"Dois gols tá bom ou você quer mais?", poderia ter dito Fernando Torres a Del Bosque (getty images)
Antes da estreia na Eurocopa contra a Itália, Vicente Del Bosque se expressou utilizando todas as palavras: não usaria o modo Barcelona de jogar, com um falso nove. Puro blefe. Abdicou de Llorente, Fernando Torres e Negredo e foi a campo com Fàbregas na referência. O meio-campista do Barcelona (meio-campista, é bom deixar claro) marcou, mas a Roja penou para bater a meta defendida por Buffon. Só marcou porque abusou de seu estilo de jogo na jogada, com troca de passes e triangulação entre Iniesta, David Silva e Fàbregas. Minutos depois, Vicente sacou Cesc e colocou Fernando Torres. Em menos de 30 minutos, El Niño criou três oportunidades claras de gols.
Não obstante, o treinador campeão mundial recebeu uma chuva de críticas após o duelo. Até José Mourinho e Luis Aragonés trataram de criticar a escalação inicial. O madrilenho manteve a calma e até acenou com a possibilidade de atuar novamente com a mesma escalação ante a Irlanda. Novamente, puro blefe. Dessa vez, positivo. Em relação ao jogo contra os italianos, uma única mudança: saiu Fàbregas e entrou Fernando Torres. Uma troca substancial. Não que Fàbregas seja mau jogador, muito longe disso. Acontece que não há como escalá-lo como centroavante. É abdicar das principais características dele. Fica longe da fluência de jogo no meio-campo, do tiki-taka feito pelo setor e, principalmente, da armação das jogadas, que, a bem da verdade, foi muito bem feita por Xabi Alonso contra a Irlanda.
A seleção de Trapattoni nada pôde fazer para segurar o ímpeto espanhol. Conhecido por armar bem uma boa retranca, como um bom e velho italiano, o treinador vê seus comandados decepcionarem. A Irlanda da Eurocopa é a antítese daquela das Eliminatórias. Sentindo o peso da competição, atua em um baixo nível e não consegue segurar os ataques rivais. Havia sofrido com os contra-ataques da Croácia e perdeu a cabeça ante o jogo de troca de passes espanhol. "Foi um golpe psicológico", como apontou José Capdevila, editor-chefe do Diário Sport. Daniel Leite, colunista de futebol inglês do IG, escreveu bem sobre a seleção e a definiu perfeitamente: Trapattoni prioriza a experiência em detrimento do talento. Em momento algum sabe o que fazer com a bola nos raros momentos em que a
tem nos pés. Sai do torneio de forma decepcionante, já que o ferrolho
que a caracterizou nas eliminatórias não foi eficiente em momento
algum.
Para a Espanha, valeu por três nomes. David Silva reencontrou seu bom futebol. Marcou uma vez e assistiu duas. Dos cinco gols espanhóis em solo ucraniano, participou de quatro. Ainda pode aparecer mais, mas sua evolução é notória. Há duas semanas, escrevi que ele, junto a Iniesta, seriam os candidatos a destaques da seleção e da competição. Quem começa a entrar nessa galeria é justamente o blaugrana. O melhor em campo contra a Itália voltou a repetir uma exibição positiva. Driblou, tocou, chutou. Para esse colunista, é, ao lado de Schweinsteiger, Pirlo e Dzagoev, o craque dessa edição da Eurocopa.
O maior destaque, contudo, não poderia ser diferente de Fernando Torres. Há dois meses, tinha sua participação na competição colocada em xeque. Após uma temporada negra no Chelsea, sua reta final teve lampejos do velho Torres. O gol contra o Barcelona em pleno Camp Nou, pelo visto, valeu para recuperar a confiança de um dos melhores matadores dos últimos anos. Dentro das quatro linhas, ratificou a confiança de Del Bosque. Se movimento, saiu de fora da área várias vezes para participar das linhas de passes, abria espaço para as infiltrações de Iniesta, Silva e Xavi e marcou duas vezes. Sua boa partida é uma excelente notícia para a Espanha. Agora, a Roja pode contar com um centroavante de confiança e parar de ver as improvisações de meios-campistas no ataque. Com quatro pontos, joga por um empate contra a Croácia para avançar de fase.
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