segunda-feira, 30 de maio de 2011

Porque o Barcelona é o melhor do mundo

Em ritmo de festa: artilheiro da Champions e da temporada europeia, Messi chegou aos 17 títulos como profissional - e com apenas 23 anos! (getty images)

A frase que intitula este texto, verso de Ja Som Campions, música-símbolo da torcida do Barcelona, poucas vezes foi tão sincera. No mítico estádio Wembley, em Londres, havia um novo campeão europeu: o mágico Barcelona voltava ao topo da Europa duas temporadas depois de seu último título. Além disso, o clube igualou-se no topo dos clubes espanhóis - e europeus - que possuem dobletes (Liga + Champions) em seu palmarés - quatro dobletes. O Barcelona, segundo seu site oficial, é o dono dos dobletes. Além disso, o Barcelona superou o Real Madrid como o clube espanhol mais vencedor da história: já são 77 taças levantadas pelo clube fundado por Juan Gamper em 1899.

Na final de Londres, o Barcelona jogou da mesma maneira como venceu seus mais importantes jogos na temporada. Mágica, a equipe de Guardiola teve uma altíssima posse de bola e encurralou seu adversário, que chutou apenas uma vez à meta de Víctor Valdés - curiosamente, no gol de Rooney, o único dos Red Devils. Apesar de ter passado um pequeno sufoco nos dez primeiros minutos de jogo, quando o Manchester United resolveu atacar e pressionar a saída de bola do Barcelona, os azulgrenás logo foram tomando conta da partida. O meio-campo mancuniano tinha apenas Carrick para fazer combate. Não é de se estranhar que Iniesta e Xavi tenham jogado com liberdade, tocando a bola quantas vezes quisessem. Apenas o trio de meio-campo do Barça deu 296 passes certos, com aproveitamento entre 89 e 92%. O time inteiro do United deu 301, com 72% de acerto. Iniesta acionou Messi 39 vezes, uma a mais que Xavi. As duplas que mais trocaram passes entre si no Manchester United servem de monumento à falta de atividade dos meias: Ferdinand-Van der Sar (17 vezes), Vidic-Ferdinand (16) e Vidic-Van der Sar (15).

Já somos campeões
Com liberdade, os pilares deste Barcelona comandaram a equipe ao título. Logo nos primeiros minutos, Xavi cruzou com facilidade uma bola concluída erradamente por Pedro, em um prenúncio do que viria pela frente. Villa, em um chute à esquerda de van der Sar, também levou perigo às redes do holandês, antes do Barça abrir o placar. À la Roma 2009, o Barcelona puxou um contra-ataque que teria como final o primeiro gol da partida. Porém, desta vez, os protagonistas foram outros: Xavi arrancou pelo meio e, em uma assistência de mágica, deixou Pedro na cara de van der Sar. Com frieza, o canário bateu no contrapé do holandês para levar a torcida do Barcelona à loucura. Logo depois, o Barcelona provou de seu próprio veneno: Ferdinand roubou no alto uma bola de Pedro e acionou Rooney. Shrek fez uma bela tabela com Giggs, que, até então sumido, devolveu com esperteza para o camisa dez mancuniano finalizar com extrema categoria e empatar a final.

Na volta para o segundo tempo, o jogo cresceu um pouco, com o Barcelona exercendo uma enorme pressão no Manchester United. Daniel Alves desperdiçou uma ótima oportunidade de desempatar a partida, cargo que Messi ficou encarregado de fazer. Após receber de Iniesta na entrada da meia-lua, La Pulga - livre - ajeitou para sua canhota mágica e emendou um belo chute, que ganhou curva e "matou" van der Sar, que reiterou após a partida não ter falhado no lance. O lance mais belo da noite estaria por vir. Messi deu um drible desconcertante em Nani, que havia acabado de entrar, na direita e invadiu a área. Busquets ajeitou para Villa e o Guaje, em um lance fenomenal, acertou com maestria um feliz chute no ângulo de van der Sar, sacramentando o tetra-europeu do Barcelona.

