sábado, 11 de agosto de 2012

Temporada de afirmação

 O Athletic Bilbao de Marcelo Bielsa precisa ir além de uma boa temporada nas copas e sabe que, dessa vez, sua disputa é por uma vaga na Uefa Champions League (getty images)

2011/2012 foi a melhor temporada do Athletic Bilbao em anos. Mesmo sem nenhum título, a equipe deu a oportunidade dos torcedores voltarem a sentirem a sensação de levantar uma taça. A soberana temporada em âmbito europeu preencheu uma parte da lacuna dos aficionados: a de se sentir grande novamente. Os Leones desempenharam um dos mais belos futebol da Europa, chegaram à final de Bucareste sem em momento algum deixa para trás a filosofia ofensivista de Marcelo Bielsa, mas acabaram sucumbindo ao Atlético de Madrid.

O fato de, além da Liga Europa, o Athletic Bilbao ter disputado a Copa do Rei até a final, onde também foi vice-campeão, para o Barcelona, acabou deixando a Liga Espanhola em segundo plano. Sem ter um elenco profundo e homogêneo, El Loco promoveu muitos turnovers durante janeiro e abril, um dos maiores motivos para a irregularidade mostrada em solo nacional. O 10º lugar explica isso. O Athletic de futebol vistoso e envolvente que bateu Manchester United, Schalke 04, PSG e Sporting Lisboa com contundência só apareceu no Campeonato Espanhol em poucos momentos. Compreensível. Àquela altura, Bielsa optou por priorizar as copas em dentrimento de uma vaga na Champions League, um objetivo que, parando para pensar, era bem viável devido à irregularidade apresentada pelas outras equipes que estavam nessa disputa. Os cinco jogos consecutivos sem vitórias e as quedas para Valencia e Osasuna jogando com a equipe titular no San Mamés foi o preço final para o argentino deixar o campeonato de lado.

No entanto, uma polêmica marcou a reapresentação do elenco e da comissão técnica após as férias e colocou em xeque o futuro do ex-treinador do Chile. Insatisfeito com as obras em Lezama, centro de treinamento do Athletic Bilbao, Bielsa discutiu com a empresa responsável pelas reformas. Quando chegou ao local para iniciar os treinos de pré-temporada, viu que não tinha condições de trabalho. Dois dias depois (5 de julho), deu uma coletiva explicando o ocorrido, onde não deixou de alfinetar o grupo. Contudo, para sua surpresa, o clube não ficou ao seu lado e emitiu um comunidade em seu site oficial pedindo desculpas pela forma com a qual o treinador se expressou. Foi o estopim para Bielsa tomar uma decisão: sair do Athletic Bilbao. Ele se reuniu com os diretores no mesmo dia durante duas horas. O twitter oficial do clube chegou a dar como oficial sua saída, mas apagou a mensagem minutos depois. O nome de Ernesto Valverde, que quase foi rebaixado com os bilbaínos em 2006, chegou a estar na órbita; mas, após duas semanas de decisão, ele resolveu ficar e renovou contrato por mais um ano. 

Passada a polêmica, El Loco enfim pode iniciar seu trabalho nesta temporada, mas ainda havia que finalizar duas novelas do mercado: Javi Martínez e Llorente. O zagueiro-volante foi assediado pelo Barcelona durante todo verão, mas sua alta multa fez com que os blaugranas desistissem de sua contratação. O centroavante, por sua vez, vive um imbróglio com a diretoria. À primeira vista, ele está satisfeito, mas não decide seu futuro e não dá andamento ao plano de renovação. Nesta semana, especularam uma ida à Juventus. A imprensa inglesa o liga frequentemente a Manchester United, Manchester City, Tottenham e Liverpool Até Bielsa falou em tom de despedida: "espero apenas que ele seja feliz", disse na coletiva após a derrota para o Slovan na quinta-feira.

Sem tanto dinheiro e mantendo uma política histórica de contratar apenas bascos ou descendentes de bascos, o clube não garimpa muitos grandes reforços e, eventualmente, corre o risco de perder jogadores importantes, como no caso de Llorente. Mesmo assim, se reinventa e impressiona a maioria dos críticos. Com Bielsa, ficou mais evidenciado até do que na época de Joaquín Caparrós. Ele abandonou sua louca ideia de jogar no 3-1-3-3 que quase o levou à demissão no primeiro semestre da temporada e fixou sua tática no 4-2-3-1 variando para o 4-3-3 dependendo da situação de jogo. 

A contratação de Ander Herrera deu vazão à criatividade. O treinador improvisou Javi Martínez na zaga e deu espaço para a entrada de Iturraspe na volância. Javi demorou, mas quando se adaptou à nova função mostrou-se muito importante - na opinião deste colunista, só ficou atrás de Sergio Ramos na Liga BBVA passada. Com Iraola, na lateral direita, e Susaeta, na extrema direita, promovendo muita corrida pelo lado do campo, além de Muniain aberto à esquerda, a ofensividade foi triplicada. A forma de jogar é, até certo ponto, suicida porque deixa o sistema defensivo exposto a todo momento aos contra-ataques, mas agrada os torcedores e os fãs de futebol espanhol. Foi o terceiro time do campeonato 11/12 em posse de bola e o quarto em acerto de passes

Tudo foi tão bonito na temporada passada, mas Bielsa sabe que em 2012/2013 tem a obrigação de conquistar (ou ao menos tentar) uma vaga na Champions League. Com o Málaga, principalmente, e Sevilla ainda sob incógnita, os principais rivais são Valencia e Atlético de Madrid. Na prática, os chés são os mais consistentes - e vem demonstrando isso nos últimos três anos -, enquanto todos sabem como são os colchoneros. Brigar pelo quarto lugar é totalmente plausível. Porém, apenas a manuntenção do elenco não será o suficiente nesta equilibrada e difícil disputa.

Praticamente sem reservas de boa qualidade, o time e o esquema se desgastam a certa altura. O Bilbao precisa de peças de reposição para possíveis lesões e alternativa a Llorente. Aduriz foi repatriado e se identifica com o clube a torcida. O bom Beñat, do Bétis, foi especulado e seria uma excelente aquisição para o já brilhante meio-campo, mas nada saiu do papel. O certo é que o Bilbao precisar ir além de uma boa temporada em copas. Curiosamente, a estreia em La Liga reserva um embate com um rival direto: na próxima segunda (20), visita o Atlético de Madrid no Vicente Calderón, em jogo que já deu - e ainda dá - o que falar*.

*A LFP marcou a partida para um horário inédito: 23h. O fato desagradou a diretoria do Atlético de Madrid, que, quatro dias depois, irá disputar a final da Supercopa da Uefa contra o Chelsea. Os colchoneros ameaçaram entrarem em greve e tiveram o reforço de mais 12 clubes, incluíndo o Athletic Bilbao. Inicialmente, a rodada está confirmada, mas haverá uma reunião entre os clubes e a federação nesta semana para decidir.

4 comentários:

  1. Bom texto, mas acho bem difícil ir pra UCL.

    Falta elenco.

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  2. o que os jornais da Espanha estão falando do Llorente na Juventus? na Itália quetou um pouco.

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  3. Llorente tá saindo, aí complica muito

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  4. De fato, falta elenco, o que eu deixo claro nos últimos parágrafos. Mas a equipe tem a obrigação de tentar. Hoje, só vejo Valencia, Atlético de Madrid e o Athletic brigando por LC. Sevilla e Málaga são incógnitas total (esse último eu tiro da disputa).

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