Os pontas sumiram do futebol por um tempo, mas voltaram nesta década. Com uma função diferente, voltando mais para compor a marcação, mas voltaram. E é isso que o torcedor espanhol deve pensar quando vê sua seleção sofrer na Copa do Mundo. O time dá sinais de evolução: não tem a fluidez de meses atrás, mas já deixou para trás o fantasma de uma trágica eliminação prematura. Além disso, já descobriu um homem que pode decidir os duelos em seu favor, fator fundamental em um torneio traiçoeiro como o Mundial. Só que não consegue jogar pelas pontas.
Contra Portugal, isso ficou muito claro, sobretudo no primeiro tempo. Carlos Queiroz repetiu a receita usada contra o Brasil. Congestionou o meio-campo e tirou o espaço para os homens de criação do adversário trocarem passes. Os portugueses ainda tinham boas saídas para contra-ataques e, se tivesse alguém mais incisivo para fazer companhia a Cristiano Ronaldo, poderiam ter aberto o marcador.
(Obs. 1: de diferente para a partida contra os brasileiros era a predisposição ao jogo físico. O espírito de competição mais acirrado, algo quase sul-americano, não foi visto contra os vizinhos espanhóis, ainda que tenha marcado o duelo com a ex-colônia.)
O problema é que Vicente del Bosque monta a Espanha no 4-4-2 com meio-campo em linha. No entanto, o setor é formado por dois centrais mais marcadores (Sergi Busquets e Xabi Alonso) e dois “alas” na armação (Xavi e Iniesta). Para permitir as tabelas que marcam a equipe, a dupla de criação se aproxima, fechando em direção ao meio. Com isso, os lados do campo ficam desocupados, até porque os laterais claramente estão instruídos a avançar pouco. Vez ou outras, os atacantes caíam para os cantos, mas, aí, ficava sem ninguém para concluir no meio.
Não é difícil resolver esse problema, desde que Del Bosque se disponha a voltar um pouco no tempo. Uma possibilidade é tirar um dos volantes e colocar outro meia de armação (Fàbregas, David Silva ou mesmo Jesús Navas). Com um volante mais atrás e três meias, é possível posicionar um aberto por cada lado sem desarticular o setor de armação. Silva e Iniesta caem bem pela esquerda e Navas é insinuante pela direita. Ficaria um 4-1-3-2, sistema vencedor da Eurocopa. O mesmo pode ser feito com a entrada de um desses jogadores de armação para a saída de um dos atacantes (formando um 4-2-3-1, usado na estreia contra a Suíça, uma derrota que não se deveu ao sistema de jogo, mas ao preciosismo no momento da finalização).
(Obs. 2: uma possibilidade mais radical ainda seria tirar um volante e um atacante para a entrada de dois meias, no 4-1-4-1 que foi usado com sucesso nas Eliminatórias para a Euro 2008 e na final desta competição - Villa estava suspenso)
Nesta terça, Del Bosque tentou buscar alternativas no time que tinha em campo. Assim, Sergio Ramos teve liberdade para subir mais, criando alguns problemas para Coentrão (um dos destaques da partida). Além disso, Villa se aproximou um pouco mais de Xavi e Iniesta. O sucesso foi parcial. As jogadas pelos lados continuaram raras, mas houve uma em que Xavi, Iniesta e Villa conseguiram realizar uma tabela curta e rápida. Resultado: gol do atacante. Estava impedido, é verdade, mas foi resultado da primeira vez em que a Espanha completou sua jogada mais característica na partida.
A partir daí, Portugal teve de se abrir. Aí o jogo mudou. Bastou à Espanha trocar passes nos espaços que surgiram. E trocar passes é algo tão natural para esses jogadores quanto comer uma butifarra ou beber uma sangria. Até teve oportunidades de ampliar a vantagem, mas parou no goleiro Eduardo (um dos melhores desta Copa).
O time português cresceu no jogo e passou a criar mais chances, mesmo tendo menos a bola do que a Espanha. No intervalo, a estatística de posse de bola era de 62% para a Espanha, 38% para Portugal, mesmo o time português tendo sido mais incisivo na última parte do primeiro tempo.
O segundo tempo começou como o primeiro: Espanha com posse de bola, Portugal com contra-ataques. E aos seis minutos, Hugo Almeida foi lançado pela esquerda e jogou para a área, a bola desviou em Carles Puyol, enganou Casillas, mas saiu.
Fernando Llorente, aos 15, deu cabeçada perigosa aos 15 e obrigou Eduardo a grande defesa, três minutos depois de entrar em campo. Na continuação do lance, a bola sobrou para David Villa, que bateu de fora da área e vi a bola passar perto.
Aos 17, Portugal não escapou. Em bola trabalhada na entrada da área, Andrés Iniesta tocou para Xavi, que, de calcanhar, deixou Villa na cara do gol e em posição ilegal. Ele bateu, Eduardo defendeu e no rebote mandou para a rede: 1 a 0, Espanha.
No final das contas, a Espanha deu uma demonstração de força, pois soube contornar um problema e vencer demonstrando superioridade técnica. É uma equipe em evolução, que chega como favorita contra o Paraguai e pode perfeitamente vencer Argentina ou Alemanha nas semifinais (ainda que argentinos e alemães tenham apresentado futebol melhor até o momento). No entanto, ainda há ajustes a fazer. E um deles é usar melhor os lados do campo.
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sábado, 3 de julho de 2010
Guerra Ibérica vencida
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