no Anoeta, diante de uma Real Sociedad que garantiu sua permanência na elite espanhola. 

A situação econômica do Racing Santander preocupa mais até do que o rebaixamento. Cair para a segunda divisão era uma tragédia anunciada, querendo ou não. A ausência de responsabilidade por parte dos acionistas majoritários soam como várzea. Quando o Ministério dos Esportes da Espanha aprovou a venda do clube ao milionário emprésario indiano Ahsan Ali Syed em janeiro de 2011, as expectativas eram grandes. Puro engano. "Começa uma grande e ativa relação com este clube", afirmou Ahsan Ali Syed no dia da confirmação. "Vou colocar todos meus conhecimentos e meu poder financeiro a serviço do Racing Santander para levar o clube ao maior nível de êxito na Espanha e na Europa". A promessa era investir pesado no mercado, cerca de 90 milhões de euros nos próximos cinco anos. Hoje, um ano e quatro meses depois, a instituição está em um processo concursal e o futuro é nada promissor.

Em dezembro passado, o indiano, nada onipresente no dia-a-dia do clube, resolveu vender as ações menos de 12 meses depois de comprá-las de Fernando Pernía. Contudo, o Juizado de Primeira Instância Número 55 de Santander adotou medidas cautelares para que evitasse a venda do Racing Santander por parte de Ali Syed. Porém, o máximo que o governo cantabriano conseguiu foi adiar e prolongar a data da sentença. Antes, em novembro, todo os conselheiros de administração pediram demissão, o que deixou Syed em uma saia-justa. Na Espanha, os aficionados montañeses consideram o time para o qual torcem sem dono. Ou seja: uma várzea total. Os sócios do clube, no entanto, estão pendentes do que a assembleia irá decidir no próximo dia 20 maio, naquilo que qualificam como o "futuro imediato do Racing Santander". A expectativa de progressão criada no dia da venda ao empresário acabou regredindo. Em nenhum momento Ali Syed organizou o clube, ajustou os problemas da gestão anterior e tomou decisões corretas.

A incógnita quanto ao futuro do clube implica com os dos jogadores. A maior parte do plantel não renovou o contrato enquanto não sabe da decisão final. Especulações quanto a novos jogadores? Nenhuma. Manuel Arana, que se recupera de lesão e fez falta na reta final, foi o principal jogador do time na temporada. O andaluz, em declarações dadas na semana passada, reconheceu estar pendente do que possa acontecer no clube para saber o que irá fazer. O Levante estaria interessando em sua contratação, que, no caso, seria a custo-zero. Outro que também pode estar de saída é Stuani, também para o clube azulgrená.

Durante a temporada, os problemas institucionais influenciaram diretamente no esportivo. Em algumas partidas, os verdiblancos jogaram com dignidade, até de igual para igual, mas as carências falaram mais alta. Os ânimos e psicológicos dos jogadores também foram abalados. De repente, encontraram-se perante a zona de rebaixamento e com o salário totalmente atrasado. "A sensação é de que estamos sendo usados, enganados", disse o capitão Toño em março. Indignação é a palavra que define a temporada do Racing Santander. Literalmente, o clube, maior representante da região da Cantábria, região mais rica do mundo em lugares de interesses arqueológicos do Paleolítico Superior, foi maltratado.

Ainda que esteja em segundo plano no momento, a disputa na Liga Adelante deve ser tratada como fundamental. Em péssima situação financeira, a diretoria cortou gastos e investimentos em todas as áreas. Cair para a segunda divisão resulta em perdas de outros aspectos importantes: o faturamento com a  TV, patrocínio e, eventualmente, bilheteria. Se os cantabrianos conseguirem estancar a sangria financeira (e tudo irá depender do próximo dia 20) e a torcida seguir unida, há uma possibilidade de retornar à elite em pouco tempo. Mas, pelo tamanho do conserto necessário, o provável é que fica perambulando e vagando na Adelante durante algumas temporada, como o Celta Vigo.

Um comentário:

  1. Olá Victor, gostaria de saber se algo já foi decidido no Racing. Já se sabe quem sai, quem fica ou mesmo se ainda haverá futebol profissional no clube? Rs. Parabéns pelo blog, é sensacional. Abraço!

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