quinta-feira, 8 de março de 2012

Os Xavis rojiblancos

Ander Herrera disputa bola com Ashley Young. O cérebro do Athletic Bilbao tem sido comparado com Xavi (getty images)

A quinta-feira de Liga Europa foi de festa para os espanhóis. Ainda que tenha sofrido dois gols no segundo tempo, é aceitável pensar num Valencia numa vantagem confortável na visita a Holanda. A vitória por 4x2 dá aos chés a sensação de 80% da vaga nas quartas-de-finais garantida. O Atlético de Madrid, por sua vez, passeou. Os 3x1 ante o Besiktas soa como mentiroso para quem assistiu os 90 minutos de uma partida dominada por total por uma única equipe. Levando a sério, os rojiblancos não deram espaços aos turcos. Os golaços de Salvio (dois) e Adrián ainda na primeira etapa, no entanto, diminuiu o ritmo dos comandados de Simeone nos noventa minutos finais e um gol do ex-Atléti Simão Sabrosa, que não comemorou o tento, dá um pingo de esperanças ao Besiktas.

Mas o vencedor da noite foi o Athletic Bilbao. Apoiado por oito mil torcedores, foi capaz de um feito histórico em Old Trafford. Os leones se impuseram contra o Manchester United e, mesmo saindo em desvantagem no marcador, demonstraram qualidade suficiente para obter triunfo por 3 a 2. Agora, Alex Ferguson e seus comandados terão que se virar diante de 40 mil pessoas no estádio San Mamés se quiserem a classificação na próxima quinta-feira. O clube se agigantou e confirmou duas certezas: tem um elenco com jovens bastantes promissores que podem tornarem-se tops no futuro e a segunda e mais importante é que tem condições de disputar competições de alto nível. Na briga e favorito para copar uma das vagas na próxima Liga dos Campeões no Campeonato Espanhol, a vitória em Manchester volta a ratificar que a equipe tem poderio suficiente para fazer bonito.

Daniel Leite, colunista de futebol inglês para o portal IG, tocou no ponto certo em sua análise da partida: nada disso é acaso. Além da elogiável concepção de futebol, Bielsa é profissional e detalhista a ponto de ter assistido a 126 horas de seu time em ação para traçar perfis do elenco e conhecer um terreno que se apresentou como um desafio inédito em sua carreira. Uma das inspirações de Pep Guardiola, o argentino é valorizado agora pela capacidade de implantar ideias que fogem ao trivial mesmo em equipes com recursos bem mais escassos que os do Barcelona. E, assim, o Athletic lembra em certos pontos o Barcelona. Já citei isso em alguns textos, mas é sempre bom lembrar: a marcação pressão, a procura pela posse de bola e os habituais ataques em bloco elevam os bascos a condição de equipe que, excetuando Barça-Madrid, joga o futebol mais belo do país das touradas. As atuações de Muniain, De Marcos, Javi Martínez, Susaeta, Llorente e Ander Herrera foram destacáveis.

Entretanto, quem mais chama a atenção é o último nome. Ander Herrera é, para o Athletic Bilbao, o que Xavi é para Barcelona. Ele é o cérebro da equipe. Dita o ritmo do jogo, tem a paciência para fazer a bola rodar, sabe a hora de cadenciar e põe seus companheiros em condições de gol. O xodó de Marcelo Bielsa faz uma temporada irretocável. Após passar por apuros no Zaragoza, sendo destaque de uma equipe limitada, e ter sido um dos nomes da Espanha campeão europeia sub-21 no verão, chegou ao Bilbao com status. Com 21 anos, caminha para ser realidade. As 9 assistências na temporada confirmam a importância sua à equipe. O meio-campista é ótimo em posicionamento, passe e marcação e joga como se tivesse uma década de profissional. Se aprender a marcar gols, vai marcar época.


No Atlético de Madrid, o Xavi atende por Koke
Voltamos à vitória do Atlético. Que assistência linda o jovem Koke deu para Salvio marcar. Até brinquei no twitter na hora: lembrou Xavi lançando e Messi marcando de cavadinha. Em certos pontos, comparações são exageradas e nem é meu tipo querer fazê-las. Koke já havia sido uma das revelações da Liga passada. Há muitos anos em Madri fala-se nele, volante com características de armador e que queimava etapas nas categorias de base colchoneras. Lançado durante a temporada 2010/2011 no Atlético de Madrid, mostrou personalidade e colaborou na campanha de recuperação que culminaria em vaga na Liga Europa. Com Simeone, tem ganhado mais moral e chances. Jogado mais adiantado, participa das trocas de passes da equipe. Na Liga Europa, aparece mais. Koke é um meio-campo central dos mais cerebrais. É o futuro do Atlético de Madrid.

Nas divisões de base, sempre foi destaque, seja por Atlético de Madrid ou pela seleção espanhola. Em 2008, havia sido o regente, ao lado de Thiago Alcântara, da Fúria Sub-18 campeã europeia. Há uma semana, entrou em campo contra o Egito e deve ser nome certo no grupo que vai aos Jogos Olímpicos. Bem talentoso, impressiona quase sempre que entra nesta temporada. Com 19 anos, já é xodó da torcida e, mesmo sendo reserva, tem 5 assistências. Já é uma industria espanhola fabricar meias cerebrais. Dos promissores, fica o exemplo: Thiago Alcântara, Canales, Ander Herrera...

Alguns colchoneros já pedem sua presença na seleção de Del Bosque. Talvez não seja para tanto, até pelo fato do setor estar povoado de jogadores de níveis superiores. Mas, dependendo de sua evolução e liderança nas divisões inferiores espanholas, é provável imaginar o nome de Koke em alguma das próximas convocações do treinador madrilenho.

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