No fim da partida, Guardiola tirou Daniel Alves e colocou o capitão Puyol em campo. Xavi passou a braçadeira para o defensor, que começou no banco de reservas. No final, quem levantou a taça da Champions foi Abidal. Até o apito final do árbitro Viktor Kassai, o time comandado pelo técnico Pep Guardiola continuou envolvendo o Manchester United e não deu a menor chance à equipe britânica sequer sonhar com o empate. A festa da torcida catalã, que estava em maior número e desde o início do jogo demonstrava mais otimismo, era grande no histórico Wembley. Barcelona, tetracampeão europeu. A Europa é do Barça mais uma vez. O mundo reverencia o melhor time do mundo.

Foi um sonho que todo nós queríamos
Messi, por sua vez, merece um capítulo à parte na história da temporada azulgrená. Desde a saída de Eto'o, em julho de 2009, La Pulga se consolidou no posto de ser o homem-gol do time. Ibrahimovic e Villa foram contratados para exercer essa função, mas o argentino, ano após ano, não para de marcar. Em 2010/2011, foram incríveis 55 gols - dois pela seleção argentina - e o prêmio de artilheiro da temporada europeia, ao lado do "rival" Cristiano Ronaldo. Comparações com Ronaldo e Romário são inevitáveis.

Com média de 0,93 gol por jogo (e um gol a cada 86,2 minutos), Messi consagrou-se no ano. Os 205 gols na carreira - 177 pelo Barça e 28 pela Argentina - até o momento estão muito próximos dos 215 que o Baixinho marcou como profissional até os 23 anos (1989) e 232 do Fenômeno até 1999. Com a ressalva de que ambos atuaram no Campeonato Holandês, uma liga de segundo porte na Europa, Messi vai além. Ainda que o tempo seja um adversário de respeito, ele já é o grande candidato a levar para casa mais uma Bola de Ouro, em janeiro.

Caso confirme o favoritismo, Messi irá se igualar aos holandeses Johan Cruyff (1971, 1973 e 1974) e Marco van Basten (1988, 1989 e 1992) e ao francês Michel Platini (1983, 1984 e 1985) com três Bolas de Ouro. O brasileiro Ronaldo e o francês Zinedine Zidane são outros que já foram eleitos três vezes o melhor do mundo, mas em eleição da Fifa - agora unificada com a premiação da “France Football”. Messi, eleito pela Uefa como o melhor jogador da final, além disso, foi artilheiro da 'Champions' pelo terceiro ano seguido. Anteriormente, só o francês Jean-Pierre Papin e o alemão Gerd Müller tinham conquistado este feito.

Vamos comemorar na Praça Sant Jaume
Josep Guardiola é outro que merece bastante destaque na temporada barcelonista. Em dois anos treinando os blaugrana, Guardiola transformou o ambiente do clube, que vivia em uma eterna crise - dentro e fora dos gramados. O catalão preza pela coletividade e conseguiu unir o grupo em torno de seus objetivos. Fato é que os jogadores treinados por ele sempre se doam pelo time. Dentre os principais acertos do técnico, ainda devemos levar em consideração que foi ele que indicou contratações fundamentais para a constituição deste elenco, como Gerard Piqué, Daniel Alves e David Villa, além de subir para o plantel A jogadores como Pedro e Sergio Busquets. Outra grande mudança foi a troca de módulo, dando liberdade para Messi fluir seu jogo. O 4-3-1-2, com Messi jogando atrás de Pedro e Villa, só fez com que La Pulga se consolidasse mais na liderança do futebol.

Individualmente, Josep Guardiola não tem do que reclamar: em menos de cinco anos como treinador, já são dez taças levantadas, entre elas duas Champions League e três Ligas BBVA. Após a partida, Guardiola negou publicamente que estaria se despedindo da equipe azulgrená, após rumores criados por Cruyff em sua coluna semanal no jornal El Periódico. O Marca chegou a especular que a temporada 2011/2012 seria a última do técnico de Santpedor no comando técnico do Barcelona. Segundo a publicação, o comandante azul-grená compartilhou com pessoas íntimas seus pensamentos para a sequência de sua carreira, com as quais o jornal conversou.

