Na temporada passada, o Milan parou Messi no San Siro e segurou o 0x0 contra o Barcelona com uma pequena retranca. E agora? (AP Photos)
Por mais um ano consecutivo, o sorteio da Uefa Champions League colocou frente a frente Barcelona x Milan. Se, nos confrontos da temporada, houve um leve favoritismo ao lado do Barcelona, principalmente depois da lesão de Thiago Silva, que ficou de fora dos dois jogos, atualmente o peso do favoritismo por parte blaugrana é ainda maior. À época, no entanto, o Milan deixou a competição de cabeça erguida, após segurar os azulgrenás no San Siro com uma competente retranca e chegar a assustar os mais de 90 mil torcedores culés presentes no Camp Nou, quando Nocerino empatou a partida por 1x1, resultado que classificava os rossoneros (logo depois, Messi, de pênalti, e Iniesta decidiram a classificação barcelonista).
Pelo lado catalão, o respeito pelo time de Milão é alto. Jordi Roura, na coletiva desta segunda-feira, afirmou ser altamente difícil encarar o Milan em seus domínios. O diretor esportivo Zubizarreta, por sua vez, admitiu não estar 100% confiante na classificação e que os rossoneros merecem respeito não importa a situação. O mesmo disse o capitão Puyol, reconhecidamente um seguidor do Milan.
Para a prévia deste confronto, que terá seu jogo de ida nesta quarta, 20 de fevereiro, às 16h45 (horário de Brasília), e volta no dia 5 de março, contaremos com a colaboração, por mais uma vez, dos parceiros do Quattro Tratti, especializado no calcio italiano. Quem fala sobre o Milan é Arthur Barcelos. Boa leitura.
A temporada até aqui
Milan: Depois de um início tenebroso, com seis derrotas, dois empates e apenas quatro vitórias, gerando um aproveitamento de 33,3%, o time de Massimiliano Allegri vem conseguindo se recuperar na Serie A. Nos últimos 13 jogos pelo campeonato, o Diavolo teve um aproveitamento de 69,2%, com nove vitórias, três empates e apenas uma derrota, marcando 26 gols e sofrendo outros 15. Atualmente, o clube de Milanello é o quarto colocado, com 44 pontos em 25 jogos, empatado com a Lazio, a última equipe na zona de classificação para a próxima Champions League. Pela Coppa Italia, o Milan parou nas quartas de finais, contra a Juventus, após ter batido sem dificuldades a Reggina nas oitavas. Já na fase de grupos da Champions, os comandados de Allegri fizeram campanha irregular, surpreendidos pela ótima campanha do Málaga, conseguindo uma vaga no mata-mata apenas na penúltima rodada.
Barcelona: Líder isolado e virtual campeão da Liga Espanhola, nem tudo foi mil maravilhas para o Barcelona no início da temporada. Sem Josep Guardiola, que em abril, logo após a eliminação para o Chelsea, havia anunciado que não renovaria seu contrato para 2012-13, a equipe demorou a engrenar. Em campo, Tito Vilanova não mexeu na filosofia de jogo de Pep, dando continuidade ao estilo do ex-treinador. No entanto, o jogo encantandor dos últimos quatro anos não fluia. Especialmente na Uefa Champions League, o Barcelona não convencia. O estopim foram dois jogos muito abaixo da média contra o Celtic, que resultou em uma derrota por 2x1 e uma vitória pelo mesmo placar com o gol da vitória aos 47 minutos do segundo tempo, através de Jordi Alba. A perda da Supercopa para o Real Madrid, quando foi amplamente dominado pelo time de Mourinho, foi moralmente absorvida pela campanha louvável em âmbito doméstico: enquanto os merengues iniciaram a temporada pecando na busca pela manuntenção do título, os blaugranas, por sua vez, firmaram o melhor início de um time em toda história do campeonato, vindo a perder sua invencibilidade apenas na primeira rodada do returno (derrota para a Real Sociedad por 3x2 no País Basco). Pela Copa do Rei, o Barça conseguiu boa vantagem ao empatar contra o Real Madrid no Bernabéu por 1x1.
Pontos fortes
Milan: A sequência de bons resultados deve dar um gás a mais para a equipe milanesa, mas são poucos os pontos fortes do atual Milan. Allegri tem no jovem El Shaarawy sua principal arma ofensiva, o artilheiro do time na Serie A e na Champions League, com 15 e 2 gols, respectivamente, contribuindo também com 4 assistências na temporada. Outros destacáveis dos rossoneri são Montolivo, Constant e De Sciglio. O primeiro vem rendendo bem na função de regista, correspondendo as expectativas, enquanto o segundo, por sua vez, talvez seja a grande surpresa na temporada, indo bem na lateral esquerda, e mesmo lhe faltando técnica, compensa com entrega e bom posicionamento. Já o último é a grande revelação do Diavolo, fazendo valer toda a expectativa criada após seu ótimo desempenho na base rossonera, desbancando o antes titularíssimo Abate e conquistando, inclusive, uma lembrança de Prandelli na Nazionale.
