Tito Vilanova e a árdua missão de substituir Josep Guardiola (getty images)
Mudança de ciclo sempre são bastante complicadas. Ainda mais em clubes grandes, onde a pressão por um trabalho bem feito começam desde os primeiros meses. No Barcelona, logicamente, não é diferente. Tito Vilanova passa por um processo semelhante ao que seu antecessor, Josep Guardiola, passou quando assumiu o lugar de Frank Rijkaard em 2008: a cobrança pelo resultado. A perda da Supercopa para o Real Madrid deixou boa parte de torcedores e simpatizantes do clube catalão com um pulga atrás da orelha.
É natural que Tito Vilanova seja pressionado, mas as análises mais ponderadas precisam esperar pelo verdadeiro Barcelona 2012/13. O novo treinador fez uma pré-temporada bem saudável e tinha tudo nas mãos para começar a temporada voando, mas não é isso que os jogadores mostraram nos primeiros cinco jogos antes da pausa para a Data Fifa. É arriscado e pesado chamar de pragmático o futebol da equipe que mais encantou o mundo nos últimos quatro anos; mas, baseando nos duelos contra Real Madrid no Santiago Bernabéu, Osasuna e Valencia, a definição é cabível. O toque de bola, tão refinado e objetivo, parece ser utilizado somente para passar o tempo e esperar o jogo acabar. Mal comparando, parece a Espanha em boa parte da Eurocopa 2012.
A linha defensiva está mais frágil. Vilanova falhou na tentativa de contratar um zagueiro, que seria o substituto de Puyol, passando por consecutivos problemas físicos, e por isso mudou a atenção para a contratação de um substituto para Busquets. Efetivar o jovem Marc Bartra foi a alternativa utilizada para preencher a lacuna da não contratação de um defensor, mas colocar as esperanças num canterano que, por mais promissor que seja, ainda é inexperiente é arriscado. Contra o Real Madrid, Adriano, Piqué, Mascherano e Alba sofreram, principalmente no primeiro tempo, com a velocidade imposta pelos fortes contra-ataques merengues. A expulsão de Adriano foi simbólica.
O ataque, pelo menos neste início de temporada, parece continuar bastante dependente de Lionel Messi. Paradoxalmente, isso representa o maior perigo para Tito Vilanova: e quando Messi não decidir?; e quando Messi for anulado pelo esquema adversário, como contra nos duelos contra o Chelsea? Não há um Samuel Eto'o ou um Thierry Henry, que cansavam de decidir, durante a primeira temporada de Guardiola no Barcelona, quando o argentino não estava em boa noite. Alexis Sánchez não é um goleador nato e Tello é só incógnita, apesar da (cega) insistência do treinador no garoto. A esperança é David Villa, que ainda não recebeu alta médica, retornar em um bom nível e Pedro reencontrar o caminho dos gols decisivos. Contra o Real Madrid, na partida de ida da Supercopa, o canário marcou um importante gol que recolocou o Barça no duelo.
O que tem chamado a atenção são as substituições de Tito Vilanova. Ele demora a mexer na equipe e, quando o faz, não é da maneira que deveria ser. O caso mais lembrado é a entrada de Tello no Bernabéu, quando o treinador tinha à disposição dois campeões do mundo no banco de reservas, Villa e Fàbregas. Ainda que o Guaje não possa atuar num ritmo mais pesado, por que não tentar Fàbregas? O catalão é outro capítulo à parte do início da era Vilanova. Displicente, tem limitado-se a dar passes para o lado e parece fora de conexão com o restante dos jogadores. Escalado no setor onde mais gostaria de atuar, Cesc não foi bem quando jogou no lugar de Xavi, na armação, nem de Iniesta, ao lado do camisa seis no meio-campo.