O plano seria cumprir o ano de contrato que lhe resta com o Barcelona, na temporada 2011/2012, depois curtir a jornada 2012/2013 inteira de férias e, a partir daí, atender o convite da Federação Catariana de Futebol. Isto significa, sempre segundo o diário, assumir o comando da seleção do Catar, país que receberá a Copa do Mundo de 2022 e que, por ser o país-sede, já tem sua vaga garantida. Guardiola seria o sonho do presidente Sheikh Hamad Bin Khalifa Bin Ahmad Al Thani e receberia R$ 82,7 milhões por ano (36 milhões de euros). O Catar não é um local desconhecido para Guardiola, que jogou no Al-Ahli entre 2003 e 2005 e neste período manteve ótima relação com os dirigentes do futebol do país, o que o levou a participar da promoção da candidatura da nação para o Mundial de 2022.

"Messi ganha o jogo; Xavi e Iniesta destroem os adversários", palavras de Rooney, rendendo-se a dupla após a partida (AP Photos)

Vai começar a festa em Canaletes
A equipe catalã venceu o Manchester United com facilidade acima do esperado porque, antes de tudo, dominou o meio-campo. Em teoria, eram apenas três meio-campistas blaugranas – Busquets, Xavi e Iniesta – contra quatro vermelhos – Valencia, Carrick, Giggs e Park. Ainda assim, o Barça tinha superioridade numérica. Park ficou tão ocupado com Daniel Alves que não ficou em cima de nenhum meia barcelonista. Giggs e Valencia não são os melhores marcadores do planeta e não davam conta de parar a troca de passes. O equatoriano, aliás, acabou exagerando nas faltas (cometeu sete, duas a mais que todo o time do Barcelona). Não é de se estranhar que Iniesta e Xavi tenham jogado com liberdade, tocando a bola quantas vezes quisessem.

Um dos aspectos mais fascinantes do sistema de jogo do Barcelona é o modo como a compactação e a fluidez dos movimentos faz o time sempre estar em superioridade numérica. Onde quer que a bola esteja, haverá mais jogadores de azul e grená do que do adversário. É uma matemática difícil de combater.Na atual temporada, Xavi se consolidou como um dos principais ídolos da história do Barcelona. Na partida contra o Levante, no dia 2 de janeiro de 2011, superou Miguelli como o jogador do Barcelona a mais vezes vestir o manto azulgrená na história (568 vezes).

Temos um nome e todos sabem: Barça, Barça, Baaarça!
Os jogadores do Barcelona já estão de férias, mas a diretoria do clube não parou de trabalhar. Nesta segunda-feira, os diretores começaram a avaliar novas contratações e dispensas. A primeira ação deverá ser a renovação de contrato do francês Abidal, que passou recentemente por uma cururgia para retirar um tumor no fígado. O jogador foi homenageado na final da Liga dos Campeões, sendo o capitão na hora de receber a taça.

A diretoria deseja realizar três ou quatro contratações. Fontes do Mundo Deportivo acreditam na aquisição de Rossi, do Villarreal, Fábregas, do Arsenal, e mais um jogador de defesa, que tem recebido tratamento especial por conta dos recentes problemas de Abidal e Puyol, que será operado durante as férias. Pastore, do Palermo, e Willian, brasileiro do Shakhtar, também estão na órbita dos azulgrenás. O lateral-esquerdo José Ángel, do Sporting Gijón, foi confirmado na semana passada, mas os diretores das duas equipes não entraram em acordo e o lateral não deve chegar.

Em homenagem aos culés, o título e cada intertítulo deste texto são versos de Ja Som Campions

Barcelona 3x1 Manchester United
Barcelona: Valdés, Daniel Alves (Puyol), Piqué, Mascherano e Abidal; Busquets, Xavi e Iniesta; Messi, Pedro (Affelay) e David Villa (Keita).
Manchester United: Van der Sar, Fábio (Nani), Vidic, Ferdinand e Evra; Valencia, Carrick (Scholes), Giggs e Park; Wayne Rooney e Chicarito Hernández.
Árbitro: Viktor Kassai (Hungria)
Gols: Pedro (Barcelona), aos 21; Rooney (Manchester United), aos 33 minutos do primeiro tempo; Messi (Barcelona), aos 8, e David Villa (Barcelona), aos 24 minutos do segundo tempo.
Cartões Amarelos: Daniel Alves e Valdés (Barcelona); Carrick e Valencia (Manchester United).
Público: 87.695 pessoas

2 comentários:

  1. Cara, parabéns!
    Excelente texto.
    Abraço!

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  2. Sempre soube que iria dar Barcelona.
    Parabéns, blaugrana! Parabéns, Victor, pelo excelente texto.

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