Negredo e Jesús Navas são os principais jogadores do Sevilla, e sentem a falta de alguém que crie as jogadas (El Desmarque)
O Sevilla viveu seu auge entre 2005 e 2008. Nesse período, o clube cresceu em âmbito nacional e europeu, ao ganhar duas Copas da Uefa e uma Supercopa (em cima do Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, diga-se de passagem). A fase era tão boa que os andaluzes chegaram a disputar a Liga Espanhola 2006/07 com Real Madrid e Barcelona até a última rodada, quando os merengues levaram o título a Chamartín. Nunca mais apareceu uma alternativa a dupla com tanta consistência para disputar a taça pau-a-pau (o Villarreal foi segundo colocado uma temporada depois, mas perdeu força na reta final).
Desde que o período áureo passou, o Sevilla até chegou a disputar oitavas-de-finais de Uefa Champions League e conquistou mais uma Copa do Rei em 2010, mas a queda na atuação é substancial à medida que os anos passam. Nos últimos dois anos, por exemplo, chegou a cair nas fase prévias da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Quando pensamos de maneira mais ampla, é impossível estar satisfeito com a produção local de talentos e as investidas no mercado. Há ótimos jogadores em diversas posições, sobretudo do meio-campo para frente, mas o clube não tem formado e nem contratado um tipo específico: o organizador de jogadas. A maior prova de que o sucesso do time passa por um armador é o fato de Rakitic, contratado em janeiro de 2011, ter conseguido se encaixar muito bem no esquema de Marcelino Toral a ponto de os andaluzes quase conseguirem a vaga na LC 2011/12. Hoje, o croata é visto sob desconfiança: na temporada passada, que seria de sua afirmação, foi terrível, com muitas lesões e mau futebol, onde chegou a ser vaiado no Pizjuán.
A seleção e o time que controlam o futebol mundial desde 2008 é a antítese do cenário sevillista. Entre os titulares do Barcelona, há três brilhantes organizadores: Xavi, Iniesta e Fàbregas. Eles se juntam a Xabi Alonso e Silva na Espanha. A manuntenção da bola é tão relevante para as duas equipes que os treinadores substituem um centroavante de ofício (na Espanha, Fernando Torres; no Barcelona, o último foi Ibrahimovic) por alguém capaz de participar da troca de passes (Fàbregas). No Barcelona, o falso nove é Messi, que, apesar dos seus 80 gols por temporada, nunca foi um centroavante natural. O argentino participa do fluxo de passes no meio-campo e chega à área apenas para concluir as jogadas. No Real Madrid, além de Alonso, ainda há Sahin, Granero e Özil. Athletic Bilbao, Valencia e Atlético de Madrid têm Ander Herrera e De Marcos; Guardado, Gago e Banega; e Koke e Gabi, respectivamente. O que há de comum entre as equipes citadas? Elas disputam títulos e vagas nas competições europeias, algo que o Sevilla não conseguiu na última temporada. Coincidência? Pode ser, mas isso ajudar em 80% dos casos.
Enquanto os outros pensam, os jogadores do Sevilla correm atrás, com pontas enérgicos e rápidos, que às vezes até sabem passar a bola, como Reyes, Jesús Navas e Perotti; porém ineficientes quando não têm espaço para atuar. Reyes, quando retornou ao Pizjuán, chegou a ser sobrecarregado de armar as jogadas, mas naufragou e até hoje deve uma atuação positiva. Míchel, sem alternativas, é obrigado a usar o "velho e ultrapassado" 4-4-2 em linhas, que tem Navas e o canterano abertos pelos flancos. Até Kanouté chegou a ser utilizado centralizado quando o treinador ousou em mudar para o 4-2-3-1, mas, logicamente, não rendeu.
Pensa que a diretoria está disposto a consertar esse erro? Que nada. Deem uma olhada na sessão "altas y bajas" no Marca e analisem as contratações feitas pelo clube neste mercado. Diego López, Javi Hervás, Rabello, Maduro, Kondogbia e Cicinho, além dos retornos de Acosta e Bernado. Nenhum fantasista, como gosta de chamar os espanhóis. Botía (mais um zagueiro - tudo bem, porque setor também é carente) pode estar próximo de um acerto. Na base, também não há nenhum jogador que se destaque originalmente por armar jogadas. Da equipe campeã da Copa dos Campeões, principal torneio de base da Espanha, os destaques foram Luna (lateral-esquerdo), Campaña (volante), Beto (volante), Joaquín (meia-atacante) e Jairo Morillas (centro-avante).
A esperança é a formação de jogadores dessa característica ainda nas equipes inferiores, como o sub-11 e sub-13. O maior desejo do presidente José Maria Del Nido é a volta à Uefa Champions League, mas o Sevilla se movimenta lentamente para mudar seu destino. Se fosse para apostar em equipes que brigarão por vaga na principal competição de clubes do mundo na Liga que se inicia daqui a dois sábados, os sevillistas certamente apareciam em segundo plano, pois estão atrás de Athletic Bilbao, Valencia e Atlético de Madrid.
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