No entanto, acontece que é praxe o Barcelona iniciar a temporada num ritmo mais leve. A exemplo de comparação, o Barcelona de Guardiola em 2008/2009 somou quatro pontos nas três primeiras rodadas (uma derrota, um empate e uma vitória). O da atual temporada, pelo menos, tem nove pontos, o que dá margem para um descanso lá na reta final, se a equipe tiver disputando as fases finais da Champions League. Em 2010/2011, ano que ganhou Liga e Champions League, o Barcelona só foi convencer no final de novembro, quando derrotou o Real Madrid por 5x0 e, a partir dali, explodiu definitivamente. Por isso, a pressa quanto ao trabalho de Vilanova é, em certo ponto, exagerada. Quem acompanha os azulgrenás veementemente nos últimos anos sabe que eles tendem a começar a "voar" a partir do final de outubro ou começo de novembro. Porém, por outro lado, Vilanova já deveria dar demonstração de que acerta mais que erra e não criar mais dúvidas.
Gostei da matéria Victor, estava esperando bastante e acho que vc foi o primeiro a fazer uma análise profunda sobre o trabalho do Tito Vilanova.
ResponderExcluirAcredito que para ele não deve estar sendo fácil a pressão, assumir as rédeas de um time que já é lendário. A situação dele me lembra a do Osvaldo de Oliveira qdo assumiu o Corinthians de Luxemburgo (que foi para a seleção) em 1999, pq pegou um time arrumado, campeão e que fez um excelente campenato BR (claro não comprarar Corinthians com Barcelona, mas na questão da sucessão apenas)
As comparações já estão sendo inevitáveis, mas como vc mesmo disse, vamos dar tempo ao tempo. O Real Madri não mudou de técnico, o time-base é o mesmo, de alto nível, é natural exercer mais dificuldade, além do mais, o Madri duelou várias vezes com o Barça nesses últimos 4 anos e alguma coisa aprendeu a como anular o time blaugrana, a herança dessa dificuldade quem pega é Tito (força para ele nesse momento).
Sobre o time: desde a pré-temporada pelo menos eu notei posicionamento adiantado como antes, toque de bola, idem, o time sobe mais rápido para o ataque, não fica muito no tiky-taka que era o habitual, mas perde com mais facilidade a bola, nem tem na posse de bola como sua grande força defensiva, as vezes tem postura de um time comum que tenta copiar o anterior barcelona. Lembra muito a Roma de Luis Henrique da temporada passada do Italiano, jogava com laterais adiantadíssimos, deixando os dois zagueiros e o volante, mano a mano com o ataque adversário, sofrendo muitos gols. Eu vejo isso acontecer no time do Tito Vilanova, espero estar errado. Independente disso, mesmo que o Real Madri ganhe alguma coisa nessa temporada, não vai superar o que Barcelona nesse início de temporada na minha opinião. Mesmo demorando para engrenar, o Barcelona ainda dá gosto de ver jogar, o Real Madri não. Mourinho é um baita técnico, mas seus times não encantam (quem lembra com admiração futebolística os times como Porto, Chelsea, e Inter de Milão que ele dirigiu?) mesmo montando equipe eficientíssimas.
Sobre Tito novamente: não sei se ele está totalmente preparado como técnico, ao contrário de Guardiola que já estava pronto, só precisou de tempo para mostrar o potencial que era.
Contratações: faltou trazer um zagueiro, apesar de Song jogar de volante e zagueiro como o javi Martínez e mais um atacante, desde de a saída de Villa, o Barça não foi mais o mesmo, dependeu muito do Messi, mas como vc disse bem Victor, até qdo?
Abraço.
Esqueci de uma coisa. existem as críticas, mas tbm os pontos positivos.
ResponderExcluirGosto da postura dele em campo, sem aquele destempero que alguns técnicos hj em dia tem, gritando com os jogadores, deixando a equipe descontrolada emocionamente.
Não entra no bate-boca com outros técnicos e a imprensa.
Ele mantém a filosofia e o estilo de jogo Barça, deu uma nova chance a Pedro e está dando credibilidade a Piqué.
E acredito que Villa terá um bom aproveitamento com ele.
Espero que venha mais um atacante em dezembro.
Abraço 4-3-3
Também acho cedo para criticar, até pelos pontos que destacei no texto, mas Tito precisa mostrar que acerta mais do que erra já cedo.
ResponderExcluirAbraço!