Mario Kempes ganhou dois Pichichi's pelos Ches antes de triunfar na Copa de 1978 (somosche.com)
Gol e Mario Alberto Kempes não precisam ser apresentados. Nasceram um para o outro, em uma espécie de ligação extraclasse entre alma e objeto, entre feito e criatura. Argentino da estirpe dos cabeludos de visual rebelde, El Matador gostava - e ainda gosta - das alegrias da vida. E, certamente em função disso, é um dos principais ícones da história do Valencia.
Nascido em Bell Ville, na região de Córdoba na Argentina, Kempes apareceu para o futebol em 1972, quando ajudou o pequeno Instituto de Córdoba a voltar à primeira divisão do Campeonato Argentino. Treze gols em onze jogos levaram Mario, dois anos depois, ao campeão da temporada 1974, o Rosário Central. Com apenas 20 anos, o centroavante rompedor de zagas adversárias já dava mostras de seu potencial. Mesmo sendo muito jovem, Kempes fez parte do grupo argentino que fora a Copa da Alemanha. Não deixou sua marca, mas voltou para seu país disposto a mostrar seu valor como fazedor de gols. Em três anos de Rosário, El Matador marcou 85 vezes - desempenho que chamou atenção da direção dos Ches.
Mas não foi só isso que fez Kempes trocar Rosário por Valencia. Em 1976, o regime ditatorial militar na Argentina agia com força. O jovem Mario, artilheiro de um dos maiores clubes do país, tinha raízes vinculadas ao Peronismo - o que desagradava os militares. Para fugir desse assédio e da crise econômica que se instalara no país, Kempes fez as malas e levou toda sua família para a Península Ibérica. O primeiro jogo do centroavante no Valencia não teve nada de animador. Em partida válida pelo Troféu Laranja, o argentino perdeu um pênalti. Mario enfrentava o primeiro revés em sua curta carreira até então, mas viria a provar seu valor ainda na primeira temporada no futebol espanhol.
Comandando um ataque de 53 gols em 34 jogos, Kempes foi às redes em 24 oportunidades na temporada 1976/77 de La Liga e conquistou a artilharia do campeonato. No ano seguinte, quando duvidava-se da capacidade do argentino em manter o impressionante número de tentos, El Matador foi além: 28 gols em 34 jogos para decorar sua prateleira com segundo Pichichi de máximo goleador seguido. Para coroar esse início de luxo na Liga Espanhola, Mario Kempes foi o único argentino atuando fora do país a fazer parte do grupo de César Menotti para a Copa de 1978. Envergando a #10, o rompedor de defesas passou em branco na primeira fase. Mas o centroavante brilhou na hora da decisão: foram dois gols diante da Polônia e outros dois contra o Peru na fase semifinal. No embate final, contra o resquício maravilhoso da Laranja Mecânica - a mesma base de 1974, mas sem a genialidade de Johan Cruyff -, Mario fez o gol argentino no tempo normal. No tempo extra, chutou tudo o que via pela frente para deixar os sul-americanos em vantagem, abrindo caminho para o primeiro título de Copa do Mundo dos hermanos.
Curiosamente, a Copa atuando em casa foi também o primeiro título coletivo de Mario Kempes na carreira. Além da Taça Fifa, ele foi o artilheiro da competição com seis gols - até a Copa da África do Sul, em 2010, El Matador era o mais jovem jogador a ser artilheiro de uma edição de Copa do Mundo (o alemão Thomas Müller superou esta marca do argentino após marcar cinco vezes em terras sul-africanas na edição de 2010).
Com sede de títulos, Kempes voltou ao futebol espanhol disposto a levar o Valencia de volta às glórias - os Ches não venciam nenhum torneio oficial desde a Copa do Rei da temporada 1966/67. E foi justamente na copa nacional que os laranjas quebraram esse jejum, conquistando de quebra uma vaga na Recopa Europeia. Na partida final, em Madrid contra os merengues, Kempes foi às redes duas vezes para tirar a Copa do Rei das mãos dos madridistas.
A Recopa de 1979/80 e a Supercopa da temporada seguinte também ilustram a galeria de troféus deste argentino. Entretanto, o título de La Liga não faz parte das conquistas de El Matador. Quando o Valencia teve suas maiores chances, na temporada 19870/81, Kempes passou a maior parte do ano fora da equipe. Mesmo assim, manteve a média perto dos 0,8 gols por jogo: nove em 12 jogos na temporada. Após um período no River Plate - onde rivalizou com o Boca de Maradona -, Kempes voltou à Valencia para mais duas temporadas, antes de transferir-se para o Hércules. Conforme perdia sua imponência dentro da grande área, o argentino foi escondendo-se dos grandes centros do futebol. Após discretas temporadas na Áustria, abandonou os gramados no futebol chileno.
Cabelos esvoaçantes ao vento, Mario Kempes sempre marcou sua posição dentro das grandes áreas adversárias. Na Espanha, é o 33º maior goleador do campeonato nacional, tendo jogado 222 vezes e marcado 126 gols (116 pelos Ches e 10 pelo Hércules). Tirando o genial Alfredo di Stéfano, Mario Kempes é o argentino com maior número de gols na Liga das Estrelas. Centroavante de estilo típico, para alguns trombador em excesso, mas sem nunca esquecer o caminho das redes, Kempes marcou época em Valencia e é referencia de área para atacantes até hoje. Em sua homenagem, o principal estádio da província de Córdoba leva, desde outubro de 2010, o nome de Mario Alberto Kempes - fato que só é igualado na Argentina por Diego Maradona, alcunha do estádio do Argentinos Juniors.
Kempes e o gol ganharam, ao logo dos anos, a companhia do Valencia para fechar a tríade de sucesso que embalou os Ches entre as décadas de 1970/80. O futebol agradece essa história de sucesso ao Regime Ditatorial da Argentina. Pelo menos uma união de sucesso eles concretizaram.
KEEEEEMPES!
ResponderExcluirTexto perfeito do meu maior ídolo!!!