Barcelona: Lionel Messi e Andrés Iniesta vivem estados de graça. O primeiro, eleito pela quarta vez consecutiva o melhor jogador do mundo pela Fifa e France Football no início de janeiro, caminha para registrar sua melhor temporada nos números, após assombrosos 72 gols na temporada passada - 91 no ano. São 48 gols em 36 jogos, uma média de 1.33 por partida. Iniesta, por sua vez, é o motor do time. Adaptado ao setor esquerdo do ataque, em uma tentativa de encaixar Fàbregas no meio-campo, o espanhol, segundo muitos especialistas, faz a melhor temporada de sua carreira. Impulsionado pelo título e o troféu de MVP da Eurocopa, o camisa 8 é fundamental para o esquema do treinador, fazendo ótima parceria com Jordi Alba pelo lado esquerdo. Fàbregas é outro grande nome do Barça na temporada. Após um início fulminante, ele caiu de rendimento nos últimos jogos, mas nada de tão impressionante. Por outro lado, quem cresceu consideravelmente na temporada foi Xavi. O camisa 6 começou de maneira tímida, não tão dominante no meio-campo, mas desde dezembro tem feito partidas com selo Xavi.
Pontos fracos
Milan: Apesar do bom momento dos últimos quatro meses, o time de Allegri não apresenta bom futebol, que, certamente, não enche os olhos dos rossoneri. Suas vitórias geralmente vêm de placares apertados e/ou decididos no final dos 90 minutos, tendo muitas dificuldades contra equipes que jogam mais fechados e que usam contra-ataque e bola longa. O Milan tem a segunda maior média de posse de bola, 57,9%, atrás apenas da Juventus, contudo apresenta problemas quando com a posse, aproveitá-la para abrir espaços na defesa adversária, fazer infiltrações, chutar ao gol e, claro, converter suas chances, mesmo tendo o quarto melhor ataque da Serie A, 34% de gols do menino El Shaarawy, sobrecarregado no ataque. Balotelli, contratado no mercado de inverno, conseguiu amenizar um pouco a situação, marcando quatro gols em três jogos, porém não poderá jogar pelo Diavolo na Champions League, por já ter atuado pelo Manchester City. Não bastasse isso, a defesa segue falha, especialmente os zagueiros. Os veteranos Mexès, Yépes e Bonera não conseguem substituir a altura Nesta e Thiago Silva, e ainda apresentam certa irregularidade, enquanto Zapata não consegue repetir as atuações dos tempos de Udinese, também apresentando irregularidade.
Barcelona: Desde a Era Guardiola a zaga não inspirava confiança. Com Tito Vilanova tem exagerado. Os erros são múltiplos e cruciais. A recomposição é feita com muita lentidão, o que gera muitas bolas nas costas, sobretudo pelo lado de Daniel Alves, lateral que ataca com mais frequência que Alba, o lateral esquerdo. O catalão, talvez, seja o grande destaque desse sistema defensivo. Inteligente taticamente, ele comete poucos erros e ajuda substancialmente o ataque. Com Puyol apto, a melhoria é considerável, porém não garante 100% de confiança. Piqué, após bom início de temporada, voltou a falhar em janeiro, mas ganhou moral após anular Cristiano Ronaldo no superclássico de três semanas atrás. Outro ponto fraco conhecido desse time do Barça é a dificuldades de encarar retrancas. A eliminação para o Chelsea ratificou essa deficiência. Contra o próprio Milan, pelas quartas-de-finais da LC 2011-12, os azulgrenás passaram por dificuldades no San Siro, quando os rossoneros retraíram as linhas e diminuiram os espaços de Messi e Xavi.
Expectativas
Milan: Bom momento, futebol burocrático, as expectativas do Milan contra o líder espanhol e soberano Barcelona não são das melhores. Contra o eficiente time de Tito Vilanova, Allegri já não conta mais com Ibrahimovic e Thiago Silva, além da disposição tática da equipe das últimas duas temporadas, fatores que seriam fundamentais contra o clube catalão, que também vem apresentando problemas na defesa, problemas esses que poderiam ser explorados pelo trio Niang-Balotelli-El Shaarawy, que não poderá se repetir nos dois confrontos pela ausência do camisa 45. Além de tudo isso, o retrospecto da equipe de Milanello contra o Barcelona também pesa contra: nos últimos seis jogos, foram três vitórias dos culés, sendo duas em pleno San Siro, e três empates. Os comandados de Allegri terão de se superar caso ainda sonhem com o avanço para as quartas, mas pelo visto as atenções do time de Berlusconi estão todas voltadas para a Serie A, na briga por uma vaga na próxima Champions.
Barcelona: O Barcelona recuperou o bom futebol dos últimos tempos, após um fraco início quanto ao desempenho em campo, e chega ao confronto com muita confiança e com o peso do favoritismo ao seu lado. 12 pontos à frente do vice-líder Atlético de Madrid, os azulgrenás podem se concentrar com mais atenção à competição europeia. O treinador Tito Vilanova não estará presente nos confrontos devido a uma ida a Nova York para o início da quimioterapia para curar o câncer. O auxiliar Jordi Roura, nos últimos três jogos, tem feito alguns turnovers no time titular especialmente para evitar algumas lesões, principalmente de jogadores "frágeis" fisicamente, casos de Iniesta, Fàbregas, Daniel Alves, Puyol e Xavi. Em quatro confrontos contra o Milan na temporada passada, o Barcelona venceu dois, enquanto os outros dois terminaram empatados. Por tudo que as equipes vem apresentando na atual temporada, é fácil imaginar os catalães avançando de fase com certa facilidade. Mas uma camisa como a do Milan merece respeito, como frisou Roura na coletiva pós-jogo contra o Granada, no sábado.
Prováveis escalações
Milan: Abbiati; De Sciglio (Abate), Mexès (Zapata), Yépes, Constant; Nocerino, Montolivo, Boateng (Muntari); Niang, Pazzini (Bojan), El Shaarawy. Técnico: Allegri.
Barcelona: Víctor Valdés; Daniel Alves, Piqué, Puyol, Alba; Busquets, Xavi, Fàbregas; Pedro, Messi, Iniesta. Técnico: Jordi Roura
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