sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Déjà vu?

Em 2009-10, o Zaragoza começou a temporada com uma estrutura pesada, custosa, cheia de jogadores de alguma projeção e responsabilidade de disputar a metade de cima da tabela. Não suportou o peso dela e rondou a zona de rebaixamento todo o primeiro turno. Quando José Aurélio Gay assumiu e deu espaço a mais garotos – tendo Ponzio e Edmílson como pontos de experiência –, os maños cresceram. Junto a isso, pode vir algumas contratações fundamentais para a equipe, como Suazo e Edmilson, e a recuperação do futebol fino e goleador de Adrián Colunga, que estava em "crise".

Os maños, assim, passaram a praticar um futebol mais veloz e aguerrido, compatível com a disputa das últimas posições. Ponto alto da reviravolta do Zaragoza na temporada, foi a contratação de "Chupete" Suazo, que deu um upgrade tremendo no clube blanco. Com consecutivas vitórias, finalmente o clube de Zaragoza conseguiu viver livre do rebaixamente, em sua volta à Liga BBVA.

Sempre atrás: essa é a realidade dos defensores maños neste início de temporada (getty images)

Em tese, a ideia para a nova temporada era continuar no mesmo ritmo que terminou a antiga temporada. Porém, a história pode estar se repetindo. Ineploravelmente, o Zaragoza começou a temporada da mesma forma que começou a temporada anterior: perdendo e sofrendo goleadas. Os colistas não conseguem conectar o meio-campo ao ataque e a falta de gol é clara. Sem Colunga, transferido para o Getafe, coube a Suazo a responsabilidade de marcar. Entretanto, a notícia de que o chileno ficará de fora dos gramados por seis meses por causa de lesão caiu como uma bomba nos arredores do La Romareda.

Sem Colunga, restou à diretoria maña recorrer ao última dia de mercado para trazer um atacante. Chegou, então, em empréstimo, Sinama Pongolle, sem espaços no Atlético de Madrid graças à ascenção de Diego Costa. O francês tem correspondido, fazendo sua parte, e não tem culpa do momento que vive o time de Aragão. Problemas extracampos também minam o futebol maño.

Os fatores que indicam problemas de relacionamento surgem discretamente. Mesmo com resultados tão ruins e as cutucadas no elenco, o técnico madrileño continua no cargo. O presidente Agapito Iglesias já negou diversas vezes que pretende demiti-lo. Manteve a posição mesmo depois de um incidente mais grave: a expulsão do zagueiro italiano Contini em um treino por falta de dedicação na última quarta, às vésperas do confronto contra o Barcelona. Não é difícil entender por que os dirigentes estão ao lado da comissão técnica, algo normalmente raro nesses casos. A falta de clima do elenco não seria culpa do treinador, mas de problemas mais profundos. O meia Ander Herrera, formado nas categorias de base mañas, disse que jamais viu um racha social tão grande no clube.



José Aurélio Gay: "É, rapaz, a situação está tensa" (marca.com)

O jogador se refere à relação instável entre torcedores e diretoria, além da grave crise financeira do Zaragoza. O clube foi colocado à venda e a imprensa espanhola especula que os salários estejam atrasados. Resultado de um longo processo, que começou há várias temporadas, com investimento pesado em reforços que acabaram não dando os resultados esperados (classificação para a Liga dos Campeões ou, no mínimo, algum título de Copa do Rei ou boa campanha na Liga Europa). A queda para a segunda divisão, há três anos, só agravou o cenário.

Segundo Nayim, assistente técnico do time e ex-jogador maño (alguém se lembra que ele fez, contra o Arsenal, um gol do meio de campo, no último minuto da prorrogação, para decidir o título da Recopa de 1994/95?) a falta de sorte também pode estar incluída. “Precisamos recuperar o moral dos jogadores, porque eles são os verdadeiros protagonistas. Agora estão abalados, mas são profissionais e precisam se recompor. Até porque, quando a torcida vê a equipe lutar, vai junto – e fica contra quando isso não acontece.” O ex-meia considera que melhorar psicologicamente seria, inclusive, mais importante do que mexer em tática ou técnica.

No final das contas, é provável que Gay seja demitido em algum momento. Por mais que a diretoria esteja contrariada com o comportamento do elenco, são os jogadores que entrarão em campo para buscar os pontos que podem salvar o time do rebaixamento. Mas os zaragocistas precisam mesmo é torcer para mudanças lá em cima. Algo mais difícil do que contratar um psicólogo para animar um grupo de pessoas.

Um comentário:

  1. sou torcedor do Zaragoza e gostei muito do texto. Análise esplêndida. Densa e consistente.

    Parabéns.

    Iremos sair dessa! "noble juego, valentía y corazón és el REAL ZARAGOZA!!!!"

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